História Queen of Rain - Barbecue

Point of View: Tiffany Haze

— Ok, mãe… já entendi que não podemos faltar. — Falei pela 5x a mesma coisa, revirei os olhos e quase desliguei o telefone na cara da mulher que me colocou no mundo.

Ela falou mais algumas coisas perante ao final de semana, mas nada muito impressionante, em seguida, desligou.

— CAROLINA! — Gritei levantando do sofá e indo para perto da escada esperando a morena aparecer no alto do segundo andar. — CAROLINA!!!!

— QUE FOI CARALHO?! SABE ESPERAR NÃO?! E O QUE VOCÊ TEM?! TÁ MALUCA DE FICAR GRITANDO QUE NEM DOIDA, POR ACASO?! — Ela já saiu do quarto gritando, e parou no alto da escada me encarando com um olhar matador. — FALA LOGO O QUE TU QUER!

— PARA DE BERRAR! PARECE UM ALARME DE CARRO DESSE JEITO! — Retruquei, e quando ela ia voltar a gritar, eu a interrompi. — SHIU! SÓ CHAMEI PRA AVISAR QUE MAMÃE LIGOU E VAI TER CHURRASCO LÁ E ELA QUER QUE A GENTE VÁ!

— PRA QUÊ?! — Ela fez uma careta com o que eu anunciei.

— PORQUE MEUS AVÓS VÃO SE MUDAR E É O ÚLTIMO CHURRASCO ANTES DE IREM! — Expliquei, ela revirou os olhos bufando.

— QUANDO QUE É ESSA MERDA?! — Claramente o humor dela mudou.

— HOJE AS 15! ELES VÃO EMBORA ÀS 21 DE HOJE! — Respondi e fui pra cozinha logo em seguida.

— QUE SACO! — Ouvi a morena responder.

Quando fui para a cozinha, eu peguei um copo e o com água na bica bebendo todo o líquido em poucos goles. Gritar seca a minha garganta. Me virei para sair de lá e me assustei com a entrada de Ava no cômodo.

— Que isso, Tiffany? Tá devendo? — A loira perguntou com uma sobrancelha arqueada.

— Não, mas você chega assim do nada parecendo uma assombração! — Exclamei, ela negou com a cabeça.

— Qual foi da sua gritaria com Carolina dessa vez? — Ela perguntou enquanto pegava algumas vasilhas limpas em cima da ilha da cozinha e as guardava.

— Minha mãe chamou pra um churrasco lá em casa, bom mesmo você estar aqui que tu já fica avisada. — Respondi encostando na bancada atrás de mim.

— O bairro inteiro está avisado do churrasco na casa dos seus pais, se vocês falassem o endereço, até os ratos do bueiro iriam fazer presença lá. — Ela falou com tom sarcástico, enquanto abaixava pra guardar algumas nos armários de baixo.

— Não posso fazer nada se a Carolina é um alarme de carro. — Dei de ombros.

— Um alarme de carro? Ela é um alarme dos bombeiros. — Eu ri da afirmação dela. — E você uma ambulância com as viaturas indo atrás.

— Vai se foder, Ava… — Falei ainda rindo do que ela disse anteriormente.

Emma entrou na cozinha enquanto eu ainda estava rindo de imaginar eu com roupa de médico, Carolina com roupas de bombeiro e cada uma imitando a sirene de emergências de seus respectivos veículos.

— O que ela tem? — A ruiva perguntou a loira, apontando o dedo pra mim.

— Ela é louca! — Ava respondeu e levantou quando finalmente terminou de arrumar as coisas.

— O churrasco vai ser aonde? — Emma perguntou se sentando em uma das bancadas.

— Até tu ouviu? — Pensei alto.

— Do jeito que vocês gritaram… o exército já está se preparando para um ataque terrorista. — Emma respondeu com o mesmo tom sarcástico que Ava usou antes.

— Gente, eu não tenho culpa se a Carolina é escandalosa. — Dei de ombros e olhei para a minha unha.

— Sonsa… como se você não fosse também. — Emma semicerrou os olhos, eu soltei uma risadinha.

— Não sou mesmo não! — Tentei falar com uma expressão séria, mas acabei rindo e tentei disfarçar. — Vocês estão com fome?

— Nem é sonsa… magina… — Ava comentou rindo.

— Onde vai ser o churrasco srta. sonsa?! — Emma perguntou com certo deboche na voz.

— Na casa dos meus pais. As 15. Estejam prontas. — Avisei e sai da cozinha antes que elas voltassem a me zoar de sonsa.

Fui direto para o quarto e resolvi tirar um cochilo até o horário de irmos para o churrasco. Antes disso, escolhi a roupa que iria usar pra ir.

(...)

Point of View: Carol Thompson

Estava em meu quarto desenhando algumas coisas quando Tiffany me interrompeu para falar do churrasco que teria na casa dos meus pais como despedida da mudança dos meus avós. Eles iriam se mudar, e eu ainda nem sei pra onde, mas enfim… quando voltei ao quarto, também voltei a desenhar.

Passei o dia desenhando e lendo um livro antigo de filosofia que eu comprei quando comecei a faculdade… antes de trancar pra seguir o sonho de tocar em uma banda. Quando eram 14:30, eu fui para o banheiro do corredor e tomei um banho rápido. Fui a última a usá-lo, pois as meninas já estavam todas se arrumando desde as 14h da tarde.

Saí do quarto depois de me arrumar e fui pra sala; encontrando o total de zero pessoas. Incrível como eu consigo começar a me arrumar por último e terminar primeiro.

Graças a Ozzy, não demorou muito para as garotas começarem a descer pra irmos. Quando todas já estavam lá, fomos para o carro e na mesma formação de sempre. Eu no volante, Jesse no carona, Tiffany a esquerda no banco de trás, Emma no meio e Ava na direita. A casa dos meus pais ficava a meia hora da nossa casa, num condomínio caro de Los Angeles, localizado em um bom bairro também.

O porteiro do condomínio já me conhece, então ele liberou nossa entrada e eu dirigi pelo condomínio até estacionar na frente da casa dos meus pais. Eles moravam numa casa relativamente grande para os dois, porém, eles não tinham a menor pretenção de se mudar. Não precisava nem sair do carro pra ouvir a música que vinha de dentro da casa. Tiffany foi a primeira a sair, e abriu o portão com a chave que ela ainda tinha em seu chaveiro. As garotas entraram junto com ela.

Eu tranquei o carro e fui a última a entrar em casa, logo vendo a arrumação que com certeza foi feita pela minha mãe. Mesas com guarda sol espalhadas pelo quintal, a piscina com luzes coloridas dentro, um primo mais novo meu como DJ.

— CHEGARAM! — Ouvi uma tia minha gritar.

Cumprimentamos a todos antes de pegarmos uma mesa só pra gente. Fazia mais de 3 meses que não via todos os parentes assim juntos, ainda mais misturados. Meus tios por parte de pai, minhas tias por parte de mãe e meus avós paternos e maternos. Até que minha família toda se dá muito bem, mas fazia muito tempo que eles não ficavam reunidos assim… desde… o meu batismo e da Tiffany na igreja católica. Pelo que as fotos antigas mostravam, pelo menos.

As meninas pegaram cervejas pra elas, pois era o que mais tinha naquela casa, enquanto eu fui pegar uma garrafa de whisky pra mim e hamburgueres na churrasqueira.

Conheço as garotas desde pequena, principalmente Tiffany, logicamente, por ser minha irmã gêmea. Mas a Jesse eu conheci no colégio, no jardim de infância para ser mais exata e nunca mais desgrudamos desde aquela época. Tiffany conheceu Ava na adolescência, no ensino médio, e nunca mais desgrudaram também. Todas conhecemos a Emma num enterro. Um enterro de um conhecido nosso da escola (que teve uma overdose), onde Emma fazia parte da banda que foi contratada para tocar no velório e chamou nossa atenção tocando guitarra. Nós já tocávamos juntas antes, e após esse dia, chamamos Emma para participar e o que era só diversão, acabou virando hobbie, e depois veio a ideia de trancar a faculdade para se tornar uma banda.

Enfim, por toda essa aproximação ter começado antes mesmo da banda e nossa convivência ter sido sempre presente desde que nos conhecemos, minha família já conhecia todas as garotas e se dava bem com elas. Todas conhecíamos as famílias de cada uma… sempre foi assim.

Estava tudo correndo normal. Meu pai e minha mãe bêbados e dançando em roupas de banho pensando que estão arrasando, meus avós paternos chapados de maconha, rindo e contando histórias que já estávamos cansadas de ouvir. Meus avós maternos rindo da situação em que os dois se encontravam, mas se divertindo em si. Meus primos adolescentes mentindo sobre sua vida sexual um pro outro, e meus primos crianças correndo em volta da piscina enquanto eu torcia internamente que eles caíssem na água.

— GENTE! OLHA QUEM CHEGOU! — Meu tio paterno, Brian, gritou chamando a atenção de todos.

— TIO PATINHO!!! — Vi um vulto ruivo correr em direção à porta, e logo soube quem era; Tiffany, só por ter gritado daquele jeito.

— O que o tio Al Pacino tá fazendo aqui? — Perguntei para meu outro tio paterno, John, meu favorito por sinal.

— Ele veio se despedir do irmão, ué. — Tio John respondeu já entrando na muvuca pra abraçar-lo.

Tio Al Pacino é irmão do meu avô paterno, no caso, um dos irmãos dele. Tenho inúmeros tios avôs e avós… paternos e maternos… meio que somos uma família bem grande. Tio Al Pacino é um dos meus tios mais sumidos da família, por conta de sua fama e popularidade na mídia desde que seus filmes sobre máfia estouraram em 72 a 83. Como ele sempre anda cheio de coisas para fazer, ir a churrascos como esse de agora é algo muito anormal da parte dele.

Depois que ele se acomodou com todo mundo e sentou com a gente na nossa mesa, eu, Jesse e Ava começamos a conversar com ele sobre os filmes que ele fez. Até chegarmos no assunto que a trilha sonora do filme Scarface foi gravada na Geffen Records, e meu tio falou sobre a amizade que ele criou com um dos produtores de lá

— Você conhece um produtor de lá? — Emma se meteu no assunto, meu tio apenas assentiu bebendo um gole de whisky.

— E ele é do alto escalão? — Pensei alto.

— Mais ou menos… mas tem voz suficiente pra falar com o David Geffen. — Ele respondeu, mesmo sem saber do porquê de estarmos fazendo perguntas sobre isso.

— Tio Patinho, tu sabe que nós temos uma banda, né? — Tiffany foi logo ao ponto, nunca agradeci tanto a Deus por ela ter feito isso na vida.

— Vocês? — Ele arqueou uma sobrancelha. — Banda de quê? Eu nem sabia que vocês tocavam.

— Eu queria chegar a esse ponto de afastamento da família… onde não faço a mínima ideia do que os outros fazem… — Emma claramente pensou alto, estava meio bêbada e sempre faz isso.

— Liga não, ela está bêbada. — Ava sorriu de lado sem graça, quando meu tio fez uma careta ao ouvir o que a ruivinha disse.

— Ok, a banda é de rock e aconteceram algumas coisas que são… — Tiffany fez uma pausa, e eu completei a fala dela.

— Ridículas. Inadmissíveis.

— O que aconteceu? — Tio Al Pacino pareceu curioso, e nos encarou com uma expressão natural de dúvida.

Explicamos rapidamente, e meu tio ficou puto pra caralho com o que contamos.

— Agora se precisa de bolas entre as pernas pra música? Esses babacas… — Meu tio revirou os olhos pela décima vez seguida depois que contamos, bebeu um gole do whisky e acendeu um cigarro. — Vocês foram na Geffen?

— Não. Nosso empresário disse que essa era a última esperança dele. — Jesse respondeu dando de ombros.

— Fala com ele que não precisa ir, que amanhã mesmo eu vou com vocês lá e vou conseguir um teste com um dos produtores. — Ele afirmou, eu paralisei na hora.

— Você vai com a gente lá? — Ava tirou as palavras da minha boca.

— Vou! Estou puto com essas gravadoras, e se é pra vocês terem um álbum de respeito… que seja na Geffen! — Ele fez uma pausa soltando a fumaça do cigarro. — E outra! Que vocês fiquem muito famosas pra esse bando de merdas verem que não precisa ter bolas pra absolutamente nada.

Meu tio continuou falando com a gente sobre como ele não gostava do machismo, e sobre como ele ficava puto quando alguém tentava diminuir a esposa dele (não presente no momento).

— O que mais me deixa puto é quando as pessoas falam “ah, olha ali a esposa do Al Pacino”... — Ele mudou a voz pra imitar as pessoas falando. — Acho ridículo. O nome dela não é “esposa do Al Pacino”, se não a conhece, não fale que ela é apenas isso. Por isso, eu detesto jornais e revistas de fofoca.

— Se eles soubessem o quanto a tia Isla é legal, eles com certeza não mencionariam ela assim. — Tiffany comentou, eu concordei.

Enfim, a conversa continuou e até meus avós maternos entraram no assunto. Quando chegou no final do churrasco, meu tio Brian levou os meus avós para o aeroporto e eu e as garotas ficamos pra ajudar na bagunça do quintal. Tio Al Pacino ajudou, impressionou todo mundo quando começou a limpar porque ninguém iria imaginar que um ator renomado e famoso limparia uma piscina tão bem. No final da noite, nós fomos embora pra casa.

(...)

Acordei de manhã com gritos vindo do andar de baixo, e a primeira coisa que fiz foi pegar minha pistola embaixo do travesseiro e descer correndo pra ver o que estava acontecendo.

— AAHHHHH!!! — Elas gritaram mais ainda quando me viram, e eu logo notei a presença de outra pessoa na sala.