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História Querido Kyungsoo - Capítulo 21


Escrita por: YOUGOT7JAMS

Notas do Autor


Olá anjinhossss!
Esqueci de dizer no capítulo anterior, mas QK agora está disponível no wattpad, pra quem quiser ler por lá!
Vou colocar os capítulos aos pouquinhos quando tiver mais tempo, ok? :)
Vou deixar o link nas notas finais.

Um capítulo mais leve pra aquecer o coraçãozinho de vocês ♡

Capítulo 21 - Capítulo 21


Fanfic / Fanfiction Querido Kyungsoo - Capítulo 21

Distrito de Dong-gu, Busan — 15.11.1989  

Querido Kyungsoo,

Sinto sua falta. Como nunca senti de ninguém.

Demorei cerca de vinte minutos só para escrever essas três primeiras frases, porque estou ocupado demais olhando para o teto e pensando em você. É difícil escrever com as folhas amassadas contra as coxas, nessa posição esquisita de joelhos dobrados, mas eu simplesmente não posso evitar. Eu gosto de pensar em você. E me pergunto se você está pensando em mim também.

Me pergunto que música você coloca para tocar em seu Walkman ou no rádio quando faz isso, ou se fecha os olhos como eu faço. Eu estou sempre tentando formar a imagem do seu rosto na minha cabeça, e às vezes me assusto quando não consigo enxergá-lo com clareza. Mas, na maioria das vezes, eu consigo vê-lo muito bem.

Eu imagino nossos beijos. Vejo seu sorriso. Me perco por vários minutos lembrando da sensação da sua mão na minha. É incrível, Kyungsoo.

Acho que estar apaixonado é assim. Incrível de muitas maneiras diferentes. Você se sente leve, e ao mesmo tempo mais pesado, por estar carregando um outro alguém dentro do peito. E você começa a ver beleza onde não via antes. Nas luzes coloridas da cidade à noite, ou em um pôr-do-sol alaranjado quando volta para casa no fim da tarde, olhando a paisagem da janela do trem.

Eu me lembro de colocar meus fones de ouvido pela primeira vez ao pensar em você. Estava tocando All My Loving. Os raios de luz escapando das persianas num domingo de manhã nunca me pareceram tão bonitos como naquele dia. Eu ouvi outra, e outra, e outra.

E, de repente, todas as músicas de amor pareciam ser sobre você.

 

『▪▪▪』

 

Taemin está sentado na calçada com seu caminhão de brinquedo. Parece uma eternidade desde que eu o vi pela última vez.

Ele faz sons de aceleração e roncos de motor conforme arrasta o veículo de plástico pela rua pavimentada, para frente e para trás. Ele é ótimo naquilo. Quando me sento ao seu lado, ocupando um espaço nada discreto ao seu lado no meio-fio, ele rapidamente deixa o caminhão de lado e avança sobre as minhas costas, tentando se pendurar em meu pescoço.

Aquilo me deixa feliz. Crianças não abandonam seus brinquedos por qualquer um.

— Como vai, garotão? — eu cumprimento, rindo enquanto tento segurar suas pernas escorregando pelas laterais do meu corpo, antes que ele possa cair. — Sentiu minha falta?

Ele não responde, mas posso senti-lo balançando a cabeça. Taemin não admite seus sentimentos com facilidade. Tento olhar para ele, mas o garotinho ainda está agarrado às minhas costas. Preciso utilizar métodos mais eficazes para chamar a sua atenção.

— Eu trouxe um presente pra você — digo, e ele rapidamente me solta e dá a volta, sentando sobre uma das minhas pernas. Ele parece mais interessado do que nunca no embrulho prateado escondido no bolso do meu moletom. — Mas… — eu continuo, apenas para provocá-lo. — Em troca do presente, você vai ter que me dar o seu nariz.

Eu estico a mão e aperto seu nariz de leve com os dedos, como se quisesse roubá-lo. O rapazinho faz uma careta engraçadinha e tenta me afastar, empurrando meu braço para longe.

— Não, não pode. Você não pode pegar o meu nariz.

— Por quê? — pergunto, ainda rindo. Ele cruza os braços e faz uma expressão emburrada, como se estivesse muito bravo. Como ele não responde de imediato, eu o cutuco na barriga algumas vezes. — Por quê, hein, Taemin? Você precisa dele pra respirar?

Ele balança a cabeça.

— É porque ele tá cheio de meleca, hyung. Você não vai querer esse nariz.

— Certo, certo. Não vou pegar o seu nariz. — Olho para seu rosto, fingindo analisar o que eu poderia pegar em troca. Eu tento segurar uma de suas orelhas, mas ele leva a mão pequenina até a lateral do rosto, tentando protegê-la. — A orelha também não?

Ele solta uma risada. Aquela risada rouca e baixinha, típica de crianças, e depois ergue dois dedinhos para tentar roubar o meu nariz. Taemin parece ter gostado da brincadeira.

— Ah, não. Você roubou o meu nariz! O que eu vou fazer agora? Como vou respirar? — eu questiono, fazendo um pouco de drama. Levo as mãos ao peito, como se não conseguisse respirar, soltando ruídos estranhos pela boca. — Meu oxigênio… Está acabando…

Aos poucos, eu me inclino sobre a calçada, permitindo que meu corpo caia vagarosamente para trás, desfalecido. Minha atuação não convence Taemin. Ele sabe que estou brincando, então apenas começa a rir e se prepara para avançar sobre mim, surrupiando o embrulho brilhante no meu bolso com as mãos ágeis e aquele sorrisinho arteiro.

Ainda de olhos fechados, porque não posso desistir de atuar como um homem morto no meio do processo, eu escuto o barulho da embalagem sendo aberta pelos dedos pequenos. Infelizmente, meu momento de drama não dura muito, e logo estou deixando escapar um sorriso. Mortos não sorriem, mas posso abrir essa exceção por Taemin.

Waaaa! É o Homem-Aranha! — eu o ouço dizer, animado. — É um Homem-Aranha de verdade!

É ótimo vê-lo tão feliz por algo tão pequeno, mas não posso simplesmente levar o crédito por isso.

— Foi o Sehun que pediu para eu te entregar — respondo de modo cauteloso, porque não sei o quanto ele sabe sobre o irmão. — Ele disse que você gostaria disso. Acho que ele estava certo. Você gostou?

Ele balança a cabeça freneticamente, assentindo. Então ele sorri, parecendo ainda mais feliz do que antes, e abraça o brinquedo com todo o carinho do mundo. Como se ele fosse seu bem mais precioso. Como se fosse Sehun.

Eu sorrio de volta. Porque, finalmente, as coisas parecem estar voltando aos seus lugares.

 

― ◆ ―

 

Minhas favoritas de verão.

Músicas calmas para dormir (Taemin gosta muito delas).

Para recarregar as minhas energias.

Sábados à noite (sem embalos).

 

Eu empilho as fitas-cassete de Sehun, observando atentamente o título de cada uma delas. Algumas estão em branco, ou com rabiscos aleatórios feitos por acidente. Uma delas traz na descrição o desenho de um sol — ou, pelo menos, é o que aquilo parece ser — que provavelmente fora mais uma das obras de Taemin com seus gizes de cera.

Eu pego essa última fita e me acomodo sobre a cama, deitado contra dois andares de travesseiros com o Walkman sobre as pernas. Eu coloco meus fones de ouvido e aperto o play, imediatamente ouvindo uma voz familiar. É Byun Jin-seop. Like Birds, eu acho. Tenho quase certeza.

Esse é exatamente o tipo de música que faz as pessoas se transportarem. De olhos fechados, eu viajo através de todos aqueles versos sem precisar sair do lugar. Eu me sinto um pássaro solitário sobrevoando a cidade, mesmo que por alguns segundos.

Mas o pássaro não fica sozinho por muito tempo.

Ele se liberta.

Quando o refrão chega, começo a balançar os pés cobertos por meias grossas. Eles batem contra o colchão em um ritmo divertido. Talvez por isso eu não escute de imediato os barulhos insistentes contra o vidro da minha janela, ou perceba que alguém está incansavelmente atirando pedrinhas nela, com o intuito de chamar a minha atenção.

Mas, após alguns segundos, arranco os fones de ouvido e me levanto, apressado, deixando o Walkman para trás ao lado de um emaranhado de fios. Levo o que parece ser uma eternidade até afastar as trancas e erguer a janela, minha boca pendendo em total surpresa quando vejo o garoto parado sobre o gramado do meu jardim.

Do Kyungsoo está bem ali. De smoking. Em frente à minha casa.

Está vestindo preto da cabeça aos pés, exceto pela camisa branca e uma rosa vermelha que ele carrega na lapela. Calças, paletó e gravata borboleta. Ele veste o look completo. Quando me vê, o baixinho ergue a flor na minha direção, como um daqueles mocinhos bonitos de Hollywood.

— Kim Jongin — ele diz, a voz aveludada escapando de seus lábios e ganhando a noite. — Você aceita ir ao baile comigo?

Olho para todos os lados, vasculhando o quarteirão. No entanto, já são nove horas da noite, e a janela do quarto dos meus pais está apagada. Nenhum dos vizinhos parece estar acordado ou tentando chamar a polícia pela invasão de privacidade acontecendo bem debaixo de seus olhos, então acho que está tudo bem.

— Você é louco — eu sussurro, torcendo para que ele possa escutar. — Kyungsoo, eu já disse que não paguei pela cerimônia, então não posso entrar lá.

Ele dá de ombros.

— E quem disse que nós vamos entrar?

A ideia me parece interessante, mas eu ainda não estou totalmente convencido.

— Kyungsoo...

— Vem comigo — ele pede, sorrindo, ainda erguendo a rosa. Seu braço já está tremendo de tanto segurá-la no alto. — Vem comigo, Jongin.

E eu vou. É claro que eu vou.

Afinal, quando ele sorri daquele jeito, há uma pontada de esperança que faz eu me sentir completo de novo. Parece que tudo está bem outra vez. Como antes. Como sempre foi.

Não é fácil negar qualquer pedido daquele garoto bonito parado no meu jardim. Além disso, não é todo dia que tenho o prazer de ver Do Kyungsoo vestindo um smoking e me convidando para fugir no meio da noite. É um daqueles milagres que acontecem poucas vezes na vida.

Por isso, eu não penso duas vezes antes de vasculhar o meu armário à procura de algum paletó velho que meu pai guardou por ali, apenas para o caso de eu precisar um dia. Está um pouco empoeirado e fedendo a naftalina, então eu chacoalho a peça de roupa e aplico um pouco de perfume, espalhando pelo quarto milhares de germes e fungos naquele gesto atrapalhado.

Tento calçar um dos sapatos do meu pai, mas ficam muito grandes em mim, então eu os abandono e passo para o plano B. Diante do espelho, eu encaro os tênis All Star contrastando com o visual mais formal. Estou uma bagunça. O paletó fica um pouco maior nos ombros do que deveria ficar, e minhas meias três quartos brancas estão visíveis sob os shorts, que terminam acima dos joelhos.

Devo ser o primeiro garoto da história a ir ao baile vestindo um terno por cima do pijama.

Escapo pela janela do quarto, me agarrando à árvore esguia do quintal para descer até o gramado. Sou bom nesse tipo de coisa. Eu poderia escalar árvores e fugir por janelas de quartos o tempo todo.

Kyungsoo está me esperando lá embaixo quando meus tênis pousam na grama.

— Oi. De novo — ele diz. — Pijama legal.

Um riso soprado escapa pela minha boca.

— Você está lindo, Kyungsoo.

Ficamos em silêncio por algum tempo. Três segundos ou mais. Parece uma eternidade enquanto seus olhos ficam presos nos meus, e é óbvio que nós dois temos algo a dizer um para o outro.

Ninguém diz nada.

Se eu conheço Kyungsoo, ele deve estar se martirizando agora por não ter respondido o meu elogio. Ele é o tipo de garoto que pensa demais. Mas está tudo bem. Eu não ligo, de verdade, porque sei que ele acha que estou bonito também, mesmo com esse visual bagunçado e esquisito.

Sei disso porque ele não tira os olhos de mim. Nem por um segundo.

— Para onde vamos? — pergunto.

Ele dá um sorriso meio sem graça e vira de costas, pondo-se a caminhar, como se finalmente tivesse se lembrado do que viera fazer ali.

— Eu já disse. Vamos ao baile.

— Por quê?

Eu sigo em seu encalço, acompanhando seus passos até o portão, e depois até a rua.

— Confie em mim — ele responde, direcionando um último olhar divertido antes de se lançar em seu trajeto.

Eu confio.

É uma daquelas noites bonitas onde o céu está limpo, azul-escuro e estrelado. As luzes dos postes no meio do caminho nos envolvem em luzes alaranjadas. A escola estadual fica a apenas alguns quarteirões dali. As ruas paralelas que cercam as dependências do colégio estão iluminadas, e há dois ou três tufos coloridos na entrada, como um conjunto de pompons alongados de dois metros de comprimento. Ou até mais. Não sei como costumam chamar aquelas coisas. E, sinceramente, nem sei se quero saber.

— Nós não podemos entrar — eu digo mais uma vez. — Acho que você está ficando maluco, Soo. E eu meio que me sinto mal por isso, já que eu provavelmente sou o culpado pela influência ruim. Ser maluco é uma coisa minha.

— Ser maluco pode ser uma coisa nossa.

Eu sorrio. Não dá para não sorrir com aquilo.

— Certo. Você venceu. — Solto um longo suspiro, ainda sorrindo, e depois coloco as mãos nos bolsos do paletó. — E qual é a maluquice que vamos aprontar hoje?

Ele segura em meu cotovelo por alguns segundos, mas depois solta. Kyungsoo dá a volta pela lateral do prédio, provavelmente esperando que eu o siga, então é isso que faço. Sei para onde ele está me levando. É por ali que eu costumava escapar durante os intervalos, pulando o muro de tijolos. Na parte de trás, existe um estacionamento meia-boca e muito sem graça, totalmente cimentado e com as divisórias amarelas das vagas para automóveis já apagadas pelo tempo.

Hoje, no entanto, tudo está diferente. Há lanternas redondas e pequeninas dançando acima das nossas cabeças, fazendo as sombras oscilarem no piso escuro. As luzes provocam reflexos amarelados que se movem de maneira suave, muito discretamente. Quando paramos, reparo que as bochechas de Kyungsoo estão radiantes. Seus cabelos bagunçados pela brisa estão aloirados nas pontas por causa das luminárias. Tudo está brilhando.

Aquela é uma noite dourada.

Em questão de segundos, perco a habilidade de formular qualquer tipo de frase coerente.

— Uau — eu digo. E acho que aquela é a única palavra que sobrou no meu dicionário mental. — Uau

Ele fez isso para mim. Kyungsoo fez tudo aquilo para mim.

Com exceção de alguns carros e de um rádio vermelho já familiar disposto em uma das vagas, o lugar está vazio. Somos eu e o baixinho do sorriso de coração pelo resto da noite. E aquilo é incrível. Todas aquelas lâmpadas minúsculas de pisca-pisca acima de nós dois, lançando um pouco de brilho e luz na noite escura, parece ser a coisa mais especial do mundo. Devo estar sonhando.

— Parabéns pela sua formatura, Jongin — ele sussurra, parado no meio do estacionamento.

E essa seria a hora perfeita para eu atravessar os centímetros que me afastam dele e abraçá-lo. Apertar Kyungsoo nos meus braços o mais forte que consigo. Mas eu simplesmente não posso, porque talvez ele ainda não esteja pronto para isso, e eu não quero forçar nada.

Em vez disso, eu caminho até o rádio e me agacho perto dele. Já tem uma fita-cassete preparada para tocar, então eu só aperto o play, torcendo para que aquela seja uma música legal. E, surpreendentemente, Kyungsoo não poderia ter feito escolha melhor. É uma das minhas favoritas. Under Pressure, do Queen com o David Bowie. É perfeita.

Eu me levanto e estendo a mão para ele. Os primeiros acordes escapam baixinho das caixas de som.

— Você quer dançar comigo?

— Eu quero. — Ele olha para os próprios pés. — Mas eu não sei dançar.

Assim que o vocal de Freddie Mercury irrompe, abafado, começo a me movimentar de um lado para o outro, devagarinho. Para mim, dançar é algo quase automático. Instintivo. Eu seguro em ambos os braços do baixinho, tentando fazê-lo se movimentar, e ele solta uma risada.

 — Vamos lá, Kyungsoo. Não é tão difícil — eu incentivo. — É só balançar os ombros. E os pés. Olha só! — Afasto um dos tênis do chão, e depois o outro. Fico alternando esse gesto com os movimentos dos ombros. — Não tem mistério. Nem regras. Você só precisa se balançar.

O garoto imita meus passos, e se sai muito bem em suas primeiras tentativas. Ele demora algum tempo para conseguir acompanhar o ritmo e se libertar de verdade, mas enfim consegue. E quando isso acontece, é simplesmente lindo. Porque nós dois estamos dançando juntos, mesmo com os corpos distantes um do outro, e tudo continua brilhando.

No momento seguinte, começo a balançar a cabeça também. Kyungsoo está tão à vontade que até consegue apontar para mim durante os versos da música, movendo os lábios como se estivesse dublando David Bowie. Eu o acompanho, e, de repente, estamos encenando como Bowie e Freddie enquanto ousamos movimentos novos. Mais soltos. Mais livres.

E eu sei que provavelmente parecemos dois esquisitões agora, mas, por algum motivo, eu não consigo parar de sorrir.

— Essa é a minha parte favorita — eu digo, as bochechas doendo de tanta felicidade. — Me dê suas mãos.

Ele balança a cabeça, concordando, e logo estamos de mãos dadas.

Kyungsoo entende o recado antes mesmo que eu tenha de explicar. Com sorrisos idiotas no rosto e segurando um ao outro, começamos a girar, girar e girar. Tudo que consigo ver são as luzes douradas se transformando em rabiscos na minha visão embaçada, os cabelos esvoaçantes do baixinho e tudo ao nosso redor se reduzindo a borrões indistintos.

Nossas risadas estão quase tão altas quanto a música.

 

'Cause love's such an old fashioned word

And love dares you to care for

The people on the edge of the night

And loves dares you to change our way

Of caring about ourselves

This is our last dance

This is our last dance

This is ourselves

Under pressure

 

A música diminui. As vozes ficam mais baixas, e é assim que sabemos que ela está terminando. Então, paramos, o peito subindo e descendo. Ele ainda está segurando minhas mãos, respirando meio sem fôlego. No fundo, eu torço para que ele não as solte tão cedo. Durante aqueles segundos de silêncio entre uma música e outra, nós ficamos nos olhando por um tempo que parece infinito.

— Você não precisava ter feito isso por mim. Isso foi… Isso é…

— Você gostou? — o garoto pergunta, mordendo o lábio inferior.

Ele sorri, e só então percebo o quanto ele está perto. Mais alguns centímetros e posso apoiar a minha cabeça na dele, então é isso que faço. Eu junto nossas testas, vendo o garoto fechar os olhos, respirando fundo.

Uma nova música começa a tocar, embora essa seja inegavelmente muito mais lenta que a outra. Não estou prestando muita atenção, e sequer reconheço o instrumental. Tudo que consigo ver é Do Kyungsoo e seus olhos brilhantes.

— É incrível, Soo — eu sussurro. — Você…?

— A minha vida é muito mais divertida do avesso, lembra? — ele diz, e eu balanço a cabeça, sentindo uma de suas mãos subir até a minha nuca. —  Somos eu e você contra o mundo, Jongin.

Céus, eu quase posso sentir meus tênis abandonando o chão, apenas alguns milímetros. Estou flutuando.

Eu sorrio para ele.

— Elementar, meu caro Kyungsoo.

E, no segundo seguinte, não há mais distância.

Eu envolvo seu corpo com os braços e o aperto tão forte que posso sentir seu coração batendo contra o meu peito. Talvez seja a brisa ou simplesmente o toque de seus dedos pressionando a minha nuca, eu não sei, mas há algo naquele abraço que faz com que eu me sinta um campo minado de terminações nervosas. Tenho medo de me mover um centímetro sequer e entrar em combustão.

Perto de Kyungsoo, estou sempre propenso a explodir.

Fecho os olhos e todas as cores somem, mas a música parece mais audível. Forever Young, eu reconheço. E aquele garoto vestindo um smoking agora amarrotado está espremido em um abraço que dura para sempre. Ali, no estacionamento, com a sua cabeça deitada no meu peito e sua respiração contra a pele sensível do meu pescoço, nós começamos a nos balançar devagarinho. Aquela é uma dança completamente diferente da anterior.

Kyungsoo é meu, e eu sou dele. E nada mais importa.

Minhas mãos se soltam e eu seguro o seu rosto, meus dedos escorregando para o seu pescoço. Ele continua pressionando minha nuca, dessa vez mais forte, e agora está me olhando sem interrupções pela primeira vez em muito tempo. Eu esfrego minha testa na dele mais uma vez, agarrando ambos os lados da sua gravata borboleta para puxá-lo contra mim. E, então, eu o beijo.

Nossos lábios se tocam ao mesmo tempo em que o refrão toca pela segunda vez, como se fosse combinado. Essa é a música perfeita para beijar. Na verdade, acho que qualquer música é perfeita para beijar Kyungsoo. E eu não tinha ideia do quanto estava sentindo a sua falta até tê-lo ali tão perto, porque agora eu tenho esse ímpeto incontrolável de beijá-lo um milhão de vezes, no rosto inteiro.

Apertar o seu corpo contra o meu.

Segurá-lo tão firme a ponto de tirar seus pés do chão.

De sorrir no meio do beijo, porque eu simplesmente não posso evitar, e estragar tudo. E depois tentar consertar com mais beijos e mais sorrisos. Porque, de repente, eu me sinto infinitamente jovem. E apaixonado. E amado.

Se Kyungsoo fosse uma música, eu a repetiria milhares de vezes.

 

― ◆ ―

 

No clube de teatro, as garotas estão usando camisolas. Junmyeon está com o rosto tão vermelho que parece prestes a explodir, batendo nas próprias bochechas enquanto observa Bomi, Hwasa, Baekhyun, Chanyeol e Zitao subirem ao palco com pijamas de seda e muita pele à mostra. O Huang corre para a sua posição marcada com uma touca cor-de-rosa na cabeça e o roupão vermelho esvoaçando atrás dele.

Essa é a cena em que Sandy, a protagonista, vai ao banheiro durante uma festa do pijama, e Hwasa começa a cantar Look at Me, I’m Sandra Dee. Ela é a grande estrela desse ato. A garota coloca uma peruca loira e se posiciona em frente ao espelho, onde tudo começa. É o nosso segundo ensaio com o figurino oficial, e talvez o milésimo desde que começamos a nos dedicar ao musical durante quase todos os dias da semana.

Observamos de fora do palco, sentados no chão de pernas cruzadas. Kyungsoo está sentado do meu lado, e seu joelho encosta no meu o tempo todo. Nós assistimos enquanto Hwasa se senta sobre a cômoda vestindo apenas uma blusa roxa larga de botões e um short curto ao extremo, porque, na cena original, Betty Rizzo está de calcinha. É quase impossível não olhar para as coxas dela.

Chanyeol é o único que veste calças de pijama folgadas e maria-chiquinha na peruca. Ele quase engasga quando Baekhyun sobe com ele e as outras personagens em cima da cama improvisada e dá uma reboladinha, seguindo o roteiro, o vestidinho de seda balançando e revelando todo o comprimento das suas pernas.

Ele faz isso em todo maldito ensaio. O Park simplesmente não consegue superar.

Elvis, mantenha sua pélvis longe de mim! — Hwasa canta e dança de um jeito engraçado, e nós caímos na gargalhada, porque essa cena é sempre uma das mais divertidas.

E a voz dela é maravilhosa, como a de uma verdadeira celebridade. Ela é, sem dúvida, a minha personagem preferida da peça.

Tudo acaba com as personagens estiradas na cama, rindo de alguma bobagem enquanto empurram umas às outras. Inclusive Chanyeol, que é a única garota da peça com mais de um metro e oitenta. Suas pernas mal cabem no colchão, e os pés ficam pendurados para fora, balançando para um lado e para o outro. É gostoso de assistir. Fico cada vez mais ansioso só de pensar que falta tão pouco tempo para a nossa estreia.

Enviamos convites para nossos amigos e familiares. Junmyeon entregou um especialmente ao seu pai, mas ainda é cedo para saber se ele comparecerá. Talvez seja difícil para ele aceitar que o filho se sente muito mais feliz e acolhido junto aos pobretões de Busan.

Em dois dias será a nossa aula de abstração, onde vamos recarregar nossas energias e deixar para trás nossas identidades, mesmo que por apenas algumas semanas. Ano passado, Kwang Soo e Bo-Young nos levaram até um parque de diversões, e Chanyeol vomitou todo o seu café-da-manhã em um dos brinquedos. Uma abstração e tanto.

— Vejo você amanhã — eu digo para Kyungsoo, algum tempo mais tarde.

Ele fica parado na varanda do clube, as costas encostadas na casinha de madeira.

— É, até amanhã — ele diz. E eu sinto que ele quer dizer mais.

 Eu poderia dizer que estou morrendo de vontade de fazer xixi, mas duvido que ele ainda se lembre do nosso código secreto, então apenas aproveito aqueles segundos constrangedores e maravilhosos onde nós dois ficamos nos encarando por um tempo infinitamente gostoso. Só olhando. Sem toques. Apenas meus olhos encontrando os dele enquanto tentamos conter os sorrisos.

Quando ele vira de costas e vai embora primeiro, começo a sorrir de verdade. Ele não está vendo, o que significa que eu não preciso mais esconder o quanto estou feliz. A sensação sufocante e o medo de tocá-lo em público ainda está ali, pairando em algum lugar. No entanto, o clima denso agora está minguando, quase extinto. Depois de tudo que passamos, sinto que a nossa conexão está ainda mais forte. Acho que estou mais apaixonado do que nunca.

Na volta para casa, a rua está deserta. O dia já virou noite há algum tempo, e a vizinhança sempre mergulhada na penumbra hoje está iluminada por luzes azuis e vermelhas. Algo parece estar fora de lugar. Sei que alguma coisa terrível aconteceu quando vejo minha casa surgir no final da estrada de paralelepípedos, e imediatamente corro até lá.

Há um carro da polícia parado sobre o gramado da casa ao lado da nossa. Eu me aproximo devagar, com medo de uma notícia ruim. A primeira coisa que faço é olhar para todos os lados, à procura de Taemin. Meu coração aperta dentro do peito quando não consigo encontrá-lo.

Não, não, não, penso. Ele não.

Mas o desespero não dura muito. Eu o vejo sentado nos degraus da nossa casa, ao lado da minha mãe. Ela está vestindo um pijama amarrotado e se debruça sobre um  telefone que parece ter sido arrancado da linha, porque os fios estão emaranhados no chão ao seu lado. Taemin não esboça reação alguma, e isso parte o meu coração.

— O que está acontecendo? — eu sussurro, mesmo que ninguém possa me escutar.

Eu caminho decididamente sobre o gramado, indo na direção deles. E então eu paro. Há uma gritaria na casa dos Oh que não dura mais do que alguns segundos. Sinto minha cabeça latejar e me viro na direção do barulho, bem a tempo de ver o pai de Sehun ser escoltado por dois policiais até a viatura. Ele tenta se libertar dos punhos que o seguram, agitando os braços furiosamente, mas logo é detido por algemas que impedem seus movimentos.

Os dois oficiais o orientam a entrar no veículo, e é isso que ele faz.

Ele está preso, eu percebo.

De repente, a noite está mais gelada e escura. Tudo acontece muito rápido. Quando o carro da polícia se afasta, sinto que uma tonelada de culpa e ressentimento se desprende do meu peito e se despedaça, desfazendo-se no ar. Outro muro acabou de ser destruído, e eu me sinto mais leve.

Deixo meus braços penderem ao lado do corpo, sem vida. E continuo ali, parado, ainda olhando para a rua vazia.

Talvez por horas. Talvez por uma eternidade.

 


Notas Finais


Querido Kyungsoo (wattpad): https://my.w.tt/kcmPQkFWWM

♡ Músicas do capítulo:
Byeon Jin-seop: Like Birds: https://bit.ly/2rLxWEz
Grease - Look at Me, I'm Sandra Dee: https://bit.ly/1w7jOh8
Queen & David Bowie - Under Pressure: https://bit.ly/2rJw143
Alphaville - Forever Young: https://bit.ly/2wKWIuh

Eu tô toda atrapalhada com os comentários, mas juro que vou arranjar um tempinho pra responder todo mundo, tá? :(
Espero que tenham gostado desse capítulo!
Obrigada por sempre serem uns amores comigo, de verdade. AMO TANTO VOCÊS ♡


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