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História Quer brincar comigo? - Noite fria


Escrita por: Mallagueta

Capítulo 1 - Noite fria


Se ela não tivesse aberto a porta... mas como saber o que estava do outro lado? Ela não tinha os poderes de adivinhação da Sarah. E se não tivesse aberto a porta? Talvez fosse melhor pular pela janela e fugir para bem longe, ou então esconder debaixo da cama. Mas não... ela teve que abrir a porta.

Mas como ela ia saber? Era uma noite como qualquer outra, embora muito quente. Nada que um bom ar condicionado não pudesse resolver. Isso, claro, se ela tivesse um. Esse tipo de luxo era só para alguém como Carmem. Ela tinha que se contentar com um ventilador. Denise estava trabalhando em seu computador na propaganda para a festa de Halloween que ela pretendia dar no colégio dentro de um mês. Como era muito organizada, ela preferia cuidar de todos os detalhes com antecedência para não ter imprevistos de última hora.

Ela já tinha providenciado boa parte dos itens essenciais a festa: comes e bebes, decoração e um bom DJ. E também um saco de sal grosso caso algum fantasma resolvesse aparecer.

- A festa desse ano vai ser ainda melhor que a do ano passado, ah se vai! – ela falou em voz baixa com os olhos fixos na tela ao ler os comentários no seu blog de alunos empolgados com a grande festa.

Ela tinha esperanças de que naquele ano não ia acontecer nada de sinistro ou bizarro no dia de Halloween. Pelo menos uma vez ela queria passar o feriado como uma garota normal. Sem espíritos trevosos possuindo os corpos dos outros, sem jumentas satânicas sedentas por sangue ou qualquer outra anormalidade sobrenatural que pudesse estragar seu dia. Era pedir demais?

Talvez.

Alguém bateu na porta e sua mãe entrou.

- Denise, eu vou sair um pouco, mas não demoro. Você vai ficar bem?
- Claro, mãe. Daqui a pouco o pai chega. E eu sou bem grandinha, né? Já posso ficar sozinha em casa a noite.

A mulher deu um sorriso debochado.

- Pode ser. Não vá aprontar nada enquanto eu estiver fora, ouviu? – ela saiu do quarto, deixando Denise virando os olhos. Mães...

Depois que sua mãe saiu de casa, ela foi até a cozinha e tirou um grande pote de sorvete do congelador.

- Hum, hora de me esbaldar! – duas grandes bolas de baunilha foram colocadas em uma taça, juntamente com algumas castanhas e calda de chocolate. Como era bom estar sozinha dentro de casa!

Ela voltou para seu quarto e sentou-se diante do computador para dar os últimos retoques no blog quando ouviu um barulho vindo da sala de estar.

No início ela pensou que fosse sua mãe ou seu pai e não deu muita importância. Uma colher de sorvete foi colocada em sua boca e ela a manteve entre os lábios enquanto digitava. O barulho se repetiu, deixando-a apreensiva. Sempre que seus pais chegavam, eles falavam algo para anunciar sua chegada. Teria sido sua imaginação?

Infelizmente não. Ela ouviu o barulho outra vez e sentiu uma coisa ruim na boca do estômago juntamente com algumas batidas desordenadas do seu coração. A colher caiu da sua boca e ela chamou.

- Mãe? Pai? São vocês?

Nenhuma resposta. Somente aquele silêncio perturbador de casa vazia no meio da noite. Seria impressão sua ou ela estava ouvindo passos no corredor? Certo, aquilo não parecia nada bom, mas ela teve esperança de que fosse seu pai cansado demais para falar qualquer coisa. Ou sua mãe querendo lhe pregar um susto. Ainda assim seu corpo tremia a medida que os passos continuavam. Sua garganta ficou seca e as mãos molhadas de suor.

O barulho dos passos cessou, sendo seguido por alguns segundos (que lhe pareceram horas) de silêncio.

- Q-quem tá aí? É você, pai? Mãe? Pára que isso não tem graça nenhuma!

Uma corrente fria e desagradável entrou pelo quarto envolvendo seu corpo e lhe enchendo de arrepios. Era como se ela estivesse em frente a um grande freezer, o que não fazia sentido algum já que momentos antes estava fazendo calor, pois era primavera e o clima estava esquentando. Contrariando muitas leis da natureza, o frio foi aumentando a ponto de ela esquecer o medo e levantar-se para pegar um agasalho. Quando passou perto da porta aberta do quarto, ela teve uma sensação muito ruim, como se houvesse uma presença no corredor.

Mesmo não ouvindo nenhum barulho e não vendo nada, ela sentia como se houvesse alguém parado ali, só esperando. Esperando o quê? Ela não sabia e não queria pagar para ver, por isso correu até a porta e trancou a chave. Pelo sim, pelo não, o melhor era prevenir do que remediar.

Com a porta trancada, ela correu para o celular e discou o número da mãe.

- Atende, atende! PelamordeDeus, mãe! Atende! Droga! – o número dava ocupado.

Mais uma vez, ela ouviu o som de passos, andando lentamente, um pé depois do outro. Não eram os passos tranqüilos e um tanto pesados do seu pai, nem os passos rápidos ágeis da sua mãe. Era algo duro, ritmado como o tic-tac de um relógio. O celular escorregou da sua mão quando ela viu a luz que vinha do corredor e passava por debaixo da porta ser cortada pela sombra de dois pés, como se alguém estivesse parado em frente ao seu quarto. A maçaneta girou lentamente e alguém tentava abrir a porta. Ela abriu a boca para gritar e sentiu como se houvesse uma grande e densa bola de algodão obstruindo sua garganta.

- Denise? Está tudo bem? – uma voz de mulher falou do outro lado, fazendo a ruiva suspirar de alívio.
- Ah, mãe! Tá querendo me matar do coração, é? – ela protestou enxugando o suor que escorria da testa apesar de ainda estar muito frio dentro do quarto e abriu a porta com uma mão na cintura e a cara bem zangada com aquela brincadeira de mau gosto.  

Foi um grande erro e agora ela podia ver isso, mas era tarde. Só restava esperar por algum milagre.

 



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