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História Quatro Vezes Você - Ninguém te vê fazendo


Escrita por: Kashi_

Notas do Autor


Boa leitura!

Capítulo 2 - Ninguém te vê fazendo


2 — Ninguém te vê fazendo

Regulus POV

Eu estava muito ansioso naquela noite, ao sair do salão principal após terminar de jantar.

Faziam quase oito meses que eu estava vivendo aquela bagunça intensa com James, as escondidas de todos ao meu redor.

Eu nunca precisei explicar para ele que a minha família iria me matar se soubesse ou se quer desconfiasse que eu estava aos beijos com um grifinório, vivendo um romance totalmente proibido.

Isso havia feito com que eu me aproximasse muito de Sirius, e embora ele vivesse reclamando o tempo inteiro sobre eu e James estarmos juntos, era nítido para qualquer um que ele estava feliz por nós.

Sempre sorrindo e fazendo piadinhas, mas havia se aproximado de uma maneira absurda de mim, ainda que sempre eu visse ou falasse com os três da maneira mais clandestina possível, como James gostava de ressaltar.

Eu sabia o quanto ele queria não precisar viver escondido comigo, mas ao mesmo tempo, se quer tocávamos no assunto, porque ele entendia.

Provavelmente sabia o bastante sobre a família Black, para entender o porquê do meu medo. E, é claro, havia a sonserina.

Eu precisava sempre tomar muito cuidado para ninguém nos ver juntos, e não erguer suspeitas se não quisesse que a notícia chegasse em casa.

Ao mesmo tempo, já havia alguma pressão por parte dos meus pais para estar sempre perto de alguns amigos da família, e futuros seguidores de Voldemort.

Eles consideravam se tornar um Comensal uma das maiores honras permitidas a um puro sangue, e eu estava determinado a conseguir meu espaço entre as fileiras do poderoso bruxo.

Mas minha dedicação agora estava dividida, e foi impossível deixar de notar que em algumas disciplinas, eu havia perdido alguns pontos.

Ficar com James, me preocupar em esconder isso, e me esforçar para ter uma boa moral com os sonserinos estava me deixando maluco, e era difícil conseguir dormir ou estudar da maneira correta.

Ainda assim, quando me encontrava com James após o toque de recolher, todas essas preocupações deixavam de ser importantes.

Ele era incrível.

Meu irmão não mentia quando dizia isso.

Ele era estranho, de um jeito bom. Muito engraçado, e adorava falar besteiras e fazer as pessoas rirem. Era praticamente impossível ficar bravo com ele, ao mesmo tempo que era muito fácil se apaixonar perdidamente por seu sorriso.

Nesse ponto, nós dois começamos a ter briguinhas ocasionais e infantis pela escola, nos esbarrando nos corredores, caçoando um do outro em dia de partidas de quadribol e enviando bilhetinhos nos ofendendo durante as aulas.

Era delicioso esse clima, e era o tipo de coisa que ninguém percebia.

Ninguém via que nos esbarrávamos apenas para sentirmos um ao outro, que mandávamos bilhetinhos apenas para poder conversar e que nos dias de quadribol eu caçoava dele, e ele capturava o pomo por mim.

Eu estava feliz, e me sentia incrível por estar fazendo parte da turma do meu irmão, mesmo que às escondidas.

Remus sempre tinha um bom livro para indicar, e coisas inteligentes a dizer para ajudar nos estudos.

Sirius ainda vivia enchendo meu saco, mas era legal ter uma boa relação com meu irmão.

E, embora eu e James não houvéssemos jamais tido a conversa, e definido o que era aquilo entre nós, eu simplesmente amava.

E então, no ultimo dia antes de voltarmos para casa, de férias, eu senti meu mundo ruir quando chegou uma carta para mim.

‘Termine imediatamente’

Era a única coisa escrita no pedaço de papel, sem assinatura, mas com a letra de minha mãe, perfeitamente feita.

Junto com esse pedaço de papel, havia um envelope com todas as informações possíveis de James. Desde dados simples, como aniversário, até seu endereço, nome dos pais, lugares que ele frequentava, fotos. Tudo.

Não sabia como ela poderia ter descoberto, mas não pude deixar de sentir um medo enorme me atingir.

Foi a primeira vez que passei por um ataque de pânico, sozinho dentro da cabine de um dos banheiros, sentindo tanto medo e pavor quanto poderia.

Não sabia o que esperar quando voltasse para casa, e por horas apenas pude tentar não chorar e pateticamente buscar calma para pensar.

Sirius nunca teve medo dos nossos pais, mas eu tinha. Muito.

Ele se mantinha longe de tudo o que tinha a ver com Voldemort, então não sabia do que eu sabia. Não via as coisas como eu via.

Exigiu toda a minha coragem me erguer e sair do dormitório, tentando parecer normal para as pessoas ao meu redor.

Jantei, mastigando a comida de forma amarga, até por fim erguer os olhos e ver James empurrando Sirius, enquanto gargalhava com os amigos.

Ele tinha um braço ao redor de Sirius, e um braço ao redor de Remus, parecendo muito feliz.

 Em algum momento, ele ergueu o rosto para minha direção, me olhando e sorrindo todo bobo.

Era sempre nossa regra.

Ele se ergueu em seguida, se despedindo dos amigos com um aceno, e eu esperei alguns instantes antes de seguir a mesma direção, me deixando ir no automático até a torre de astronomia.

Ele já estava lá, recostado na grade, com um olhar ansioso, e eu sempre me admirava com o quão sincero ele conseguia ser.

James não conseguia esconder suas emoções, e era sempre muito fácil ler os sentimentos dentro dos olhos expressivos.

— Que bom que veio rápido! Você não faz ideia da loucura que foi hoje! Quando te contar, você não vai acreditar em como seu irmão é...! — Ele disse, muito agitado, já sorrindo e afastando os braços.

Era um hábito entre nós.

Como eu não poderia fazer parte de seu dia a dia publicamente, sempre nos encontrávamos, e eu ficava entre seus braços ouvindo sobre seu dia, às vezes falando sobre o meu, até o assunto se tornar um beijo, que se tornavam vários.

— Podemos conversar? — Questionei, torcendo para minha expressão estar séria o bastante.

Havia chorado muito, e contava que isso me impedisse de ceder diante dele, como um garotinho assustado.

Ele pareceu desconfiado, o sorriso morrendo ao ver que mantive certa distância, e doeu em mim ver os braços dele caírem ao lado do corpo.

— O que aconteceu? — Questionou cuidadoso, e eu respire fundo.

— Você é um cara legal — Comecei, conforme havia ensaiado por toda a tarde — E eu gostei bastante do que tivemos nesses últimos meses — Desviei os olhos dos dele ao ver o choque cruzar o olhar de James, e ele se desencostar da grade — Mas... estou reavaliando algumas coisas na minha vida, e para conseguir atingir minhas metas, eu não posso ter distrações.

— Distrações? — Ele disse, muito baixo, me olhando com uma surpresa dolorosa.

— Sim. Eu... estou tentando me livrar das distrações, para quando retornar para o próximo ano, me dedicar melhor para...

— Regulus — Interrompeu, com certa confusão, me olhando perdido — O que aconteceu?

— É o que estou dizendo, James — Insisti, tentando fazer daquilo algo pacífico, sem pensar no quanto estava doendo ver ele com aquele olhar.

Era quase impossível ver James chateado ou magoado, e ser a razão dessa expressão estava doendo como se houvesse fogo dentro de mim.

— Foi algo que eu fiz? Algo que eu disse? Você estava ouvindo quando eu e Sirius estávamos falando mal da sonserina? Se foi isso, é que...

— James — O interrompi, me aproximando para pousar uma mão sobre seu ombro, vendo os olhos dele oscilando por trás das lentes dos óculos — Eu só não quero mais — Falei, olhando dentro de seus olhos, e ele me encarou, como se não estivesse entendendo o que eu dizia.

— Mas... estava tudo bem. Estávamos bem — Ele insisti, e eu suspirei.

— Não tínhamos nada sério — Insisti, sabendo que por mais que estivesse evitando, teria que cortar ele de uma forma mais profunda do que apenas romper o que tínhamos.

Toda vez que fechava os olhos, me lembrava daquele compilado de informações sobre ele, e ficava ainda mais apavorado com as possibilidades.

‘Termine imediatamente.’

Eu me lembrei de todos os castigos que eu e Sirius já sofremos. Nossos pais não tinham problemas em usar magia para nos punir.

Nossa mãe gostava de um histórico perfeito, notas perfeitas, boa reputação, bons modos... Tudo para ela era extremamente relevante, pois esperava que um dia eu fosse alguém importante ao lado do nosso Lord.

— Eu não entendo — James insistiu — Nós estávamos bem, de verdade. Passamos a tarde juntos ontem. Esse tipo de coisa não pode...

— Você estava entendendo errado, não tínhamos nada sério — Voltei a repetir, e sabia que iria me arrepender para sempre das minhas próximas palavras — E mesmo que fosse sério, jamais poderia durar.

Desviei os olhos dele, porque sentia meu coração batendo muito depressa, e as palavras estavam começando a ficarem difíceis de dizer.

Eu não poderia chorar.

Não agora.

Precisava aguentar só mais um pouco, e ir chorar escondido em algum canto do castelo.

— Você não tem nada a ver comigo. Temos vidas diferentes, planos diferentes. Não é porque trocamos beijos algumas vezes que significa que exista algo aqui.

— Parecia ter algo aqui! — Ele bradou, com irritação — Está dizendo que tudo, esses últimos meses, não foi nada?

— Estou dizendo para não pensar que parecia mais do que era de verdade! James, nós não temos nada a ver um com o outro. Você é inconsequente, irresponsável, não sabe levar nada a sério. Não se preocupa com suas notas, só quer saber de quadribol e de rir. Você não se encaixa no meu futuro — Ele congelou, tal como se houvesse levado um tapa, me olhando sério — Você fez minhas notas caírem, você faz isso comigo! Você me puxa para baixo, para seu mundinho vazio e sem significado! Não pode realmente achar que eu iria deixar meu futuro brilhante de lado por causa da sua paixonite!

Ele abriu a boca, mas tornou a fechar, abaixando a cabeça.

— Eu pensei que gostasse de mim — Sua voz era muito baixinha, e eu senti a mágoa vinda dela.

— Você pensou — Insisti, para deixar claro que era coisa da cabeça dele.

Era tudo da cabeça dele.

Eu jamais iria fazer planos com ele. Jamais iria querer sair junto com ele para um encontro, onde pudesse pegar sua mão do mesmo jeito que Sirius fazia com o namorado.

Jamais iria querer sentar ao seu lado no salão principal para lhe ouvir contar suas histórias, ou lhe beijar após uma vitória dele no quadribol.

De maneira alguma, ontem, enquanto nos beijávamos abraçados ali, naquele mesmo lugar, eu tinha pensado em dizer ‘eu te amo’ para ele.

Nunca tinha acontecido.

Nada daquilo nunca tinha acontecido.

— Porque está fazendo isso? Por que... agora? Aconteceu alguma coisa? É algo que eu possa ajudar?

— Pare de procurar razões. Eu não sou obrigado a ficar com você só porque você achou que...

— Você não costuma ser cruel assim. Não comigo — Ele insistiu, em tom de desespero, e eu não podia acreditar no quanto ele conseguia ser persistente. Havia desespero, medo e agitação em seus olhos, que brilhavam.

— Não sei o que fazer para você entender que eu não quero mais. Eu cansei. Foi bom enquanto durou, mas eu enjoei. Quero alguém que seja minimamente parecido comigo, que tenha algo a acrescentar. Você é um cara legal, James — Insisti, engolindo seco, e finalmente ergui os olhos, encontrando os dele.

Haviam lágrimas cintilando ali, sendo seguradas com firmeza, e ainda assim eu precisei continuar firme e fingir indiferença.

— Seja sincero — Ele pediu, em um choramingo — Seja sincero comigo, Reg. Eu gosto de você. Você sabe disso. Sabe que eu me apaixonei, eu sei que sabe. Então seja sincero, porque eu não estou entendendo o que aconteceu — Ele pediu, se aproximando para me olhar nos olhos, segurando meu rosto com as mãos, de forma suave.

Eu não desviei, porque precisava que ele acreditasse.

Embora não quisesse chegar ainda mais longe, e me sentir ainda pior pelas coisas que estava dizendo.

James havia conhecido muito de mim naqueles últimos meses. É claro que sabia que eu estava dizendo coisas apenas para fazê-lo desistir.

Eu precisaria magoar ele de forma muito mais profunda do que aquilo, e sabia desde o instante em que pisei na torre.

— Eu conheci outra pessoa — Falei, vendo ele piscar, e seus braços caírem — É uma garota legal, gostamos das mesmas coisas. É mais adequada para mim, e eu gosto mesmo dela. Acho que quero ficar sério com alguém agora. É da mesma casa que eu, tem os mesmos princípios, também quer se alinhar nas fileiras do Lord, meus pais aprovariam nosso relacionamento. Eu estou apaixonado por ela — Falei, vendo aquela lágrima solitária descer pela bochecha dele — Decidi terminar todos os meus outros casos, para ficar com ela — Minha voz soava muito baixo, e eu me odiaria pelo resto da vida por estar fazendo isso com ele.

Eu tinha medo da família.

E agora, ao ver que minha mãe havia descoberto, sendo que eu pensei ter escondido tudo de forma perfeita, me fez temer ainda mais.

Eles tinham meios, motivos e acesos demais.

Engoli seco, tentando não pirar e me apavorar ainda mais com tudo o que vinha acontecendo.

James tinha algumas inseguranças, e eu sabia disso. Sobre as vezes que ele insistentemente perguntava se eu o estava irritando, quando ele falava muito, ou fazia muitas piadas.

E, recentemente, eu tinha notado como ele parecia estar procurando algo em comum entre nós.

Essa conversa tinha terminado com Sirius, dizendo que ‘o algo em comum de vocês é o amor por mim’.

Eu olhei para o rosto dele, vendo-o recuar um passo, se abraçando automaticamente ao ficar me olhando. Foi notável como ele mordeu o lábio inferior, e se virou de costas para mim, apoiando as mãos sobre a grade.

O corpo dele inteiro sacolejava, e eu decidi que aquilo tudo provavelmente o faria nunca mais se aproximar de mim

Havia conseguido partir o coração do homem que eu amava de forma tão profunda, que estava ali, assistindo ele bravamente tentando não ceder ao choro na minha frente.

Apenas me obriguei a andar, tropeçando nos meus próprios pés ao sair desesperado dali, tentando respirar fundo.

Assim que cheguei a um corredor, tentei manter a calma, porque ainda haviam alunos andando por ali, e eu não queria dar indícios de qualquer coisa.

Estava altamente paranoico com a questão de meus pais terem descoberto.

De uma forma estranha, quando virei o corredor, quase cai em cima de Remus Lupin, que estava ali caminhando distraído, com uma garota ruiva ao seu lado, enquanto conversavam.

— Você está bem? — Questionou ao olhar para meu rosto, e eu não queria imaginar qual tipo de expressão eu estava fazendo no momento.

Apenas respirei fundo, tentando manter a calma e tranquilidade que havia ensaiado durante a tarde ao olhar para os dois.

— Tem um grifinório na torre de astronomia, acho que ele precisa de ajuda — Falei apenas, vendo a garota já se apressar naquela direção, mas Remus parou para me olhar de uma forma estranha e séria antes de segui-la.

Nesse momento, sentia que não poderia ir para a sonserina, não totalmente tremulo e com vontade de chorar.

Apenas perambulei pela escola até encontrar uma sala vazia, entrando totalmente perdido ao respirar fundo e desabar em uma cadeira, após acender a luz.

Fiz um feitiço para que a claridade não aparecesse do lado de fora, e finalmente me entreguei para aquela onda de dor que estava sentindo.

Eu não sei quanto tempo passou, enquanto eu tremia e tentava respirar fundo, sem qualquer noção de quem era ou onde estava.

Sentia vontade de chorar, mas as lágrimas não estavam saindo, como se meu coração estivesse oco, como se alguma coisa estivesse me impedindo.

Eu me assustei quando a porta foi aberta com violência, e me ergui automaticamente.

— Como me achou aqui? — Questionei o ver Sirius, mas tropecei para trás, esbarrando na mesa ao ver que ele tinha a varinha erguida, e os olhos cheios de fúria.

— Sirius, Não! — Remus veio logo atrás, arrancando a varinha da mão dele, empurrando-o para o lado e entrou entre nós dois.

— Moony...

— Não, Sirius. Ele é seu irmão. Não importa o quanto esteja chateado, se agredir ele agora, vai se arrepender depois — Ele disse manso e tranquilo, e eu fiquei totalmente chocado ao ver que meu irmão realmente faria isso.

Só até lembrar de tudo o que tinha dito para James, e perceber que qualquer coisa que Sirius quisesse fazer, era justo.

— Você... você viu! Você viu o que ele fez com James! — Ele berrou, e eu me encolhi ao ver que os olhos dele estavam cheios de lágrimas — Você ouviu as coisas que...

— Eu sei — Remus disse, segurando o rosto dele — E é por isso que você tem que ir ficar com Prongs agora. Ele precisa de você. Sair correndo para bater no seu irmão e deixar a Lily com ele não adianta, só você pode acalmá-lo.

Sirius olhou para o namorado, ainda com muito ressentimento, mas assentiu.

— Eu já estou indo para cuidar de vocês — Remus disse, e Sirius concordou com a cabeça novamente, e olhou para mim, por cima do ombro do namorado.

Havia uma onda de raiva muito grande nos olhos dele, e uma decepção extremamente profunda, antes que saísse, sem me dirigir a palavra.

— Pois bem... — Remus disse, e eu fiquei olhando ele se aproximar, sério — O que aconteceu?

— Acho que James deve ter contado...

— Você está encrencado? — Questionou por fim, muito sério — Ou isso é só um surto pela sua sexualidade? Medo? O que aconteceu, Regulus?

— Eu já disse. Só não quero mais — Insisti, vendo ele me examinar com muita atenção e desconfiança.

Sabia, porque tinha escutado James e Sirius dizerem, que era impossível enganar aquele homem que eles, por alguma razão, chamavam de Moony.

— James confundiu as coisas. Ele transformou algo que deveria ser apenas divertido em um problema — Falei, torcendo que o pânico não estivesse evidente no meu rosto.

— Divertido? — Questionou, arqueando o cenho — Está dizendo que...

— Sim. Eu só queria me divertir. Nunca jurei ou prometi nada a ele. Era só... diversão.

Ele assentiu, abaixando os olhos por um instante, como se absorvesse a frase, então eu não esperei pela maneira como ele ergueu o punho e socou meu rosto com força.

Caí para trás, derrubando uma cadeira no processo, sentindo uma dor muito forte na boca, enquanto o gosto de sangue enchia meu paladar.

Remus me olhou, com uma expressão de total aversão e severidade, algo que era inexplicável.

Eu jamais imaginaria ele partindo para agressão daquela forma, por ser alguém tão calmo e pacífico.

— Não me deixe te ver perto dele, nunca mais — Sua voz continha um tom de ameaça muito claro, e eu assenti, vendo-o sair da sala em seguida, me deixando ali.

Jogado no chão, com o coração partido, e a boca sangrando...

E finalmente...

Um mar de lágrimas banhando meu rosto.

....

Na manhã seguinte, eu não sabia como havia conseguido voltar para o dormitório, tomar banho e deitar na minha cama sem ter um colapso.

Estava alheio a totalmente tudo ao redor, e sabia ter ficado a madrugada inteira com os olhos arregalados encarando o teto, sem conseguir processar o que havia acontecido.

James. O olhar cheio de lágrimas dele enquanto eu dizia que havia encontrado alguém melhor.

Sirius. A ameaça de um ataque, e a decepção.

E Remus. A lembrança de seu punho se chocando contra meu rosto.

Eu havia curado o ferimento, mas só de forma externa. Havia deixado a dor para me lembrar do quanto precisei ser cretino com alguém tão cheio de luz e alegria.

Durante todo o percurso do expresso de Hogwarts, de volta para a estação de Kings Cross, eu ensaiei em minha mente tudo o que precisava dizer a Sirius.

Iria me esconder por trás do fato de que nunca havia firmado um relacionamento, que não era traição, e que eu quis ser justo.

Para ser sincero, eu diria qualquer coisa que ele quisesse ouvir para não me bater ou me odiar.

Se sentisse segurança, talvez.... pudesse dizer a verdade.

Automaticamente, apertei meus dedos ao redor daquele pequeno pedaço de papel, amassado entre meus dedos que estavam dentro do bolso do agasalho que eu vestia.

Precisei me manter segurando aquele aviso ‘termine imediatamente’, o tempo inteiro, para me convencer que tinha feito a coisa certa.

O que era esperado que eu fizesse.

É claro que não foi qualquer surpresa ver meus pais na estação.

Eles não costumavam ser calorosos a ponto de nos buscar, sempre algum elfo vinha ou eles enviavam uma carta dizendo para irmos sozinhos.

Mas com o bilhete, eu entendi que estariam ali para me observar, e foi alguma satisfação que encontrei no rosto de minha mãe quando desci do expresso entre sonserinos, me despedindo deles ao seguir com meu malão para minha família.

Minha mãe me observou com uma pergunta severa nos olhos, e eu apenas assenti para ela em confirmação.

Ela iria ficar de olho em mim, eu sabia. Mas duvidava que fosse fazer perguntas abertamente.

Para eles, não importava muita coisa sobre nós, desde que as aparências fossem mantidas. Eles não iriam querer saber que eu estava perdidamente apaixonado, e que minhas pernas estavam tremendo enquanto eu girava os olhos pelo local, procurando James.

Não Sirius.

James.

Havia uma pontada em meu peito, apertando e comprimindo meus órgãos, e eu senti essa sensação piorar ao encontrar o famoso grupinho de grifinórios.

James estava de costas para mim, preso em um abraço jogado nos braços de Remus, que estava deslizando as mãos pelas costas dele com um afeto muito tocante.

Eu sabia como os três eram apegados e carinhosos entre si, mesmo que frequentemente estivessem brigando.

Mas estranhei não ver Sirius ao lado deles, o que só compreendi quando o encontrei na multidão, vindo até nós.

Ele ainda parecia muito irritado, e foi quase automático me mover alguns passos para trás quando ele estava perto o suficiente de nós.

— Onde estão suas coisas? — Nossa mãe questionou, olhando ele da cabeça aos pés com desaprovação.

Sirius não pareceu se importar, porque abriu aquele sorriso petulante ao jogar a cabeça para o lado, fazendo seu cabelo dançar em uma onda e sair da frente do rosto.

— Eu não estou voltando para casa — Ele disse finalmente — Eu não quero voltar nunca mais — Concluiu, e eu senti meus olhos se arregalarem, sentindo uma dor muito literal.

— Sirius, do que você está falando? — Questionei, mas ele me ignorou, ainda com os olhos fixos nos nossos pais.

— Eu sou um grifinório que ama a grifinória. Nem se tivesse mil chances, mudaria isso. E... eu gosto dos amigos que tenho. Odeio a sonserina. Sempre vou odiar. Acho os Malfoys uns perdedores, com essa porcaria de culto ridículo contra mestiços e nascidos trouxas. É, eu também odeio o tal Voldemort. Acho que é o maior dos perdedores. Hogwarts faz bem em acolher todos que sejam mágicos, e não me interessa saber de onde vem a magia deles. Conheço na grifinória uma porção de mestiços que valem mais do que todos esses tal comensais juntos. E se vamos falar de perdedores, também acho vocês uns perdedores — Ele disse, alheio a como nossa mãe tinha prendido a respiração, a beira da histeria, porque ele me olhou por um curto momento — Perdedores.

— Sirius, seja lá o que tiver feito, vamos conversar sobre isso em casa! — Nosso pai interveio, talvez notando que qualquer coisa que nossa mãe falasse, provavelmente seria um grito.

— E eu sou gay. Não só gay, eu sou o rei dos gays — Ele continuou, e meu corpo inteiro tremia, de horror. Jamais imaginei ele fazendo aquilo, no meio da estação.

Ainda que ninguém estivesse prestando atenção, ele parecia nem se importar, porque expandiu o sorriso, e ergueu a mão.

— E eu estou noivo... de um mestiço — Ele disse a última palavra com uma malícia nítida ao exibir a aliança brilhando em seu anelar.

Foi com choque que eu percebi que ontem James parecia ter algo para dizer.

Sobre uma loucura que meu irmão tinha feito.

Noivo.

Ele realmente estava noivo de Remus.

Eles tinham recém 17 anos. E estavam noivos.

Prestes a iniciar o último ano da escola, ao fim das férias. Ele realmente... estava noivo.

Ele olhou nos olhos de nossa mãe, que parecia ter sido atingida por um tapa, e por fim encarou nosso pai, que não sabia o que fazer.

— Eu suportei essa merda por tempo demais. Insisti nisso por tempo demais. Fui burro de achar que havia algo que merecia isso. De achar que tinha algo naquela casa que... devia ser salvo. Fui burro de querer insistir em algo perdido — Ele pousou os olhos em mim, e negou levemente com a cabeça — Você não vale esse esforço — Disse por fim, com um pequeno suspiro, e pareceu que o ódio havia se transformado em apenas decepção.

Uma profunda decepção.

E eu permaneci em choque, vendo-o virar as costas para nós, sem ter medo. Sem precisar se assustar, sem incertezas.

Ele parecia acreditar mesmo no que dizia. Que mestiços eram bons e deviam aprender magia como qualquer outro.

Que os Comensais eram perdedores.

A sonserina em peso os achava incríveis. Uma mostra de poder, já que o Lord só selecionava os melhores.

Mas Sirius o chamou de perdedor.

Eu assisti ele passar o braço ao redor de James, e o trio saiu abraçado, tão tranquilamente e em paz quanto poderiam.

Ele não se virou para olhar para nós se quer uma vez.

Naquele momento, eu invejei Sirius mais do que qualquer outra vez.

Ele era mesmo um grifinório. Um corajoso grifinório, que não tinha medo de ser quem era. Que não precisava que nossos pais dissessem o que deveria fazer, pensar, ser ou vestir.

Ele tinha amor. Tinha amigos leais.

E tinha a única coisa que eu queria nesse momento.

Ele tinha James.


Notas Finais


rs


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