[...]
E quando chega a noite e eu não consigo dormir
Meu coração acelera e eu sozinha aqui
Eu mudo o lado da cama, eu ligo a televisão
Olhos nos olhos no espelho e o telefone na mão
Pro tanto que eu te queria, o perto nunca bastava
E essa proximidade não dava
Me perdi no que era real e no que eu inventei
Reescrevi as memórias, deixei o cabelo crescer
E te dedico uma linda história confessa
Nem a maldade do tempo consegue me afastar de você
Te contei tantos segredos que já não eram só meus
Rimas de um velho diário que nunca me pertenceu
Entre palavras não ditas, tantas palavras de amor
Essa paixão é antiga e o tempo nunca passou
[...]
— A Noite (Tiê).
A chuva que caía pelo lado de fora da janela era forte e seus pingos que batiam no vidro da mesma formavam pequenas melodias reconfortantes para meus ouvidos. Me levantei do sofá e me aproximei da janela para continuar os observando escorrendo pela superfície lisa do vidro e caírem na madeira da parte inferior. Suspirei pesadamente sentindo uma dor em meu peito.
Caminhei até o meu quarto, me deitei na cama e fiquei a fitar o teto cinzento que estava sobre mim. Suspirei fundo. Rolei até a beirada da cama e peguei uma caixinha um pouco empoeirada que estava debaixo da mesma. Me sentei e abri a caixinha. Peguei duas lâminas que estavam dentro dela e depois a devolvi para debaixo da cama. Encarava uma e depois fiquei a encarar a outra. Bufei.
Eu queria tanto falar alguma coisa, contudo as palavras sumiram de minha boca. Eu só era capaz de chorar.
Coloquei uma das duas em cima do meu criado-mudo e com a outra comecei a ferir o meu pulso.
Pensar nele doía! Pensar nele beijando ela doía! Pensar nos dois juntos como um casal perfeito doía! Pensar que apenas fui um caso rápido e sem importância na vida dele doía!
E pensar que eu dei de TUDO para ele... Dei amor! Dei carinho! Dei minha atenção! Dei minha pureza! Dei tudo de mais precioso que eu tinha pra ele!
E o que recebi em troca? NADA.
Apenas briguei com minha família e irmãos por causa dele.
Perdi a amizade de anos com a minha melhor amiga por causa dele.
Abaixei minhas notas drasticamente por ele.
Ia à escola somente para bagunçar com ele.
Ia à diretoria quase todos os dias com ele.
Batia e puxava os cabelos de inúmeras meninas que iam com segundas intenções pra cima dele.
Fazia Bullying com os alunos isolados da escola junto com ele.
Com tudo isso o resultado não foi outro... Eu machuquei pessoas, as fiz chorar. Tiveram algumas que até chegaram a cometer suicídio. Como a Isabela Pires, que se suicidou há dois meses enforcada em seu quarto. — O peso da culpa me assombra até hoje.
Sem contar que eu abandonei todas as minhas amizades verdadeiras, fiéis, pra ficar só com ele 24 horas por dia.
Pra que adiantou tudo isso? Se agora... Ele está com outra! Beijando outra! Transando com outra! Fazendo o possível e o impossível com outra!
Tentei... Tentei... Juro que tentei ficar quieta quando vi aquela cena... Mas não consegui. O sentimento de revolta foi maior!
Cheguei perto deles. Puxei aquela garota pelos cabelos e a joguei no chão. Ele tentou me impedir, mas o empurrei o que fez ele bater as costas com tudo na parede e depois tropeçar na lixeira que estava ao seu lado e cair no chão. Chutei sua barriga e depois voltei para ela. Peguei novamente seu cabelo, a tirei no chão e chutei com muita força sua barriga, o que fez com que ela cuspisse sangue — Agora, que eu finalmente caí na real, vi o quão errado eu agi. Para quê o uso de tanto violência assim? Hoje percebo que apenas uma criança agiria assim!
Antes que eu pudesse dar mais qualquer golpe naquela menina, a diretora segurou minha mão que estava em formato de soco e virou-me bruscamente de frente para ela.
— Você está muito encrencada agora, Mariana.
Após ela dizer isso, o Tico e o Teco haviam sido levados para a enfermaria enquanto eu tinha ido diretamente para a sala da diretora. Ela havia chamado meu pai e não demorou muito para ele aparecer na escola. — Eu estava frita!
Por causa da minha atitude mal pensada, quando meu pai chegou, me deu um sermão logo de cara e quando cheguei em casa fiquei de castigo além de ter levado uma surra daquelas com uma cinta.
Dói até agora quando toco de leve ou com força nas minhas costas ou nas minhas pernas.
E foi assim que cheguei aqui.
Suspirei mais uma vez e apertei a lâmina contra meu pulso, um fio de sangue começou a escorrer depressa. Respirei e apertei mais um pouco. Mais fios de sangue surgiram. A dor que sentia no braço começava a ficar mais forte, mas a dor do meu coração era muito maior e insuportável. Tirei a lâmina que estava suja e a joguei fora no lixinho que estava ao meu lado. Peguei a outra e comecei a fazer o mesmo processo no meu outro braço, após o processo a joguei fora também.
O sangue que escorria manchava o lençol da minha cama, contudo não me importava mais.
Fui até o banheiro e peguei a caixa de primeiros socorros do meu pai, que era médico, que eu havia pegado escondido mais cedo, quando ele não estava presente em seu escritório. Dentro da caixa tinha vários comprimidos de dipirona.
Peguei meu celular que estava em um dos bolsos da minha blusa de frio e entrei no contato dele no meu WhatsApp.
“Mozão da minha vida <3”
Era assim que estava salvo o contato dele. Ri. Como era ridícula!
Havia duas mensagens dele.
“Hey”
“Você tá com marra ainda?”
Olhei incrédula pela insensibilidade dele e revirei as orbes.
“Você não se arrependeu do que fez?”
Ele respondeu:
“O que eu fiz? Foi você que aprontou toda aquela confusão na escola, sua louca!”
Hipócrita!
“Você quer saber o que fez?”
“Bem, você destruiu minha vida, destruiu meus laços com as outras pessoas. Você tem noção do tanto de coisa que eu sacrifiquei por você? Eu fiquei falada por sua culpa, por seus atos”.
“Bom, não me arrependo de nada”.
Cínico! É claro que não estaria arrependido.
“Já eu me arrependo de não ter visto esse seu lado antes”.
“Adeus Filho da Puta!” — mandei com o emoji do dedo no meio.
Bloqueei seu número. Antes do bloqueio ele havia mandou mais uma mensagem, mas nem fiz questão de visualizar, não conseguia mais olhar para ele.
Coloquei os comprimidos na palma da minha mão, ingeri-os com a água da torneira mesmo.
Voltei para o meu quarto e peguei uma terceira lâmina. Cortei meu pulso esquerdo profundamente na diagonal, já que assim não tinha como costurar e tentei fazer o mesmo no meu outro pulso, mas a dor era imensa e era tamanho o sangue que jorrava do meu braço recém-cortado, comecei a sentir que não possuía mais força naquele braço. Então, com a pouca força que me restará cortei um pouco menos profundo, na vertical, no meu outro braço e me atirei na cama. Olhava para o teto ofegante. Tentava evitar respirar, queria logo partir. Não demorou muito até eu conseguir o que queria...
Era a hora do adeus. Espero que todos sintam minha falta. Espero que ele sinta a minha falta e que seja feliz com outra garota... Espero que essa outra Garota, o faça muito feliz do jeito que nunca pude. Que ela o ame e o diga “Eu te amo!” todos os dias, ao acordar, no decorrer do dia e antes de dormir. Espero que ela o dê muitos filhos! Que sejam uma família perfeita. Longe das aparências...
Te amo João! Sempre irei te amar!
Espero que minha família supere minha morte e que tenham outra filha que não seja uma falha que nem eu fui. Espero que tudo se resolva e que todos me superem com tamanha facilidade...
Bem, acho que esse era o fim. O meu tão esperado fim!
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