História Quem sabe um dia... - O grande dia

Aquele era um grande dia, após uma ótima noite de sono levanto totalmente disposto, tomei meu café da manhã, me arrumei, olhei para o espelho e falei para mim mesmo: você está pronto!

Esse era um grande dia pois seria meu primeiro dia de trabalho em uma empresa nova que me prometia um futuro… “confortável”.

Todo sorridente e feliz com esta oportunidade que tinha caído do céu através de um amigo, caminhei até o ponto de ônibus.  O ônibus demorava, afinal eu não sabia o horário dos ônibus, nunca trabalhei pela manhã, somente em um estágio no horário da tarde.  Olho para as pessoas iniciando suas vidas acabando de acordar, limpando suas calçadas, um cheiro de café no ar até que vejo um casal vindo na direção do ponto de ônibus.   Meus olhos vão direto para a mulher, claro, pois ela era incrível, um sorriso lindo que me enchia os olhos acompanhado de bochechas coradas do sol de domingo e um olhar… um olhar tão iluminado que me fez ficar parado como um bobo paralisado não pensando em mais nada além daquele anjo que se aproximava.

Ela nem me notou, claro, estava com o namorado, um namorado que apenas olhava para ela como se olhasse para um poste.   Ele não parecia dar valor a ela pois por mais que ela o olhasse com aqueles belos olhos escuros e brilhantes e o cutucasse como se estivesse implorando por atenção ele se mantinha de braços cruzados encostado na parede apenas respondendo com comentários curtos e diretos.   Fiquei pensando como alguém pode tratar uma mulher dessa forma e ela ainda gostar desse cara. Não consegui concluir meu pensamento pois meu ônibus estava chegando e eu não podia chegar atrasado, não hoje.

Uma voz chega aos meus ouvidos com um alegre e doce “bom dia Maria!” direcionado para a motorista, olho para trás para confirmar minhas dúvidas e a vejo, não podia acreditar que iria continuar vendo aqueles olhos por mais uma hora até meu trabalho. Ela olha para mim com aqueles olhos iluminados de vida e diz:

Ei, é sua vez de pagar a passagem.

Com uma cara de bobo ouvindo aquela doce voz eu simplesmente olhei para ela e falei:

Tá.

Eu, um homem que acordou com todo o gás, disposto a enfrentar um exército inteiro de terroristas estava travado, tímido e sem reação por causa de um simples e belo olhar, afinal o que estava acontecendo comigo?

Ela fez um comentário com a motorista enquanto eu passava na catraca. No ônibus quase não tinha mais lugar para sentar, com exceção da cadeira que acabara de sentar existia apenas a cadeira da frente e logo saquei que seria ali que ela iria sentar.

Sei que um homem como eu agindo dessa maneira por causa de uma mulher parecia uma criança que ainda não tinha dado nem o primeiro beijo, uma criança que trava ao falar um “oi”  para uma garota qualquer na escola, mas ela não era uma garota qualquer, garota nenhuma havia me calado de tal maneira que eu agisse como um pateta, eu não, isso não podia estar acontecendo comigo, não agora, não neste momento, não… quando ela senta toda jeitosinha em uma cadeira que fica virada em minha direção com uma janela aberta ao seu lado me levando seu doce perfume kaik.

Honestamente não sou muito fã desse perfume, mas aquele cheiro vindo dela tinha um aroma diferenciado, um aroma que eu não sabia o motivo mas que apesar de não gostar tanto eu sentia prazer em cada inalada  se fosse o melhor perfume que já senti.

Enquanto ela olha na bolsa eu finalmente a encaro aguardando o momento em que ela irá virar e me ver, sim agora eu estava de volta, pronto para uma troca de olhares, pronto para um papo cabeça, pronto para seduzir aquela mulher que me fez sentir tão estranho e que eu não sabia o motivo, eu havia arranjado aquela força para iniciar meu plano de conquista e quando ela finalmente tira aquela mão da bolsa, puxa um óculos, põe em seu  rosto, encosta e dorme.

O que eu poderia fazer, acordá la e perguntar seu nome? … Acho que não, mas era a única coisa que vinha na cabeça.

A viagem seguiu e eu fiquei olhando aquele lindo rosto encostado na janela do ônibus quase babando, não tirei os olhos.

Sempre temos que olhar o lado bom das coisas e no meu caso, quantas pessoas podem falar que viram um anjo dormindo em um ônibus.