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História Queda D'Água - Terceiro Estilo - Dança Fluida


Escrita por: Daeyang

Notas do Autor


Oieeee 💙
Finalmente voltei e tenho uma desculpa convincente!
Essa semana teve o aniversário da senhora minha mãe e cinco dias depois o meu, então o motivo da minha demora, inicialmente, foi esse.
Outra coisa, é que esse capítulo foi difícil de escrever... Muito difícil mesmo... E ficou beeem grande se comparado aos outros dois que postei, mas eu não podia dividir ou ia perder o ponto...
Se puderem ler as notas finais, terão alguns esclarecimentos sobre o capítulo
Enfim, espero que gostem, pois fiz com muito carinho 🥰

Detalhe: Estou puta da vida porque nenhum dos gifs que upei nos capítulos anteriores deram certo. Vamos ver se funciona dessa vez.

Terceiro Estilo: Dança Fluida (参さんノ型かた 流りゅう流りゅう舞まい San no Kata: Ryūryū Mai) - O espadachim balança sua lâmina em seu oponente de uma maneira que imita o movimento de ondas na superfície da água.

Capítulo 3 - Terceiro Estilo - Dança Fluida


Fanfic / Fanfiction Queda D'Água - Terceiro Estilo - Dança Fluida

Os dias que se seguiram foram mais tranquilos para Giyuu. Instalado em um dos quartos de hóspedes, ele se sentia mais à vontade sem a chegada repentina de ninguém como acontecia na enfermaria, visto que praticamente todos os caçadores de passagem paravam na Área da Borboleta para ser tratado caso estivesse ferido ou para descansar antes de partir para uma nova missão. Ele desejava poder partir de uma vez, o tempo ocioso não o agradava, mas ao menos podia ir na biblioteca do local e se perdia por horas em pergaminhos de temática variada,  que poderiam vir a ser úteis em algum outro momento de sua vida. Afinal, conhecimento nunca é desperdiçado.  

Shinobu passou a acompanhar o estado da ferida de Giyuu em dias alternados. Pouco antes do jantar, logo após seu banho, o rapaz seguia para a enfermaria e encontrava a pilar do Inseto. Ela fazia a troca do curativo e o convidava para jantar no salão, junto com os demais, porém, Tomioka continuava a negar e a fazer as refeições na cozinha, quando não tinha ninguém. Ele não conseguia comer direito com os hashis usando a mão esquerda e derrubar tudo na mesa seria vergonhoso demais para ele. Shinobu já tinha o péssimo hábito de provocá-lo, não queria lhe dar mais incentivo para prosseguir com seus comentários irritantes.  

Giyuu percebia que estava perdendo definição. O fato de não estar comendo direito e de não estar treinando adequadamente ainda lhe daria dores de cabeça.  A Hashira dos Insetos era observadora demais para não perceber a sutil mudança no corpo do rapaz, afinal, ela trocava seus curativos dia sim e dia não. Shinobu o confrontou sobre sua alimentação, mas ele não soube dizer porque mentiu ao dizer que não sabia do que ela estava falando, já que estava se alimentando corretamente. Era mais fácil deixá-la acreditar que ele estava emagrecendo pela falta de treinamento, mas não tinha certeza se a moça acreditou no que lhe foi dito. Tomioka sabia que tudo seria mais simples se ele contasse a Shinobu o que estava acontecendo, mas ele não se sentia confortável com tal perspectiva, não queria que ela risse dele. 

-Você está me enrolando, Tomioka-san.  

-Quando poderei tirar a tala? - Ele ignorou a fala dela, sabendo que discutir não melhoraria as coisas, e se insistisse no assunto, seria pego na mentira.  

-Daqui duas semanas, Tomioka-san. Até lá, sem treinamento para você. - Ela respondeu, sorrindo, mas ele podia sentir que ela o furaria com uma faca se tivesse uma em mãos.  

A mulher partiu logo após sua fala e Tomioka não demorou muito em seguir rumo ao próprio quarto, mas acabou trombando com alguém em uma das curvas. Ou melhor, quase trombou, pois a menina foi ágil o suficiente para esquivar para o lado graciosamente. Tomioka reconheceu a pupila de Shinobu na hora. Mesmo que não fossem parentes de sangue, ele via semelhança entre Shinobu e Kanao que ia além dos enfeites de borboleta no cabelo. Talvez fosse os olhos? Ou seria aquele sorrisinho que sempre carregavam? A pergunta escapou de sua boca antes que sua mente a filtrasse.  

-Porque você está sorrindo?  

O sorriso da menina vacilou de imediato. Ela olhou para as mãos, que estavam fechadas, mas Tomioka pode vislumbrar um brilho dourado por entre os dedos pequeninos da garota. Era uma moeda. Giyuu não fazia ideia do porque a menina ter uma moeda na mão, mas ela voltou o olhar na direção do rapaz, ele percebeu os nós dos dedos dela ficarem mais claros por apertar a moeda. Kanao a guardou no bolso.  

-Era o que Kanae-onee-san gostaria que a gente fizesse. - Ela respondeu, após hesitar, mas o sorriso não voltou ao seu rosto. Muito pelo contrário, Kanao estava com a testa franzida, como se estivesse confusa, pensativa. Tomioka ficou ainda mais confuso.  

-A irmã de Shinobu? - Ele perguntou retoricamente, mas Kanao assentiu mesmo assim.  

-Shinobu-onee-san continua a sorrir por ela. 

-Entendo. - Disse por fim, deixando que a garota seguisse seu rumo.  

Ele jamais imaginaria que o sorriso de Shinobu era por sua irmã. Mas aqueles eram sorrisos felizes? Verdadeiros? Ele não conseguia se sentir feliz mesmo com as lembranças de Tsutako, Sabito e Makomo. A lembrança lhe trazia dor. E ódio de si mesmo. Será que era assim com Shinobu? 

Tomioka repassou a breve conversa que tivera com Tsuyuri Kanao, tentando alinhar o que a garota contou com o que ele sabia sobre o ocorrido com Kochou Kanae e com o que via em Shinobu. Ele continuava a sentir algo incômodo vindo dela, mas não conseguia identificar o que era. Mas era obvio que ele não sentia alegria no sorriso de Shinobu. 

Após alguns dias, houve uma movimentação incomum entre as crianças da Mansão Borboleta. Giyuu percebeu que elas estavam mais animadas que o normal quando estava tentando tomar café da manhã na cozinha e ouviu as três pequenas conversando sobre um festival. Ele tentou puxar em sua mente se havia alguma data comemorativa próxima para que houvesse um festival, mas nada lhe ocorreu. Em menos de dois dias, todo mundo na mansão estava comentando sobre o tal festival. Até mesmo Kanao e Aoi juntas de Naho, Kiyo e Sumi, estavam se questionando se Shinobu as deixariam ir.  

-Kanao-chan, você tem que pedir para a Shinobu-san! - Disse uma das pequenas.  

-Porque eu? - Tsuyuri parecia nervosa, suas mãos fechadas rente ao colo. Tomioka as observava do batente da porta. Ela apertava sua moeda.  

-As chances são maiores se você pedir, Kanao-chan. - Disse outra.  

-Por favor, Kanao-chan! 

-Por favor! 

-Hm... Tudo bem... Vou pedir... - Mesmo com a reposta que fez as demais vibrarem, Kanao não se mostrava tão animada quanto elas. A jovem Tsuguko era bem contida, parecia que nunca sabia exatamente o que deveria ou não fazer.

Naquele fim de tarde, quando Tomioka foi até a enfermaria trocar o curativo, Shinobu cantarolava baixinho enquanto cortava os pedaços de gaze e de esparadrapo. Ela trabalhou sem dizer muita coisa, parecia pensativa, mas pelo que conhecia dela, não demoraria muito a para que falasse algo. 

-Tomioka-san? - Ela o chamou.  

-Hm? - Ele ergueu os olhos em sua direção.  

-Imagino que deve saber do festival, já que todos só falam disso agora... - Ela começou. Ele assentiu em resposta. - Permiti que as meninas fossem. E acabei ficando curiosa sobre o que pode ter lá. Gostaria de ir também? - Sua fala era suave, como sempre.  

-Tanto faz. - Apesar da resposta fria, ele também ficou curioso sobre o festival e sair do casarão certamente lhe faria bem.  

-É amanhã à noite, sairemos as sete. Não esqueça ou ficará para trás. - Ela deu uma risadinha, reorganizando a maleta de primeiros socorros.   

-Tsc... Não vou esquecer. - Nem tinha como esquecer... Todo mundo só falava do maldito festival.  

Ele enrolou na enfermaria por um tempo após a saída de Shinobu, seguindo para a cozinha. Escolheu algumas frutas e pegou um pratinho com pão fatiado, resumindo-se a isso seu jantar, já que para comer aqueles alimentos ele não precisaria usar hashis. Pelo lado bom, ele estava ingerindo muitas frutas, como maçãs, laranjas, uvas, peras, e até mesmo fatias de melancia quando havia alguma partida na cozinha. Ele também gostava muito das vitaminas que a cozinheira preparava para o café da manhã, facilitava a ingestão de bons nutrientes.  

O único exercício que Tomioka conseguia fazer era caminhar e correr. Logo pela manhã, ao sair da cozinha, ele perambulava pelos corredores, ainda os achava exatamente iguais, passava na biblioteca de Shinobu quando encontrava o corredor correto e escolhia algo para ler e se direcionava ao jardim ou ao telhado, onde teria silêncio e poderia se concentrar. Porém, quando não estava muito disposto à ler, ele corria pelo perímetro da mansão com picos de explosão e retornando a caminhar. Se não podia usar os braços, usaria as pernas para se manter ocupado. Um corpo cansado não tem tempo de pensar muito, Tomioka evitava ao máximo manter a mente vazia, ou logo seria povoada por lembranças e pensamentos que o chateavam.  

Na manhã seguinte, o dia do festival, Giyuu se viu novamente perdido nos corredores. Sua testa se franzia de irritação, se recriminando por estar muito aéreo ultimamente, as vezes se esquecia onde estava e para odne queria ir. Viu uma porta entreaberta, se aproximou e esticou a canhota para bater e anunciar sua presença, mas parou o punho ao ver Shinobu de perfil, com o olhar baixo, voltados ao seus próprios palmos, onde um objeto que Giyuu não conseguiu identificar repousava. Algumas mechas do cabelo bicolor estavam projetadas para frente, seguindo o rumo da cabeça da moça. Porém, algo estava errado. O sorriso costumeiro não estava ali, seus lábios estavam crispados, seu belo rosto iluminado estava caído, ele não conseguia ver direito, mas sentiu um peso enorme no peito ao constatar que ela estava triste, podia jurar que vira lágrimas brilhando nos olhos dela. Tomioka deu um passo a frente, mas recuou logo depois. O que ele poderia dizer a ela? Não tinha tato com palavras, poderia chateá-la ainda mais, ser repelido... Com isso em mente, o Hashira da Água se afastou do cômodo, seguindo seu caminho, repetindo a si mesmo que ficar calado seria o melhor a se fazer no momento, que ela deveria ter seu momento de sofrimento sozinha.  

Mal percebeu o caminho que havia tomado, o semblante entristecido de Kochou se mantinha em sua mente, e só se deu conta de que havia chegado ao jardim quando a brisa balançou seus cabelos escuros. Estava debaixo da grande árvore cor de rosa, algumas borboletas coloridas serpenteavam no ar. Ergueu a mão de forma instintiva, como se quisesse tocar uma delas. Os pequenos insetos voavam ao redor do rapaz e um pousou em seu indicador. Giyuu observou a borboleta púrpura por um momento. A imagem de Shinobu se desenhou diante de seus olhos mais uma vez e ele elevou a mão um pouco, para que a borboleta alçasse voo com as demais.  

-Porque ela estava triste? - Perguntou sozinho, suas palavras direcionadas aos pequenos insetos que voavam, questionando a si mesmo se ir embora e deixá-la só fora a melhor atitude que poderia ter tomado.  

Ele deveria ter falado algo para ela. Certo? Mas ela sequer notou sua presença... Ou havia notado? Ele sentia que deveria ter feito alguma coisa... Mas o que poderia ter feito? O que poderia ter dito? Vê-la daquela forma o atingiu de um jeito que não sabia descrever...  

Saiu de seu estado de torpor quando o céu se tingiu em tons alaranjados, indicando que o final da tarde traria o céu escuro em poucos minutos. No caminho para seu quarto, afanou algo da fruteira da cozinha para preencher o vazio do estômago. Ao passar por um dos corredores de quartos, pode ouvir as vozes das meninas, enquanto mordiscava a maçã: 

-Alguém viu o meu laço? 

-Aoi-chan, faz uma trança no meu cabelo? 

-Não acho meu sapato!

-Kanao-chan, você vai assim? 

-Tem algo errado com a minha roupa, Sumi-chan? - Ele reconheceu a voz da Tsuguko, ela esboçava uma dúvida genuína, olhando para seu uniforme de caçadora e sua capa branca.  

-É que... Você está vestida como sempre, Kanao-chan... - Respondeu outra, cuidadosamente.  

-Kiyo-chan! Que rude! 

-Gomen! 

-Vem aqui, Kanao-chan... Me deixe arrumar seu cabelo...  

A cara de paisagem de Giyuu seria notória caso alguém o visse naquele momento. Novamente ele chegou a conclusão de que mulher era complicada. Qual era o problema de se vestir como sempre? Ele próprio jamais tiraria seu Haori... Foi o que constatou, após se olhar no espelho, não via nada de errado em sua aparência, ao mesmo tempo que não via nada de especial. Os cabelos estavam levemente úmidos do banho recente. Estava vestido como sempre, com o uniforme de sempre, o Haori de sempre. Não se imaginava de outra forma. Até mesmo as roupas de hospital que fora obrigado a usar durante as primeiras semanas lhe foram incômodas.  

-Você vai assim, Tomioka-san? 

Giyuu arregalou os olhos por um momento, imaginando como Shinobu havia entrado em seu quarto sem ele perceber, mas quando virou para trás, continuava sozinho no local.  

-Tsc... Eu devo estar enlouquecendo... - Tornou a olhar a si mesmo no espelho. Não sabia o que sentia ao se ver. Se achava alguém ordinário, simplório, que sequer merecia estar vivo.  

Retirou-se do quarto e tentou não se perder no caminho para o Hall de entrada. Não demorou para que as garotas aparecessem. Todas estavam arrumadas de forma diferente do que Tomioka se lembrava. Principalmente Kanao. Os cabelos dela estavam soltos, mas o enfeite de borboleta ainda decorava a lateral de sua cabeça, a capa branca fora substituída por um haori rosa claro. Ela parecia constrangida.  

-Kanao-chan! Não faça essa cara! - Disse a pequenina de rosa. Giyuu não sabia qual era qual.  

-Você está linda! - Disse a de azul.  

-O-obrigada... - A jovem moça sequer conseguia olhar para cima, envergonhada por ser elogiada.  

Giyuu sequer prestou atenção no diálogo. Seu olhar estava voltado à uma das janelas. A única que faltava era Shinobu.  

-Yoo! - Bastou pensar nela que sua voz melodiosa alcançou os ouvidos de Tomioka. Ao olhá-la, o sorriso de sempre decorava o rosto delicado mas por alguma razão, ele não se sentiu melhor. Continuava se lembrando da tristeza que viu nela mais cedo.  

-Shinobu-san! Você está linda!  

-Obrigada, Sumi-chan. Vocês também estão. - Ela sorriu, e seus olhos se fecharam um pouco.  

Kochou trajava um vestido branco simples e liso e sobre os ombros, estava o Haori de borboleta que sempre usava e o enfeite de borboleta prendia apenas uma parte do cabelo dela, enquanto o restante permanecia solto sobre os ombros.  

-Tomioka-san? Há algo errado? - Ele não percebeu que a estava encarando. Apenas desviou os olhos e abriu a porta da frente.  

-Vamos logo. - Ele aguardou que todas as moças saíssem e fechou a porta ao passar.  

Durante o caminho, Kiyo, Sumi e Naho iam na frente, Aoi e Kanao vinham logo atrás, e por fim, Shinobu e Giyuu caminhavam lado a lado. As meninas conversavam animadamente, com exceção de Kanao que se limitava a responder quando falavam com ela e Tomioka percebeu que Shinobu estava calada, aérea. Detalhe incomum vindo da pilar dos Insetos. Algo ainda a aborrecia? Ele a olhou de soslaio, tentando notar alguma mudança em sua expressão, mas seu semblante se mantinha neutro.  

-Todas estão com saquinhos de glicina? - Perguntou Shinobu, assim que chegaram na rua do festival. As meninas confirmaram. - Pois bem, nos encontramos aqui quando a queima de fogos acabar.  

A mulher mal acabou de falar e as meninas se dispersaram na multidão. O trio de pequenas foi para um lado, e Aoi arrastou Kanao para o outro. Tomioka não fazia ideia de onde ir, então se limitou a acompanhar Shinobu, que observava as barraquinhas, se decidindo aonde queria ir primeiro. Nesse meio tempo, Tomioka olhava ao redor, vendo a bela decoração com lanternas luminosas brancas e outras vermelhas, parecia ser uma data importante, as pessoas estavam bem vestidas e Tomioka se sentiu deslocado por estar vestido “como sempre”, com seu uniforme de caçador. O hashira também percebeu que haviam algumas barracas com vasos de glicina compondo a decoração, além de garantir uma certa proteção na proximidade.  

-Hmmm! Aquilo parece bom, Tomioka-san! Vamos! - Ele sentiu a mão dela o puxar pelo Haori e acompanhou, antes mesmo de voltar os olhos na direção da barraquinha. - Gosta de morangos com chocolate, Tomioka-san?

-Gosto.  

-Ótimo. - Ela disse e virou para o atendente da barraca - Boa noite! Vou querer dois, por favor!  - Não demorou para que tirasse as moedas de uma bolsinha e entregasse para o homem, e em troca, ele passou a ela os dois espetinhos de morango. - Aqui, Tomioka-san! - Ela passou um deles para Tomioka, e mordeu o primeiro morango do seu, fechando os olhos. - Hmmm... 

Ele a observou, achando graça de sua expressão, apesar de não demonstrar nada, e abocanhou um dos morangos. A combinação doce do chocolate com o azedinho do morango muito o agradava, assim como Shinobu, devido a sua reação e a moça continuou caminhando e olhando o local.  

-Tenho certeza que ouvi falar sobre uma barraquinha de dango nesse lugar... - Ela murmurou, olhando ao redor. - Gosta de dango, Tomioka-san? 

-Gosto.  

-Ah, eu também! - E novamente, ele sentiu a mão dela em seu braço - Ali! Vamos, Tomioka-san! 

Mais uma vez, ele de deixou conduzir por ela, porém, tomou a frente quando foram atendidos por uma moça.  

-Dois dangos, por favor.  

-É pra já!  

Ele pagou pelo doce e segurou os dois espetinhos com a canhota, abaixando a mão para que Shinobu pudesse pegar um.  

-Obrigada, Tomioka-san.  

-Por... - Antes que terminasse de falar, acabou sendo interrompido por uma voz familiar.  

-Shinobu-chaan! Tomioka-saan! - Ao voltarem-se para a voz de Kanroji Mitsuri, Giyuu e Shinobu vislumbraram a bela moça acompanhada por ninguém menos que Iguro Obanai, o Hashira das Serpentes. Eles claramente eram alguma coisa, mas Tomioka nunca se importou em saber qual o título específico deles.  

-Boa noite, Mitsuri-chan, Iguro-san. - Shinobu os cumprimentou, sorrindo.  

-Oi. - respondeu Tomioka.  

-Estou surpresa em vê-los aqui... - A moça de cabelos rosados dizia, com uma risadinha sugestiva. Tomioka não entendeu o porque, era nítido que estavam comendo dangos.

-As meninas queriam vir... - Shinobu se limitou em esclarecer tal ponto, e sorrir de forma visivelmente forçada. - O que está achando do festival, Mitsuri-san? - Perguntou ela, educadamente.  

-Está tudo muito lindo! Adoro as barraquinhas de comida! As lanternas deixam tudo muito romântico! Não concorda, Shinobu-chan? 

-Você deve estar certa...  

-Claro que estou certa! Kyaa! Olha lá! Vem comigo, Shinobu-chan! - E a pequena moça do haori de borboleta foi puxada por Mitsuri para uma barraquinha cheia de pelúcias coloridas. - Iguro-san, Tomioka-san, A gente já volta! - Kanroji gritou aos rapazes, enquanto puxava Shinobu pela mão e acenava exageradamente para os dois.

Tomioka estava com sua cara de paisagem enquanto observava Kanroji se afastar com Shinobu. Não percebeu que havia estalado a língua e atraído a atenção de Iguro para si, que o encarava com os olhos semicerrados. 

-O que foi? - Perguntou Giyuu, sua voz saía ríspida, mesmo que não fosse intencional. 

-Eu quem te pergunto. Porque está com essa cara de idiota? - Inquiriu Iguro, dando um passo à frente, sua voz era como um sibilo e ele pode ouvir o som emitido pela cobra albina que ele não lembrava o nome, mas que sabia estar enrolada no pescoço do companheiro de espada. Diferente de Sanemi, Iguro não gritava e seu semblante não se distorcia em fúria, mesmo que o tom de ameaça fosse palpável em sua voz quando as fazia. Tomioka também não se dava muito bem com ele. 

-Eu não entendo elas... Como você consegue, Iguro? - Tomioka se referia às mulheres. 

-Ahn?? - A face inexpressiva de Obanai mudou para confusa, suas sobrancelhas se franziram. - Do que você está falando? 

-Kanroji. - Tomioka conseguiu toda a atenção de Iguro ao citar o nome da moça que possuía a afeição dele. - O que você diz para ela quando percebe que está triste? 

-O que? - Iguro piscou algumas vezes, encarando Tomioka, procurando algum traço de humor em sua pergunta, mas ele estava sério. - Olha... Eu simplesmente abraço ela... - Iguro desviou o olhar após responder, levemente constrangido ao expor aquilo. - Normalmente é o bastante... A conforta. 

-Entendo. - Tomioka assentiu. - Então não é preciso dizer nada. - Constatou por fim. 

-Espera ai, idiota. - Iguro captou o teor do assunto. - As vezes palavras são necessárias sim. 

-Quais? Quando?

-Não tem como eu te falar o que seria apropriado, Tomioka. Cada pessoa é diferente e as situações também são.  

-Tsc. - Tomioka desviou o olhar na direção que as moças desapareceram e estalou a língua. Ele jamais saberia o que dizer. 

-Você é um homem ou um rato, Tomioka? - Como se tivesse lido a mente de Tomioka, Iguro agarrou o Hashira da Água pelos ombros e o sacudiu de leve. O cenho de Giyuu se franziu em confusão. - Quando Mitsuri está triste, tudo o que eu quero é vê-la sorrindo de novo. Então eu digo coisas que a fazem sorrir. Basta ser sincero. É bem simples.  

-Tanto faz. - Não era simples droga nenhuma. 

-Não, seu idiota. É esse tipo de atitude que elas odeiam... Descaso... Desinteresse... Qual parte sobre ser sincero você não entendeu? - Iguro revirou os olhos. Tomioka era mesmo um idiota. 

-Tá, tá. Já entendi. - Giyuu respondeu, se sentindo incomodado com a forma que Iguro falou consigo, como se fosse uma criança. 

-Hm... - Obanai o encarou, imaginando que ele não tinha entendido porcaria nenhuma. - De qualquer forma, esse problema é seu... - Ele fez uma pausa e olhou ao redor. - Preciso aproveitar que Mitsuri não está perto e comprar o chocolate... 

-Chocolate? Porque? 

-White Day, Tomioka. Em que mundo você vive? - Putz, ele era mesmo um idiota. 

-... 

-É sério que você não sabe o que é o White Day? - Obanai espalmou o próprio rosto e fitou o colega. - Merda... Você é um caso perdido... 

-O que é o White Day? - Tomioka perguntou, ignorando o comentário posterior de Iguro.

-É o dia em que os homens presenteiam as mulheres com chocolate, Tomioka. Desde familiares, amigas, até a pessoa que você gosta. - A essa altura, Iguro já estava observando os chocolates de uma das barracas, Tomioka o acompanhou e o Hashira das Serpentes se voltou para a atendente: - Quero o maior Honmei Choco que você tiver e com o embrulho mais bonito, por favor. 

-Haaai! - A moça respondeu, pegando uma caixa bem grande e mostrando à Iguro. Aquilo parecia caro. - Gosta desse? 

-É perfeito. Obrigado. 

-Vou mostrar os embrulhos! -Enquanto Iguro era atendido, outra moça abordou Tomioka. 

-Olá, o senhor quer escolher algum também?  

-Não sei... - Eespondeu Giyuu, mais para si mesmo do que para ela. Mesmo que em um conflito interno,  ele voltou o olhar para os chocolates expostos. - Será que tem algum em forma de borboleta? - Tornou a perguntar para si mesmo, sem sequer olhar duas vezes na direção da moça. 

-Tenho sim! O que acha desse? - Mostrou uma pequena caixinha transparente, com bombons de chocolate sortido em forma de borboleta repousavam. Havia um maior, ao centro. Em sua opinião, era adequado. Assentiu em concordância. - Que tipo de embrulho gostaria? 

-Fita.  

-Tem preferência por cor? - A moça mostrou as opções, ele apontou para uma fitinha roxa, que lembrava a nichirin de Shinobu. - Vou embalar para você!  

Obanai estava tão imerso em sua compra, que sequer se lembrou de avisar a Tomioka que cada tipo de chocolate deveria ser destinado a um tipo de mulher. Quando pensou em chamar a atenção de Giyuu, avistou a cabeleira bicolor de rosa e verde e acabou guardando o próprio embrulho nas costas, por baixo do Haori. Por algum motivo, Tomioka acabou fazendo o mesmo, colocando a caixinha quadrada no bolso.  

-Iguro-san! - O olhar de Kanjori voou direto em Obanai quando se aproximou acompanhada por Shinobu. - Eles tem uma espécie de caminho do amor... Vamos lá? Por favooor, Iguro-san!  

-Claro, Kanroji. - Tomioka até estranhou o tom de voz de Iguro, parecia suave, terno.  

-Ah! Obrigada, Iguro-san! - Kanroji já enlaçou o braço ao do rapaz, mas antes de começar a caminhar, voltou os olhos à Giyuu e Shinobu. - Vocês virão também, não é? Vai ser muito legal!  

Giyuu olhou para Shinobu, como quem estivesse lhe perguntando se ela queria. Kochou olhou de volta para ele, como se dissesse “não sei”.  

-Ah por favor! Não sejam chatos. Vocês tem algo melhor para fazer? - Insistiu Mitsuri, com um biquinho.  

-Bem... Não, mas... - Começou Shinobu, mas fora cortada pela moça mais alta.  

-Perfeito! Vamos, vamos! - Kanroji só se deu por satisfeita quando Tomioka e Kochou os seguiram. - É por ali, Iguro-san, minna! - Indicou para a esquerda, caminhando animada, tagarelando tanto que Tomioka simplesmente ignorou tudo o que ela falava.  

Ele sequer sabia no que estava se metendo ou para onde estavam indo. Apenas seguiu Mitsuri e Obanai, acompanhado por Shinobu, enquanto a moça de cabelos rosados falava mais rápido do que todos podiam acompanhar, sua animação palpável. Obanai apenas concordava com tudo o que ela dizia. Caminharam por cerca de dez minutos, até a entrada do jardim botânico local, todo decorado com balões, lanternas e flores.

Havia um rapaz e uma moça na entrada. Ele estava recebendo o dinheiro daqueles que queriam passar e ela parecia explicar sobre o percurso aos visitantes. A fila não estava muito longa, mas Tomioka constatou que não havia nenhuma criança ali, apenas casais. Obanai pagou por sua entrada com Mitsuri, e Tomioka fez o mesmo em sua vez com Shinobu, ela continuava estranhamente calada e distraída.  

-Boa noite! Como estão? - Começou a moça, parecendo animada. - O passeio é bem simples: Vocês são livres para circular pelas alas do jardim botânico, porém, em cada uma delas, haverá algo que devem cumprir. Não é nada complicado, fiquem despreocupados, basta escolher um balão e estourá-lo... Quando estiverem satisfeitos, podem voltar á trilha principal que dá na saída do Jardim e estarão liberados para soltar o fio.  

-Fio? - Perguntou alguém. 

-Sim! O fio! Vocês terão de ficar com as mãos amarradas durante todo o tempo que estiverem no jardim! - Dito isso, a moça cortou pedaços de fio vermelho, com cerca de cinco centímetros de comprimento, amarrando nos mindinhos dos casais, apesar de a maioria simplesmente entrelaçavam os dedos e sorriam para sua companhia.  

Giyuu teve o mindinho esquerdo atado ao direito de Shinobu. Ela, por sua vez, olhou as mãos juntas e desviou o olhar para os próprios pés quase que imediatamente. Tomioka não soube como interpretar aquilo. Ela não queria passear pelo jardim?  

-Shinobu.  

-Sim, Tomioka-san? - Ela perguntou, voltando o olhar a ele.  

-Se você quiser ir para outro lugar... - Ele começou, mas ela o interrompeu.  

-Não. - Ela se apressou em dizer - Eu quero ficar... - E desviou os olhos. 

Ele assentiu com a cabeça e passaram o portão. Giyuu não viu para qual direção Iguro e Kanroji seguiram, e ele preferia assim já que Kanroji era capaz de esgotar sua bateria social em poucos minutos. Seus olhos recaíram na placa que havia logo na entrada, com setas apontando as alas principais: Jardins, Estufas, Campos, Lagos e Lagoas.  

-Para onde? - Perguntou ele.  

-Por ali... - Ela apontou para a esquerda, rumo aos jardins.  

O caminho estava todo iluminado com lanternas flutuantes brancas e luzinhas vermelhas. Eles caminhavam em silêncio, o que era incomum, considerando que Shinobu costumava provocar Giyuu o tempo todo. O braço de Kochou estava um pouco para cima, devido a diferença de alturas entre eles. Tomioka observou o pequeno fio vermelho que os ligava, ele podia sentir a pele dela roçar na sua... Ela estaria incomodada com a proximidade? 

A segunda decisão do caminho foi dele: Entre o Jardim de Rosas e o Jardim de Lavanda, ele optou pelo segundo, imaginando que ela gostava daquela flor, considerando que era da cor de seus olhos e muito usada em essências terapêuticas. Kochou pegou um dos balões quando passaram, mas não estourou de imediato.  Ele não negava achar a paisagem bonita. Normalmente não tinha tempo para admirar os locais por onde passava, ele era objetivo demais para isso. Mas naquele momento, ele podia se dar ao luxo de achar bela a visão de Shinobu em um jardim iluminado e cheiroso. Combinava com ela... A única coisa desarmônica era o silêncio ensurdecedor da mulher, apesar de sua expressão neutra.  

-Shinobu.  

-Sim, Tomioka-san? 

-Tem algo errado?  

Ela não respondeu. Simplesmente apertou o balão e o estourou, esticando a mão livre para pegar o papelzinho havia dentro dele.  

-”Faça um elogio ao seu acompanhante” - Ela leu.  

A brisa balançou os cabelos de Shinobu e o cheiro do perfume dela se misturou ao cheio das rosas do jardim onde estavam parados. Ela ergueu os olhos na direção dele, que em contrapartida, inclinou a cabeça para baixo, fitando os olhos incomuns da moça.  

-Te acho muito inteligente. - Ele começou, perdido nas ametistas de Shinobu. - Não há nada que você não seja capaz de responder e é incrível como você tem soluções para tudo... Mesmo que você me confunda com frequência, eu gosto de ouvir o que você tem a dizer, na maioria das vezes... - Continuou, sendo incapaz de desviar os olhos dos dela. - É estranho quando você se cala...

-Gosto de ver suas expressões... Qualquer uma... - Ela parecia insegura, envergonhada. - Seja um franzir de sobrancelhas... Uma carranca... Você parece vivo quando se expressa... - Ela continuou, dando um passo a frente e levantando um pouco o rosto. - Mas tem uma que você nunca mostra... - Ela sussurrou baixinho.  

-Qual? - Ele sussurrou de volta, sentindo o toque quente da mão dela em seu rosto, dedilhando sua bochecha, algo se remexeu em seu peito.  

-Um sorriso... Você nunca sorri, Tomioka-san... Eu fico imaginando como é o seu sorriso... - E ela afastou a mão e abaixou os olhos. - Vamos adiante.  

Tomioka piscou algumas vezes, tentando processar o que ela disse, aquilo não era bem um elogio, mas ele tomou como algo positivo. Giyuu se deixou guiar por ela, que tomou a frente. Por um momento, ele olhou o pequeno palmo dela atado ao seu por um frágil fio. Ele não sabia explicar porque queria segurar a mão dela, mas simplesmente o fez. Shinobu desacelerou o passo, o olhando surpresa por um instante, de certo não esperava algo desse tipo vindo de Giyuu, que logo estava ao lado dela, mas nenhum dos dois disse nada. Seus dedos se entrelaçaram e Shinobu desviou o olhar, sua expressão mais suave. 

Seguiram a trilha por cerca de dois minutos, até uma nova placa aparecer indicando os campos abertos de um lado e as estufas de outro. Shinobu optou pelos campos abertos, e no meio do caminho, haviam fontes de água, com luzes coloridas lhe dando vida. O olhar de Giyuu vagou por elas, achando-as bonitas e a placa dos campos de girassol, haviam balões amarrados. Shinobu pegou um deles e o estourou quando estavam no centro do campo de flores amarelas que se mantinham fechadas.  

-Certamente seria mais bonito de dia... - Ela comentou, erguendo a mão para pegar o papelzinho no ar.  

-Porque? 

-Essas flores seguem o sol... - Ela disse.  

-Como assim? 

-Durante o dia, os girassóis seguem a luz do sol. Começam virados para o leste, abertos... Conforme o sol se move, elas giram em seu próprio eixo, e se fecham no oeste, quando anoitece... - Sua voz era melodiosa aos ouvidos de Giyuu. - Mas como está de noite... - Ela deixou a frase no ar, baixando os olhos para o papel com o comando. - “Dança lenta”.  

-Você sabe dançar? - Ele perguntou a ela, repentinamente nervoso.  

-Não muito bem... E você? - Ele podia perceber a insegurança em sua voz. 

-Nunca fiz isso na vida. - ele desviou os olhos dela, mas pela visão periférica pode vê-la assentir.  

-Não precisamos fazer isso, se não quiser...  

-Tsc... - Ele estalou a língua, não acreditando no que estava disposto a fazer. - Só me diga o que fazer, Kochou.  

-Certo... - Ela parou diante de Giyuu - Primeiro, seguramos as mãos assim... - Ela indicou para as mãos já unidas e deu um passo à frente, ficando na ponta dos pés, para poder apoiar a mão livre no ombro dele. - Eu apoio a outra mão no seu ombro... E você deveria segurar na minha cintura... - Sua voz estava um pouco baixa e Tomioka inclinou o rosto na direção dela para ouvi-la melhor. - Mas como sua clavícula ainda está quebrada, é melhor que não mova o braço e... - Ele tirou o braço da tala e apoiou o palmo na cintura fina dela. Shinobu estremeceu. - Tomioka-san! Você não deveria fazer isso! 

-Shinobu... - Ela se calou ao ouvir seu nome. - Está tudo bem. Alguns minutos sem a tala não vai quebrar meu osso novamente. 

-Tomioka-san...  

-E agora? - Ele perguntou, ignorando o possível protesto que viria dela. 

-Agora é só dar um passo para a direita e mais outro para a esquerda... - Ela disse, enquanto mostrava como deveriam fazer. Havia um pequeno bico de contradição em seus lábios.

-Certo. - Ele manteve os olhos nos pés, seguindo os movimentos dela. - Assim...? - Perguntou inseguro.  

-Você está indo bem, Tomioka-san...É assim mesmo... 

-Porque não se acha uma boa dançarina?  

-Eu sou muito pequena... Se você der passos largos, não conseguirei acompanhar e... - Tomioka havia percebido aquilo. Era difícil para ela dançar na ponta dos pés por ser bem menor do que ele, então ele simplesmente a puxou para cima, pela cintura, de forma que ela pudesse usar os pés dele como apoio.   

-Assim é melhor? - Ele sussurrou, perto do rosto dela, visto que estavam bem mais próximos do que antes e o nervoso continuava inundando seu peito, mas não era ocasionado pela dança.  

-H-hai... - Tomioka apoiou a mão nas costas dela, mantendo a proximidade. Ela parecia levemente trêmula. Estaria ela com medo de cair? 

-Eu não vou te derrubar, Shinobu...  

-Eu sei... Tomioka-san... - Ela respondeu, mas ainda pareceria querer dizer alguma coisa, porém fez algo que ele não esperava: Apoiou a cabeça em seu peito, próximo da curva de seu ombro.

Giyuu arregalou os olhos, mas não a afastou, nem disse nada. Provavelmente ele ouvira seu coração descompassado, mas ele não se importou, tocou os cabelos dela por um breve momento, mas logo voltou a mão para o meio de suas costas, imaginando que ela brigaria com ele caso continuasse a mover o braço que deveria estar imobilizado.  

A fluidez dos passos... O cheiro floral no ar... As luzes bonitas decorando a paisagem ao fundo... Os pequenos vagalumes que apareceram em algum momento... O som da respiração de Shinobu... E as próprias batidas do seu coração... Parecia perfeito. Ele sequer percebia o tempo passar...

Aos poucos, seu coração desacelerou, mas ele ainda se sentia estranho. Ele sentia o calor do corpo dela, a suavidade de seu toque, o rosto sereno...  Ele mantinha um balançar tranquilo, dando passos pequenos, assegurando-se de mantê-la firme sobre si. Ele não se importava com nada... Não se importava se estava dançando certo ou errado, nem ligava se precisava ficar mais tempo de repouso por ter tirado a maldita tala. Aquele silêncio, diferente dos anteriores, era bom... Era bom estar com ela daquela forma... Parecia certo... Ficar com ela bastava...

O momento foi quebrado quando um rojão cortou o céu, anunciando que a queima de fogos logo começaria. Lentamente, Shinobu afastou o corpo de Tomioka e tornou a colocar os pés no chão. Ele, por sua vez, retornou o braço que deveria estar para a tala. A moça se certificou que ele o fez corretamente. 

-Quer assistir a queima de fogos aqui ou prefere voltar para o festival? - Foi Kochou quem cortou o silêncio. 

-Quero ficar aqui. - Ele respondeu, e seguiram a diante, até o final do campo de girassóis. - Com você. 

-Bem... - Ela pareceu um pouco desconcertada, mas prosseguiu - No caminho para as estufas tem uma elevação... Podemos ver de lá. 

Ele assentiu, e a deixou ditar o caminho. Seus dedos continuavam entrelaçados, o silêncio que o perturbara antes, agora era confortável, como se não houvesse pesares, mesmo com a dúvida que o consumia.

Na placa das estufas, haviam mais balões pendurados. Shinobu pegou um deles e continuaram a caminhar, até chegar no ponto mais alto. Puderam ver alguns casais circulando na parte debaixo, fossem abraçadinhos ou de mãos dadas, estavam alheios à presença de qualquer outra pessoa. Giyuu e Shinobu sentaram-se lado a lado e ela estourou o balão, pegando o papel em ar, mas os seus olhos estavam voltados à Giyuu, mas não dizia nada. 

-Shinobu. 

-Sim, Tomioka-san? 

-Quero te fazer uma pergunta. 

-Pode perguntar, Tomioka-san. 

-Você não gosta da minha companhia? - Para Giyuu, aquilo faria sentido, já que ela estava agindo estranhamente desde que ficaram sozinhos no festival. 

-De onde tirou isso, Tomioka-san? - Ela desviou os olhos dele por um instante, para o papel, mas logo voltou à fitá-lo. 

-Você não falou muito... Parece dispersa... Distraída... Normalmente eu não entendo porque você está sempre sorrindo... Tem hora que não vejo motivos para sorrir, e mesmo assim, você está sorrindo, mas você também não sorriu muito hoje... Você não está se sentindo confortável comigo? 

-Não é isso, Tomioka-san... - Ela desviou os olhos e ele segurou mais firme na mão dela. . 

-Me conte, Shinobu... 

-É difícil manter a máscara... Sufocar o que realmente sinto o tempo todo... 

-Então não faz isso... 

-Eu não posso... Tomioka-san... - Ele se recordou da conversa que teve com Kanao, sobre o desejo da falecida irmã de Shinobu. 

-Você é como eu, Shinobu.  

-Como você? 

-Seu sorriso é como o meu haori. - O haori era o lembrete diário de sua falha como ser humano para com sua irmã e Sabito. O sorriso de Shinobu era o lembrete da morte de Kanae. 

-Não é a mesma coisa, Tomioka-san. 

-Você sorri por sua irmã e eu visto meu haori pela minha. E por meu amigo. A diferença é que eu me fecho para não me machucar e falho em todas as tentativas. Você se machuca sorrindo. Você não é sincera com você mesma, Shinobu. 

-E você é, Tomioka? - O cenho dela estava franzido. Uma expressão que ele nunca tinha visto nela. Ele notou a ausência do sulfixo "-san". 

-Eu me privo de companhia para não ter quem perder, Shinobu. Me privo das minhas emoções para não ser controlado por elas. Mas é particularmente difícil fazer isso o tempo todo. Assim como é para você.

Ela fez menção de falar, mas ele a interrompeu. Não havia terminado o que tinha a dizer.

-Durante toda a noite, eu queria que se sentisse bem... Se não se sente desconfortável comigo, qual é o problema, Shinobu? 

-Você não percebeu ainda, Tomioka? O motivo do meu nervosismo? - Ela sussurrou, o olhando, seu rosto parecia quente. - Certamente não percebeu... Você é muito lento, Tomioka Giyuu... 

-E qual é o motivo? O que não estou percebendo?  

A queima de fogos finalmente havia começado, atraindo toda a atenção de ambos, interrompendo a conversa. As luzes eram belas, cascateavam filetes de fogo colorido no céu, com sons ritmados. Tomioka não percebeu quando passou o braço pelo ombro de Shinobu e se aproximou do corpo dela. Shinobu manteve as mãos unidas, permitindo que se mantivessem próximos. Alguns dos fogos especiais tinham formas, e devido ao White Day, a maioria eram corações vermelhos e cor de rosa. E então, Tomioka se lembrou de algo.  

-Shinobu?  

-Sim, Tomioka-san?  

-Pode soltar o fio? - Ele pediu e viu algo nos olhos dela, mas antes que ele pudesse discernir se era decepção ou tristeza, ela baixou os olhos na direção das mãos juntas, e desamarrou o fio.  

Imediatamente, Shinobu voltou o olhar os fogos, sua expressão levemente mais dura. As luzes haviam perdido a intensidade, assim como o brilho das orbes da moça perderam parte de sua luz. Giyuu manteve os olhos na pilar, preocupado com aquela nova mudança e levou a mão ao bolso, pegando a caixinha de chocolate que havia comprado para ela.  

-Shinobu? 

-O que foi, Tomiok... 

-Para você. - E ofereceu a caixinha, olhando no fundo dos olhos de Shinobu.- Iguro me disse que hoje os homens devem presentear as mulheres que gostam com chocolates... E só posso pensar em você... - Suas palavras fluíram de uma forma tão honesta que ele sequer foi capaz de contê-las ou de pensar no que elas significavam.

Ela encarou a caixinha, parecendo surpresa. Ele pode ver o rosto dela se avermelhar um pouco, e o tocou, afastando uma mecha de cabelo de seu rosto delicado, preocupado com aquela reação. Ela tocou a mão dele, ainda em seu rosto e sorriu. Tomioka ficou ofuscado por aquele sorriso. Ele soube que aquele era um sorriso verdadeiro, que fez seu peito se aquecer. Não sabia explicar, só sentia que era o sorriso mais genuíno que havia recebido dela e aquilo lhe fazia sentir algo estranho no estômago.

-Shinobu... - Ele percebeu que os olhos dela estavam marejados. - O que houve? Fiz algo errado? Me des...  

Ela se inclinou para frente e deu um beijo em sua bochecha.  

-Obrigada, Giyuu.  

-Por nada, Shinobu.

E pela primeira vez em muito tempo, Tomioka Giyuu sorriu.


Notas Finais


Meu Jesus amado...
Juro por Deus que esse capítulo foi muito difícil de escrever e fui dar uma última revisada antes de postar... Ou seja, levei duas horas corrigindo mais coisas que não gostei muito...
Tem algumas referências nesse capítulo, no caso, durante o passeio, eles tiveram de caminhar com os mindinhos ligados por um fio vermelho, sendo uma alusão ao Aka Ito. Esse fio supostamente liga pessoas que estão predestinadas a se encontrar. Diz a lenda que o fio se embaraça, estica, se enrola mas nunca se parte. Eu acredito que através do livre arbítrio nossos encontros predestinados se bagunçam. Achamos que o que queremos é o que é melhor pra gente e nessa o fio fica cheio de nós. A verdade é que não sabemos nada.

https://medium.com/@fernandanavescoutinho/akai-ito-sobre-conex%C3%B5es-desconexas-366215f1b086

O link acima aborda melhor sobre o Aka Ito para quem quiser saber mais.

A outra referência, é sobre o White Day. No Japão tem o Dia dos Namorados, onde as mulheres presenteiam os homens com chocolates, no dia 14 de fevereiro. Essa cultura de entrega de chocolates é tão forte, que existem diferentes tipos de chocolates para as diferentes pessoas que serão presentadas. Os principais tipos são:

Giri choco – Também chamado de chocolate obrigatório. Ele é normalmente entregue a homens com quem se tem contato regular.
Family choco – Chocolate dado a familiares.
Tomo Choco – Chocolate dado a amigos.
Honmei choco – Esse é o chocolate para o amor verdadeiro. As mulheres entregam esse chocolate para o homem pelo qual estão apaixonadas. Caso não estejam namorando, o presente serve como uma declaração.
Gyaku choco – Algo como “chocolate reverso”. Um costume recente, que é quando um homem dá um presente a uma mulher.

Um mês depois, tem o White Day, onde os homens retribuem os presentes que receberam das mulheres.

https://www.aulasdejapones.com.br/o-dia-dos-namorados-no-japao/

Segue link de referência para maiores informações!

No caso, nosso querido Tomioka não fazia a menor ideia do que era o White Day e comprou para a Shinobu o mesmo chocolate que Iguro comprou para a Kanroji. O chocolate do amor verdadeiro... Lindos 💙

Será que ele sabe a importância disso? E a Shinobu? Como será que ficou a cabeça da nossa borboletinha?

Eu espero que a leitura não tenha ficado corrida, porque foi realmente muito difícil abordar uma "Dança Fluida" como o título do capítulo pede envolvendo o lerdo do Tomioka e espero que tenham gostado do resultado!

Haha!

Todas as opiniões e comentários são muito bem-vindos 💙

Nos vemos em breve!
Com amor,
~Dae 🦋

Revisado em 03/02/2024


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