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História Quarto Andar - Shi.


Escrita por: Sabiny

Notas do Autor


Meu amigo ficou me mandando um monte de creepypasta e acabou saindo isso daqui. Se tiver ficado uma merda saibam que é tudo culpa dele
(PS: olha gente não garanto que essa história vai ser daquelas que arrepia até os cabelos de você sabe onde. Principalmente se você já for acostumado com coisas de terror, então, é, isso daqui não é nenhum "Invocação do Mal" da vida, me deem um desconto por favorzinho)


O número quatro em japonês (四) pode ser pronunciado tanto como "yon" ou "shi". A segunda pronúncia (shi), entretanto, é a mesma que para o kanji de morte (死)
Por isso tem toda uma superstição em cima desse número, sendo conhecido como "o número da morte", e é preferível ser usada a pronúncia "yon" ao se referir ao número quatro

Capítulo 1 - Shi.


Fanfic / Fanfiction Quarto Andar - Shi.

 

Desde que aceitara aquela proposta de emprego em Tóquio, sua vida até que tinha mudado um pouco, mas nada que se comparasse à enorme guinada em sua carreira que estava esperando ao embarcar naquele avião, dois anos atrás. 

Seu salário havia aumentado, porém o custo de vida naquela cidade não era dos mais baratos. Conseguiu um apartamento pequeno na parte mais ralé da cidade, e ainda teve sorte em encontrar algo em conta que fosse perto do escritório onde comparecia todos os dias. Não fazia muita diferença uma casa luxuosa ou não, já que no fim das contas, estava trabalhando enfurnado em seu cubículo a maior parte do dia, incluindo o que seria considerado muito além de um período normal e saudável. 

Após parar em frente à uma máquina automática de bebidas numa esquina e depositar duas moedas na pequena abertura, comprou uma lata de café quente que serviria para lhe aquecer naquela noite fria de outono. Gostaria de poder visitar os parques e ver as árvores em seus tons avermelhados, mas mal tinha tempo de comer direito. 

Com esse pensamento, seu estômago roncou. Não comia desde o horário de almoço. Pensou em comprar um lanche rápido na loja de conveniências, mas para isso teria que voltar parte do caminho que havia percorrido, e estava cansado demais para tal coisa. Podia aguentar até amanhã. 

Continuou andando pela rua estreita, se encolhendo em suas laterais dentro da faixa designada para os pedestres, que era pequena demais. Teria que se espremer contra os muros das casas caso passasse algum carro, mas não era algo muito recorrente ver alguma movimentação àquela hora da noite. 

Já se aproximava do prédio antigo no qual morava, dando graças por estar perto do seu lugar de descanso. A escuridão escondia a aparência decadente do edifício de nove andares, e, como todos os dias, teria que dar a volta até chegar à entrada do local. Aquela rua passava pela parte de trás da resistência, e por não ter uma entrada nos fundos, era necessária uma caminhada a mais até a porta principal. Ao menos já conseguia ver a janela do seu apartamento; o último do corredor, e por isso só podia ser visto daquele lado do quarteirão. 

Lá estava sua janela no terceiro andar. Baekhyun a olhava esperançosamente, até notar algo incomum. As cortinas estavam abertas, apesar de ele sempre as manter fechadas. Franziu o cenho achando aquilo estranho, mas sabia que estava extremamente exausto e repleto de trabalho nos últimos dias, ao ponto que poderia muito bem ter a aberto e esquecido de fechar logo depois. 

Não dando muita atenção, virou a esquina e rapidamente deu de frente com as muretas que delimitavam a entrada do edifício. O interior do local não era tão deprimente quanto sua aparência exterior. Houve uma reforma pouco antes de ele chegar, na qual acrescentaram um elevador. Não era grande coisa, mas as pernas cansadas de Baekhyun já agradeciam. 

Deu uma pequena corrida ao perceber que as portas de aço já se fechavam, sentindo o café restante chacoalhar na lata em sua mão. As impediu de fechar com a maleta que carregava, e esgueirou-se para o interior daquela caixa metálica. 

Não era o único ali. Havia outro homem consideravelmente mais alto que si, cujo curiosamente Byun sempre encontrava naquele elevador. Contudo, nunca trocaram uma palavra sequer, e Baekhyun não estava disposto a ter esse quadro mudado hoje. 

Apertou o botão para o terceiro andar, terminando de beber o café que já esfriara enquanto as portas se fechavam. As engrenagens guinchavam um pouco conforme começavam a se mover. No entanto, não era o único barulho presente. Seus ouvidos capturaram o estranho som de algo pingando, e ao checar e constatar que não vinha da lata vazia em suas mãos, olhou para o lado, tendo um sobressalto assim que percebeu a origem do gotejar. 

— Minha nossa! Você está bem?! — perguntou completamente horrorizado, e o mais alto tornou a face para si lentamente, não mudando o semblante neutro que não combinava com as manchas vermelhas e pegajosas em seu rosto. 

Sua roupa estava encharcada com o que Baekhyun temia ser sangue, e aquele líquido viscoso de um vermelho escuro escorria de seus dedos até pingar no chão, onde uma pequena poça se formava. 

— Sim. — respondeu sem emoção alguma, o que apenas serviu para deixar o menor mais preocupado. 

— Você... isso-... isso é sangue?! — procurou perguntar usando o japonês aprendido naqueles anos morando ali. Entretanto, no momento do susto, as palavras se atropelavam ao tentar falar naquela língua, mas o homem ao seu lado parecia bastante calmo enquanto analisava as próprias roupas encharcadas. 

— Estou pintando as paredes da minha casa. 

Seus nervos acalmaram com aquela explicação. Fazia sentido, apesar de não entender muito bem o contexto completo daquela situação. Viu que o tempo dos dois havia acabado ao perceber as portas do elevador se abrindo, e por isso apressou-se até a porta e a segurou, sentindo certa obrigação de dizer qualquer coisa para aquele homem que aparentemente morava no mesmo prédio que si. 

— Certo, então... se cuida. 

O outro assentiu uma única vez, de forma lenta e sem mudar o semblante. Cansado demais para o achar esquisito, Baekhyun o deu as costas e seguiu para seu apartamento. Pode ouvir as portas de aço se fechando enquanto destrancava a fechadura da porta 39, finalmente entrando em seu apartamento. 

Após retirar os sapatos da entrada, andou poucos passos até seu quarto conforme desfazia sua gravata, apenas para perceber que sua mente cansada lhe pregara uma peça mais uma vez. As cortinas de sua janela estavam fechadas. 

 

 

 

 

Naqueles anos vivendo no Japão, descobriu que uma parte da população era bastante supersticiosa. Ouviu vários tipos de coisa naqueles dois anos, de todos os tipos de pessoas. 

"Não espete a comida com o hashi!"

"Não escreva seu nome com caneta vermelha!"

"Nunca durma com a cabeça virada para o norte!"

Baekhyun nunca fora uma pessoa supersticiosa, e comumente só seguia tais instruções por puro respeito à cultura do local onde estava. Entretanto, não era necessário segui-la quando estava em casa. Porém, começara a achar que era por desobedecer a última instrução mencionada que dormia tão mal ultimamente. Talvez, se mudasse a posição de sua cama e dormisse com o travesseiro virado para um lado diferente, conseguiria ter uma boa noite de sono, sem que a paralisia do sono interrompesse seu descanso. 

Esfregava o rosto na tentativa de afastar cansaço e as imagens perturbadores que invadiram seu sono enquanto esperava o elevador naquela manhã; mais uma em que iria passar o dia dentro de seu escritório. Quando as portas se abriram, mais uma vez se deparou com aquele homem que o deu um susto na noite anterior. 

Não era incomum se encontrarem ali quando Baekhyun ia para o trabalho. Na verdade, acontecia com bastante frequência. O outro devia morar alguns andares acima do seu. Porém, hoje a rotina silenciosa dos dois foi quebrada ao outro o dirigir um cumprimento. 

— Bom dia. 

Byun o olhou, encontrando seu rosto limpo e sem nenhum vestígio da tinta vermelha que o cobria na noite anterior. Ao invés disso, havia um largo e radiante sorriso em seu rosto, algo que surpreendeu o menor. Nunca o havia visto sorrir, ou ao menos prestado qualquer atenção em sua presença em geral. Possuía traços definidos, e com certeza não poderia ser considerado feio. 

— Bom dia. — respondeu ao inclinar a cabeça brevemente numa reverência curta, com sua voz rouca e cansada; um contraste bastante perceptível com o tom limpo e animado do outro. 

— Desculpe pelo susto que lhe dei ontem. — falou com aquele mesmo sorriso e o menor assentiu devagar, logo em seguida tendo o maior se apresentando antes que pudesse dizer alguma coisa. — Sou Chanyeol. 

Pensou em se apresentar também num gesto de educação com aquele homem que parecia ser o único naquele estado de espírito àquela hora da manhã, mas foi distraído pelo elevador que parou no último andar. 

Saindo do local, virou-se brevemente e viu que o maior nem ao menos se mexera de seu lugar. 

— Você não vai sair também? — perguntou um tanto confuso, vendo o sorriso lhe sendo direcionado aumentar, algo que não achara que seria possível. 

— Esqueci uma coisa. — respondeu apontando para cima, indicando os andares acima dos dois. Baekhyun assentiu e tornou seu caminho, caminhando rápido para não se atrasar. 

Enquanto caminhava entre a neblina da manhã até o trabalho, sua mente ponderava algo que só percebera agora. Era fato que encontrava Chanyeol todos os dias naquele mesmo elevador, porém, nunca o vira sair. 

 

 

 

 

Seus horários sempre batiam, e com o tempo Baekhyun começou a ficar feliz com isso. Chanyeol sempre puxava conversa consigo quando se encontravam, e com o tempo conseguiu derrubar a barreira de meras conversas triviais entre os dois, até conseguirem manter uma conversa agradável, apesar de curta. 

No entanto, o menor ainda se via curioso em nunca ver o outro sair do elevador pelas manhãs. Era sempre a mesma desculpa de ter esquecido algo em sua própria casa, até que Baekhyun, nem um pouco convencido, o questionou para que este admitisse o real motivo. Ao ouvir do outro a confissão de que seu horário de serviço era mais tarde e pegava o elevador aquele horário apenas para ver Baekhyun, o menor sorriu, sentindo-se realmente lisonjeado. Seu rosto esquentou e mordeu o lábio inferior para retrair um pouco o sorriso largo que se formou, um dos muitos que aconteceram nos dias que se seguiram. 

Adorava as conversas dos dois naqueles horários em que se encontravam entre os dias, e foi numa noite fria que voltava pra casa, que Chanyeol fez um convite que Byun não percebeu estar esperando até lhe ser feito. 

— Que frio! — foi a primeira coisa que disse ao entrar na caixa de metal assim que as portas abriram e encontrou Chanyeol ali, onde sempre estava. 

O inverno se aproximava, e os casacos nos quais Baekhyun se enrolava pareciam não ser suficientes para se manter longe dos ventos gélidos. E estranhamente, aquele elevador estava ainda mais frio do que a noite nas ruas de Tóquio. O maior apertou o botão do terceiro andar, já sabendo para onde o menor seguiria. Sua respiração formava fumaça no clima frio dali, o surpreendendo ao não acontecer aquilo nem do lado de fora. Porém, o comentário do maior chamou mais sua atenção do que aquele acontecimento incomum. 

— Sabia que dizem que lugares frios indicam espíritos presentes ali?

Um clima silencioso pairou sobre os dois enquanto seus semblantes sérios se encaravam, e só havia uma reação que Baekhyun poderia ter para aquilo. 

Riu do comentário do maior, achando que este estava apenas tentando o assustar. Chanyeol o acompanhou com aquele sorriso cheio de dentes, apesar de que desta vez, ao contrário das outras, não possuía o brilho radiante que geralmente o acompanhava. 

As portas se abriram logo em seguida e Byun seguiu para fora delas, segurando a porta automática na intenção de se despedir do maior e o desejar boa noite, como sempre fazia. 

— Você vai estar livre amanhã? — Chanyeol perguntou antes mesmo que o menor pudesse se despedir, e continuou a falar sem esperar por uma resposta. — Queria te convidar pra tomar um café na minha casa. 

O dia seguinte era sábado, e apesar de ser um dia de folga, Baekhyun ainda tinha muita papelada para terminar em sua casa. No entanto, terem um tempo maior para conversarem e se conhecerem melhor parecia tentador, e muito mais interessante do que um dia inteiro trabalhando sozinho dentro de seu apartamento. 

Concordou com a ideia, tendo um Chanyeol animado sorrindo para si. Marcaram de se encontrarem no fim da tarde, e após lhe serem passadas as informações do apartamento do maior, despediram-se. 

Baekhyun andou até seu apartamento, finalmente tendo algo pelo qual esperar ansiosamente para o dia seguinte. Enquanto rodava a chave na fechadura, seus olhos recaíram sobre o número de sua porta. Só então percebeu que Chanyeol morava no apartamento diretamente acima do seu, e onde o encontraria no dia seguinte. 

Apartamento 49, quarto andar. 

 

 

 

 

Enquanto se arrumava naquela tarde de sábado, foi surpreendido por uma batida na porta. Um tanto indignado por ter seu horário perturbado, foi até a porta para abri-la, esperando que quem quer que fosse não demorasse muito para falar consigo. Já estava quase dando a hora de encontrar Chanyeol, e detestava se atrasar para qualquer um de seus compromissos. 

Ao abrir a porta, deu de cara com um homem mais ou menos da sua altura o olhando com olhos grandes e redondos. Ele o conhecia, apesar de ter falado com ele apenas uma vez. Kyungsoo era o síndico do prédio, o único que viera lhe dar boas vindas assim que se mudara. Não se esbarravam com muita frequência, mas os horários de Baekhyun não pareciam encontrar com os de mais ninguém além de Chanyeol, de qualquer forma. 

Kyungsoo o explicou que precisava ligar para o proprietário do edifício urgentemente, mas a linha de seu telefone e internet não estavam funcionando. Aparentemente eram vizinhos próximos, algo que Byun só descobriu quando o outro explicou que, por seu apartamento ser logo ao lado do de Kyungsoo, ele foi sua primeira opção para pedir ajuda. 

Olhando rapidamente para o relógio em seu pulso, suspirou ao ver que tinha um tempo limitado, e explicou para o outro que teria que ser rápido. Este concordou, afirmando que sua ligação duraria poucos minutos. Baekhyun ficou de pé na entrada na casa, balançando-se impacientemente sobre os pés e olhando no relógio à cada trinta segundos. 

De fato, Kyungsoo não demorou muito. No entanto, na visão do morador daquele apartamento, uma eternidade havia se passado. Tentava agir com educação , evitando parecer que estava enxotando o outro de sua casa, mas a pressa com que estava era evidente. Para disfarçar, puxou assunto enquanto acompanhava Kyungsoo para fora, aproveitando que já estava no horário e saindo juntamente com ele de encontro à Chanyeol. 

— O que tinha de tão urgente pra falar com o proprietário?

— Ah, era sobre o elevador do prédio. Liguei para saber quando vão vir concertar. 

Baekhyun trancava sua porta, e seus movimentos ficaram subitamente mais lentos ao ouvir a explicação do outro. O encarou com um semblante confuso enquanto terminava de girar a chave na fechadura.

— O que houve com o elevador? 

Sua expressão perdida foi refletida por Kyungsoo, que demorou alguns segundos para absorver sua pergunta. 

— Você não percebeu? Ele não funciona há pelo menos um ano. 

Baekhyun não sabia como reagir. Na tentativa de não se mostrar atordoado, começou a caminhar lentamente com Kyungsoo ao seu lado, ao passo que sua mente tentava encontrar um sentido no que acabara de ouvir. 

— Como isso pode ser possível? Eu o pego todos os dias. E não sou o único, tem outro cara que encontro nele pelas manhãs e noites. 

Era como se não estivessem falando sobre a mesma coisa. Kyungsoo estava tão perdido quanto si mesmo, e analisava seu rosto enquanto continuava a andar lentamente ao seu lado pelo corredor. 

— Mas isso é impossível. Já faz bastante tempo que houve o acidente. 

— Acidente?

— Sim, não se lembra? Você já morava aqui quando aconteceu. 

— Você-... poderia refrescar minha memória sobre os acontecimentos? Tanto trabalho parece ter começado a afetar minha memória. — tentou dar uma desculpa para lhe serem passadas mais informações, apesar de definitivamente não lembrar-se de acidente algum. Compreensivo, Kyungsoo se pôs a o explicar. 

— Os cabos que sustentavam o elevador estavam fracos e arrebentaram, fazendo ele despencar do último andar. Foi um desastre. 

— Mas... não pode ser! Eu o usava todo dia, e tenho até outro morador pra comprovar o que digo. — Baekhyun declarou exasperado, e num reflexo apertou o passo até se aproximar das portas metálicas de seu andar. O outro o acompanhou, querendo entender seu ponto de vista tanto quanto ele mesmo queria. 

Apertou o botão para chamar o elevador repetidas vezes, mas este não funcionava. Nem ao menos a luz que indicava que o comando havia sido recebido era acendida. Kyungsoo observou sua insistência em pressionar aquele botão em silêncio por um momento, até voltar a se pronunciar. 

— Onde mora esse cara que te acompanhava?

— No quarto andar. 

Suspirou, desistindo de chamar o mecanismo que claramente não funcionava mais. "Que estranho", pensou. Lembrava-se claramente de tê-lo usado na noite anterior. Olhou para o visor acima das portas, o qual se encontrava apagado. Pelo visto, qualquer energia usada no elevador havia sido cortada. Naquele momento, Baekhyun começou a considerar que andou imaginando coisas, apesar da memória de Chanyeol o acompanhando ser bastante clara. Ou ao menos era, até Kyungsoo declarar algo que o deixo estático e fez reconsiderar tudo. 

— Não existe um quarto andar. 

Sentiu um arrepio lhe correr pela espinha repentinamente, e olhou para o outro, que o encarava perturbado. 

— Como não?

— Você sabe da superstição que há com o número quatro, não é? Ela é muito mais presente em prédios antigos como este. Não é colocado um quarto andar. A numeração vai do terceiro direto para o quinto. 

Baekhyun era familiar com a superstição com o "número da morte". Os japoneses não gostavam muito do número quatro, e obviamente as pessoas mais velhas levavam tal superstição muito mais à sério. Se perguntava se Chanyeol havia mentido para si, ou simplesmente se confundido quanto a numeração do próprio andar. 

Olhando de volta para o elevador, algo mencionado anteriormente lhe voltou à mente. Não sabia exatamente o que o levou à perguntar isso, era quase como se aquelas palavras saíssem de sua boca por si mesmas. 

— Você disse que houve um acidente? — Kyungsoo concordou com um murmúrio ao seu lado. Ficou em silêncio por um momento, reunindo forças para fazer a próxima pergunta. Sua voz saiu muito mais baixa e apreensiva. — Houve vítimas?

— Apenas uma. Um morador estava no elevador quando despencou, e acabou não sobrevivendo. Como eu disse, foi realmente um desastre. 

O outro suspirou melancólico, e agora Baekhyun entendia porque Kyungsoo havia ficado tão surpreso ao ver que ele não sabia de nada. Algo dessa magnitude teria saído nos jornais e sido comentado pelas redondezas, e mesmo trabalhando o dia inteiro, Byun acabaria ouvindo falar também. Principalmente por morar naquele mesmo prédio. Porém, não ouviu, e estava sendo o último a saber. 

Quase como se estivesse em transe, seus pés o guiaram para o final do corredor, onde haviam as escadas. Queria tirar a prova por si mesmo, e também ver se encontrava Chanyeol. Será que ele também sabia? Como ambos haviam usado o mesmo elevador por tanto tempo então?

Empurrava a porta que o levaria aos lances de escada, no entanto, foi parado quando uma mão pousou em seu ombro. 

— Você está bem? — Kyungsoo perguntou, claramente percebendo seu estado abalado. 

— Sim, eu só... é que nada disso se encaixa. Deve haver um quarto andar. Preciso ver por mim mesmo. 

— Não procure por coisas que não existem, Baekhyun. 

Seu aviso veio carregado de um significado oculto, que ele não entendeu. Trocando um longo olhar com Kyungsoo, afastou-se de sua presença e abriu completamente a porta. Apesar do aviso que recebera, Byun não o levou muito a sério, e estava disposto a entender como os acontecimentos haviam sido diferentes para com ele. 

Ouvindo a porta se fechando lentamente atrás de si, subiu o próximo lance de escadas. Estava tudo limpo e iluminado, o claro sinal que eram usadas com frequência; algo que não aconteceria se houvesse um elevador disponível. Ou melhor, um que estivesse funcionando. 

Ao chegar no próximo andar, constatou que Kyungsoo não havia mentido. O terceiro andar pulava direto para o quinto, e dando uma breve olhada no corredor, viu que as portas possuíam uma numeração correspondente. 53, 52, 51...

Desceu novamente. E então subiu mais uma vez. Não sabia porquê estava fazendo isso, ou o que procurava. Mas sabia que não estava convencido. Chanyeol havia lhe dito com convicção que morava no quarto andar, então poderia realmente haver um quarto andar. 

Perdeu a conta das vezes que fez e refez o caminho naqueles lances de escada, procurando algo que não sabia exatamente o que era. Até que, ao sentar-se em um degrau se sentindo desencorajado e perdido, percebeu uma falha na parede do lance que ligava o quinto andar com o seu. 

Levantou-se devagar, tão concentrado naquilo que nem se atinou a limpar as mãos que se sujaram ao apoiar-se no chão frequentemente usado. 

Uma fresta. Isso era tudo. Baekhyun tentou olhar em seu interior, mas estava escuro. Com cuidado, seus dedos se infiltraram na brecha que havia na parede até conseguirem a puxar um pouco mais, e com certo esforço, Byun conseguiu abrir aquela passagem o suficiente para alguém passar. 

Parecia uma porta camuflada na parede, que facilmente passaria desapercebida por olhos que não soubessem o que estavam procurando. Espremendo-se pela fresta que abriu, Baekhyun entrou naquele lugar mal iluminado, determinado à encontrar explicações. 

Se viu de pé no meio de um corredor que refletia todos os outros que haviam naquele prédio. A diferença, no entanto, era que este era iluminado apenas por uma única lâmpada instável pendendo do teto, exatamente na metade do corredor. Ela balançava, tornando a iluminação fraca ainda mais inconstante. Por meio dela, notou como aquele local era sujo e mal-cuidado. Haviam teias de aranha pelos cantos, e ao dar seus primeiros passos pelo corredor, sentiu algumas delas grudando em seu rosto. 

Limpou a face enquanto andava, ouvindo a porta atrás de si fechar automaticamente como todas outras daquele prédio. Contudo, era possível a ver do lado de dentro daquele lugar, então provavelmente não teria problemas em sair. 

Aquele corredor era úmido e nele reinava um silêncio sepucral, que deixava Baekhyun inquieto. Pensava consigo mesmo que se aquele lugar existia, poderia ter alguém morando ali, apesar de seus arredores passarem a impressão de nunca terem sido usados ou visto a presença de qualquer outra pessoa. 

Andando até a outra ponta do corredor, se viu em frente à porta que procurava. Não teve coragem de bater em nenhuma das outras, e a única que considerava um porto seguro, era a mais macabra de todas. 

49. Esse era o número do apartamento de Chanyeol, e diante do qual estava de pé no momento. Porém, havia algo de bizarro ali. Os números estavam pintados de vermelho, e aquele líquido escorria pela porta, como se sangrasse. Desenhava linhas carmesins que escorriam pela madeira até o chão. Olhando para a soleira da porta, Baekhyun notou que uma poça se formara ali, e ele pisava sobre ela. 

Lembrou-se de Chanyeol coberto por um líquido vermelho igual àquele. Ele havia lhe dito que estava fazendo uma reforma, então o menor deduziu que aquilo fosse tinta. No entanto, agora que estava de pé em frente à seu apartamento, podia comprovar que aquele odor ferroso definitivamente não era cheiro de tinta. 

Ele queria ir embora. Queria dar meia volta e sair dali, voltar para sua casa e nunca mais chegar perto daquele lugar novamente. Mas suas pernas pareciam estar agindo por si próprias, impelidas por uma força que não era dele. À contragosto, sua mão foi até a maçaneta suja de sangue e a girou, encontrando a porta aberta. 

A empurrando, pode finalmente entrar no apartamento que pertencia àquele homem de personalidade tão convidativa, mas que agora Baekhyun reconsiderava sua primeira impressão sobre ele. Porque, veja bem, sempre dizem que a casa reflete como a pessoa realmente é. E a casa de Chanyeol estava longe de ser o lugar mais aconchegante do mundo. 

Os poucos móveis que haviam ali estavam quebrados ou tombados, e as teias de aranha por todos os lados denunciavam a falta de uso. O formato do apartamento era um reflexo do seu, no entanto, as paredes daquele lugar estavam cobertas por aquele mesmo líquido denso de um vermelho escuro, que pingavam e escorriam por toda sua extensão. 

Seus pés pareciam estar presos naquele chão; presos na poça de sangue que se formava. Seu pulso estava acelerado, seus lábios sem cor alguma. Queria ir embora. 

Um estalo o chamou atenção. Fechou os olhos e evitou olhar, com medo do que veria. Mas era como se algo puxasse seu rosto para que o virasse, o obrigando a olhar em direção à abertura que ia até a cozinha. Respirou aliviado ao ver quem era. Chanyeol estava ali, com aquele sorriso radiante que sempre o acompanhava. 

Começou a andar em direção a um Baekhyun de pé em sua porta. No entanto, se antes o menor estava aliviado, agora sentia o sangue sumir conforme o outro se aproximava. Cada passo de Chanyeol vinha acompanhado de um estalo, e ele andava mancando de forma desengonçada, como se fosse um boneco quebrado. Seu sorriso antes acolhedor se abria cada vez mais, rasgando sua pele sem cor conforme aquela expressão cada vez mais inumana tomava conta de seu rosto que se deformava. Os olhos tornaram-se órbitas pretas e vazias que encaravam Baekhyun e pareciam sugar a vida de dentro de si. 

Ele queria gritar, correr, fugir dali imediatamente. Porém, seu corpo não o obedecia, e sentia-se preso naquele lugar por amarras invisíveis. Cada passo de Chanyeol o deixava em pânico. Não, aquele não era Chanyeol. Mas também não sabia o que era. 

— Há superstições que existem por uma razão, você sabia? — ele o perguntou, com uma voz que parecia vir de todos os cantos, em todos os tons. Inclinou-se sobre Baekhyun, que em seu momento de choque mal conseguia balbuciar palavras e questionamentos. 

O sorriso de Chanyeol abriu-se ainda mais, fazendo o menor sentir ânsia ao ouvir o barulho da carne se rasgando. Seus dentes estavam mais longos e afiados, causando um barulho agudo ao se chocarem quando falava. 

Queria perguntar o que ele queria de si, por que estava fazendo aquilo, por que ele. Mas o cheiro pútrido que invadia suas narinas o deixava tonto e sentia-se prestes à vomitar, ou a chorar, ou à desmaiar ali mesmo. 

Parecendo ler seus pensamentos, o outro lhe deu uma resposta, sussurrando perto de si como se confidenciasse um segredo. 

— Eu andei te vigiando, Baekkie. 

Apesar do apelido, seu tom não possuía nenhum traço de afetuosidade, e sua voz tenebrosa apenas acentuava isso. Baekhyun assistiu impotente conforme o outro deformava-se cada vez mais, ao ponto de seu rosto parecer estar derretendo e sangue escorrer das órbitas vazias onde deveriam estar seus olhos. 

Chanyeol estendeu uma mão em sua direção, e seu braço era distorcido para ângulos impossíveis, como se seus ossos estivessem estilhaçados sob a pele. Cada movimento seu era acompanhado daqueles estalos perturbadores, e agora também do gotejar do sangue que escorria de seus olhos e por entre seus dentes conforme sorria de forma medonha. 

Dedos gelados agarraram o rosto de Byun, que fechou os olhos com força e deixou escapar um choramingo de desespero. Tentou respirar fundo e encontrar forças para fugir dali, mas só ficou mais nauseado ao ser invadido pelo fedor de carne morta e sangue coagulado. 

— Seu amigo tinha razão, Baek. Você não devia procurar por coisas que não existem. 

E a porta se fechou num baque estridente. Seu único escape não existe mais.


Notas Finais


Curiosidade bônus: o número do apartamento do Chanyeol é 49 porque o 9 também é um número amaldiçoado
Tô começando a achar que japonês na verdade odeia matemática e fica amaldiçoando os números

Pra quem quiser saber, 9 (九) é um número ruim porque a pronúncia dele (a pronúncia é "kyu", mas também pode ser "ku". É, eu sei o que você tá pensando. Mas não é esse o motivo) é o mesmo pro kanji de sofrimento, agonia ou tortura (苦)

Onde me achar fora do spirit (e bem longe de elevadores): https://twitter.com/sabiny_


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