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História Quatro Vezes Você - Epílogo


Escrita por: Kashi_

Notas do Autor


Decidado para Morg!
Boa leitura!

Capítulo 5 - Epílogo


5— Epílogo

Regulus POV

Consequências.

Toda atitude gera uma consequência, não importa a forma como você decida fugir delas, ou as ignorar.

É um fato da vida que você irá encontrar suas consequências independente de sua vontade.

Quando eu parti o coração de James, e magoei meu irmão, há tantos anos atrás, jamais pensei que poderia vivenciar os dias de hoje.

Que iria contra tudo o que minha família impunha, que iria me tornar um comensal fugitivo, e que iria passar pela sensação de pensar por um breve instante que havia perdido James para sempre.

Então, talvez esse misto de emoções e expectativas frustradas que tenha sido responsável pela maneira como agarrei James, pela forma como nada parecia importar diante da certeza de sua vida.

Era diferente.

Totalmente diferente beijar James quando éramos dois adolescentes bobinhos, e beijá-lo agora, depois de tantos anos afastados, depois de nos tornarmos adultos.

Não havia calma, não havia a escola para refrear, e acima de tudo, não havia um amanhã para nos tranquilizar.

Foi por isso que todas as atitudes desde o momento em que nos beijamos, foram conduzidas pela pressa e pela paixão.

Eu não havia reparado na casa ao nosso redor, até ele ter terminado de me empurrar pelas escadas para o quarto dele. Não havia reparado na bagunça, não havia reparado nas roupas jogadas, nos cobertores amassados, em qualquer coisa que não fosse James.

Foi apenas depois que tudo aquilo acalmou, depois que o sexo deixou de ser uma emergência e que a carga emocional diminuiu, foi que finalmente comecei a prestar atenção dos detalhes ao meu redor, enquanto estava deitado na cama dele.

Tudo ali exalava James.

Suas coisas bagunçadas, as roupas reviradas, o guarda-roupa com uma porta meio quebrada, e uma montanha de desordem ali dentro.

Havia uma vassoura em um dos cantos, pôsteres de quadribol, e uma foto colada de uma forma torta e porca na parede.

 Daqui não conseguia ter certeza, mas podia distinguir três pessoas na imagem. O que significava que então, eu sabia quem eram.

Perto da cama, havia uma bota preta e surrada jogada no chão, e eu não precisava de nada para ter certeza que pertencia a Sirius.

Me virei na cama, finalmente olhando para ele, que estava deitado de costas, olhando para o teto em silêncio, com a respiração voltando ao normal devagar.

Sentindo que eu o olhava, James se virou de lado, e sorriu de um jeito que me fez sentir o coração acalmar novamente daquela aflição.

Ainda me sentia emocionalmente perdido, e tudo o que aconteceu desde que pisei ali em Godric Hollow não parecia ser muito certo, mas tampouco soava errado.

— Nós vamos conversar? — Perguntei por fim, vendo a forma que os óculos em seu rosto ficaram tortos pela posição de lado que ele assumiu.

— Você quer conversar agora?

— Você não tem nada a dizer? Eu só... apareci aqui. E você não me perguntou nada. Eu estava esperando uma briga, ou discussão antes de qualquer coisa — Admiti, e ele voltou a sorrir de forma preguiçosa ao balançar os ombros.

— Você apareceu. É o que importa — O sorriso diminuiu, e ele me olhou um tanto mais sério — Além do mais... uma discussão agora iria acabar estressando o bebê — Ele disse, e eu franzi o cenho ao me sentar muito depressa, olhando para o rosto dele.

— Bebê? Qual bebê? — Perguntei, um tanto exaltado.

— Eu! — Ele disse por fim, começando a rir provavelmente da péssima piada e da minha preocupação, e eu fechei a expressão, empurrando ele de forma grosseira, vendo-o deslizar pelos cobertores e ir caindo devagar até desmontar em um estrondo no chão.

Ele fez tudo isso rindo, e então eu me lembrei de como era fácil viver ao lado de James.

— Porque todo mundo me agride quando digo isso? — Ele resmungou ao se erguer — Será que o problema está em mim ou nas pessoas?

— Claramente em você — Rebati, e ele estalou a língua em desdém.

— Não, não pode ser. É uma ótima piada — Esticou a mão para mim, e eu o olhei sem entender — Vamos tomar um banho e descer para comer — Ergueu os olhos para um relógio na parede, e pareceu satisfeito — Já são quase quatro da tarde, Padfoot deve estar acordando agora — Ele comemorou, e eu o olhei pensativo.

— Sirius?

— Sim, Padfoot — Concordou.

— Eu nunca sei quem é quem.

Ele revirou os olhos, fazendo um gesto para indicar alguém muito alto.

— Moony.

Abaixou a mão, diminuindo um pouco.

— Padfoot.

E novamente, abaixou um pouco mais, até pousar a palma sobre a própria cabeça.

— Prongs! — Ele riu, e isso me fez sorrir pela espontaneidade do ato.

— Acha... que eles sabem que estou aqui? Não vi ninguém quando chegamos.

— Padfoot estava dormindo. Moony estava acordado — Ele explicou, caminhando até a porta, abrindo uma fresta pequena — MOONY! Coloque um prato a mais na mesa! Regulus está aqui! — Berrou com toda sua força, e eu me senti constranger na mesma hora pelo escândalo.

Ele fechou a porta logo após ouvir um grito muito alto, dizendo ‘TUDO BEM’, e se virou par mim com um sorriso.

— Qual a necessidade disso? — Questionei reprovador — Você poderia usar um feitiço de comunicação.

— Não usamos feitiço de comunicação em casa, Padfoot não gosta. Diz que é impessoal demais. Tudo o que temos a dizer um para o outro, fazemos com palavras e gritos como deve acontecer em uma família.

Ri, me erguendo da cama, um tanto sem jeito pela falta de roupas, mesmo que fosse algo idiota para alguém que tinha feito sexo com ele sem qualquer pudor.

James me arrastou junto com ele para o banheiro pequeno de seu quarto, onde tomamos banho juntos, muito depressa, e então me emprestou algumas roupas para vestir.

Assim que estávamos prontos, ele me guiou para fora do quarto, com a mão pousada em meu ombro, e eu me sentia ansioso em pensar que veria meu irmão depois de tanto tempo.

James me conduziu para a sala, e um cheiro realmente muito bom já se espalhava pela casa.

— Hoje é dia do Moony cozinhar — James explicou, indicando para que eu me sentasse no sofá junto com ele, e jogou as pernas sobre uma mesinha de centro — Quer conversar enquanto isso? Ou brigar?

— Idiota — Resunguei, mas pulei de susto no instante seguinte ao ouvir um latido muito alto, virando a cabeça automaticamente para a entrada da sala, onde um cão preto muito grande estava rosnando — Vocês tem um cachorro? — Perguntei surpreso, e arregalei os olhos quando James pegou uma almofada e acertou a cabeça do animal, que pareceu atordoado por um instante ao chacoalhar o focinho pelo baque — Você não deveria fazer isso com um cão!

James ignorou, e o cão se aproximou, sentando diante de nós no tapete, com os olhos grandes fixos em mim, ainda com os dentes a mostra em sinal de raiva.

Olhei de canto, vendo que eu parecia ser o único preocupado, porque James apenas revirou os olhos, empurrando o cão para longe usando o pé.

Ele voltou rosnar, de uma forma muito agressiva, mas o que aconteceu a seguir foi engraçado.

Remus apareceu, vindo de uma porta que poderia ser a cozinha, vestindo uma calça de moletom apenas, sem camisa, com os pés descalços e os cabelos um pouco úmidos.

— Logo fica pronto, o almoço — Ele avisou, e eu me peguei por um instante curioso ao ver que o cão parou de latir no mesmo instante, e foi com o rabo abanando até ele, que se jogou no sofá.

Isso atraiu minha atenção, porque notei que ele tinha muitas cicatrizes espalhadas pelo corpo, coisa que eu jamais soube. Ele tinha uma no rosto, mas eu não imaginava que haveriam outras, e que seriam tantas.

Elas chamavam atenção em sua pele, e eu estava pensativo olhando, até ouvir um latido muito alto e ameaçador, e percebi que o cão agora me encarava.

Arqueei o cenho, vendo ele subir no sofá, em cima de Remus, e se deitar sobre ele, com as patas espalhadas sobre seu corpo, ainda me olhando com raiva ao rosnar enquanto tentava esconder o corpo abaixo de si.

Parecia um comportamento muito bizarro para um cão, mas a maneira como ele me olhava com irritação enquanto eu estava encarando Remus, me fez entender quase imediatamente.

— Sirius? — Perguntei assombrado, porque obviamente só meu irmão era tão maluco e bizarro, ainda mais quando se tratava de Lupin.

Ele me encarou por um instante, e depois virou o focinho para o outro lado, se aninhando melhor em Remus, que sorriu minimamente ao esfregar a bochecha contra a cabeça dele.

— É... o que...? — Questionei para James, que sorriu ao balançar os ombros.

— Dizem que o cão é o melhor amigo do homem — Ele falou, parecendo achar muita graça, e a forma como Remus revirou os olhos indicou que provavelmente era uma piada recorrente.

— Sirius é um animago?

— Sim.

— E você... qual animal é você? — perguntei, afinal existia um apelido tosco para ele, então deveria existir um animal.

Ele sorriu.

— Um cervo — Ele explicou, e eu ergui os olhos para Remus, curioso.

— E você?

— Ah, não. Eu sou só um lobisomem mesmo — Ele disse, enquanto afastava Sirius para se erguer — Vou ver nossa comida. Pad, você não vai sentar-se à mesa se não voltar a ser Sirius. Você pode ignorar seu irmão na forma humana também — Reclamou, e o cachorro pareceu ofendido, porque saiu de forma dramática da sala.

É claro que toda essa pose se perdia quando ele usava a saída de animais, na porta de entrada, mas ninguém disse nada.

Remus seguiu para a cozinha, e eu pisquei atordoado ao me virar para James.

— Lobisomem?

— Ele é um lobisomem bonzinho — Avisou de imediato, e eu continuei olhando assombrado.

— Desde... quando?

— Desde sempre. Na escola ele costumava ficar isolado nas luas cheias, e então... quando descobrimos, não quisemos deixar ele passar por isso sozinho.

— E... se tornaram animagos — Deduzi, vendo ele assentir, o que me fez sorrir.

Ainda não conseguia imaginar três pessoas tão ligadas quanto aqueles caras, para chegarem naquele extremo.

Se tornar um animago não era algo fácil.

Esconder isso não era algo fácil.

Sirius passou pela porta, agora na forma humana, tal como eu me lembrava dele.

Ainda era o mesmo cara com cabelos longos e desordenados, e parecia não se sentir nenhum pouco desconfortável por estar vestindo apenas uma roupa íntima negra ao cruzar a sala e seguir para as escadas, me ignorando.

— Vai falar com ele. Vou ajudar Moony com o almoço — James decidiu ao se levantar, e eu assenti, me apressando em encontrar meu irmão virando o corredor, no alto das escadas, e tive que empurrar a porta que ele quase fechou na minha cara.

— Sirius... — Chamei ao entrar no quarto, notando que era o mais organizado de toda a casa. A cama estava feita, a pilha de livros era organizada, e não haviam coisas jogadas pelo chão.

Ainda assim, Sirius abriu o armário na lateral, puxando algumas roupas dali sem muito cuidado, porque uma pilha desabou no chão.

Ele pegou tudo, jogando com muita rapidez de volta para o armário, e fechou a porta depressa para que tudo não voltasse a cair no chão.

— Sirius, por favor — Insisti, vendo ele se virar para mim de má vontade, enquanto começava a vestir as calças.

Ele parecia irritado, mas eu não consegui não rir de ver ele pular, com uma perna dentro e outra fora, sem muito equilíbrio ao se vestir.

— Eu sei que está zangado, e tem razão. Mas eu quero fazer as coisas da maneira correta agora. Entendo que... fui um idiota. Entendo que o chateei quando disse que queria ser um comensal, quando me tornei um, principalmente porque seu namorado...

— Meu marido — Ele corrigiu, fechando a expressão, e se apressou em ir até a mesa lateral da cama, pegando um anel dourado ali para colocar no dedo — Moony é meu marido— Repetiu, e eu assenti.

— Tudo bem. Seu marido. Eu... entendo agora, muito mais do que entendia antes. Eu quero fazer a coisa certa. Estive procurando por vocês, porque desertei. Eu não sou, nunca fui e nunca seriei um comensal.

Ele passou a vestir a camiseta, ainda sem me olhar.

— Mas... acima de tudo, eu... sempre vou ser seu irmão — Insisti, e isso o fez parar o gesto para vestir a camisa, se virando para mim, com os dois braços passados por dentro da roupa, e a cabeça torta para o lado.

E ele sorriu.

Daquele jeito tão Sirius, tão travesso e engraçado, ao terminar de se vestir.

— Se você prometer nunca mais fazer sexo com Prongs, vamos ficar bem — Disse por fim, e eu senti um constrangimento muito forte.

— Do que está falando? — Questionei, parado no meio do quarto, vendo ele seguir para o banheiro, sem fechar a porta, aparecendo de volta segundos depois, com a escova de dentes na boca.

— Enhuuãoeoreeoo — Ele falou, escovando os dentes, e eu arqueei a sobrancelha para ele.

— Não entendi nada — Reclamei, me lembrando dessa mesma cena. Sirius caminhando pelo corredor com a escova de dentes, falando coisas sem parar enquanto me seguia.

Tinha... sensação de lar.

— Tem um chupão enorme no seu pescoço — Ele repetiu ao tirar a escova da boca, voltando para o banheiro, e eu fiquei ali em choque, me apressando em caminhar até o espelho ao lado da porta, vendo que ele realmente estava falando sério.

Puxei a varinha, rapidamente lançando um feitiço para disfarçar aquilo, internamente querendo bater em James por não ter dito nada.

Sirius voltou, fazendo um gesto para que eu o seguisse, e nós descemos as escadas em silencio.

Embora constrangedor, não havia um ar carregado entre nós, e eu percebi que era algo que sempre precisou acontecer.

Dizer a ele, lhe dar a certeza, de que éramos irmãos.

Ele me guiou até a cozinha, onde James já estava sentado na mesa, e fez um gesto para que eu ficasse no lugar ao lado dele.

Me acomodei ali, desviando os olhos quando Sirius passou os braços ao redor do pescoço de Remus para beijar ele de uma forma muito energética, e logo em seguida nós passamos a nos servir.

Fazia muito tempo que eu não comia nada tão bom, e quando ergui o rosto para verbalizar isso, percebi que os três me encaravam.

— Está... uma delicia — Falei, sem entender, e a forma como eles suavizaram a expressão, me fez notar que queriam saber o que eu achava.

— Então você pode ficar — James e Sirius falaram ao mesmo tempo, e Remus riu.

— Só pode morar na secreta base secreta dos marotos secretos quem gosta da comida de Moony — James explicou, e eu ri.

— Tem ‘secreto’ demais nessa frase, não acham?

— O nome original tem ‘secretamente’ e ‘ultrassecreto’ pelo menos cinco vezes, fique feliz que temos um apelido curto para a casa — Foi Remus quem respondeu, e eu assenti. Era algo que soava exatamente como o que os tais marotos fariam.

Nos silenciamos, voltando a comer, e eu percebi como era insano estar entre eles.

Não haviam feito nenhuma pergunta até o momento.

Era bizarro estar entre pessoas que não te pressionavam ou que enchiam de perguntas sobre cada um de seus passos.

— Eu sou um fugitivo agora — Resolvi quebrar o silencio, notando que os três me olharam sem nada dizer — Estão me procurando. Eu venho me escondendo em alguns lugares, mas não fixei em nenhum. Estava procurando por vocês.

— Você demorou. Desde a conversa com James — Sirius resolveu dizer, e eu assenti, puxando a camiseta para pegar o medalhão ao redor do meu pescoço.

— Eu trabalhei em descobrir isso. Voldemort pegou Monstro emprestado para esconder isso em uma ilha, com uma armadilha mortal. Eu voltei lá para pegar e trocar por uma réplica. Pareci importante.

— O que é?

— O medalhão de Salazar Slytherin — Quem respondeu foi Remus, e eu assenti.

— Foi transformado em uma horcrux. Acredito que Voldemort tenha feito outras, de acordo com a informação que extrai da lembrança de várias pessoas. São objetos onde o bruxo prende um pedaço da alma, para que tenha vida eterna. Ninguém vai conseguir matá-lo se não forem destruídas.

— Então...?

— Eu pretendo começar uma busca e me livrar delas. Acredito que ninguém siba disso. E Voldemort... não sei o que houve, para tudo estar tão calmo.

— Existe uma profecia. Sobre um menino nascido no final de julho, que irá derrotá-lo. A profecia é sobre o menino filho dos Longbottons. Acreditamos que Voldemort está caçando eles para matar o menino.

— Voldemort não vai morrer, se não resolvermos esse problema primeiro — Remus disse, assentindo — Tudo bem. Vamos buscar e destruir as horcruxes, então.

Pisquei, surpreso o ver ele dizer isso, e os dois concordarem, como se fosse algo tão simples de ser feito e resolvido.

— É uma missão suicida. As armadilhas da caverna quase me mataram, então...

— Não precisa ficar enfeitando a missão, já conseguiu nos convencer — James resmungou revirando os olhos.

Sorri, assentindo um pouco espantado.

— Então... depois façam as malas —  Remus disse por fim, e parecia ser quem fazia as regras por ali.

— O quanto de coisas preciso levar? — James perguntou para Remus, que parou por um instante para pensar.

— Pegue suprimentos para um mês.

— Moony! — Sirius bradou, e eu agradeci que tenha ficado tão indignado quanto eu, de pensar que conseguiríamos encontrar e destruir aquelas coisas em um mês!

— Ah sim! Desculpe, Pad — Remus esticou a mão para tocar a do meu irmão, e sorriu — O seu aniversário está chegando, tem razão. Duas semanas, James. Faça as malas para duas semanas.

— TÁ bom — James assentiu, voltando a comer, e eu fiquei ali em silencio, vendo se algum deles iria rir.

Mas não. Pareciam muito seguros de que poderia ser feito em duas semanas, e eu percebi que teria que me acostumar com aquela dinâmica de grifinórios sem juízo.

Não pretendia ir a lugar algum, afinal.

Eu estava distraído e pensativo quando Sirius puxou a varinha e a apontou para meu braço, e pisquei atordoado ao sentir minha marca negra queimar.

Puxei a manga da camiseta, sem entender, vendo a cobra ir clareando aos poucos, e se movendo sobre minha pele, de uma forma bizarra para sua cor se reformular em outro desenho.

Letras, na verdade.

— Sirius, ele é seu irmão! Você não pode fazer isso — James bradou, enquanto eu arregalava os olhos ao ver a cobra se transformar nos dizeres:

‘Eu sou a vadia de Sirius Black’

— É bizarro deixar seu irmão com essa marca!

— Bizarro é ele seguir aquele maníaco. Você sabe da regra. Qualquer um que cruzar meu caminho e tiver a cobra, vira minha vadia — Ele bradou, e eu vi Remus apenas dar de ombros em provável concordância.

— É um feitiço que ele criou para mudar a marca negra. Voldemort está com raiva de nós por causa disso —  Explicou, e eu ainda estava exasperado encarando as letras.

— Mas... não sai?

— Não, nem mesmo Voldemort pode tirar. Uma vez feito, não pode ser desfeito.

— Mas... Sirius podemos trabalhar em criar um feitiço que suma com a marca. Apenas... tira isso daqui — Pedi, e ele riu.

— Não inventei contra-feitiço. Vai ficar ai. É sua marca da vergonha — Ele insistiu, e eu fiquei encarando as letras perfeitamente desenhadas em minha pele, olhando de canto para James.

— Desculpa, não posso te defender nessa. Nós juramos sempre dar cobertura um para o outro — Ele disse, e eu revirei os olhos ao cobrir com a manga da camiseta novamente.

— É, imaginei que sim quando Sirius tentou me bater quando eu fui um idiota com você.

— Você tentou bater no seu irmão por mim?! — James perguntou com um sorriso, e Sirius assentiu.

— E teria dado certo, se Moony não fosse todo certinho e cheio de moral para me impedir. Porque eu me arrependeria se batesse no meu próprio irmão —  Ele disse a ultima frase revirando os olhos e fazendo uma voz engraçada.

— Certinho e cheio de moral? Ele me deu um soco! — Reclamei, vendo os dois arregalarem os olhos para Remus, que continuou cortando a própria carne com muita tranquilidade, sem se abalar.

— Eu não sou seu irmão, e não me arrependo — Disse por fim, erguendo os olhos para nós.

Isso me fez rir, inexplicavelmente.

Eu sabia que tinha merecido aquele.

Entendi isso quando James me disse que Sirius se afastou de mim não por ter terminado com ele de forma cruel, e sim por ter dito que seguiria um maníaco que prezava pela morte de pessoas como o cara pelo qual meu irmão se apaixonou.

Terminamos de comer em um clima totalmente divertido, enquanto Sirius me falava sobre a cerimônia insana de casamento que tiveram no porão escuro de uma colega deles, que celebrou a união, e sobre a forma que a lua de mel foi naquela casa que os três compraram para morarem juntos, e como James precisou ir ficar em um hotel por dois dias para que fizessem valer a noite de núpcias.

Era engraçado ver eles interagindo, porque havia algo muito orquestrado. Completavam as frases um do outro, e riam de piadas internas que não pareciam ter graça.

Terminamos de comer, e como era dia do Remus ser responsável na cozinha, ele que limparia tudo, e eu percebi que ele iria mesmo lavar a louça com Sirius abraçando ele por trás com a cabeça deitada em suas costas.

Eu sorri, porque soava algo muito sincero o que eles tinham, e James fez um gesto para que eu o seguisse, me guiando até a varanda.

Do lado de fora parecia destruída, o que me fez perceber que tinham ótimos feitiços de proteção ali, porque olhando de dentro tudo estava normal.

A grama, as flores, arbustos. Tudo parecia bem.

— Você sempre pensa que vai se acostumar a ver eles sendo esse tipo de casal, mas eles ficam cada dia mais grudentos com o passar dos anos — James contou ao sentar no degrau da entrada, e eu me acomodei ao seu lado, vendo o sol se pondo no horizonte.

Sorri, deslizando meus dedos para entrelaçar aos dele, e seu sorriso aumentou.

— Eles estão juntos há muito tempo, não é?

— Sim. É engraçado, esses dois. Eu lembro quando tínhamos acabado de fazer quatorze anos, e nenhum de nós tinha dado o primeiro beijo. Combinamos de não voltar para o dormitório enquanto não houvéssemos beijado a primeira vez. Sabe, esse tipo de coisa idiota que adolescentes fazem. Eu fiquei horas fora, até conseguir um beijo de uma garota que estava paquerando na época. E quando voltei para o dormitório, eles estavam na janela, no maior amasso de todos os tempos.

Nós dois rimos, e eu percebi que era sempre bonito ver Sirius pelos olhos de James, assim como acontecia ao contrário.

Havia muito amor dentro daqueles dois.

— Desde então?

— Não oficialmente. Depois daquele dia, cada um foi para sua cama dormir. Eles não conversaram sobre o assunto. Só inventaram aquela aposta de não voltar até terem beijado para ter uma desculpa para se beijarem. Como se a aposta os obrigasse a isso. Depois disso, Sirius saiu com metade dos alunos da escola.

Assenti, porque ele teve mesmo aquela época onde beijava muitas pessoas.

— E Remus?

— Ele saiu com a outra metade, é claro. Às vezes misturavam as metades, era um caos — Ele riu — Eles saiam com outras pessoas, mas eventualmente sempre acabavam na janela se beijando. Eram as únicas pessoas a repetir na lista um do outro.

— Isso parece totalmente estranho — Comentei, e ele sorriu ao assentir.

— Era. Mas enquanto não estivessem prontos para assumirem o que sentiam, não adiantava forçar. Não se pode dizer a uma pessoa algo que ela não está preparada para lidar. Então eu apenas fiquei quieto, deixando eles seguirem seus caminhos. Sabia que quando chegasse a hora, iriam finalmente se resolver.

— Demorou?

— Um pouco. Lembro de um dia que cheguei no dormitório e eles estavam na janela, se pegando como acontecia várias vezes. Mas... diferente de todas as outras vezes, quando terminaram a sessão de amassos, eles foram dormir juntos na cama de Moony. Isso nunca tinha acontecido antes. Foi bem... espontâneo. Eles apenas não se afastaram para dormir, como acontecia sempre. E na manha seguinte, quando acordaram abraçados... não se afastaram. Eles trocaram beijos, foram de mãos dadas para o salão principal, e ficaram o dia todo trocando olhares. E de noite, novamente, foram dormir juntos.

Sorri, vendo como James contava a história de forma carinhosa, e ele se virou para mim.

— Apenas... naquela noite, entenderam sem palavras que estavam prontos. E não saíram da janela nunca mais.

Sorri, ouvindo ao fundo as risadas dos dois vinda da cozinha, sem deixar de pensar que nunca havia visto meu irmão como aquele tipo de cara.

Todo mundo sabia que existia algo entre eles, e a confirmação veio depois de pegarem detenção por estarem fazendo algo e serem flagrados por um professor.

Eu tentava não ouvir quando falavam sobre isso, porque era sobre meu irmão. Mas parecia que não tinha sido nada muito comportado que encontraram.

— Às vezes... as pessoas demoram um pouco mais para encontrar a própria janela — Murmurei, e ele ergueu os olhos para mim, com um sorriso ao assentir.

— Algumas janelas são muito complicadas de alcançar — Concordou.

— Eu sei que... já temos planos de uma missão suicida, mas... eu posso ficar? Mesmo quando tudo isso acabar, quando conseguirmos nos livrar das horcruxes, quando a guerra passar... Eu posso ficar?

— É a nossa janela — Ele disse por fim, se inclinando para recostar a testa na minha — Eu sabia que você viria. Sempre soube.

— E me esperou?

— Sempre — Concordou, co um sorrisinho fraco, que aumentou conforme estiquei o pescoço e selei nossos lábios.

Nos abraçamos, enroscados na varanda da casa, e eu senti uma calma enorme me encher o coração.

As coisas seriam tranquilas.

Mesmo no meio da confusão, da bagunça e das lutas, tudo iria ficar bem.

Eu estava com os marotos agora.

Teríamos paz.

Ergui os olhos ao ver a porta se abrir, e pelo cercado uma criança pequena veio correndo, interrompendo meus pensamentos.

Antes de fechar o portão, Batilda acenou para nós, e James sorriu ao retribuir, já abrindo os braços para receber a criancinha que vinha desgovernada correndo, com olhos verdes intensos.

— Oi campeão! Você acordou? — Ele disse, puxando o garoto para colocá-lo sentado no próprio colo, e eu continuava olhando para ele, sem entender — Diga oi para o tio Regulus!

O menino afundou a abeca no ombro dele, com vergonha ao esconder o rosto, me encarando de lado com os olhos muito verdes.

— Existe mesmo um bebê— Observei chocado, e ele riu.

— Esse é o Harry — Ele explicou, fazendo carinho sobre os cabelos escuros da criança, que acenou com a mão devagar para mim, ainda com vergonha, e eu sorri sem jeito para ele.

— James?

— Não fica me olhando assim — Ele revirou os olhos — Lembra de Lilian Evans? A garota ruiva? Ela era muito amiga nossa nos últimos anos da escola.

— Sim — Falei, sem quer admitir que morria de ciúmes da tala garota em questão.

— Ela e o marido sofreram um ataque — Ele disse, e eu entendi as entrelinhas de que ataque significava morte por causa de comensais — Harry iria para os parentes no mundo trouxa, mas Lilian já me disse o tipo de pessoa que a irmã e o marido são. Então... Nós estamos cuidado dele.

— O que... quer dizer com isso?

— Eu e os caras éramos amigos dela. Não podemos deixar nada acontecer com seu bebê. Então... decidimos criar Harry. Juntos. Nós três — Explicou, e eu arqueei o cenho para ele, muito surpreso — Batilda nos ajuda de vez em quando. Quando te encontrei, foi porque fui ver se ele já tinha acordado. Levamos ele ontem para ficar com ela, porque foi lua cheia e precisávamos cuidar de Moony. Ele passou o dia todo lá, e quando fui buscar estava cochilando. Porque o Harry é um garoto muito dorminhoco, não é? — Falou para o menino que riu para ele.

— Vocês... vão....? Criar ele?

— Sim.

— E quando ia me dizer que pretende criar ele?

— Estou dizendo agora — Ele falou ao balançar os ombros — Harry, Moony comprou chocolate para você — Contou e o menino sorriu para ele, fazendo um tchauzinho com a mão para mim, e apoiou as mãos nos degraus, subindo as escadas devagar, até poder empurrar a porta e correr para dentro.

Voltei a olhar para James, ainda descrente.

— Por algum tempo, achamos que poderia ser ele o garoto da profecia. Mas...os pais dele enfrentaram Voldemort apenas duas vezes. E não três, como deveriam. Eles morreram nas mãos de comensais. Lily... era alguém muito especial para nós. Ajudou sempre que pode, e esteve ao nosso lado em momentos difíceis. E... nós fomos nomeados padrinhos de Harry.

Sorri, tentando absorver aquela novidade grande.

Nada era simples quando se tratava daqueles três.

— Você ainda quer ficar?

Olhei para o céu, vendo como já estava escurecendo, e pensei em quantas vezes eu fui dormir pensando em James. Pensando em estar ao lado dele.

Levei a mão até o medalhão em meu pescoço.

Ele costumava reforçar qualquer sentimento negativo que eu tivesse, mas naquele instante, eu percebi que não havia nenhum.

— Se depender de vocês, ele vai ser horrível em poções — Murmurei, e o sorriso que James deu em seguida me marcaria eternamente.

Notei então, que ele deveria estar nervoso esse tempo todo em me dizer aquilo, em esperar por minha reposta.

Que a piada sobre o bebê, na realidade, era um teste.

Aceitando ele, vinham outros no pacote.

Vinha Sirius, com Remus e também o menino de olhos verdes.

Há muito tempo atrás, eu pensava que as melhores coisas eram feitas escondidas.

Que coisas como o que eu sentia por James, sempre seriam algo que deveria ficar por baixo dos panos.

Que eu faria apenas quando ninguém estivesse vendo.

Naquele instante, me ocorreu que as coisas mais sinceras dentro do nosso coração, eram feitas em meio a uma multidão raivosa, e sem medo de ser julgado.

Entrelacei nossos dedos, com os olhos no céu, sentindo muito orgulho de mim mesmo por ter feito boas escolhas.

Por lutar por mim, por nós, e pelos outros.

Mesmo que de agora em diante nossa vida fosse ser uma loucura, criando uma criança e tentando destruir as horcruxes.

E esse é o segredo da janela.

Quando você a encontra...

Você pula sem medo.

E a queda é livre.

 


Notas Finais


Dei uma volta enorme porque precisava de um escolhido, precisava de starchase junto, precisava de um Harry (pq ele é meu protegido e precisa existir) e precisava colocar como wolfstar começaram a namorar (porque eu respiro wolfstar)
Mas no fim deu tudo certo, menos para a Lily, (Me perdoa patroa)
Espero que tenham gostado da minha primeira fic starchase! Foi muito divertido escrever!
Nos vemos na próxima!
K.


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