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História Quer brincar comigo? - Loucura e Desespero


Escrita por: Mallagueta

Capítulo 8 - Loucura e Desespero


Sarah acordou num sobressalto, levantando-se bruscamente da mesa e derrubando algumas cartas no chão. Todas caíram com as faces voltadas para baixo e somente uma estava voltada para cima. A Justiça.

- Justiça... – Ela murmurou e viu que fazia sentido. Aquela mulher precisava responder por seus atos e só assim o espírito da menina poderia descansar em paz.

Ela ainda lembrava do sonho onde viu uma mulher louca que castigava e abusava cruelmente de uma criança indefesa. Ela não conseguia esquecer a imagem da pobre menina amarrada a um tronco de árvore, com as costas descobertas cortadas por tiras de sangue causadas pelo chicote inclemente. A mulher chicoteava e gritava como louca.

- Menina ordinária! Tu vais aprender a nunca mais fazer isso!

- Não, por favor, sinhá!

A mulher chicoteava várias vezes ignorando as suplicas da menina e quando terminava sua sessão de tortura, falava friamente.

- Isto foi para o teu bem. Tu vais aprender a ser uma boa menina e nunca mais mexer nas coisas dos outros! Tens que ser bem quietinha como uma boneca!

E não eram só as chicotadas. Ela usava uma tesoura para retalhar os cabelos da pobre menina, cortava as roupas e fazia muitos cortes na pele, chegando a cortar alguns pedaços. Ela fazia isso dizendo que precisava consertar a menina, porque não parecia uma boneca. Era uma crueldade sem fim.

Foram três dias de castigo até que por fim a pobre criança não suportou mais. O resto ela já sabia. O casal retalhou seu corpo e enterrou ali mesmo na fazenda, em uma área isolada. Como havia ciganos nas redondezas, eles acabaram levando a culpa e sofrendo com a hostilidade do povo.

Por fim ela entendeu tudo. Eles não estavam lidando com um raptor humano, de carne e osso. Havia forças sobrenaturais envolvidas naquela história. Um espírito cheio de ódio e rancor que só poderia ser acalmado quando a justiça fosse feita.

Estava na hora de fazer uma ligação urgente.

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Levou muito tempo e vários neurônios, mas finalmente ele tinha conseguido descobrir onde ficava a antiga fazenda São Lucas. Como já estava tarde, ele decidiu falar com a turma no dia seguinte.

Cebola tinha acabado de deitar, já estava relaxando, fechando os olhos e se entregando a um sono agradável quando seu celular tocou fazendo-o saltar da cama.

- Pindarolas, não posso nem dormir sossegado? Alô?

- Cebola? Desculpa ligar agora, mas eu já entendi tudo! Precisamos ir pra casa da Magali agora mesmo!

- Pra casa da Magali? Já é tarde!

- A Mônica pode estar correndo perigo!

Aquilo fez com que ele levantasse na velocidade de um raio.

- A Mônica tá em perigo? Explica isso direito!

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Enquanto tentava desamarrar as cordas que prendiam os pulsos da Maria, ela ouviu passos na escuridão e um frio glacial tomou conta do ambiente. Era a mulher voltando.

- Voltei, meus amores! – a voz estridente falou fazendo Marina levantar-se rapidamente com os olhos arregalados e o coração batendo como um tambor. – O que está acontecendo aqui? Como você se atreve? Menina ordinária!

A mulher trazia outra pessoa, que parecia desmaiada e estava com os pés e mãos amarradas com uma grande quantidade daquela corda que impedia seus movimentos. Por que ela precisava prender uma pessoa daquele jeito?

- Mônica... não... – ela murmurou ao ver quem era a quinta garota e viu que elas estavam perdidas. Se nem a Mônica podia com aquela mulher, então todas estavam condenadas.

- Você vai ser castigada, muito castigada! Bonecas não andam!

- Corre, Marina, Corre! – Maria gritou apavorada. Se Marina fosse pega, as outras não iam ter salvação.

Ela saiu correndo cegamente pelo galpão, tropeçando em caixas velhas, pedaços de madeira e outras quinquilharias que ela não pode ver por causa do escuro. A mulher ia ao seu encalço com aqueles passos duros e gritando como louca.

- Eu vou te castigar, menina ruim! Vou acabar com você, picar seu corpo e esconder onde ninguém vai achar!

O lugar parecia um labirinto e Marina corria de um lado para outro, escondendo atrás de pilhas de caixas e voltando a correr quando achava que era seguro. Por onde ia, aquele frio parecia lhe perseguir, como se fossem tentáculos invisíveis que a mulher usava para sondar o ambiente e assim encontrá-la. Era impossível se esconder.

Ela andava, rastejava, esperava e ouvia. Os passos foram se aproximando aos poucos, junto com os chamados da raptora.

- Onde está você, minha bonequinha? Mamãe vai te castigar muito!

Seu corpo tremia de medo e frio e apesar disso havia suor escorrendo pela sua testa. Ela precisava fugir dali por si mesma e pelas suas amigas. Podia ser a única chance de pedir ajuda.

- Eu estou indo! – os passos vinham na sua direção, duros, cadenciados, firmes. Sem perder tempo, ela pegou uma pedra e jogou para o mais longe possível, esperando distrair a atenção dela por alguns instantes.

Aparentemente deu certo, já que isso fez os passos afastarem juntamente com os tentáculos frios. Quando achou que estava seguro, Marina saiu correndo novamente na direção de uma parte mais clara do galpão, que parecia ser a porta.

Gritos furiosos ecoavam atrás dela junto com o som de coisas quebrando. Ela não parou por nada e correu como se tivesse um mar de chamas atrás de si. Finalmente Marina pode alcançar a porta. Finalmente a liberdade!

- Gente, não acredito! Eu consegui! – ela não sabia onde estava, o local parecia abandonado, talvez alguma fábrica desativada ou um depósito que não era usado há muitos anos. Mas ela não importava. Ali perto devia ter alguém que podia lhe ajudar. Só era preciso correr e fugir dali o mais depressa possível.

Marina voltou a correr pelo pátio na direção da rua. Quando ia cruzar o grande portão de entrada, ela sentiu uma mão forte agarrando seus cabelos juntamente com um frio cortante que paralisou seu corpo.

- Onde pensa que vai, sua peste ordinária? Vou te ensinar a comportar como uma boneca nem que eu tenha que te fazer em pedaços! – ela bradou arrastando Marina de volta.

A moça chorava, implorava e tentava se debater. Seu corpo era ferido pelo cascalho, sua mão quebrada doía muito e ela via suas esperanças esvaindo como areia entre os dedos. Em pouco tempo, ela foi engolida pela escuridão novamente. A mulher arrastou seu corpo e amarrou a uma coluna de cimento usando tiras de pano. Mas por que de costas?

- Você tem que ser castigada por me desobedecer! Vai pagar muito caro, sua menina ruim! – ela rasgou a parte de trás do vestido, deixando suas costas descobertas. Ao olhar para trás, Marina viu que ela segurava alguma coisa comprida, talvez uma grande tira enrolada de pano. Em seguida, sentiu uma dor cortante nas suas costas juntamente com um estalo.

Seu grito ecoou por todo galpão. Quando a mulher ia dar outra chicotada, Marina chorou e implorou com o rosto banhado em lágrimas.

- Pelo amor de Deus, dona! Não faz isso, por favor! Eu não te fiz nada! – Ela voltou a chorar como criança pequena implorando por sua vida.

A mulher abaixou a mão lentamente, aparentemente hesitando. Era como se parte dela não quisesse fazer aquilo, mas outra parte a instigava a chicotear cada vez mais.

- Eu... eu só queria brincar de boneca... eu só queria... queria... ser a boneca de alguém...

Ela deixou o chicote cair e andou de um lado para outro sentindo-se confusa e perdida. O que ela estava fazendo? Por que estava fazendo aquilo? Ela queria ser a boneca ou brincar de boneca? O que ela queria realmente?

- Para de chorar, menina ruim! Não chora! Se chorar é pior! Vai ser mais castigada ainda! Cala a boca!

Ela bradava ameaçando recomeçar as chicotadas e Marina lutava com todas as suas forças para parar o choro.

- Ei, pára com isso! – uma voz gritou e Marina suspirou de alívio ao ver que era a Mônica, que tinha conseguido se soltar. A raptora não gostou nem um pouco.

- Você é outra menina ruim! Boneca feia, defeituosa, com dentes enormes!

- Por favor, não faz isso! Magali, você precisa acordar!

Aquilo foi um choque para Marina. Magali? Então era a Magali que estava torturando ela e suas amigas esse tempo inteiro?

- Eu não sou Magali! Ela é minha boneca! Você é minha boneca! Todas vocês são minhas bonecas! Vou brincar com todas vocês e...

- Tá, tá, guardar o que sobrar no fundo do armário onde ninguém vai encontrar, blábláblá. Olha aqui, sua coisa ruim, pode ir saindo do corpo da minha amiga que ele não te pertence! Sobe de uma vez!

A entidade soltou um rosnado furioso e avançou na direção da Mônica tentando lhe chicotear. Apesar de ser feito de pano, aquilo doía muito e Mônica não queria machucar sua amiga, que não sabia o que estava fazendo.

- Magali, acorda! Você pode fazer isso, eu sei que pode!

- Não, não pode! Ela é minha boneca agora!

Ela jogou Mônica no chão com força sobre humana e uma golfada de vento gelado a atingiu em cheio, fazendo seu corpo praticamente congelar. Mônica gemia de dor e tinha perdido controle das suas pernas, que congeladas não se mexiam. Tudo estava indo muito mal.

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Três jovens andavam de bicicleta pelo bairro, ignorando o horário inapropriado e o perigo de andarem por aí sozinhos. Cebola ia na frente mostrando o caminho juntamente com Cascão que pedalava ao seu lado e Sarah seguia os dois da melhor forma que podia.

- A gente tá quase chegando. Pindarolas, como ela conseguiu chegar num lugar tão longe? E como você não vigiou elas, cabeção?

- Ah, dá um desconto! Eu dormi, tá legal? – o outro falou irritado consigo mesmo por ter um sono tão pesado. E estava fazendo um friozinho tão gostoso que ele só queria se aconchegar debaixo das cobertas e dormir.

- Olha ali, parece um depósito! – Sarah arfou interrompendo a discussão deles.

- É um galpão. O mapa diz que é aqui.

Eles entraram pelo portão, deixaram as bicicletas do lado de fora e entraram no galpão segurando lanternas e andando devagar. Logo depois andaram mais depressa ao ouvir gritos da Mônica e da Magali. Bom, pelo menos parecia ser da Magali, talvez mais rouca, raivosa e sedenta por sangue.

Eles chegaram bem a tempo de ver sua amiga segurando uma tesoura pronta para retalhar a pobre Marina que estava numa posição muito desfavorável. Mônica estava caída no chão tentando recuperar o movimento das pernas e mais ao longe eles ouviram os chamados de Carmem e Maria Mello.

A maior surpresa, no entanto, foi quando iluminaram o rosto da Magali e levaram um grande susto. Sua pele estava pálida como se fosse de porcelana. Seus cabelos desgrenhados estavam soltos e caiam pelo seu rosto, mostrando apenas um estranho olho de vidro que brilhava de forma sobrenatural.

Seu corpo parecia meio torto, como se suas articulações fossem endurecidas e ela não conseguisse se movimentar direito. Isso sem falar daquele vestido estranho que parecia uma roupa rasgada de boneca e a voz alterada que parecia a de uma mulher adulta tentando fazer voz de criança.

- Peraí... eu tô conhecendo essa fantasia! – Cascão falou e Cebola não quis saber.

- Não é hora pra isso. Sarah, tenta falar com ela!

A moça se adiantou, chegando lentamente perto da Magali que estava possuída pela entidade. Ela rosnava, babava e segurava a tesoura pronta atacar quem chegasse perto demais.

- Vá embora, sua boneca feia! Eu não quero você! Bonecas não têm cabelos azuis!

- Isso que você está fazendo é errado e você precisa parar agora mesmo! Está prejudicando a si mesma e outras pessoas!

Os outros acharam que isso não fosse adiantar nada. Aquela coisa definitivamente não entendia conversa civilizada. Para a surpresa de todos, a entidade respondeu.

- Eu só estou cuidando das minhas bonecas!

- Elas não são suas bonecas. São minhas amigas e você as está machucando!

- É porque eu as amo!

- Não, você precisa entender que amor não é isso, nunca foi!

- Cala a boca, você não sabe nada! Nunca foi a boneca de ninguém!

Sarah se encheu de paciência e falou.

- Eu sei o que aconteceu com você no passado. – a entidade abaixou a tesoura.

- O que você sabe, boneca feia?

- Sei o que aquela mulher te fez, sei que ela te castigou muito e escondeu seu corpo onde agora fica esse galpão, mas antigamente era uma fazenda. E agora você está se vingando nas garotas! Isso é errado.

Ela olhou para o rosto da moça, inclinou a cabeça para um lado, depois para outro e deu uma risada sinistra e histérica. Ela ria, gargalhava a ponto de se ajoelhar no chão. Aos poucos, o riso foi se transformando num choro e terminou num grande grito de lamento e desespero. Ela cobria o rosto com as mãos como se sofresse a maior vergonha do mundo. Por fim, ela falou entre soluços.

- Eu não sou a menina... eu sou a mulher que matou a menina!



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