Escrita por: Gabbieah
– Está dizendo que o meu filho se afogou?
Ela perguntou uma segunda vez, como se precisasse disso para ter certeza do que acabou de ouvir.
– Há quanto tempo ele estava desaparecido?
– Cinco dias.
– Você só registrou o desaparecimento um dia depois?
– Não, foi no mesmo dia.
– Então ele estava desaparecido há quatro dias?
– Não... eu... – ela grunhiu, escondendo o rosto entre as mãos – Eu não sei.
Hoseok manteve os olhos nela, esperando. A casa estava uma bagunça, havia um cesto de roupa recém lavadas no sofá e manchas tanto nos estofados quanto nos tapetes. Brinquedos estavam espalhados por todos os cantos, e na estante ao lado da televisão, duas garrafas de vodca, uma pela metade e outra vazia.
– Ele sumiu no dia dezessete – responde o menino mais velho, usando um macacão da oficina mecânica onde trabalha – Logo depois que saiu da escola, ele pegou a bicicleta e saiu pra brincar com os garotos da rua.
– Como era a bicicleta?
– Era vermelha, eu dei à ele no mês passado.
– E vocês só registraram o desaparecimento por volta das onze da noite?
– Esperei para ver se ele voltava – seus olhos agora fixos no tapete – Ele estava sempre na rua arranjando confusão – sorriu fraco – Bati de porta em porta, e todos os amigos dele já estavam em casa para jantar. Só ele ainda não tinha voltado.
– Isso já tinha acontecido antes?
– O quê?
– Ele sair de casa e só voltar horas depois.
– Não, ele sempre voltava antes de escurecer – respondeu a mulher, erguendo o rosto outra vez – Eu dizia à ele que se não estivesse em casa para jantar antes do sol se pôr, o deixaria trancado do lado de fora.
Hoseok arqueia as sobrancelhas, passa o olhar da mulher para o filho mais velho e assente.
– Como era o comportamento dele em casa?
– Woojin era teimoso, ele não me obedecia – esfrega os joelhos – Mas garotos são assim, não é? Ele era como você – encara o mais velho – Igualzinho a você.
O garoto vira o rosto para o lado contrário, os olhos vermelhos, as mãos tremendos. Estava com medo.
– E como ele era na escola?
– Terrível. Ele batia nos garotos pequenos, furava eles com um lápis e gritava com os professores – resumiu – Deve ter herdado isso do pai.
– Ou de você – grunhiu o outro.
– O que está querendo insinuar com isso, moleque?
– Woojin tinha medo de você!
– Eu sou a mãe dele, por que ele teria medo de mim?
Ele riu, enxugando o rosto rapidamente.
– Quem nessa casa não tem medo de você, mãe?
– Ele não tinha medo, ele tinha respeito.
Ele riu ainda mais, negando com a cabeça. As lagrimas escorrendo pelo rosto, e as mãos tremulas em seu colo.
– A culpa é sua – murmurou – É tudo culpa sua.
Ela se levantou ofendida, passou a mão na saia e encarou o detetive.
– Eu não vou ficar aqui, ouvindo esse desgraçado falar que a culpa do meu filho ter morrido é minha! – gritou, apontando para o garoto – Pode ir, não vou responder mais nada.
– Tudo bem.
Guardou o bloco de notas no bolso do blazer e se levantou. A assistiu pegar o cesto de roupas e subir as escadas, e esperou que desaparecesse no corredor para se dirigir ao garoto.
– Quero falar com você.
Ele ergueu o rosto, os lábios cerrados e os olhos vermelhos. Seu olhar fora dele para a escada por onde sua mãe havia subido, e de volta para o detetive.
– Tudo bem... – se levantou, enxugando o rosto rapidamente.
O acompanhou para fora da casa, e abraçou o próprio corpo feito uma criança quando já estavam lá fora. Hoseok o olhou dos pés a cabeça, ele alto com a cabeça raspada e pose durão, imaginava que em qualquer outra situação, ele era o cara que deixava os demais intimidados, mas agora, parecia uma criança amedrontada.
– Por que disse essas coisas sobre a sua mãe?
– Essa alcoólatra de merda – enxugou o rosto – Ela faz isso com todos nós, ela dizia à Woojin que a culpa do nosso pai ter ido embora era dele, porque ele não queria um segundo filho.
– Ela batia nele?
Ele fez que sim.
– Quando não batia, o deixava com fome, e dizia à ele que só estava fazendo isso porque ele à obrigou. Que a culpa era dele, e que se ele fosse um filho melhor as coisas seriam diferentes – tornou a chorar – Ele tinha medo dela.
– Ela também faz isso com os seus irmãos?
– Os gêmeos? – indaga e Hoseok assente – Não... tudo o que eles fazem é obedecer "sim, mamãe" e "não, mamãe" para tudo – e encarou Hoseok – Por que está me perguntando essas coisas? Não deveria perguntar sobre o dia em que ele desapareceu?
– Preciso entender a história toda.
Ele assentiu, mordendo o lábio para conter o choro.
– O que aconteceu no dia do desaparecimento?
– Woojin chegou da escola, pegou a bicicleta e disse que ia brincar com os garotos da rua – olhou para a vizinhança – Ele sempre volta para casa antes de escurecer, umas seis ou seis e trinta.
– Mas ele não voltou.
– Não, e depois de sete horas minhas mãe trancou a porta – encarou Hoseok – Ela realmente cumpre suas promessas. Se diz que vai deixa-lo do lado de fora, ela realmente deixa.
– Acha que ele pode ter voltado para casa e ao perceber que estava trancado para o lado de fora, pode ter voltado até o rio?
– Não. Ele tinha medo do escuro, jamais voltaria até lá à noite.
Hoseok suspirou.
– Seu irmão morreu entre às cinco e sete da noite.
Ele negou com a cabeça, as lágrimas pingando da ponta de seu queixo.
– Ele entrou no rio e se afogou.
– Não faz sentido – negou repetidamente.
– O quê não faz sentido?
– Woojin sabia nadar.
(...)
Ao passar pela porta de seu apartamento, imediatamente se deparou com a cena de sua irmã no centro da sala. O cabelo ruivo hoje solto, lhe roçando os ombros enquanto virava uma garrafa de vodca barata e dançava Girls Just Want To Have Fun.
Fechou a porta devagar, apoiando as mãos na cintura esperando o momento em que ela o notaria ali.
Sana finalmente se virou, assustando-se com a presença do irmão para no segundo momento cair na gargalhada.
Ela abaixou a música, tomou outro gole da bebida e gesticulou para que ele se aproximasse.
– Foi pra isso que você me pediu dinheiro? – indagou, tomando a garrafa das mãos dela.
– Claro que não – de jogou no sofá – Estou comemorando.
– Comemorando o quê?
– O fato de eu não dever mais nada à ninguém – sorriu largo, fechando os olhos por um instante.
– Vai poder voltar para casa agora?
– Está me expulsando, maninho?
– A mãe ligou, disse que você saiu de lá porque tinha gente atrás de você.
Ela fechou a cara, abaixando a cabeça. Agia feito uma criança quando recebia uma bronca.
– É por isso que você veio passar um tempo aqui em casa?
– Qual é, Tae? – bufou – Eu disse que concertaria as coisas, e concertei, não foi?
– Não passou pela sua cabeça que essas suas presepadas poderiam resultar em algo pior? – se altera – Que eles poderiam ter ido cobrar o dinheiro dessa porra para a mãe, caso não te encontrassem lá?
Ela abre a boca, mas se cala outra vez.
– Sana, pelo amor de deus... – esfrega os olhos.
– Me desculpa.
– Vai se foder.
– Eu vou parar, Taehyung!
– Eu já ouvi esse discurso milhares de vezes – resmungou, largando a garrafa na mesa.
– Me desculpa – pediu outra vez, agora correndo na direção dele, o puxando pelo braço – Eu não vou te decepcionar outra vez, Tae, eu juro!
Ele a encara, e acaba cedendo quando passa um dos braços ao redor dela. A garota suspirou, fechando os olhos e se deixando abraçar por ele.
– Desculpa – sussurrou uma última vez.
Se afastou e o encarou com um sorriso fraco.
– Bebe comigo – pediu.
– Não.
– Só um pouco, vai – alcançou a garrafa e a empurrou na direção dele.
– Eu sou fraco para vodca.
– Mentira! Eu já te vi beber gim puro na boca da garrafa.
– Sana...
– Um golinho só.
E ele cedeu, tomou a garrafa das mãos dela e virou três goles de uma vez. Enquanto ela comemorava com pulinhos, passou por ele, aumentando o som quando James Brown começou a tocar.
E o que deveria ter sido um único gole resultou na garrafa pela metade, os dois dançando descalços no tapete da sala enquanto cantavam alto a letra de I Got You.
Sana já com o rosto vermelho, os fios laranjas de seu cabelo grudando no rosto e um sorriso largo no rosto. Estava de pé no sofá, fazendo a boca da garrafa de microfone.
Taehyung no chão a sua frente, rindo enquanto acompanhava a cantoria. Era exatamente igual quando eram mais jovens, e ficavam sozinhos em casa.
(...)
As crianças esperavam no pátio da escola, brincando de pular corda sob a vigilância dos professores.
Hyesoo eram quem pulava, e estava determinada em bater o recorde de 63 pulos da Minjee do segundo ano. E ela já estava no 47°.
Haewon estava sentada de pernas cruzadas em um dos bancos, contando cada pulo junto com os demais. Tendo Jungwo sentado bem ao seu lado, mais concentrado em terminar o seu suco de caixinha do que na competição de pular corda.
Hyesoo já estava no 54° pulo quando Hoseok passou pelos portões do colégio.
Com as mãos nos bolsos da calça social, varreu o local com os olhos até encontrar aquela roda de crianças contando em coro, a corda estalava no chão e o som ecoava por todo o pátio.
Se aproximou quando bateu os olhos em Haewon, e só quando estava próximo daquela algazarra foi que enxergara os gêmeos Kim.
Com a garota sendo o centro de todo aquele espetáculo, e seu irmão com os olhos grandes em fixos em um ponto no chão, parecia viajar em seus próprios pensamentos. Tanto, que nem notara quando Hoseok parou ao seu lado.
– Pai! – Haewon chamou e assim que se virou, deparou-se tanto com os olhos dela como os do menino Kim – Eu não sabia que você vinha hoje.
– Jiwoo esta de folga hoje – lembrou e ela arqueou as sobrancelhas concordando.
Hoseok desceu o olhar para o Kim, e este o observava com toda atenção do mundo, a caixa de suco agora vazia em suas mãos, repousadas em seu colo.
Ele conferiu as horas em seu relógio de pulso. Marcando exatas 16 horas.
– Seu pai está atrasado.
– Ele sempre se atrasa – respondeu, saindo em direção a lixeira onde descartou a caixinha vazia.
– Vamos, Hae – Hoseok voltou-se para a filha.
– Podemos esperar até o pai deles chegar?
– Por que?
– Porque eles vão ficar sozinhos!
Ele suspirou, assistiu Jungwo voltar a se sentar no banco, para depois levar seus olhos para Hyesoo ainda pulando corda.
– Tudo bem – cedeu, enfiando as mãos nos bolsos e esperando.
A garota agora chegava no 60° pulo e o coro de contagem ficava mais alto. Quando finalmente passou o tão esperado 63°, continuou até que chegasse aos 70°. Ela parou, apoiou as mãos nos joelhos ofegando, respirou fundo e se ergueu sorrindo, mostrando a língua para Minjee do segundo ano antes de correr até Haewon e o irmão.
– Acabei com ela – ergueu a palma da mão para Jungwo, e ele retribuiu o toque.
Hoseok conteve o sorriso e a garota finalmente o notou ali. Não desviando seus olhos grandes dos dele, nem mesmo enquanto bebia água em sua garrafinha rosa.
– Que horas são? – resolveu perguntar, guardando a garrafa de volta na lancheira.
– Quatro e oito.
A garota formou um bico com os lábios ao que pensava. Encarou o irmão e disse:
– O pai vai se atrasar de novo. Quer brincar de pega-pega?
O menino negou, balançando os pés e olhando direto para o portão. O pátio estava começando a ficar vazio e Hoseok estava preocupado, não queria ficar ali esperando, mas também não queria deixa-los sozinhos.
– Me dá o número do seu pai, vou perguntar se ele já está vindo – pediu, a garota obedeceu, tirou da mochila o caderno e apontou para o número de Taehyung na primeira pagina.
Hoseok se sentou junto à eles no banco, discou o número e ligou, caindo na caixa postal instantes depois, tentou outras três vezes e nada.
Marcavam 16h11 e o pátio agora estava quase vazio.
– Tem alguém na casa de vocês?
– Minha tia Sana.
– Certo, peguem suas coisas eu vou deixar vocês em casa.
– Meu pai disse que a gente não pode sair com estranhos – a garota cruzou os braços, piscando demoradamente.
Ele riu descrente.
– Eu sou policial.
– Cadê o distintivo?
Ele apoiou as mãos na cintura, não crendo no que estava ouvindo e se mostrando ainda mais surpreso quando ela estendeu a mão.
– Você é igualzinha ao seu pai, sabia? – indaga, tirando do bolso a identificação e a entregando para ela.
A menina segurou em suas duas mãos pequenas o distintivo da policia, o mostrou para Jungwo e este só assentiu. Como se confirmasse que era autêntico.
– Você vai ter que pedir para a minha professora – respondeu por fim, lhe devolvendo a identificação da policia.
Hoseok assentiu, a encarando com desdém enquanto se dirigia até a professora deles do outro lado do pátio.
Uma conversa breve e a mulher cedeu, ainda que a contragosto.
– Vem, meu anjo – pegou a mochila de Haewon – Vocês também, pragas.
Os garotos riram entre si, pondo as mochilas nas costas e o acompanhando para fora do colégio.
– Pai! – Haewon chamou o puxando pela mão – Compra doce para mim? – perguntou, apontando para a padaria do outro lado da rua.
Hoseok parou, encarou os outros dois e pensou por um instante. Ele sabia que se desse para um teria que dar para os outros, é assim que crianças funcionam.
– Tudo bem.
Atravessaram a rua e entrar na padaria foi um sonho para a menina Jung. Ela grudou na vitrine de doces e seus olhinhos brilhavam.
– Eu quero esse – apontou para as tiras de chiclete rosa.
Hoseok encarou a atendente e ela logo alcançou o doce, o colocando sobre o balcão.
Olhou para os gêmeos, ambos cobiçando em silêncio as jujubas coloridas na vitrine.
– E me dá duas jujubas também – pediu, as entregando para os gêmeos quando lhe foi dado.
– Obrigado – Jungwo murmurou fitando o doce por um instante.
Já Hyesoo apenas sorriu, abrindo a embalagem e enfiando dois dos doces na boca.
– São seus filhos?
Hoseok arqueou as sobrancelhas, encarando a atendente. Riu soprado e então negou.
– Só essa aqui – apontou para Haewon e ela assentiu.
Quando terminou de pagar, saíram todos os quatro da padaria. No caminho até o carro, Hoseok fez a questão de ligar outra vez para Taehyung, e novamente, caiu na caixa postal.
– O cinto – lembrou ele quando já estavam no carro, os fitando pelo retrovisor.
No momento em que arrancou com o carro um falatório começou nos bancos de trás, banhados por risadas altas e era como se Hoseok não estivesse ali.
Os gêmeos eram mais agitados realmente, mas era Haewon quem se mostrava mais eufórica durante todo o caminho. Ela demonstrava uma animação que faltava não caber em si, era como se fosse explodir.
Quando chegaram em frente ao prédio dos gêmeos, esperaram para que o porteiro liberasse a passagem e subiram.
– Me dá uma jujuba, Wo? – Hyesoo pediu baixinho quando já estavam no elevador.
– Não. Ninguém mandou você comer tudo de uma vez.
– Meu pai disse que você tem que dividir – rebateu e ele continuou negando com a cabeça, enfiando os doces no bolso do casaco – Vou contar pra ele que foi você quem derramou leite no computador.
– Fofoqueira! – arregalou os olhos.
E ela estendeu a mão esperando pelo doce, que como esperado, logo lhe foi entregue.
Hoseok mais uma vez precisou conter o riso. Estava impressionado com as artimanhas daquela garota, era igualzinha à Taehyung.
No corredor, os gêmeos tocaram a campainha repetidas vezes até a porta ser aberta por uma moça ruiva. Ela vermelha e usando uma camisa grande para cobrir o corpo.
– Eu não estou achando as chaves do carro, Sana! – Taehyung gritava de dentro do apartamento – Porra, que horas são?
– Fica tranquilo, eles já chegaram – apoia as mãos na cintura e sorri para os gêmeos – Menos essa, essa daqui não é sua – apontou para Haewon.
Taehyung finalmente apareceu na porta, assustado, encarou as crianças confuso e então encarou Hoseok.
Sentiu vergonha, havia enchido a cara e esquecido de ir buscar seus filhos na escola, esse era definitivamente o fundo do poço. Desejava a todos os deuses que um buraco o engolisse ou que desaparecesse no ar, porque não estava nenhum pouco a vontade para enfrentar aquela situação.
– Pai, o tio Hoseok deu jujuba pra gente – Hyesoo contou com um sorriso.
– Ah, foi? – sorriu nervoso, esfregando o rosto e afastando o cabelo dos olhos – Tio Hoseok cuidou bem de vocês?
– Ele disse que você é doido – entregou, Jungwo.
– Não, moleque, eu disse que seu pai tem um parafuso a menos.
– Engraçado, muito engraçado – encarou Hoseok de cenho franzido.
– Vem, eu quero te mostrar minhas bonecas – Hyesoo agarrou a mão da menina Jung e a puxou para dentro do apartamento.
Taehyung arregalou os olhos e se desesperou ainda mais quando todos eles começaram a entrar na casa. Se dirigiu até a cozinha onde despejou na pia o que restara da vodca e descartou a garrafa na lixeira.
Sana por outro lado não dava a mínima, estava deitada no sofá, cantando baixo e de olhos fechados.
As crianças correram até o quarto do gêmeos, Hoseok parado no meio da sala não sabia exatamente o que pensar de toda aquela situação.
Taehyung voltou, tentando se manter o mais sóbrio possível, mas estava óbvio demais o que tinha acontecido ali.
– Dete... Hoseok – corrigiu-se confuso – Eu... – e pariu outra vez, encarando sua irmã no sofá.
Tudo o que precisava era tê-la ali para presenciar aquela cena extremamente constrangedora.
O puxou até seu próprio quarto, fechando a porta e encarando o nada. Já Hoseok varria todo o cômodo com o olhar, cheio de curiosidade.
Dos livros na prateleira às pilhas de papéis na mesa, a cama bagunçada e algumas roupas esquecidas na cadeira. Inclusive, o casaco que havia lhe emprestado no dia de chuva.
– Meu deus... – Taehyung puxou os fios de seu cabelo sem saber o que dizer inicialmente. Estava morrendo de tanta vergonha.
Hoseok por outro lado, parecia mais interessado na foto dos gêmeos que Taehyung exibia em um porta-retrato na prateleira. Ambos pequenininhos sentados nas escadas e sorrindo para a câmera, julgou terem uns 3 anos na época.
– Me desculpa, meu deus... Você deve me achar um irresponsável...
– E eu acho mesmo, mas não que você se importe – retrucou sem encara-lo, com os olhos agora nos desenhos que Taehyung guardava.
O Kim até pensou em retrucar, mas não o fez. Estava se sentindo péssimo por ter sido tão negligente. Como pôde ter ido pelas ideias malucas de Sana, sabendo que tinha duas crianças para buscar na escola? Estava agindo como a sua mãe.
Sempre a julgou por ser uma irresponsável, por esquecer tanto ele quanto suas irmãs na escola, por estar sempre bêbada. Mas no fim, ele acabava agindo como ela.
Hoseok franziu o cenho, confuso com o silêncio de Taehyung. O encarou e este parecia perdido em seus pensamentos com o olhar baixo.
– Por deus, não me diga que ficou sentido com isso.
– O quê? – arregalou os olhos – Claro que não, eu 'tô pouco me fodendo para o que você acha de mim.
– Taehyung, eu só vim trazer a suas crianças. Inclusive, você sabia que a sua filha é campeã e recordistas das olimpíadas de pular corda do ensino fundamental?
Taehyung o olhou confuso e Hoseok somente riu em resposta, desviando o olhar mais uma vez.
– Obrigado, de qualquer forma... Você não precisava se preocupar com os meus meninos.
Cruzou os braços, coçando a nuca e olhando em volta sem saber o que mais dizer. Queria enfiar sua cara no chão.
Ouviu Hoseok rir, e ao procurar o motivo de sua risada. Encontrou seu semblante divertido e a carteira de cigarros de menta em suas mãos, a mesma que Taehyung havia "roubado".
– Não faço ideia de como isso foi parar aí. – foi rápido com sua justificativa, e Hoseok riu ainda mais.
– Guardou de lembrança, foi?
– Vai se foder!
– E ainda por cima é ladrão – provocou, para no segundo seguinte Taehyung tentar tomar o maço de suas mãos.
– Você é muito idiota mesmo pra pensar que eu guardaria essa merda.
– E não guardou? – arqueou as sobrancelhas, erguendo a mão quando Taehyung tentou pega-los de novo.
– Esqueci de jogar fora – mentiu, semicerrando os olhos – Mas já que você está aqui, pode levar esses seus cigarros de menta horrorosos – passou por ele – E leva isso com você – empurrou o casaco contra seu peito.
– O que mais você tem aí para lembrar de mim?
– Está se achando, né? – riu – Meu bem, eu durmo tranquilo é você quem deve passar a madrugada inteira pensando em mim.
Hoseok riu alto, largando de vez as coisas sobre a mesa, apoiando as mãos na cintura enquanto ouvia.
– Pegue as suas coisas e suma da minha frente. Só não ateei fogo em tudo isso porque esqueci que existiam.
– Me engana que eu gosto, Taehyung.
– Pare de se iludir, detetive – balançou a cabeça, o cabelo cobrindo os olhos – O único sentimento que eu tenho em relação à você é ódio.
– Não é como se eu me importasse.
– E eu me importo muito menos.
– Não faria diferença se você desaparecesse.
– Para mim você nem existe!
– Como pode odiar alguém que não existe, Taehyung? – provocou, quase rindo ao ver a raiva transparecer nos olhos dele.
– Meu deus, como você é insuportável! – puxou os cabelos – Chato!
– Você gosta... – murmurou, virando-se para pegar suas coisas e Taehyung arregalou os olhos com aquele flerte descarado.
Se aproximou de Hoseok, o assustando quando este se virou e o encontrou tão perto. Taehyung sustentou seu olhar, estava bêbado e na sua cabeça aquilo era uma boa ideia.
– Sou eu quem gosta, ou é você quem ama me provocar, detetive?
– O que você acha, Kim? – perguntou baixo.
– Eu acho que você age igual à um menino da quinta série – sorriu – Você sabe que, quando os meninos puxam o rabo de cavalo das meninas é porque gostam delas. E você é assim.
Hoseok não respondeu, pressionou os lábios, gravando bem cada traço do rosto de Taehyung. O sorriso convencido e as bochechas coradas pela embriaguez.
– Vai mandar um bilhete perguntando se eu quero namorar com você também?
– Vai 'pro inferno.
Taehyung riu.
O assistindo sair do quarto furioso, e de fato, estava puto da vida. Com o sangue fervendo, prestes a ter um treco.
Taehyung sabia direitinho em que peças mexer para desajusta-lo inteiramente. O deixando transtornado de raiva, um borbulhar de emoções.
– Haewon! – chamou quando já estava na sala – Vamos para casa, meu anjo.
– Já? – ela passou pela porta do quarto dos gêmeos.
– Sim, vamos logo – e pegou tanto a mochila dela quanto o casaco rosa que ela havia chego usando.
– Tchau, princesa – Sana acenou sorrindo – Tchau para você também bonitão.
Taehyung revirou os olhos, a garota riu, se aconchegado no sofá.
Hoseok precisou esperar a menina se despedir dos gêmeos para finalmente acompanha-lo até a porta.
– É seu namorado?
– 'Tá maluca, garota? – quase gritou ao se sentar do lado dela.
– É ex?
– É uma praga. Um estorvo. Uma pedra no meu caminho.
Ela riu.
– Relaxa, maninho.
– Estou relaxado. Muito relaxado.
Ela se sentou, cruzando as pernas no sofá e encarando o irmão.
– Me conta... – começou contendo um sorriso – Qual a sua história com ele?
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