História Quero que você saiba - Touchdowns e coragem

O domingo amanhecera frio, mas o ar estava seco, a neve parou de cair em algum momento da madrugada, e até o meio-dia não voltara a dar as caras.

O que resultara em um campo “parcialmente” livre de neve e um Vice-Capitão surtando de um lado para o outro, poucos minutos antes do jogo contra o time do Colorado Springs.

— Cara, pare de surtar, o Stan nunca se atrasa! — Kenny falou vestindo os shoulder pads, um tipo de ombreira que também protegia o peito, ele empurrou a camiseta de jogo pela cabeça e sentou no banco amarrando os cadarços das duas chuteiras rapidamente.

— Pfff... fala sério, parceiro, ele já se atrasou duas vezes nos últimos três jogos! — Clyde respondeu jogando o celular no banco, uma mensagem para Stan estática na tela do aparelho, e nem fora visualizada pelo Capitão da equipe.

Kenny deu um passo saindo da frente do armário onde se vestia, o loiro passou os dedos através dos cabelos e pegou o capacete, usando-o para dar uma pancada na cabeça de Clyde.

— Conheço aquele cara desde que nasci, tem poucas coisas que ele gosta mais do que futebol.

Clyde acomodou os protetores genitais dentro dos longos calções do uniforme do time.

— É justamente as “outras coisas” que ele gosta que me preocupam.

Kenny girou os olhos, quase pronto para se juntar aos seus colegas de time que já esperavam na sala de concentração.

— Vocês já repassaram todo o esquema nos últimos dias que estiveram juntos naquele vestiário do colégio, eu mesmo estou praticamente com todas as táticas possíveis gravadas dentro da porra das minhas retinas! — O loiro apanhou o protetor de boca de dentro do estojo e deu um encontrão com os ombros em Clyde, abusando de sua armadura. — Pare de enlouquecer ou vai ficar instável durante o jogo...  e a Bebe não ficaria nenhum pouco orgulhosa, hein, garanhão.

— Ugh, você viu como ela está gostosa hoje com as cores oficiais do time de Futebol? — Clyde derreteu no banco amarrando as chuteiras. — Quer dizer, gosto do uniforme branco e laranja, mas a minha gostosa fica mais gata com o verde do meu time!

Kenny empurrou Clyde quando o garoto de cabelos castanhos se levantou apanhando o próprio capacete, eles saíram do vestiário, o time adversário podia ser visto aquecendo no gramado.

— Então pare de convidar as garotinhas do fundamental para vir ao jogo assistir você, e não se distraia, ou a Bebe vai prestar atenção no Defensor e Center* do Springs... — Kenny apontou com o queixo para um dos jogadores do adversário que observava os colegas atentamente. — Você viu aqueles olhos? Eu vi na hora que cheguei... Puta merda, são de cores diferentes, fantásticos, e o cabelo dele é ondulado, castanho claro cor de mel, e aquele sorriso doce e quente? Digno de ser admirado por todos.

Clyde se contorceu, mas ao invés de lágrimas, seus olhos castanhos brilharam em determinação, ele calçou as luvas encarando Kenny.

— Pois vou mostrar pra este arrogantezinho que só eu vou ser admirado pela minha gatinha!

Kenny esticou os lábios e ergueu as sobrancelhas satisfeitos quando viu Stan chegando, o moreno corria com uma mochila nas costas, Clyde já se juntara aos colegas de time e jogava olhares penetrantes para o seu “rival” Center.

— Kenny... — Chamou Stan ofegante, fazendo sinal para Kenny o seguir em direção ao vestiário. — Clyde deve estar uma fera... mas vou ficar pronto em alguns minutos.

O moreno jogou a mochila em um banco e puxou todas as blusas, Kenny se aproximou dobrando as peças e guardando na mochila, tirou dali as luvas de Stan, leves e mais aderentes que as comuns, assim como as chuteiras que não tinham as travas tão altas quanto as dos outros jogadores, privilégios e cuidados de um quarterback.

Kenny sorriu observando Stan.

— Como foi seu aniversário? Mal respondeu minha mensagem de felicitação, estou desconsolado...

Stan ergueu os olhos de leve, seu cabelo caiu na testa, estava liso demais, Kyle insistira e secar com um secador de cabelos, ele puxou os calções, arrumando as joelheiras, em seguida Kenny o ajudava a acertar os shoulder pads nos ombros.

— Foi mal, cara, esqueci o celular em casa quando sai com o Gary, e só consegui ver minhas mensagens há pouco tempo atrás, só respondi a sua e a da Wendy!

Kenny observou Stan amarrando as chuteiras, como prometido ele já estava quase pronto para a conferência com o seu time antes do jogo.

— Nem mesmo a mensagem do Kyle? — Kenny o encarou com olhos maliciosos. — Sei que você foi no Debate dele ontem.

Stan sorriu e suas maçãs do rosto tomaram uma coloração avermelhada.

— Sim, fui...

Um silêncio seguiu enquanto Stan apanhava o protetor de boca de dentro de um estojo de sua mochila, Kenny virou o rosto fitando Stan com olhos afiados.

— Fale de uma vez, porra!

— Tá! — Stan riu. — Voltamos para casa juntos e tal.

— “...e tal”...  Vai se foder, Stan! — Kenny estourou uma risada. — Conta direito essa porra! Esse chupão no seu pescoço é do Kyle?

Mais consciente de si mesmo, Stan puxou a gola da camiseta de jogo, murmurando.

— Está muito vermelho? Droga, Kye...

Foi nessa hora que a porta do vestiário estourou contra a parede num estrondo.

— STANLEY MARSH, JURO PELAS MINHAS BOLAS...

— Clyde... já estou saindo, cara, acalme-se! Só me atrasei um pouco...

— Eu sei... Kyle já se desculpou por você... comigo, com o time, e até com o treinador... sinceramente, se eu não estivesse tão focado em superar o maldito Douglas, daria um sermão, mas agora só vou dizer: Vamos pra preleção, vamos estraçalhar aqueles mauricinhos do Colorado Springs!

E assim Clyde saiu deixando Stan para trás com Kenny, o moreno jogou um olhar confuso para o loiro.

— Quem porras é Douglas?

Kenny deu de ombros.

— O Center e Defensor do Springs. — Sob o olhar questionador de Stan, Kenny vestiu as próprias luvas. — Tive que distrair o Clyde do seu atraso, então alimentei a competitividade dele contra o outro time...

Stan gemeu, Clyde era uma bola de fogo quando resolvia partir para cima de um jogador em específico.

— Kenny, não posso ter nenhum jogador machucado... se o Clyde ficar fora do próximo jogo não teremos chance no estadual, Jason não é tão bom quanto ele.

— Hey, enquanto você dava o pescocinho, e sei lá mais o que para o “Kyyye...” — Stan atirou um olhar entediado para Kenny quando o loiro falou o apelido de Kyle como se fosse um gemido, abusado Kenny sorria — ...alguém tinha que se preocupar com o jogo! Não se preocupe, vamos dar os pontos que o Clyde quer e ele vai ficar feliz, é minha função em campo.

— Assim espero... vamos antes que o Clyde coloque todo o time insano com a hostilidade.

— Vamos, quanto antes esse jogo terminar, antes vou saber os detalhes da sua noite com o Kyle!

Stan empurrou-se contra o ombro de Kenny, mas o loiro não se moveu, já em posição de jogo.

— Que seja!

Stan abriu a porta da sala de concentração, o técnico estava longe de ser visto, provavelmente já em campo com os visitantes, porém todos os colegas de Stan o encararam e o silêncio reinou, até que Clyde bateu palmas.

— O Capitão vai falar agora, caras, prestem atenção!

Stan adentrou a roda dos jogadores, Kenny ao seu lado, eles colocaram braços uns sobre os ombros dos outros, e o moreno apenas encarou cada um.

 — Queremos esse estadual, e cada um aqui está trabalhando duro pelo time, não vamos escorregar nesses caras só porque dizem que eles têm candidatos à porra da NFL! Ainda faltam cem anos para eles estarem em Drafts* antes de nós! — Stan começou a erguer a voz. — Quero cada um focado no jogo, não se deixem enganar, eles têm jogadas de flancos e não vão hesitar em esmagar vocês! Já repassei vários sinais que eles usam em campo! AGORA VAMOS LÁ, MOSTRAR QUE AQUI QUEM MANDA...

— SÃO AS VACAS DE SOUTH PARK!

O sorriso radiante de Stan era espelhado em cada um dos seus colegas, Clyde enfiou o capacete e seguiu o Capitão para o campo, Kenny fechava a fila para ter certeza de que todos estavam em linha reta, eles deram as mãos e entraram em campo, segurando uns aos outros, unidos, direto para o primeiro jogo importante da temporada, bons desempenhos dariam chances em boas universidades, e mesmo que Kenny não quisesse ser um atleta, um currículo bonito era muito conveniente para quem quisesse mudar de vida e ganhar uma bolsa de estudos, como ele.

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Tweek estava praticamente entrando em combustão, havia combinado com Craig às 17hs, mas chegara com uma hora de antecedência, Ruby o vira mesmo antes que ele apertasse a campainha, teimosamente ela o colocou para dentro de casa puxando-o pela mão e agora Tweek estava aqui, sentado numa poltrona em destaque da sala dos Tucker, sob o olhar grave de dois pares de olhos verdes que o encaravam.

— O babacão ainda está se arrumando. — Ruby declarou sem emoção. — Não sei o que ele acha que pode fazer naquela cara de panaca, não tem como ficar bonito.

Ela jogou um olhar frio para Tweek, e o loiro apertou a caneca de café que Laura Tucker havia depositado em suas mãos assim que ele entrou.

— Desde que ele não use meu creme de cabelo. — A loira falou imperturbável enquanto tirava os olhos de Tweek e encarava a televisão, aparentemente estava passando algum show adolescente que ela assistia com a filha. — Vocês dois estão juntos novamente?

A Sra T. era tão bonita quanto parecia arrogante, o olhar dela era frio como o de Craig, mas havia uma amabilidade subjetivada no pequenino sorriso que ela tentava esconder sob sua máscara altiva, e Tweek já deveria estar acostumado a essa atitude tão Tucker, mas ele foi pego em tal grau de surpresa, que por um momento não teve certeza que a pergunta era dirigida a ele.

— Hã? — Ele coaxou antes de sorver o último gole de café e largar a caneca na mesinha de centro. — Nós... nós vamos ao j-jogo do Clyde.

As duas Tuckers trocaram um olhar em frente a Tweek, nenhuma delas tinha emoção alguma aparente, mas quando os olhos verdes cinzentos de Laura Tucker recaíram sobre Tweek outra vez, ele achou que poderia morrer de ansiedade.

— Se você quer algo, vai ter que fazer acontecer. — Ela deslizou um olhar indiferente para a escada, não havia sinal de Craig. — Ele é lento igualzinho ao pai dele, então...

Um silêncio se estendeu pela sala, Tweek tinha os olhos fixos nas duas, Ruby mexia nos cabelos ruivos desinteressada, Laura tomou um golinho de sua xícara de chá e as duas assistiam Tweek como se ele fosse um programa de televisão, levemente interessante, quase insólito, mas bom o bastante para cobrir o tédio.

Longos minutos se passaram até que uma porta fechou no andar de cima e o loiro sentiu seu corpo inteiro enrijecer, passos na escada espalhavam um frio na espinha de Tweek, ele apertou os olhos reunindo a tenacidade que precisaria a noite toda, se tudo saísse como ele queria.

— Vamos.

A voz anasalada de Craig ecoou na sala, nervoso e surpreso Tweek ergueu os olhos encontrando o olhar frio do moreno.

— AH!

Tweek deu um pulo do sofá, quando seus olhos encontraram os de Craig ele percebeu que o moreno estava vestido de forma absurdamente impressionante, uma jaqueta azul com uma curiosa e rica estampa de galáxias, o cabelo escuro não estava escondido, por motivos que Tweek desconhecia, Craig resolvera dispensar o chullo de estimação, e Tweek não conseguia encontrar forças dentro de si para reclamar sobre isso, estava perdido demais reparando nos fios escuros brilhantes.

Craig simplesmente saiu liderando a retirada, Tweek acenou rapidamente para as duas Tuckers que observavam indiferentes a saída deles, porém, antes de Tweek se afastar demais, a voz fria de Laura ecoou.

— Se passar a noite fora sem me avisar, fica sem bolas.

Craig nem se dignou a virar o rosto e encarar a mãe, ele apenas olhou para trás por cima do ombro, mal reconhecendo o olhar inalterável que ela lhe dava, ele unicamente apanhou seu casaco preto de nylon e o verde escuro de Tweek, e saiu pela porta.

Logo atrás de Craig, Tweek por sua vez estava distraído demais, talvez fosse a primeira vez na vida que ele via Craig usando uma calça jeans tão apertada no traseiro, o tecido preto estava fazendo um ótimo contraponto ao choque que era o azul da jaqueta de galáxias, os bolsos da calça não eram grandes e não tinham costuras chamativas tampouco, e à cada movimento sutil dos passos do moreno, a bunda e as coxas de Craig ficavam totalmente destacados.

— Ainda vamos à Cafeteria? — A voz de Craig ressoou fazendo com que Tweek desviasse os olhos do padrão de costuras na lateral das pernas do moreno. — Ou você teve o bastante lá em casa?

Craig entregou o casaco de Tweek e o loiro vestiu, percebendo com uma pontada de decepção que o moreno ajustava seu próprio casaco preto, cobrindo até o alto das coxas, escondendo tudo o que Tweek acabara de descobrir que adorava observar.

— Não, cara! Estou bem, vamos direto, acho que o Tolkien vai chegar cedo com o Jimmy também. — Tweek pontuou afundando as mãos nos bolsos, nervoso por não saber o que fazer com elas. — Clyde vai ficar feliz se estivermos todos lá.

— Clyde é uma criança mimada, não sei porque todo mundo fica querendo cuidar dele o tempo todo. — Craig fez um tipo de beicinho, quase imperceptível, parecia adorável.

— Acho que ele merece, uma vez que você o obrigou a cancelar o encontro com a namorada. — Tweek declarou caminhando ao lado do moreno, quando enfrentou Craig, os olhos azuis cinzentos estavam ilegíveis.

— Já aturei muito mais do que isso do Clyde, de qualquer maneira. — Craig encolheu os ombros.

Tweek riu, o nervosismo escoando aos poucos, Craig sempre tinha a capacidade de fazer com que ele se sentisse bem.

Eles caminharam em um silêncio confortável, era fácil e agradável caminhar com Craig, e em alguns momentos Tweek quase esquecia que ele guardava um grande segredo de Craig, e que precisava fazer algo a respeito em breve.

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Kyle praticamente jogou-se sentado na arquibancada, ele trouxe consigo Rebecca e David, e mesmo que tenham desfilado de mãos dadas através do público presente no jogo, o casal parecia bastante encabulado quando as pessoas entortavam as cabeças para observá-los.

O ruivo, por sua vez, estava agindo como um padrinho orgulhoso, e quando Butters ergueu a sobrancelha e sorriu notando Rebecca na ponta dos pés depositando um beijinho terno nos lábios de David, Kyle balançou as sobrancelhas para o pequeno Stotch.

— Perfeitos, não é? — O ruivo disse sem poder se conter. — Nem acredito que finalmente eles estão juntos.

Butters observou o casal que se acomodara na arquibancada abaixo de onde ele e Kyle estavam.

— Sempre que ela esperava na saída do jogo, eu sabia que você era só uma desculpa para ela ver o David. — O loiro riu, Kyle franziu o cenho.

— Então você acha que talvez eles me abandonem agora? — Kyle arregalou os olhos com a língua para fora em um ato caricato de medo.

— Você não precisa se preocupar, não é? — Butters tinha uma expressão sacana no rosto. — Você e o Stan vão estar muito ocupados pra sentir falta de qualquer pessoa.

— O quê? — Kyle jogou um olhar confuso para Butters. —Eu e o Stan...

— Ora, por favor... — Butters girou os olhos quando os dois times entraram em campo, gritos e palmas ocultaram o resto de sua frase.

Kyle tentou disfarçar o rubor que crescia em suas bochechas no momento em que colocou as duas mãos em forma de concha nas laterais do rosto e gritou com a torcida, quando o time se alinhou para cumprimentar a torcida, lá estava Stan com seu sorriso meigo e feliz, ele acenou para Kyle usando a mão nua, como sempre fizera durante anos, não era novidade a felicidade no rosto do moreno, assim como não era novo o frenesi que Kyle sentia quando, toda a bendita vez que Stan se apresentava, com o dedo indicador da mão livre de luva o moreno apontava direto para Kyle no meio da torcida, e em seguida erguia os dois polegares, o código infantil e secreto de que ele estava bem para o jogo, o ruivo se detinha em acenar com a cabeça.

Perdido em sua apreciação, Kyle foi literalmente arrancado de seus pensamentos quando uma voz feminina e angelical tocou os ouvidos dele.

— Ahhh, quando ele faz isso eu quase morro, você viu, parecia que foi diretamente para mim! — Uma garota falou ao lado dele, não era muito alta, mas seu rosto parecia de uma princesa, os cabelos loiros talvez fossem mais claros que os de Butters, ela definitivamente não era de South Park. — Todas gostam do Donovan, mas Marsh decididamente é o mais lindo!

— Sim, é o mais lindo decididamente! — A amiga ecoou, e continuou. — O Donovan é um cavalheiro com certeza, mas prefiro o McCormick... ele é selvagem... Donovan parece um ursinho de pelúcia, gostoso para dormir abraçado, já o McCormick...

Kyle notou por baixo de seu ombro Butters limpando a garganta, o ruivo o observou reprimir um sorriso, estava obviamente ouvindo a conversa das duas amigas, que era de fato um falatório alto, chegava perfeitamente aos ouvidos do loiro, Kyle deu um cotovelaço nele, e se abaixou levemente, ficando à altura do ouvido de Butters.

— Sabe, Butters, vi uma coisa super legal uma vez... — Quando Butters voltou os olhos azuis árticos para Kyle, o ruivo continuou. — Um cara empurrando outro contra a parede na garagem de um amigo deles...

O pequeno Stotch reconheceu os olhos verdes divertidos.

— Oh. Wow... — Butters estudou o sorriso de Kyle, ele conhecia o ruivo durante quase toda sua vida e sabia que Kyle não estava falando isso à toa. — E... o que você acha...?

Kyle encolheu os ombros e esticou a boca em um sorriso.

— Acho que eles merecem ser felizes. — O ruivo declarou. — Vamos combinar uma coisa?

Butters franziu o cenho, essa alegria despreocupada de Kyle no dia do primeiro jogo importante da temporada de Stan não era normal, e se o ruivo soubesse o que iria acontecer no final do segundo intervalo, também não estaria tão contente...

— Certo, Kyle... — Butters concordou. — Você sugere algo e eu sugiro algo?

O ruivo pigarreou, mas sorriu curioso.

— Okay. Se o Kenny marcar um touchdown*... você vai até o vestiário e convida ele para sair — Kyle viu quando as bochechas de Butters coloriram, e acrescentou — em um encontro formal.

Butters olhou para o campo, já haviam jogado a moeda e a equipe da casa começaria no ataque, Clyde já se organizava no centro com a bola, Jason e Brimmy ao lado dele.

— Certo, mas Ken sempre faz touchdowns... — Butters deu de ombros. — Mas... se ele fizer isso antes do intervalo do segundo tempo, você vai estar no meio do campo nesse intervalo e vai participar de uma surpresa para o Stan.

— Que surpresa? — Kyle questionou, já ouvira sobre isso, mas ninguém lhe dava detalhes.

— Você tem que estar lá, então eu vou convidar o Ken, formalmente.

Kyle colocou as mãos no bolso, mas acenou a cabeça, seus olhos voltaram para o campo, o juiz apitou e a bola passou por baixo de Clyde indo direto para as mãos de Stan, foi muito rápido quando o moreno simplesmente ergueu a mão no ar e Kenny passou por ele correndo, os defensores do outro time derrubaram Stan e Kenny instantaneamente, mas a bola já estava quase na end zone quando chegou às mãos de Tommy, e ele marcou o touchdown para as Vacas de South Park, uma jogada variante dessa foi usada nos primeiros quinze minutos de jogo, Tommy, Nate e Jason se concentraram nas escolhas de Stan, Jason foi o único que perdeu a chance de marcar, até ali, todos os pontos tinham sido convertidos.

Butters olhou para Kyle sorrindo.

— Parece que hoje o Stan armou um esquema que o Kenny não está participando.

Kyle ergueu uma sobrancelha, porque o outro time além de fazer apenas um touchdown estava quase colado no placar com dois field goal*, marcação que rendia 3 pontos cada.

O placar atual era de 14 x 12, tão perigoso quanto desesperador.

— Não acabou seu tempo ainda. — Kyle falou, porque sabia que Stan forçava uma jogada para depois invertê-la totalmente.

O segundo tempo chegava ao final e o time dos garotos de South Park se reorganizava na defesa, por causa da pressão, Clyde provavelmente na esperança de tirar alguém de campo, trombara com o Center do Springs, os dois se emaranharam de tal forma que o capacete de Clyde acabou soltando, Stan precisou cair por cima do colega para protegê-lo na série de encontrões que sucedeu à jogada do time adversário, Kyle viu quando Bebe chegou a parar a coreografia na lateral do campo para observar atentamente o desenrolar.

Por sorte Kenny acabou interceptando a jogada e eles tiveram a posse da bola outra vez, quando o Kenny foi até a lateral apanhar a bola, Bebe falou algo com ele enquanto Stan e Clyde conversavam com os capacetes colados, Stan estava abertamente tentando acalmar Clyde.

Kenny voltou para a formação que Stan reorganizou, antes o loiro passou e falou algo para Clyde, dando batidinhas em seu ombro amortecido pelos equipamentos de proteção.

Kenny se adiantou na formação, um dos defensores distraído o acompanhou, mas todos estavam atentos a Tommy, uma vez que o corpo de Stan estava voltado para ele e aquela seria a aposta mais segura de arremesso.

— É agora. — Kyle declarou e Butters ao lado dele aprofundou as sobrancelhas, totalmente concentrado em Kenny e não na bola.

Faltava três minutos para o final e assim que a bola passou por baixo de Clyde, Kenny correra se afastando de seu marcador, Stan apanhou a bola oval com dois passos para trás, Kenny deu um total “olé” em seu marcador quando retrocedeu com o peito aberto e voltado para Stan, o passe do quarterback foi tão intenso que parecia um míssil, e Kenny, tão rápido quanto imparável, era conhecido por ser o elemento surpresa, ele acelerou e velozmente estava dentro da end zone!

TOOOOUCH~DOOOOWN!!

As líderes coreografaram enquanto a torcida simplesmente explodia, mas o time em campo não se abalou, os 6 pontos que o touchdown representavam a mais eram bons, mas não deixava o jogo ganho, Stan juntou as cabeças, eles tentariam os 2 pontos extras, o Colorado Springs se posicionou de forma a cobrir todas as posições de ataque, ficaria complicado para eles se deixassem o time da casa aumentar o placar.

O time se organizou, Clyde passou a bola para Stan, o moreno olhou firmemente para Tommy e todo seu corpo estava no colega, mas foi então que toda a defesa caiu sobre ele e Stan fugiu com um pulo, ele esticou os braços enviando a bola direto pelo ar, na mão de Kenny que rodopiou entre defensores em um balé impressionante e caindo dentro da zona de marcação!

O placar mudou: 22 x 12 para South Park.

— Pelo que vejo Kenny vai ter um encontro hoje... — Kyle lançou um olhar arrogante para Butters.

Depois de um último lance, o apito sinalizou o início do intervalo, os dois times se espalharam em campo, cada grupo tomando o rumo do seu vestiário, Kyle trocou algumas palavras com Rebecca e David, então Butters o chamou.

— E acho bom você ir lá pra baixo, o intervalo já vai rolar. — Butters devolveu o olhar com confiança.

Kyle girou os olhos, mas resolveu ir até lá conferir, na descida pelas arquibancadas passou por Tolkien, Tweek e Craig, o ruivo ainda trocou um olhar com Tweek, lembrando que o amigo já havia lhe dito para vir a este jogo.

Por cima da cabeça de Tweek Craig observou Kyle passando pelo corredor lateral das arquibancadas, Tweek seguiu seu olhar.

— Ah, o Butters deve ter dito a ele.

Craig imediatamente o encarou.

— Dito o quê?

— Você é tão curioso, Craig. — Tweek declarou sorrindo. — Mas já vai descobrir.

Alguns minutos depois Kyle conseguira passar por toda a arquibancada e dar a volta direto para a entrada do campo, ele passou pelo esquadrão de líderes de torcida para ver na entrada do vestiário na lateral do campo alguns membros do Clube de Artes, Tweek obviamente estava longe de ser visto, Butters também não estava a frente da atividade misteriosa, no entanto, outro membro importante do Clube de Artes podia ser visto alto e sorridente entre os colegas.

— Jessy, Kelly, vocês podem, por favor, segurar esta ponta? — Gary moveu os cabelos ondulados com as pontas dos dedos, e automaticamente Kyle sentiu seu coração afundar quando viu para onde ele estava olhando. — Hey, Stan, você ficaria mais alguns minutos no campo?

O brilho no olhar de Gary era intenso, Stan por outro lado deu duas batidas no ombro de Clyde e falou algo a ele, o garoto de cabelos castanhos apenas acenou com a cabeça e liderou o time para aquecimentos na linha de fundo, Kenny ficou para trás ao lado de Stan.

— Cara, preciso repassar algumas coisas com o time. — O moreno se desculpou, Kyle observou a conversa ainda em movimento.

— Não vai demorar.

Gary sorriu mais amplamente, se é que isso era realmente possível, ele sinalizou para os colegas que estavam com ele e então caminhou até o centro do campo, Stan encolheu os ombros ao trocar um olhar com Kenny que curioso, acabou seguindo o amigo, Kyle os alcançou um pouco antes de chegarem a lateral do campo, Gary já tinha um microfone nas mãos.

— Hey, caras, ótimo jogo! — Kyle falou entrando entre Kenny e Stan, o moreno se surpreendeu ao vê-lo ali e puxou o ruivo em um meio abraço. — Aquela finta que você fingiu mandar para o Tommy, e em seguida escolher o Kenny foi impressionante, Stan!

— Oi, fui eu quem marcou o touchdown, Kyle! — Kenny falou ofendido, Kyle sorriu para ele.

— Claro que foi... e eu estava contando com isso!

O sorriso de Kyle era sugestivo, Kenny abriu a boca para falar sobre isso, mas a voz dele morreu quando uma voz suave ecoou através do sistema de alto-falantes.

— Boa tarde, South Park!! — A voz aveludada de Gary atingiu cada um como se fosse um banho quente. — Como todos sabem, nosso Capitão, o Quarterback Stanley Marsh está comemorando seu 17º aniversário, e dado este motivo, eu Gary Harrinson, representando o Clube de Artes, assim como cada um de vocês, com muita honra, quero presentear o nosso Capitão com uma amostra do nosso amor e orgulho, por tudo o que este pequeno guerreiro representa para South Park, a sua doçura e sua garra, seus ideias e suas crenças. Este garoto que cresceu aqui em South Park e que serve de exemplo de convicções e liderança, para cada um de nós, Stan, que para os amigos, não é o quarterback talentoso, mas sim o elo que une a todos!

Uma salva de palmas explodiu na plateia que já estava animada por conta do jogo, então Gary ergueu um braço, calando a todos como um mestre de cerimônia, o silêncio se seguiu, em seguida Gary se virou para onde estavam Stan, Kyle e Kenny, e apontou o indicador para o moreno.

— Stanley, se aproxime. — Duas garotas, e um menino do Clube de Artes esticaram um papel pardo com letras coloridas, ricamente decorado com papel laminado, o fundo nas cores da escola. — Quero entregar este cartaz, como prova da gratidão da escola, por todos os serviços prestados, direta ou indiretamente, por este garoto incrível, o qual a estrela apenas brilhará ainda mais intensamente, a cada dia que passa.

No cartaz era possível ler em vermelho e azul:

CONTINUE EXTRAORDINÁRIO

Stan ficou confuso e embaraçado, ele trocou um olhar com Kyle e Kenny, os dois amigos anuíram com a cabeça ao som de palmas frenéticas, o ruivo tomou das mãos dele o capacete, o moreno deu as costas para os amigos e foi ao encontro de Gary.

— Cara, não precisava fazer isso... — Ele declarou levemente corado, mas o sorriso de Gary só aumentou.

O loiro o abraçou ternamente, e de forma quase imperceptível cochichou no seu ouvido:

— Uma pessoa especial precisa ser reconhecida... Parabéns, Stanley! — Sem interrupção ele virou-se de frente ao público. — Quem gostaria de ouvir algumas palavras do nosso homenageado?

A torcida ovacionou como se fosse um novo touchdown, com o rosto quente, Stan pegou o microfone, ele lançou um sorriso caloroso para Gary.

— Tem razão, alguém especial precisa ser reconhecido. — O quarterback enfrentou a torcida, sua voz clara, mas cobriu-se de emoção quando ele falou: — Obrigado a todos, mas eu não seria nada... sem meu Super Melhor Amigo... e Namorado, Kyle Broflovski!

A torcida arrefeceu por um momento, mas foi quase imperceptível, Tweek tinha um sorriso gigante no rosto ele virou para trás à procura de Butters alguns níveis acima, e os dois trocaram um olhar descontraído, a voz de Stan não falhou uma batida e continuou.

— Kyle é a luz que guia o meu caminho, sem ele eu estaria perdido na escuridão. — Ele esticou a mão esperando que Kyle viesse até ele e a apanhasse, a torcida ofegou em expectativa quando Kyle ficou parado sem ação por cinco segundos, então empurrado por Kenny, o ruivo andou até o centro do campo, e foi recebido por um abraço de Stan seguido de um carinhoso roçar de lábios, e em seguida sussurrou. — Obrigado por tudo, Kyle, obrigado por estar aqui para mim, obrigado por me amar.

A torcida aplaudia, embora obviamente havia pessoas desconcertadas, o time de Stan surgiu na lateral, Clyde encarava a cena com um sorriso pateta no rosto, os dois no centro do campo não se importaram, Kyle sentia seu corpo em combustão, ele sorriu nervosamente.

— Cara... por que você sempre faz essas coisas?

Ao invés de responder, Stan se limitou a erguer o braço de Kyle, como se fosse um campeão, os olhos azuis presos em Gary, ele afastou o microfone.

— Obrigado, Gary por me lembrar, e me desculpe qualquer dano feito no caminho... — Em seguida voltou-se para a torcida. — VAMOS CONSOLIDAR NOSSA VITÓRIA! QUEM ESTÁ COMIGO?!

Stan gritou ao microfone inflamando a torcida, as líderes fizeram uma coreografia, a Capitã Bebe cruzou olhar com Clyde piscando para ele, o garoto mandou um beijinho no ar.

Na arquibancada, um bufo silencioso seguiu a ovação.

— Você sabia disso? — Craig perguntou para Tweek.

O loiro de cabelos espetados riu levemente.

— Sobre a homenagem para o Stan, sim, mas sobre a declaração dele para o Kyle... Não, Stan pegou a todos desprevenidos! — Tweek falou olhando fixamente para o campo, Clyde organizava a linha defensiva.

— Bem, não dá pra negar que isso vai incentivar a torcida a vir mais aos jogos, as bilheterias dos dois times vão estourar. — Craig pontuou calculista.

— Tem razão, Craig. — Tweek ergueu uma sobrancelha frente a mente objetiva de Craig. — Você por acaso não falou com o Gary, não é?

— Não? — Craig respondeu com uma sobrancelha erguida.

— Certo, porque foi exatamente o que ele falou para convencer a direção e o Clube de Artes, ele defendeu que exaltar um dos atletas da escola, inflamaria a torcida, e isso iria refletir no público pagante.

Craig trocou um olhar com Tolkien e Jimmy, depois voltou para Tweek.

— Garanto que não era a intenção verdadeira do Harrison, mas agora eu sugeriria que as meninas do vôlei incentivassem romances homossexuais dentro da equipe, com a nossa cidadezinha metida a progressista, não me surpreenderia se todos ficassem encantados em apoiar, o que definitivamente resolveria a falta de público nos jogos.

Tolkien e Jimmy, assim como Tweek miraram Craig, ninguém exatamente surpreso com a perspicácia e frieza dele, Tweek encarou os pés sussurrando.

— Talvez haja alguma surpresa real para você hoje.

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Os dois tempos restantes do jogo rolaram calmamente, a plateia assistiu atenta Clyde e Stan tramando a última jogada, faltava pouco mais de cinco minutos para o término quando eles interceptaram uma jogada de ataque do Springs.

O último lance aconteceu quando as Vacas de South Park se reuniram na marca das 10 jardas, e sob o comando de Stan, novamente um míssil caiu direto nas mãos de Kenny, dentro da end zone, pontuando adequadamente.

O placar final mostrou:

35 x 21

Tweek, Craig, Tolkien e Jimmy se juntaram aos outros colegas que esperaram o time sair do vestiário para que pudessem parabenizar seus amigos, Craig trouxe café para Tweek enquanto Tolkien ria com as piadas de Jimmy, o deficiente fazia pequenas amostras do que estava em seu último repertório, Kyle ficou com eles um pouco, mas quando o time começou a sair Stan foi o primeiro a apanhá-lo pela mão, e eles sumiram tão rápido que ninguém os viu.

Butters foi até o vestiário, Clyde passou por ele na saída e o pequeno Stotch o cumprimentou, mas seu foco estava ainda terminando de se arrumar, Kenny se encontrava sentado em um banco, ajustando os cadarços de um coturno velho, Butters ainda o viu revirar na mochila em busca de algo.

— Hey, Ken...

Ele chamou e na mesma hora Kenny pulou do banco, ficando de pé na frente de Butters, os cabelos loiros de Kenny estavam úmidos de um banho recente.

— Leo... fui o último no banho hoje... os caras estão esperando? — Kenny perguntou fechando o zíper da mochila.

Butters deu uma olhada vasculhando o vestiário vazio.

— Ah, não... na verdade, eu vim aqui para, você sabe...

Butters então o abraçou, seus lábios rapidamente colaram-se nos de Kenny quando o pequeno Stotch o empurrou contra um armário, um som abafado deixou os lábios de Kenny, mas ele enredou os braços na cintura de Butters e retribuiu o beijo com igual entusiasmo, seu corpo ainda estava quente e sensível da partida, toda a adrenalina escoou direto para sua virilha.

— Ken... saia comigo... — Butters sussurrou rente aos lábios de Kenny. — ... em um encontro... se você quiser...

Kenny cobriu a boca macia de Butters com a sua, calando-o, depois de sentir Butters se derretendo contra ele, se afastou um pouco, apanhando a mão delicada na sua.

— Não.

Os olhos de Butters desviaram, e ele mordeu os lábios nervoso, assim Kenny apanhou seu queixo com os dedos e uniu as duas testas.

— Não quero... — A voz de Kenny era pouco mais que um murmúrio e dava para ouvir o coração dos dois batendo em seus peitos. — Não posso fazer desse jeito...

— E como você...

Kenny sorriu preguiçosamente.

— Eu quero do jeito certo. — Ele declarou, ainda cuidadoso. — Como namorados oficiais.

Butters teria dado um passo para trás para poder ver os olhos de Kenny com total clareza e ter certeza de que era real, mas ele ergueu o rosto e o sorriso desleixado se apresentou um segundo depois, foi tudo o que Butters precisou para acreditar.

— Então, estou convidando meu namorado oficial para um passeio no domingo... pode escolher o lugar, mas eu busco você em casa.

O sorriso de Kenny brilhou.

— Okay, não esqueça, minhas flores favoritas são margaridas. — Ele brincou, puxando Butters pela mão para fora do vestiário. — Mas por agora, vamos comer algo, fiz três touchdowns hoje, estou faminto!

— Você pode ter feito os touchdowns, Ken... mas fui eu quem ganhou o jogo.

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Mal os garotos conseguiram parabenizar Clyde e Bebe deu um jeito de arrastá-lo para longe da Gang, nem mesmo Tweek conseguiu convencê-la de se juntarem todos para um lanche, e ela não cedeu mesmo quando foi afrontada pelos olhos castanhos de filhote que Clyde ostentava toda vez que precisava chantagear alguém emocionalmente, Tolkien mesmo nunca resistia e já estava junto implorando, mas Nichole veio com Bebe e tratou de ocupar Tolkien.

No final, Bebe saiu levando Clyde, prometendo que ela mesma cozinharia alguma coisa bem legal e nutritiva para que o namorado pudesse repor as energias, mesmo que ela tenha piscado para Nichole assim que deram as costas.

— Vocês querem uma carona? — Tolkien ofereceu, mas antes que qualquer um abrisse a boca, Jimmy já estava tagarelando.

— N-n-n-não... obrigado, c-c-cara, mas eu já t-t-t-tinha combinado com os caras aqui na c-c-c-cafeteria do Tweek.

Tweek e Craig rapidamente olharam para Jimmy, Tolkien ergueu as sobrancelhas, mas Nichole então acenou para todos.

— Muito bem, garotos, não vão muito tarde para casa, hein? — A garota abriu a porta do passageiro acenando, Jimmy piscou para ela, Nichole encarou os pés, tímida. — Vejo vocês na escola.

Tolkien acenou para os amigos e deu a volta entrando no carro, quando se afastou, Jimmy encarou Tweek e Craig, um carro encostou do outro lado da rua.

— C-c-c-certo, caras. Minha carona já chegou. — Ele apontou com o queixo. — Se c-c-c-cuidem!

Tweek e Craig ficaram lá, no meio da calçada observando seus amigos todos desaparecerem, ventava um pouco e Craig se encolheu apertando o casaco contra o corpo quando eles começaram a caminhar pela rua.

— Enfim, sós. — Tweek gracejou, ele voltou os olhos para Craig e notou que as orelhas do moreno estavam levemente avermelhadas. — Você deveria ligar para sua mãe.

Craig enfiou as duas mãos nos bolsos da frente do casaco de nylon.

— Ela não vai sentir minha falta até a meia noite. — Craig pontuou.

Tweek voltou os olhos verde-avelãs para o moreno.

— Ela disse você perderia partes importantes do corpo se não avisasse que passaria a noite fora.

— Eu vou passar a noite fora?

— Meus pais vão estar em Denver esta noite. — Tweek falou simplesmente. — Alguém precisa ficar comigo em casa, sabe, a Máfia Russa e tudo mais.

O loiro encolheu os ombros, e apesar do nervosismo estava sorrindo ao ver o rosto corado do moreno que o encarava como se nunca o tivesse visto.

— Oh.

Foi tudo o que o cérebro de Craig conseguiu reunir, ele seguiu Tweek como se pisasse em nuvens, totalmente atordoado.