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História Quem somos nós - Capítulo 11: quem não tem colírio, usa óculos escuros


Escrita por: amanur

Notas do Autor


Agradeço à OhAbinara e à Lul_Hiyura pelos comentários no capítulo anterior! <3

Eu tinha prometido postar dois hoje, já que não consegui postar ontem, mas acabei encontrando umas questões a serem resolvidas no cap seguinte que estou me complicando em outros capítulos, então acho que vou deixar pra postar amanha mesmo, até conseguir resolver tudo... Mas está aí mais um capítulo. Espero que gostem! Boa leitura! :***

Capítulo 11 - Capítulo 11: quem não tem colírio, usa óculos escuros


Quem somos nós

Escrito por Amanur

...

Capítulo 11: quem não tem colírio, usa óculos escuros

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Sasuke

...

 

No fim, ele não foi trabalhar, e bebemos muito. Bom, pelo menos, eu sei que eu bebi! Mal conseguia manter o passo em linha reta enquanto descíamos a ladeira com nossas mochilas nas costas, rindo de todos os tropeços que dávamos. Em um momento ele caiu feio, dando de boca na calçada. Abriu um corte no lábio inferior, mas ao invés de se incomodar ele ria sem parar.

 

— Vamos acabar tendo que descer essa merda rolando! — eu disse.

— Hahahah! Acho que vou vomitar. — ele disse, em meio às risadas.

— Ei... Por que você disse que queria beber até cair? — resolvi perguntar.

 

Na hora em que ele falou aquilo eu achei melhor não perguntar. Eu não conhecia o cara (ainda não conheço, é claro), e achei que ele também não quisesse falar sobre aquilo por motivos pessoais. E ele nem mencionou por si mesmo...  Além disso, nem eu me importava. Mas agora, embriagados, por alguma razão, a pergunta parece ter deslizado da minha boca por livre e espontânea vontade.

 

— Por quê? — ele fez uma pausa pensando — Por que as pessoas bebem? Não dizem que é para esquecer?

— E as pessoas esquecem mesmo?

 

Ele não respondeu.

 

— A fuga nunca resolve nada... — resmunguei, sentindo as palavras cortando a minha própria língua, porque eu sabia que eu não era ninguém para dizer isso.

 

Mas aí, de repente, ele pegou a mochila e abriu o fecho maior para tirar algo embrulhado num plástico transparente. Era um baseado. Eu bem que desconfiava de que ele não poderia ser certinho demais... Mas àquela altura do campeonato eu já não estava me importando com nada, então, continuei caminhando ao lado dele, enquanto ele acendia aquela porcaria.

 

— É tão ruim assim? — resmunguei. Mas mais por sarcasmo do que por realmente incentivá-lo a dizer qualquer coisa.

 

Ele deu uns três tragos no fumo.

 

— Problemas familiares...

— Quem não tem?

— Fui criado pelo meu pai. Ele era alcoólatra. Batia em mim e em minha mãe. E ele era aquele tipo de pessoa que fica furiosa quando bebe. Descontava toda sua raiva em nós. Ele foi preso, e ficou por alguns anos encarcerado. Mas um juiz resolveu dar liberdade a ele, por bom comportamento. Só que eu acho que ele deveria apodrecer lá dentro.

 

Me perguntei se a mensagem que ele tinha recebido tinha alguma relação com sua família.

 

— Então, você tem problemas com perdão...? — indaguei.

— Não sou religioso. Deixo o perdão para eles. Pra mim, a coisa tem que ser na base do “aqui se faz, aqui se paga”.

 

Eu não sabia se concordava ou não com ele. Eu era religioso. Não do tipo de frequentar igrejas ou cultos todos aos finais de semana, mas tinha minhas crenças. No entanto, também acreditava que as pessoas devessem pagar pelos seus erros. Afinal, diz o ditado que é através deles que aprendemos...

Demos mais alguns passos ladeira abaixo, enquanto ele dava mais algumas tragadas e, aí, me ofereceu uma.

Fiz cara feia para aquilo.

 

— Deixa de ser manco, cara! Você fuma cigarro. É a mesma merda.

— Só que ao invés de estragar meus pulmões, estraga meu cérebro.

— Sabe que há controvérsias, né? Além disso, órgão por órgão... Você não vive sem um deles, não é? E você sabe que o cigarro está te matando também...

 

Fiquei olhando para aquela porcaria.

 

— Odeio quando perco a razão. — resmunguei, tomando o fumo das mãos dele.

— E quem gosta? Mas faz parte da vida. O segredo está em saber reconhecer quando se está errado. Aceitar dói menos!

— Odeio essa frase, por que não sou obrigado a aceitar merda nenhuma!

— Concordo. — ele diz.

 

Tomei o primeiro trago, sentindo um gosto mais amargo do que do cigarro.

 

— Isso pode ser perigoso. — comentei.

— O baseado?

— Reconhecer quando estamos errado.

— Ah. Sei, tô ligado. É o mesmo lance de reconhecer os limites do que fazemos. É relativo. — ele disse.

— Tudo é relativo.

— Até a razão!

— Touchê! Como você e seu pai...

— Eu sei que estou errado. Nunca disse que não... — ele responde, fazendo careta.

— Orgulho?

— O veneno de muitos…

— Você, alguma vez, já se perguntou se não estaria ficando igual ao seu pai?

 

De repente, ele soltou uma risada alta, quase histérica.

 

— HAHAHAHA! Eu NUNCA vou ser igual ao meu pai.

 

Aí, ele se virou para o lado e vomitou tudo o que tinha no estômago. E talvez mais alguma coisa do espírito.

 

...

Naruto

...

 

Assim que chegamos ao apartamento dele, corri para o banheiro para lavar a boca. O enjoo que eu sentia parecia vir de algo muito além da bebida. Como se eu tivesse vomitado não apenas a bebida, mas uma podridão que se decompunha dentro de mim. Tive que pegar a escova de dente dele para tirar aquele gosto amargo que sentia.

Infelizmente, a coisa tinha ido além do que eu tinha planejado.

Quando voltei para a sala, ele tinha caído no sofá, meio adormecido, meio abobalhado, sorrindo sem motivo. Eu não sabia acusar se era culpa do álcool ou do fumo. Ele parecia meio aéreo, quando abria os olhos eles se reviravam encarando o teto.

 

— Essa bosta relaxa! — ele resmungou, ao perceber que eu tinha voltado.

— Aham. Quer mais?

— Não... Acho que vou dormir... — ele resmunga, se virando de costas para mim.

— Posso ficar na sua cama? — já que ele estava no sofá.

— Aham.

 

Então, entrei no quarto dele. Mas ao invés de ir dormir, fiquei fuçando nas coisas dele. Os livros, em grande maioria, eram relacionados ao curso. Havia algumas revistas de carros também, e outras sobre fotografias. Sobre a pequena cômoda estavam algumas roupas dobradas e uma câmera analógica. Pelas gavetas, mais roupas limpas e lençóis. Ao lado da cômoda, no chão, havia alguns poucos pares de calçados amontoados no canto. Embaixo da cama, mesmo, não havia nada além de pó e alguns coletes salva-vidas, que me deixou pensativo. Mas não encontrei nada mais pessoal dele. Nenhuma fotografia, nenhum documento.

Voltei para a sala. Além do sofá, havia um pequeno rack sem televisão. Apenas um pequeno rádio portátil, mais alguns livros e revistas. Havia uma caixa de sapatos contendo bugigangas como algumas ferramentas, velas e lanternas. Na cozinha também não havia mais nada além de alguns enlatados, dois pares de pratos, panelas, talheres e copos.

No sofá, ele dormia. Tinha se virado novamente de frente para a porta, de modo que me sentei na frente dele, observando bem seu rosto. Sua respiração cheirava a uma mistura inebriante de álcool com fumo. E ainda tinha o perfume dos seus cabelos. Seus lábios meio ressecados estavam ligeiramente abertos e a barba crescia novamente no rosto. Num impulso impensado, aproximei meu rosto mais ainda dele, quase roçando meus lábios nos dele.

E então, ele abriu os olhos.

Ele não disse nada, enquanto eu me mantinha ali, parado, encarando ele, com meus lábios quase tocando os dele.

 

— Você vai ter nojo de mim, se eu te beijar? — sussurrei.

 

Ele suspirou, como se estivesse cansado, e desviou o olhar.

 

— Achei que tivesse dito que não era gay.

— Eu apenas disse que não disse que era gay.

 

Ele revirou os olhos.

 

— Você não me respondeu. — insisti.

— Não me importa o que você faz.

— Mesmo que isso implique fazer algo com você?

 

Ele não respondeu.

 

— Você é estranho... — me afastei.

— E não somos todos? — ele indaga, tentando se levantar. Mas ele parece estar enjoado ou com dor de cabeça. Então, o ajudo a se erguer.

— Me pergunto o que há de errado com as pessoas. — resmunguei, me afastando dele.

 

Ele parecia tão desconectado com o mundo, naquele olhar sem vida, sem brilho... Parecia tão distante das coisas a volta dele que me fazia questionar o que ele estava fazendo no mundo.

 

— Talvez você devesse se perguntar o que há de certo com as pessoas… — ele diz.

— Por que você está com tanta raiva?

— Não te devo nenhuma explicação...

— Não estou pedindo por explicações. Apenas estou tentando conversar...

— É a mesma merda...

 

Sem dizer mais nada, ele cambaleia até o banheiro, onde ouço ligar o chuveiro.


Notas Finais


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