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História Quer brincar comigo? - A carta do eremita


Escrita por: Mallagueta

Capítulo 5 - A carta do eremita


Mônica e as outras garotas espalhavam cartazes com as fotos de Denise e Maria Mello pelo bairro enquanto os rapazes procuravam pela periferia. Até Toni estava ajudando na busca consultando alguns contatos que ele tinha entre as turmas barra-pesada do bairro. Ninguém tinha conseguido nada.

Cascão andava com Magali ajudando a fixar cartazes nos postes enquanto conversavam. Cascuda estava ocupada passando a mensagem nas rádios e nem sabia que eles andavam juntos, para alívio dos dois.

- Eu fico preocupada é de elas nem estarem mais na cidade. – falou afixando mais um cartaz.

- Aí o bicho pega geral. Mas a gente tem que ir procurando, né? Se for o caso, podemos tentar os bairros vizinhos também. Uma hora elas têm que aparecer.

- Tomara, só que tem que ser vivas! Me falaram que os policiais já estão procurando nos terrenos baldios e isso partiu meu coração.

- Vamos tentar não pensar nisso que tá sinistro demais. Caramba, você tá até tremendo!

- É de frio! Nossa, nem no inverno ficou tão frio assim!

Ele olhou para os lados e colocou um braço ao redor dos ombros dela. Não havia perigo de serem pegos, já que Denise estava fora de circulação.

- Você tá bem fria mesmo, só que eu não tô sentindo frio nenhum. Tá até quente hoje.

- Estranho... parece que só eu sinto frio e isso tá me dando muito medo. As meninas falaram que Maria andou reclamando de frio também e agora tá desaparecida!

O rapaz a apertou mais um pouco.

- Fica assim não. É só seguir o conselho da Sarah de nunca ficar sozinha. Se for o caso, monto acampamento do lado de fora da sua casa pra ficar de olho.

- Ow, obrigada!

- E vamos falar disso para o resto da turma também, assim eles ajudam a vigiar.

Magali hesitou um pouco.

- Ah, será que precisa? O caso da Maria deve ter sido coincidência. A Denise também sumiu e nunca ouvi ela falar de frio nenhum.

- Mas é bom a gente prevenir, não é mesmo?

- Vamos ver. Se continuar, aí eu falo pro pessoal. Senão, melhor nem falar nada porque eles já estão com muita coisa na cabeça.

Cascão ainda insistiu um pouco para que eles falassem sobre isso com o restante, mas acabou desistindo para não pressioná-la e continuou afixando os cartazes. Ainda assim ele tomou a decisão de vigiá-la mais de perto para que nada de ruim lhe acontecesse.

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- Ai, meu reino por um sorvete! – Isa bradou entrando numa lanchonete apressadamente.

- Eu vou querer um suco bem gelado! – Aninha a seguia logo atrás, junto com Keika e Marina.

- Acho que vou preferir um frozen iogurt. Tá quente mesmo!

Aparentemente, Marina era a única que não sentia calor.

- Pra mim tá até bem fresquinho, então acho que não vou querer não.

As outras olharam para ela com espanto.

(Keika) – Como é? O sol tá quase derretendo o asfalto e você não sente calor nenhum?

- Não. Ai, esse ventinho frio tá chato demais!

Todas ficaram em silêncio.

- Que foi, gente? – Isa respondeu.

- Lembra que a Maria ficou reclamando desse ventinho frio toda hora?

(Keika) - E agora ela sumiu!

Marina também ficou preocupada. Embora pudesse ser só uma coincidência, ela não deixou de pensar se poderia ter alguma relação entre aquele frio e o desaparecimento delas. Ou não? Elas podem ter sumido por causa de algum maníaco mesmo. Nem tudo que acontecia naquela turma tinha que ser sobrenatural, tinha? Ela tentou se tranqüilizar.

- Deve ser só coincidência. Vou evitar ficar sozinha só pra garantir, mas não quero ficar me assustando não! A Maria ficou apavorada e não resolveu nada!

Quando os pedidos chegaram, elas continuaram conversando sobre aquela estranha coincidência. Marina ainda sentia aquele frio, mas tentava disfarçar para não preocupar as amigas.

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No quarto da Sarah, Cebola aguardava enquanto ela continuava lendo as cartas atentamente. Mais do que nunca ela precisava de respostas.

- O eremita. E ela saiu de cabeça pra baixo!

- E o que isso quer dizer?

Após se concentrar um pouco, ela respondeu.

- Isolamento. Sinto solidão, desamparo, falta de esperança. É como se eu tivesse sozinha num lugar escuro sem poder sair.

Ele se arrepiou todo.

- Acha que isso tá acontecendo com a Denise e a Maria?

- Acho que sim. Quando penso nelas, vejo um lugar escuro, mas não consigo ver nada em detalhes.

- Caraca, tá sinistro demais!

A moça pegou em outra carta e ficou olhando demoradamente. Era a carta do julgamento.

- Engraçado... essa me faz pensar na Magali.

- Sério? O que quer dizer?

- Pra resumir, é como julgamos a nós mesmos e as coisas. Consciência, despertar... mas quando tirada de cabeça pra baixo, pode significar erros de julgamento e vacilação da inteligência.

- Fala sério, tomara que essa nunca saia pra mim! E você tá vendo essas coisas pra Magali?

- Sim. É como se o julgamento dela estivesse ofuscado de alguma forma, não sei. Perda da consciência, dificuldade em ver o que está acontecendo consigo mesma e ao redor. Até eu fico confusa segurando essa carta!

O rapaz coçou o queixo.

- Hum... então acho que a gente devia ficar de olho na Magali. Agora, até que seria bom se a gente descobrisse onde fica essa tal fazenda que aparece no seu sonho. De repente elas estão presas ali.

- Será? Nem tinha pensado nisso... mas você disse que não tem esse tipo de fazenda na cidade.

Ele ficou desanimado. Após uma longa pesquisa, Cebola viu que na cidade havia apenas três hotéis-fazenda e nenhum deles batia com a descrição da Sarah. Eram lugares modernos, com piscinas, quadras de esporte e outras opções de lazer que ela não tinha visto em seu sonho. Isso era preocupante. Será que as garotas tinham sido levadas para longe da cidade? Se sim, encontrá-las ia ficar muito mais difícil. Talvez a única coisa a se fazer era esperar que Sarah conseguisse outra pista, o que era muito vago e desanimador já que se baseava apenas em visões, mas era a única coisa que ele tinha no momento.

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Era uma da madrugada. Estava escuro, era uma noite silenciosa e sem lua que tinha tudo para ser tranqüila para todos, exceto por duas moças que tinham sido tiradas das suas casas e arrastadas pelas ruas do bairro até aquele local maldito.

Suas mãos estavam amarradas e tinha um grande esparadrapo em cima da sua boca. Ela mal conseguia se mover e fazia um frio avassalador que parecia lhe retalhar por dentro. Carmem só podia olhar enquanto aquela mulher estranha vestia roupas horrorosas na pobre Marina. Céus, de onde saiu tal criatura bizarra? Seu rosto era pálido, e suas roupas pareciam ser de boneca, mas estavam sujas, rasgadas cheias de remendos. Um grande chapéu de boneca cobria sua cabeça e cabelos lisos e compridos escondiam parte do seu rosto, deixando apenas um olho brilhante de vidro a mostra. Não deu para ver mais detalhes porque o lugar era escuro e ela nem sabia se queria ver mais alguma coisa.

- Pronto, minhas novas bonecas estão lindas. Venham conhecer suas amiguinhas!

Ela levou as duas puxando pelos braços e jogou no chão de forma que caíssem encostadas numa parede. Havia outras duas garotas ali e elas reconheceram Denise pelas marias-chiquinhas. A outra devia ser Maria Mello.

- Como vocês são lindas! Agora mamãe vai pentear seus cabelos! – ela começou pela Marina que logo gritou quando a escova puxou seus cabelos bruscamente. A mulher penteava com força, sem nenhum cuidado e ignorava seu choro de dor.

Carmem também tremia de medo e se debatia tentando se soltar de todo jeito. Por milagre, a corda que prendia uma das suas mãos pareceu se soltar um pouco e ela tentava se desvencilhar daquele nó para soltar a outra mão.

- O que você está fazendo? Sua menina ordinária! Você é má, muito má e eu vou te punir!

Denise e Maria tremeram quando ouviram a palavra punir, pois sabiam o que significava. Ambas tinham hematomas nos braços, pernas e rostos e o nariz da Maria sangrava. Já Denise estava cada vez mais fraca e debilitada após tantos dias de cativeiro.

A mulher desamarrou uma das mãos de Carmem e fez com que ela se ajoelhasse de costas. Depois pegou um pedaço de tábua e bateu no traseiro dela várias vezes e com muita força. Carmem nem podia gritar direito por causa do esparadrapo, mas isso não tornava a dor menos excruciante, especialmente por causa do frio que piorava tudo. A mulher continuava gritando colérica.

- Você é uma peste, menina ruim, ordinária! Se me desobedecer de novo, eu vou te castigar mais ainda! – quando se deu por satisfeita, ela colocou Carmem de volta no lugar e tomou o cuidado de amarrar suas mãos muito bem. – Pronto. Agora você vai ser uma boa menina, a minha bonequinha. Deixa a mamãe pentear seus cabelos.

Começou para Carmem outra sessão de tortura, já que a mulher parecia querer arrancar seu couro cabeludo junto com os cabelos. De vez em quando ela batia no rosto e nas pernas de Carmem com a escova para que ela parasse de chorar.

- Você é uma bonequinha muito chorona! Eu não queria uma boneca que chora. Será que eu vou ter que te jogar fora e arrumar outra? Isso é muito ruim!

Ela virou de costas por um tempo e Maria balançou a cabeça para Carmem várias vezes, tentando dizer para que não chorasse. Felizmente ela entendeu a mensagem e engoliu o choro como quem engolia um bolo de arame farpado. A raptora voltou-se para ela novamente segurando uma tesoura.

- Eu não gosto de bonequinhas choronas! Se chorar de novo, eu te corto em pedacinhos e jogo o que sobrar no fundo do armário! Você entendeu? A mamãe está falando com você, responda! – um tapa foi dado em seu rosto e Carmem fez que sim com a cabeça rapidamente. – Boa menina! Mamãe ama você também, ouviu? Não desaponte a mamãe ou vai ter castigo!

O tempo que se passou não pode ser medido, mas para elas pareceu uma eternidade com aquela mulher louca penteando seus cabelos sem parar, fingindo lhes dar comida na boca, amarrando e desamarrando laços de fita e para piorar, ela ainda cortava mechas dos cabelos de Marina e Carmem por achar que não combinavam com o penteado que criava para elas. Carmem nunca precisou fazer um esforço tão grande, monumental e monstruoso para segurar o choro e o grito em toda sua vida. E mesmo assim a mulher acertou seu rosto com a tesoura algumas vezes para que ela abaixasse ou levantasse a cabeça. Marina também não foi poupada e até ficou com um corte perto da orelha.

- Hum... acho que estraguei minha bonequinha. Tenho que arrumar outra. Nossa, então vou ficar com cinco? Que lindo! Ah, mas são muitas bonecas para cuidar, terei que jogar uma fora. Talvez você? Já está ficando velha e feia, não serve mais para ser minha filhinha!

Denise arregalou os olhos mais do que seria possível, pois sabia que a expressão “jogar fora” não significava de jeito nenhum desamarrar suas mãos e deixá-la ir embora.

- Amanhã mamãe verá isso. Agora eu tenho que trabalhar para comprar comidinha. Durmam bem, meus amores! Eu amo vocês!

Elas não sabiam quem era aquela criatura psicopata, mas entenderam muito bem que a noção de amor dela devia ser totalmente distorcida.



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