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História Quantas chances são necessárias? - 1. ATO II: Não é uma chance


Escrita por: Docy

Capítulo 2 - 1. ATO II: Não é uma chance


Fanfic / Fanfiction Quantas chances são necessárias? - 1. ATO II: Não é uma chance

8

Quem não pareceu gostar da novidade foram os servos que eram obrigados a ficarem parados no quarto de Nico para acompanha-los enquanto comiam. Will pensou em dispensa-los, mas não era o dono ali e só podia fazer isso se Nico permitisse, mas o di Angelo não deu qualquer sinal de que faria.

Os dois sentaram sobre almofadas em frente a baixa mesinha onde estava a comida. Outra vez Will questionou a Nico sobre o pai e obteve a mesma resposta seguida de uma silêncio que o mais velho precisava quebrar se quisesse ficar mais próximo do seu aluno.

Voltou a olhar para o servos, no total haviam três e Bilg que não podia ser dispensados por ser o acompanhante na aula. Nico ainda comia em silêncio, o cabelo negro preso atrás lhe deixando (como Will já tinha percebido antes) lindo. Puxou o ar com força para os pulmões.

– Vocês três podem se retirar. – Os servos saíram as pressas do quarto e Bilg encarou Will com expectativa, mas nada ele podia fazer. – Odeio ser observado por tantas pessoas.

Nico olhou para Bilg e ergueu o queixo. O escravo fez uma reverência exagerada e saiu aos tropeços do quarto.

– Eu também. – Talvez tenha sido apenas uma mera impressão de Will fruto de suas esperanças, mas viu, ou achou que viu, um leve sorriso no rosto de Nico. – Me permite fazer uma pergunta?

– Quantas quiser – Não tentou esconder sua animação por aquilo. Pois Nico nunca fazia perguntas. — Na verdade, prefiro que sempre me faça pergun...

— Por que você ainda está aqui?

Will sorrir, mas foi o sorriso que sempre dá em situações que não sabe bem o que fazer. Tentou também não desvia o olhar quando começou a responder fingindo não saber do que exatamente Nico se referia.

— Porque sou seu mestre.

Nico se afastou da mesa, deixando a coluna reta e os joelhos dobrados, Will sentiu aquilo aumentar junto com a vontade de sair daquele quarto.

— Muitos já foram e desistiram. Você pode ir também, ninguém vai taxa-lo de nada. Na verdade, creio que irão parabenizá-lo por durar tanto tempo.

— Não pretendo sair antes de ter terminado o que vim fazer.

Nico desviou os olhos para entrada como se esperasse que alguém entrasse por ali a qualquer momento. Suas mãos, que antes estavam em cima da mesa, se ergueram com o cotovelo ainda na mesa. Will sentiu os seus pelos se arrepiarem, a sensação de algo ruim gritando no seu ouvido que devia correr.

— Eles têm medo de mim.

— Mas não é para tanto. Tudo bem que você tem essa coisa que parece que vai me engolir. Mas ainda assim...

Agora Will teve a certeza que Nico sorria, mas de forma alguma era um sorriso bonito e convidativo.

— Não é só isso.

— Então o que é mais?

— Ah, — o sorriso sumiu ao passo que os olhos profundos e negros fixaram em Will — se eu te mostrar vai sair correndo, tenho certeza.

Will engoliu em seco. Sentia isso também. Sentia que tivesse que ver seja lá o que Nico dizia sairia aos tropeços do quarto assim como todos os servos e o jovem escravo Bilg. Talvez Nico já os tenha mostrado por isso o medo. Mas Will não é um servo e muito menos um escravo.

— Não vou e digo mais, se tem tanta certeza que vou, façamos uma aposta então.

— E o que vai querer?

— Se eu ficar mesmo depois de você mostrar, vai ter que se esforçar para ser mais participativo.

Nico não fez nenhum gesto para dizer que concordava com a cláusula, mas Will acabou sabendo da confirmação quando o quarto começou a esfriar e também quando percebeu que as sombras dos vasos de Nico pareciam maiores. Em princípio achou que apenas estivesse vendo coisas como daquela vez na estrada, olhou para Nico e viu o seu sorriso e enfim percebeu o que era que ele iria mostrar.

A mão esquerda tinha sido erguida na altura da cabeça e os dedos estavam imersos em uma escuridão que não devia ser possível. Duas das velas ao lado da cama se apagaram primeiro e depois todas as outras as seguiram.

Will estava no escuro, não conseguia ver nenhum contorno, mas sabia que se vira-se estaria de frente para a porta aberta e poderia sair sem Nico perceber. Poderia pegar suas coisas em seu quarto, ou até mesmo nem pegar, e ir para bem longe daquela casa, de Nico. Talvez ainda pudesse escapar sem ter ofendido nenhum deuses. Ele não tinha culpa, tinha? Não sabia de nada. Ou sabia?

Poderia voltar a sua cidade, pedi proteção a Apolo, sua família é abençoada por ele, podia fazer oferendas, festas, poderia se humilhar um pouco para ser aceito de novo.

Will ficou de pé realmente considerando voltar a Delfos e ficar lá por um tempo e fingir que nunca tinha encontrado um filho de... Mas isso é possível? Os deuses não mais se envolviam tão diretamente com os humanos e além disso, voltar a sua cidade era comprometimento demais, não podia fazer e...

Nico é um semideus! Não há registros verdadeiros de um desde o Héracles! Mas é um filho de Hades, os outros deuses não deviam, não deviam permitir isso. Por Zeus, é o Hades! Nico deve ser horrível.

Um horrível que faz belíssimo desenhos.

Isso fez com que lembrasse do vaso no seu quarto, um presente de Nico. E se já estivesse amaldiçoado ou algo assim? Deu o primeiro passo em direção a porta. Mas Nico tinha ficado tão triste quando foram a cidade...

Pensou um pouco analisando a postura de Nico até ali tentando pensar como um mestre de verdade ao menos por esta ultima vez. Um aprendiz calado, nada afeito a diálogos, distante, mas aceitando todos os convites de Will inclusos esse de comerem juntos, pedindo para o escravo para sair, que devia obrigatoriamente estar acompanhando-os na aula. E ainda fazendo aquela cena.

Will sorriu um pouquinho mais confiante.

— Amanhã nossa a aula será ao ar livre — e saiu com as pernas tremendo.

 

Não encontrou ninguém no caminho, entrou no quarto e se trancou lá dentro. Ainda não sabia se estava fazendo a coisa certa em ficar ali, poderia estar atraindo a fúria dos deuses para si. Sentou na cama e chamou por Apolo pedindo proteção e principalmente orientação.

9

Nico estava atrasado e Will usou desse tempo extra para andar pelos vinhedos. Precisou desviar dos servos que colhiam as uvas para não atrapalha-los no trabalho e acabou seguindo para mais fundo na plantação onde as mulheres, quatro ao todo, estavam pisando as uvas para a extração do sumo. Nunca tinha estado naquela parte antes, sempre preferia ficar mais próximo da casa principal devido ao sol constante.

Will ainda não tinha se decido se ia acreditar no que todos diziam ali, não conseguia acreditar que Apolo poderia punir toda a cidade por causa de um. Mas agora Will tinha aprova de que Nico realmente era filho de quem todos diziam e além disso... retirou o suor da testa com as costas das mãos... O calor está insuportável. Como a plantação podia estar tão bem?

Uma das mulheres viu Will parado e acenou para ele chamando a atenção das outras que pararam o trabalho e também acenaram. Will conhecia aquilo, sorriu e acenou, era apenas a sua aparência abençoada agindo.

Colocou as mãos para trás e deu a volta certo que iria encontrar Nico o esperando junto a Bilg no lugar de sempre. Decidiu não pegar o mesmo caminho, entrou em um onde as uvas ainda não estavam boas para a colheita, mas estariam em poucas semanas. Seguiu a plantação sempre olhando o topo e admirado como tão boas estavam e uvas não deviam estar tão boas assim nesse calor.

Seus olhos foram atraído para o caule fino que de um das plantas e depois para uma haste de madeira estendido ali. Seguiu com os olhos a haste notando que ela seguia por toda plantação. Se abaixou, tocou a areia.

— Está molhada.

— É claro que está.

Will reconheceu a voz de Nico e só depois olhou para ele. Nico estava parado com os braços cruzados, o cabelo preso para trás lhe deixando o rosto totalmente a mostra e bem mais lindo. Ele não suava o que talvez indicasse que estava ali a pouco tempo. E tinha uma leve mudança que Will só veio perceber antes de dormir naquela noite, Nico parecia mais contente.

— Mas como isso é possível? — trouxe um pouco da terra molhada na mão, olhou bem de perto para ter certeza que não estava vendo coisas — Este tem sido um verão muito seco e toda a região está com falta de água, as plantações estão morrendo.

— Talvez até seja culpa minha pela seca — deu de ombros — mas não é obra de nenhum deus para esta plantação aqui estar indo bem.

— Como não?

— Veja — Nico apontou para haste de madeira que seguia rente ao chão bem junto dos caules das plantas — São ocos por dentro, fiz furinhos a cada dois braços e é por ai que a água sai e pinga nas plantas. — Will abriu a boca, mas nada saiu. Como não tinha pensado nisso antes? Era tão simples e genial — E água vem de armazenamentos que fazemos nas épocas de chuva.

— Foi...— olhou novamente para o sistema de irrigação muito mais útil e prático do que o típico “jogar água” ou as aberturas de canais curtos, assim, com madeira fina e oca a água nunca era desperdiçada e ainda podia cancelar sempre que necessário —...foi ideia sua?

Nico deu de ombros outra vez deixando claro a confirmação.

Will ainda olhava o sistema simples com admiração. Poderia utilizar-se daquilo para aplicar na sua cidade, não passavam por nenhuma grande crise de calor (Apolo sempre fora muito generoso com Delfos), mas podiam diminuir o desperdício. E a cidade! Poderiam ajudar a cidade! Olhou para Nico animado e mostrar ao seu pai que tem outras formas de ajudar a cidade.

— Por que você não ajuda os outros Donos os ensinando isso?

— E você acha que eles aceitariam a minha ajuda?

A ilusão de Will voltando a Delfos com uma invenção inovadora para agricultora morreram ali. Ninguém irá querer aplicar algo criado por uma cria de Hades, ninguém irá querer manter algo em casa que provocasse os outros deuses.

Nico descruzou os braços deixando ambas as mãos amostra, na verdade, deixando as faixas que cobriam as mãos a mostra.

— Você se machucou? — Will perguntou. Sua mente já processando as possíveis plantas e encantamentos que ajudavam com machucados nas mãos. Não era exatamente um curador, mas sabia se virar bem sozinho.

Nico olhou para as mãos e as colocou rapidamente para trás como se só agora tivesse lembrado que estavam machucadas.

— Não é nada sério.

Will ficou de pé, lançou mais um olhar para o simples sistema de irrigação e fez uma anotação mental de depois pedir a Nico para que lhe mostrasse onde armazenavam a água. Limpou a mão na túnica e sorriu.

— Nunca me senti tão inútil em toda a minha vida. — mas ele sorria — acho que eu devia estar sendo o aprendiz e você o mestre.

— O que disse?

— Veja isso! — apontou para nenhuma planta em particular — O que eu te ensino? Números? Astronomia? Plantas? Eu só falo e falo. E veja o que você fez!

— Não é grande coisa. — ele estava com vergonha pelo elogio. Com certeza não era um homem acostumado com elogios. Will sorriu.

— É grande coisa sim, Nico. Mas deixamos isso para depois — tocou o ombro do di Angelo, percebendo que não fazia isso a um tempo — Tenho que te ensinar a melhorar alguns encantamentos de cura, não é isso? Embora eu ache que você devia ter outro mestre. Na verdade, uma mestre. Uma mulher que eu conheci em Esparta. Tão boa na guerra, na construção e em beleza.

Will deixou de fora o fato de ter apanhando dela e quase ter perdido um dedo. Não queria que Nico o visse como fraco, já era muita vergonha perder para uma mulher. Ainda conseguia sentir a adaga pressionando o seu pescoço.

— Parece que já viajou muito.

Os dois começaram a caminhar, Nico na frente e Will andando mais devagar ainda com os olhos seguindo as hastes ocas de madeira. Se sentia mais feliz, Nico estava fazendo o combinado de sendo mais participativo. Na verdade, pensou, Nico parece esta apenas sendo ele sem aquela casca que mantém os outros longe.

Tinha pensado muito na noite anterior, e suas suspeitas estavam se mostrando fundáveis. Era Nico quem controlava aquela coisa que fazia com que todos tivessem vontade de se afastar, talvez fosse apenas um escudo que ele tinha criado para se proteger dos outros. E agora que sabia que Will não ia sair correndo tão fácil, estava deixando com que aproximasse.

Mas ainda eram apenas especulações.

— Se quiser... — Will falou — posso falar sobre as minhas viagem e em troca você fala das suas.

— Se não percebeu, não sou de sair muito.

— Tudo bem, — avançou os passos, finalmente deixando o sistema de irrigação de lado, mas não o esquecendo completamente — mas então me fale de você, do que gosta, o que faz em seus horários vagos. Até mesmo sobre seus desenhos. Gosto deles.

Nico parou. Will só não esbarrou nele porque tinha se distraído vendo os pingos de água cair na terra molhada.

— Por que?

Não precisou se esforçar para entender o que ele queria saber.

— Porque você é meu aprendiz. — sorriu para ele — precisamos ter uma boa comunicação se queremos que realmente aprenda alguma coisa.

— Achei que você tivesse falado que eu devia ser o mestre aqui.

Will piscou surpreso, mas logo estava sorrindo de novo. Nico tinha feito uma graça! Fez uma reverência exagerada.

— Então, meu mestre, o que vamos aprender hoje? — fez outra reverência — Por favor compartilhe com este humilde aprendiz seus ensinamentos.

E foi com isso que Will viu pela primeira vez o sorriso de Nico. Não só Will, mas Bilg também, o escravo estava parado próximo onde as aulas iriam se realizar e tinha ficado alerta ao vê-los chegando. Tanto Will como Bilg não esperavam aquela reação do di Angelo.

Solace balançou a cabeça. Com cabelo para trás não era nada comprado a Nico sorrindo. Ele realmente fica bonito assim. Fez uma anotação mental de pedir para que ele sorria mais.

10

Olhando para a tela de madeira decorada com uma representação de Héstia, Will decidiu que ela era bonita demais para ficar apenas em seu quarto. Pegou o presente que Nico lhe dera e o levou para o primeiro cômodo da casa onde o Dono di Angelo recebia as poucas visitas que se atreviam a ir a sua casa e onde também costumavam acontecer as refeições de Will quando ele comia sozinho.

Parou com a tela de baixo do braço procurando um lugar bom para coloca-la.

Sentiu a aproximação de Nico antes que ele falasse algo.

— Onde você acha que fica melhor? — perguntou.

Nico entrou no seu campo de visão. Ele estava com os cabelos molhados e as mãos ainda enfaixadas.

— Não aqui tenho certeza.

— Por que não? É uma tela linda. Devia querer que outros a vejam.

Olhou para Nico esperançoso, mas ele lhe deu as costas e procurou se sentar em um dos bancos (um que Will tinha sentado quando chegou meses atrás). Nico lhe lançou um olhar curioso, tão diferente do costumeiro tédio que sempre mantinha.

— Meu pai não vai gostar.

— Ele nunca passa muito tempo em casa de qualquer forma.

— Os servos também não vão gostar, e nem os escravos.

Will sorriu surpreso, não esperava que Nico se preocupasse com os servos e muito menos com os escravos.

— Mas é um belíssimo desenho. — olhou para a mesa encostada na parede onde normalmente colocaram frutas para os convidados. Foi até ela e colocou a tela — Vai ficar aqui, assim qualquer um poderá ver quando chegar. E ninguém precisa saber que foi você quem fez, a não ser que queira isso.

Nico negou. Passou a mão pelos cabelos molhados os puxando para trás, mas para o descontentamento de Will, os fios voltaram a mesma posição de antes.

— Ei, Nico.

— Hm?

— Posso ajeitar seu cabelo? Deixa-los para trás. Ficam mais bonitos assim.

Nico aceitou ficando de costas no banco dando acesso para que Will se colocasse atrás dele e mexesse a vontade em seu cabelo.

A primeira coisa que notou foi que Nico tinha cabelos muito macios e bem tratados, bem diferente de vários dos quais Will tinha tido a oportunidade de tocar (com exceção de dois ou três, todos os que tocou foram em momentos bem mais íntimos). Pensou se aquilo não era uma das “bênçãos” de ser filho de um deus. Se, somente se, ser filho de Hades pudesse ser considerado uma benção.

Will não consideraria.

Passou os dedos entre os fios como se fosse um pente. Puxou-os para trás tomando todo o cuidado para não ser muito agressivo, não tinha muita delicadeza para aquele trabalho, mas tentou. Quando viu que acabou bagunçou novamente, os fios eram tão macios que queria poder toca-los mais.

Pegou duas mechas do lado esquerdo e começou a enrola-los, repetiu o mesmo esquema do lado direito e os prendeu junto atrás com um nó. Passou os dedos ao longo do cabelo também e em nenhum momento sentiu nós.

— O que você faz com seu cabelo?

— Perdão?

— Eles são tão macios — terminado o trabalho, foi a frente de Nico para olha-lo. — E você devia deixar mais vezes o cabelo assim, fica mais bonito com ele para trás. — Nico tocou o trabalho de Will e sorriu agradecendo. — Ah, e sorrir mais vezes também.

Nico desvia os olhos para a tela, ele parecia com vergonha aumentando ainda mais a sua graça e diminuindo a sensação de “fique longe” que Will sentia.

— Obrigado — ele ficou de pé — E se me dê licença, irei me retirar.

— Não dou — cruzou os braços — temos aula, ou você se esqueceu?

Os ombros de Nico caíram, ele esvaziou os pulmões os enchendo em seguida.

— Podemos adiar? Estou cansado. — ele juntou as mãos e voltou a desviar os olhos de Will.

— Acho que você vai gostar. — colocou a mão na cintura — E não vou aceitar um “não” como resposta.

— E posso saber o que?

— Gosta de cavalgar?

11

A ideia inicial de Will quanto a cavalgar era para poder explicar a Nico na prática sobre como havia sido a criação. Mas enquanto tentava acalmar a égua e cavalo lembrou do que um dia seus mestre falou sobre esses animais.

Não existe animal mais sensíveis do que os cavalos, Will. Agradeça a Poseidon por tê-los feitos assim.

Mas naquele momento Will queria amaldiçoar Poseidon, e teria feito isso se não soubesse que tinha já muitos motivos para os deuses o odiassem.

— Calma, garota — falou para a sua égua malhada, mas Giia não queria ficar quieta. Relinchava e puxava a guia com força se afastando de Will e principalmente de Nico. O cavalo Órion, não estava muito diferente.

Nico tinha avisado que não era muito afeito a cavalos e o sentimento era reciproco, e como sempre, Will insistiu para irem.

Olhou para Nico, ele estava tenso segurando a guia do seu cavalo, mas parecia querer correr para o outro lado. Conseguia sentir a repulsão ao redor dele, mas não estava sendo atingido parecia que Nico a dirigia apenas aos cavalos.

— Não precisa ficar medo — avisou. Will precisou dá uma pausa na fala para estender a mão e segurar o outro cavalo, percebeu que os dois só não fugiam de fato por ainda estarem presos ao tronco. Nico ficou mais aliviado agora não precisava segurar a guia — Tente se acalmar também.

— Eu não estou com medo.

Mas era nítido para Will que ele estava. Os olhos Nico estavam vidrados nos passos dos animais como se esperasse algum ataque. Poderia até ser uma visão fofa, Will pensou, se não fosse tão perigosa.

— Por que você não tenta tocar o pescoço dele? Os cavalos amam carinho no pescoço.

Não tinha sido uma boa ideia, no primeiro passo vacilante que Nico deu, o cavalo jogou-se para trás escapando das mãos de Will, mas ainda preso ao tronco.

— Não podemos ir andando?

Will suspirou derrotado.

— Tudo bem. Mas tente se acalmar para que eles fiquem mais calmos.

— Já disse que não estou com medo.

Will chamou o servo responsável pelos animais. O homem, magro e baixinho, fez uma reverência apressada aos dois correu para dentro do depósito voltando com feno para acalmar os cavalos.

Nico ficou mais calmo enquanto os dois se afastavam dos animais. E aparentemente os animais também. Ficou calado por um tempo e apenas assentindo as coisas que Will falava, por um momento achou que ele ficaria assim e voltaria ser o antigo Nico.

Mas quando eles pararam as margem do córrego vazio Nico olhou para o céu limpo, parecia querer falar algo, as mãos (ainda com as faixas) estavam juntas. Não tinha qualquer sinal de repulsa nele.

Will se calou, esperou que ele falasse primeiro caso realmente quisesse. Sentiu o vente bem-vindo bater em seu rosto causando um alívio momentâneo no dia quente. Os cabelos negros de Nico ainda estavam preso, mas alguns fios voaram em seu rosto. Will precisava admitir, era uma boa visão.

— Eu caí do cavalo quando era criança. Talvez isso tenha me deixando com...

— Medo?

— ...receio.

Will sorriu. Já tinha percebido isso naquela primeira refeição que fizeram, sempre que Nico se sente ameaçado de alguma forma, aumenta a repulsa aos outros que não passa de uma proteção para si próprio. E Will tinha decidido que faria aquilo parar, ajudaria o seu aluno com isso. Mesmo que depois precisasse se enclausurar na casa do seu pai e implorar proteção a Apolo.

— Tudo bem, mas garanto a você, eles têm mais medo de você do que o contrário.

— Agradeço o seu consolo. — ele sorriu de forma curta.

— Mas estou falando sério, você acaba assustando as pessoas.

— E novamente agradeço consolo.

Ele ainda não estava irritado, percebeu, mas poderia ficar a qualquer momento. Will precisava ir com calma, precisava pensar. Puxou Nico pelo braço esquerdo para que ambos sentassem. Não era bem confortável sentar ali, as pedras pontudas faziam a bunda doer e também não tinha sombra, o sol batia forte ali e a brisa era algo raro.

Will não queria demonstrar desconforto, então afastou as maiores pedras e deitou, percebeu o olhar curioso de Nico pouco antes de cobrir os olhos com o braço se protegendo do sol.

— Deita, Nico. É bom.

— Não sou louco. E é melhor sairmos daqui rápido, está muito quente.

— Não seja ranzinza, Nico. Deixe isso para os velhos.

— Eu não...

Não deixou que ele terminasse, o puxou pelo bravo o obrigando a deitar. Nico precisou desviar para que sua cabeça não batesse nas pedras, fez igual a Will, usou o braço para proteger os olhos.

— Você sempre tem péssimas ideias assim ou só é comigo?

— Não sei, mas uma vez fui tentar caçar e quase perdi um braço.

Falar em braço fez com que Nico erguesse um pouco o seu e olhasse para os de Nico e depois para as mãos enfaixadas, teria ficado olhando por mais tempo, só que o sol forte contra seus olhos não permitiram.

— Você ainda está machucado? Sabe que sou bom com cura, posso ajudar.

— Mas não com essa.

Will ergueu um pouco o braço para olha-lo. Agora o desconforto de estar deitado entre as pedras juntava-se ao calor fazendo estar ali ser quase insuportável, mas Nico não estava suando.

— Você ficaria impressionado se visse o que posso fazer com machucados. — esticou o braço desocupado e puxou um fio de Nico gentilmente — Com o encantamento certo posso até colocar o braço de um homem no lugar, e olhe que já fiz isso.

— Não estou desconfiando da sua capacidade. Só digo que não é tipo de machucado que se usa encantamentos para curar.

Will sentou assim podia olhar para Nico diretamente sem precisar proteger o rosto do sol.

— Ao menos posso ver?

Nico ainda estava deitado e quando ele ergueu a mão esquerda esbarrou no ombro de Will que estava perto o suficiente para isso. A mente do Solace registrou aquele memento como sendo a primeira vez que seu aprendiz o toca deliberadamente.

— Melhor não.

Will pegou sua mão, não tinha intenções de retirar a faixa mesmo que tocar a mão de Nico com as faixas fosse uma pequena frustação interna, pois tinha aprendido que, assim como cabelos, a pele dele era macia e fina, visivelmente pálida, mas com um toque de força. Os dedos eram longos e finos fazendo Will lembrar-se de um verso que seu mestre repetia. Dedos longos, vida longa. As unhas estavam amostra, curtas e sujas de tinta. Ele tinha pintado de vir, mas ainda assim pareciam limpas.

Fez Nico abrir e fechar a mão, analisou os dedos que estavam amostra e tocou a palma enfaixada, acabou colocando o polegar ali e a mão se fechou sobre ele. Sorriu olhando para ele. Nico estava com os olhos cobertos pelo braço protegendo-se do sol, o rosto vermelho e começava a suar.

Sentiu vontade de tirar o braço dele dali e revelar o rosto. Will já havia admito que era um belo rosto, não delicado e nem selvagem, e sim uma boa combinação dos dois. E precisava admitir também que Hades havia feito um bom trabalho. Talvez tivesse tirado o braço de Nico e tendo o exposto ao sol, mas seus olhos fixaram na parte visível do rosto. Primeiro as bochechas quentes, depois o nariz fino e em seguida a boca. Fina, pálida e convidativa. Quantas pessoa já a tocaram? Will suspeitava que nenhuma.

— Ainda vai ficar brincando com a minha mão?

Will voltou a olhar para a mão que prendia o seu polegar. A soltou.

— Acho melhor voltarmos, está muito quente — ficou de pé.

Fingiu não ver a interrogação nos olhos de Nico devido a mudanças de comportamento.

— Tudo bem.

 

Will deixou Nico com os cálculos e foi ao seu quarto. Estava confuso e com dor de cabeça. Sentia o coração batendo mais rápido e precisava se recuperar. Sentou na cama jogando um dos travesseiros no chão, ignorou o vaso do homem que tinha ganhado, o vaso parecia olha-lo da mesma forma que Nico o tinha olhado antes...com aquela curiosidade confusa.

Deitou na cama encarando o teto. A imagem da boca de Nico disponível dançava na sua mente sem parar. Will já conseguia ver o que estava acontecendo dentro de si, ou melhor, o que estava começando. Juntou as duas mãos em cima do peito, sentindo ele subir e descer mais rápido do que devia. Aquilo não devia estar acontecendo.

Ou talvez fosse uma punição dos deuses por eu ter ficado.


Notas Finais


Então???
Olha só, como disse, os capítulos são meio grandinhos.
O próximo colocarei ainda hoje, se dê certo, ou amanhã pela manhã

Até...


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