História Quando tudo acabar - Capitulo unico

     Ilusão, uma palavra tão insignificante no dia a dia, aquela palavra naquele momento descrevia tudo, eu havia sido iludida, por uma grande ilusão, minha vida foi uma ilusão, naquele momento eu pensei... talvez possa haver algo a mais, mas olhei para baixo eu ainda estava caindo, sem rota de fuga, aqueles cinco minutos de queda se estenderam em uma eternidade, toda só para mim pensar no que eu havia feito, aquele era o problema eu não queria pensar.

     Eu não queria lembrar daquela viagem, mas quanto mais eu me negava a lembrar mais a eu via aquela noite passar em minha mente como um sonho, tentei abrir os olhos para parar de ver aquilo, mas assim que abri fechei de novo, o vento estava horrível, os bombeiros lá em baixo, tudo aquilo me assustava em uma horrível câmera lenta.

     Então vi bem ali na minha frente, meu pai brigando com minha madrasta mais uma vez no banco da frente, meu irmão dormindo perturbado do meu lado, mas por um segundo meu pai se distraiu para se defender do tapa da minha madrasta, e foi ai que tudo mudou, uma luz forte de caminhão se transformando em uma forte luz de hospital, e eu lá sozinha, sem mais ninguém, talvez quando a queda acabar eu possa vê-los de novo, tomara que minha madrasta não esteja perto do papai, ele já sofreu muito por ela, tomara que meu irmão esteja se divertindo junto com meu pai e minha mae, como estou ansiosa para vê-la de novo não a vejo dês do nascimento do meu irmão , e minha madrasta bem longe porem também feliz, ela é uma boa pessoa ela só não era boa o suficiente para o meu pai.

      Mais uma memória invadiu minha mente sem minha permissão, os últimos cinco meses, o orfanato, as meninas, sempre sendo más e chatas, a única que me ajudou foi a Lara, quando me joguem lá de cima ela parecia desesperada, me arrependi um pouco, imaginar a pequena Lara me vendo cair me magoou, mas era o melhor para ela, eu só estava atrapalhando sua vida, como a própria diretora do orfanato tinha dito, eu era uma má pessoa, estava sendo uma má companhia para Lara, continuar nossa amizade seria egoísta.

     Não posso mentir que me senti feliz em imaginar ela pensando que ela ter dito isso teria sido o motivo pela minha morte, já podia ver ela se culpando, quer dizer eu adoraria ver a culpa em seus olhos, mas quem ela pensa que é para ser tão significante na minha vida? Ou talvez, eu que estivesse me achando muito, afinal quem choraria pela minha morte, minha família já estava toda morta, e eu dei um jeito de todos na escola me odiarem, a única amiga que fiz de verdade, estava ali encima do edifício, tentando impedir que eu pulasse, e talvez o fato de mim ter pulado pode ter feito com que ela me odiasse, eu não a culparia.

     Pensei em todos momentos que perdi da minha vida, me cortando, me drogando, me odiando, odiando a todos, e então eu entendi que não havia problema na minha vida. Eu que era o problema da vida dos outros.

     Lembrei da primeira vez que fugi de casa, da vez que eu fingi que iria pular do telhado só para ter atenção, lembro da vez que taquei aquela menina da escada no seu aniversário, só porque ela não havia me convidado, lembro da vez em que fiquei sabendo que uma menina estava afim de mim e não sei porque naquele momento achei hilário pegar o irmão dela, mesmo sabendo que ela era órfã  e ele era sua única família, bem na frente dela, lembro quando fingir ser amiga de uma novata só para pedir para ela fazer favores para mim, como me dar seu convite para festas, já que ninguém me queria por perto, lembro também de quando a humilhei na frente da escola inteira, e quando eu falei para a diretora que o professor tinha passado a mão na minha bunda, quando eu cortei o cabelo da menina que sentava na minha frente, só porque ela sempre dormia nas aulas, e quando eu dedurei as meninas nerds da minha sala falando que elas estavam passando cola, só porque elas não queriam me passar cola e aquilo lhes serviu de uma boa lição, quando eu seduzi o professor para passar de matéria...

     E agora eu estou paralisada naquilo que eu chamava de vida, eu estou morrendo e nunca tive tão viva, naqueles últimos anos eu havia sido uma pessoa horrível... E aqueles últimos meses só pioraram tudo.

     Então me lembrei da milharem de vezes que ri dos outros, só para esquecer meus problemas, quando infernizei a vida dos outros, quando fazia o pior ficar pior, quando eu escondia meus demônios nos meus olhos para ninguém ver que na verdade eles estavam vazando e que talvez nunca parassem de vazar e eu não queria chorar, mostrar fraqueza, então eu pensei... eu era e sempre fui uma pessoa horrível, não importa para onde eu vou, com certeza não será para o mesmo lugar que minha família.

     E me lembrei da Lara, dela sempre ser gentil, nunca entendi o porquê, dela me ajudar nas matérias, dela me defender das pessoas, dela me amor, mesmo eu tendo beijado seu irmão, a sua única família, bem na sua frente, e o pior de tudo eu sabia que ela gostava de mim e mesmo assim a iludi, talvez ela tenha sido a única pessoa a me amar de verdade, minha colega de quarto, a única pessoa que me via chorando...

     Então abri meus olhos, pela última vez então eu vi o asfalto a uma palma da minha cabeça, não lembro de ter fechado os olhos, mas eu não senti meu rosto, mas eu continuava caindo como se o chão nunca tivesse existido, mas não havia mais vento não havia mais nada, para quem não queria pensar mais em nada aquilo não me pareceu uma boa ideia, talvez eu tenha morrido e esse será minha condenação.

     Talvez se eu não tivesse feito aquilo, um dia quando eu morresse eu fosse para um lugar melhor, mas não tenho certeza que um dia eu teria uma salvação para me tornar melhor, afinal sou só uma humana, fraca, sem força, e agora sem vida.

      Uma dor me consumiu quando percebi por fim que aquilo não teria fim, tentei abrir meus olhos mas eu não tinha mais um...

     E agora sem mais vida

     A vida continua

     Sem fim, eterna

     Como uma prisão invisível

     Tento fugir dos meus pensamentos,

     Mas eles me perseguem

     E assim continua a vida

     A vida sem fim

     Sem a própria vida