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História Quando Você Chegou - Juliantina - Eu nem sei o seu nome


Escrita por: waitingformee

Notas do Autor


EI, COMO ESTÃO ?
Decidi postar hoje como um aquecimento- e uma chama de esperança- pelo capítulo de hoje de AAM. Certeza que o casalzinho volta 🤞

ESPERO QUE GOSTEM!
AH, OBRIGADA POR CADA COMENTÁRIO É FAVORITO. Sério, isso me motiva muito a escrever, então continuem, por favor.

Capítulo 3 - Eu nem sei o seu nome


Dois anos e quatro meses atrás

Descansou o corpo, mas a mente não acalmava. Os flashes de suas pernas correndo o máximo que poderiam enquanto o vento gélido chicoteava seu corpo frouxo voltavam a reproduzir-se em sequências repetidas na sua cabeça. Tinha pressa, uma ânsia para apartar de si todas as angústias que viveu, mas nem ao menos conseguia calar as vozes que gritavam, aterrorizando-a.

Memórias

Ela correu como se carregasse o peso do mundo nas pernas. Sua visão turva ameaçava desampara-la, mas Juliana deveria continuar. Ela precisava correr para longe de tudo. As trilhas mal iluminadas de terra atrapalhavam a visualização. O galpão não ficava tão longe da cidade, somente alguns quilômetros de uma estrada sem asfalto. O corpo dela fraquejava a medida que tentava correr mais e mais.

A sua mente. As suas ideias. O seu plano de salvar o mundo. Tudo, exatamente tudo, era único. Como o ser inigualável que é, sabia que a morte não era uma opção. Ainda não tinha entregado tudo que poderia para o mundo. Sua missão não tinha acabado.

Já estava longe do galpão ou ao menos pensava estar. Chino não deixaria que viessem atrás dela, ele não poderia permitir, pois sabia que a filha não atiraria em ninguém.

Juliana limpou os olhos que lacrimejavam, puxou o ar até sentir os pulmões doerem mais do que seu corpo suportaria. Olhou para os lados buscando localizar-se, qualquer ponto de referência que indicasse onde estava.

Estava perdida.

Ela puxou o ar desesperadamente, num ímpeto de respirar e recobrar a consciência.

- Droga.

A guerra interna que enfrentava assolava-a frequentemente. Juliana passou tanto tempo fugindo de assuntos mal resolvidos que estava uma bagunça por dentro, uma desordem.

Levantou o corpo aos poucos, sentou-se na beirada da cama e respirou fundo. Não conseguiria dormir, os turbilhões de pensamentos faziam sua cabeça pesar e, mesmo cansada, a mente não concedia um momento de paz.

Precisava escrever, o prazo que tinha encerrava em três dias e Juliana só tinha uma lista sobre o que não dizer. Não estava pronta para revirar os assuntos de família, ou os horrores que viveu tentando fugir, ou os abusos de seu chefe aproveitador.

Não.

Infelizmente seu coração era feito como uma caixa de Pandora, deixando escapar todos os males quando aberto. Isso roubava a paz, Juliana não queria ficar desconfortável fazendo a única coisa que lhe trazia sossego.

Apanhou o caderno camurça preto que ganhou de sua avó há três verões, abriu a gaveta do criado mudo ao lado da cama para encontrar uma caneta e pegou. Com o crepúsculo, a luz da lua entrava pela janela do quarto para alumiar o ambiente parcialmente. Juliana fechou os olhos, deixou a mente vagar para longe e mais longe. Pensou em seu pai, no corpo sem vida de sua mãe, naquela manhã que assistiu o pôr do sol na praia, no azul do mar.

Azul.

- Azul...- sussurrou, imersa nas imagens que eram formadas na mente.

Prendeu o ar nos pulmões, os dedos caçaram a caneta, apertou-a firmemente e foi despertando aos poucos. Olhos azuis mais brilhantes que as águas tomavam seus pensamentos. Ela reconheceu as orbes no mesmo instante. Era da garota da cafeteria.

A respiração saiu lenta e pausada pelos lábios entreabertos, pressionou a ponta da caneta azul na página amarelada do caderno e permitiu que as palavras esvaziassem, escorressem de sua mente para o papel.

"A imensidão dos olhos de sonho desafiavam a profundidade do céu. A garota era um vasto universo que parecia estar sendo desbravada e..."

 

[...]

Ele circundava as mãos grandes pela cintura dela. Era bruto, como se quisesse dominá-la, mas não de um jeito romântico. Lucho tinha sede por posse, gostava de manter seus pertences por perto e Valentina Carvajal parecia mais uma de suas peças. O pior é que ela sentia-se assim.

O quase relacionamento dos dois já durava mais do que qualquer um de seus amigos acreditara que duraria. Dois anos e três meses de idas e voltas e Valentina estava mais vazia a cada segundo.

Depois que sua mãe ficou doente, Lucho sempre esteve por perto e Valentina foi deixando, mesmo sem querer.
A moça estava acostumada com relações vazias e carícias maldosas vindas de pessoas próximas. Valentina criou-se no caos.

- Toma.- o rapaz entregou um copo pequeno com um líquido transparente e piscou, deixando o sorriso lascivo dominar seus lábios.- Bebe, Val. A noite só começou.

Valentina queria gritar que não, que estava desconfortável na presença do rapaz e sua mente vagava para longe a fim de tornar aqueles momentos em sua companhia os menos sufocantes possíveis. Ao invés disso, ela entortou os lábios perfeitamente desenhados em um sorriso simples e bebeu.

Não lembrou do que aconteceu na festa depois disso.

 

Na manha seguinte o mundo parecia ter aumentado o volume. Tudo estava alto demais, ensurdecedor para a cabeça latejante da moça.

- Mi niña, trouxe aquele suco de laranja que tanto gosta.

Silvina entrou no quarto de Valentina carregando uma bandeja de madeira nas mãos enrugadas.

- Aí, Silvina, não.- sua voz quase não saia.- Eu não quero.

Ela cobriu os olhos com as mãos quando tentou abri-los e sentiu as orbes sensíveis serem atingidas pelos raios solares da manha que entravam pela grande janela de vidro. Valentina perdia-se entre as almofadas e o edredom branco. A mulher observou a moça que tanto cresceu, mas que ainda parecia a menininha esperta que conheceu com quatro anos.

- Não pode ficar sem comer.

- Eu não vou.- ergueu-se, sentindo uma dor aguda na cabeça e no corpo.- Preciso encontrar a Nayeli na cafeteria, vou comer alguma coisa lá.

- Promete ?

- Sim, Chivis.- olhou para a mulher pela primeira vez.- Eu prometo.

Levantou lentamente, agindo contra a vontade de seu corpo de permanecer na cama. Tomou banho, escovou os dentes sentindo o gosto do álcool da noite passada lembra-a do erro que foi beber tanto.

Vestiu-se com uma calça jeans escura e uma camiseta preta de gola alta. Valentina não exagerava nas vestimentas, pois assim sua mãe ensinara quando criança. A mulher dizia que o simples era belo, pois sua beleza natural não poderia jamais ser ofuscada. Valentina lembrava-se dessas conversas com uma exatidão assustadora.

Tomou nas mãos uma pequena bolsa vermelha que guardava o necessário: celular, documentos e cartão de crédito. Deu uma olhada no quarto antes de sair, o copo de vidro com suco de laranja estava cheio em cima da cômoda, apagou a luz e caminhou pelo extenso corredor do segundo andar que ligava os cinco quartos.

 

O motorista dos Carvajal estacionou a SUV preta em frente à cafeteria. As luzes vermelhas de neon da fachada estavam apagadas por estar cedo e na porta de vidro a placa de plástico indicava "aberto".

Valentina empurrou a porta, o sino tilintou indicando sua chegada. Como de costume, o lugar não estava muito frequentado, somente três mesas eram ocupadas por clientes que não somavam mais de sete pessoas. Além deles, uma mulher de cabelos vermelhos e curtos na altura dos ombros rechonchudos cozinhava enquanto a garçonete morena alisava o balcão comprido com um pano seco.

Caminhou para os fundos do estabelecimento, que mesmo não sendo muito grande, permitiria que ficasse mais isolada das conversas e risadas. Valentina sentou-se na cadeira acolchoada vermelha, apoiou os cotovelos na mesa e enterrou a cabeça nas mãos, cobrindo a face. Estava exausta, seus ossos doíam e cada mínimo barulho parecia que percussionistas tocavam eufóricos dentro de seus tímpanos.

No começo da noite de ontem foi convidada para ir a uma festa de um de seus colegas de faculdade. Lucho, seu quase namorado, chegou na casa dos Carvajal sem nem perguntar se ela queria ir ou não, simplesmente disse que Vicent prometeu uma grande e inesquecível festa. Na verdade, o único evento inesquecível foi o fato de ir a festa, mais nada além disso era lembrado por Valentina.

- Aqui.

Uma xícara de porcelana branca apareceu no campo de visão. Ela franziu o cenho, deixou os olhos subirem pelo braço estendido até fitarem o rosto da jovem morena lhe sorrindo de lado.

- É café.- informou, falando baixinho.

Valentina umedeceu os lábios rosados antes de sorrir. Sentia o corpo doer por inteiro, além da cabeça que rodopiava deixando-a um pouco atordoada.

- Ahn, obrigada.- pegou o recipiente. Seus dedos delgados tocaram nos dedos frios de Juliana, uma sensação estranha percorreu sua pele, fazendo arrepiar. Juliana recuou sem jeito, colocando as mãos atrás do corpo.- Minha cabeça dói.

Tinha um cuidado singular no gesto de Juliana que Valentina não encontrava com frequência. Ela não a conhecia, não haviam trocado mais que algumas palavras, mas a garçonete parecia se importar. Valentina sorriu ao pensar nisso.

- Bebe, vai ajudar.- a voz da morena chamou sua atenção.- Se precisar de alguma coisa ou o café não te curar como eu espero que ele faça, estarei por aqui.

Elas olharam-se nos olhos profundamente, estavam conhecendo em detalhes uma a outra. Valentina tinha uma galáxia em expansão nos olhos que convidavam, prometiam tantas coisas. Juliana carregava na escuridão de suas orbes guerras inimagináveis para alguém tão jovem.

A morena sentiu algo estranho, um frio na barriga como se borboletas batessem suas asas coloridas voando em rasantes no estômago. Valentina tinha olhos que hipnotizavam, que despertavam sensações desconhecidas e Juliana nem ao menos sabia o seu nome.

- Obrigada.- mordeu o lábio inferior numa tentativa falha que disfarçar o sorriso que brotava espontâneo.- De verdade.


Notas Finais


Me digam o que acham.
Indiquem a fanfic também, se quiserem, claro.
Até logo.


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