Era curioso perceber como nada acontecia conforme o planejado.
Veja Akaashi, por exemplo: Em um momento, negava para todos o seu suposto interesse pelo filho do chefe, alegando que não passava de um coleguismo profissional. Agora, encontrava-se de joelhos entre as pernas deste mesmo homem, com o pau de Koutarou deslizando fácil para dentro da boca, raspando por toda a extensão do palato e tocando-lhe a garganta.
Lágrimas acumulavam-se no cantinho dos olhos toda vez que Bokuto, perdido no próprio prazer, agarrava-lhe os fios negros para empurrar a cabeça de Keiji contra o próprio corpo – tendo como resposta as unhas curtas cravadas nas coxas torneadas. Graças aos abajures acesos, Akaashi podia deliciar-se com a visão de Bokuto Koutarou completamente despido; os fios brancos despontando para todos os lados, os olhos de âmbar fixos em si, completamente hipnotizados. Teve o prazer de descobrir que a pele de Bokuto ficava avermelhada em regiões específicas – como ombros e maçãs – quando estava excitado. Foi inevitável sorrir, soltando a intimidade alheia em um som que pareceu mais alto do que deveria ser, provocando um gemido rouco em Koutarou.
—Você é tão lindo, Bokuto-san… – a voz de Keiji saía meio falha tanto pela própria excitação quanto pelo roçar insistente da cabeça do pênis de Bokuto no céu da boca. Continuava a sorrir ao agarrar a base da intimidade alheia com uma das mãos, deixando um beijo que poderia ter beirado a inocência. —Mal dá vontade de sair daqui…
Bokuto jogou-se contra o colchão; ambas as mãos segurando o próprio cabelo. Parecia ter dificuldades em manter a calma e isso deixava nosso protagonista agitado, mordendo o lábio inferior para tentar conter um sorriso sapeca ao esgueirar-se colchão acima; o corpo esguio de Keiji ficando sobre o definido de Bokuto. O riso saiu num sopro, a boca pequena roçando na alheia e adorando a forma como Koutarou abriu os olhos somente para mantê-los semicerrados, fixos em si até o momento em que Akaashi o beijou; o corpo inteiro parecendo arder com a língua quente deslizando na própria em um contato sem cuidado algum. Porém, diferente do beijo, as mãos de Koutarou eram gentis. Apertavam e puxavam Akaashi com todo o desejo que sentia, sim. Mas sempre acariciavam seu corpo como se tivesse medo de machucar – a pressão dos dedos fazendo Keiji ansiar por mais ao roçar no corpo grande de Bokuto como se a vida dependesse daquilo; as mãos segurando os ombros largos com as unhas muito bem cravadas ali enquanto sugava o lábio inferior do mais velho, piscando lento ao afastar-se apenas o suficiente para observar os olhos dourados abrirem-se; prazer queimando na íris. Lindo.
—Sinto que poderia morrer só de te olhar, Keiji… Céus, você é tão lindo...– a voz de Bokuto saiu baixa, quase em devaneio; as mãos grandes nas coxas de Akaashi, que sorria no momento que Koutarou inverteu as posições como se nosso protagonista não pesasse nada. Olhava o rosto bonito e sorridente do homem acima de si, que deixava uma carícia em sua bochecha com a destra antes de segurar seu rosto de modo firme apenas para roçar os lábios enquanto segredava-lhe. —E estou louco para te ver sem essas suas roupas bonitas...
—E o que está esperando, Koutarou?? Um pedido para que, por favor, faça o que quiser comigo?
Não sabia se era impressão, mas Bokuto parecia sempre meio excitado demais ao escutar o próprio nome sem toda a formalidade que costumava ser usada. Keiji queria tirar isso à prova, mas precisaria achar a oportunidade certa porque, naquele momento, só conseguiu soltar a respiração de modo pesado antes de ter os lábios beijados com desejo; os fios de sua cabeça sendo puxados entre os dedos alheios. As unhas curtas de Keiji raspavam sem força nos ombros do parceiro; a cabeça parecendo pesar na própria excitação ao condenar a escolha de roupas no momento que Koutarou se afastou para concentrar-se em abrir os botões de sua camisa numa velocidade que fazia Keiji remexer na cama – o corpo parecendo pegar fogo toda vez que os dedos alheios acarinhavam a pele conforme era exposta.
Os olhos de Bokuto pareciam vidrados em si, quase sem piscar ao desafivelar o cinto de Akaashi, que sorria ao ver a língua do parceiro passando pelo próprio lábio inferior. Keiji apoiou ambos os pés no colchão para impulsionar o quadril para cima – facilitando o trabalho de Koutarou que, de modo afobado, retirou calça e peça íntima de uma só vez, fazendo a intimidade de Keiji bater na própria barriga com um som gostoso e característico. Bokuto parou sentado sobre as próprias pernas, olhando-o de modo longo antes de soltar a respiração de uma só vez ao puxar Keiji para o colo.
—Puta que pariu. – olhos turquesas encararam o homem com surpresa. Era a primeira vez que ouvia Bokuto Koutarou xingar e saber que aquilo era resultante do tesão que sentia por si era, sim, uma bela massagem no ego. Sorriu pequeno ao roçar o nariz no alheio. —Deveria ser crime ser tão bonito assim.
Keiji empurrou Koutarou na cama, voltando a beijá-lo com todo o desejo que percorria em suas veias. Ok. Talvez estivesse meio viciado em beijar aquela boca. Ou talvez só quisesse que ele ficasse quieto e começasse logo aquilo que queria fazer desde que entraram no apartamento. Segurou o rosto bonito com ambas as mãos, o próprio pau sofrendo um solavanco quando Bokuto gemeu dentro de sua boca; as línguas deslizando uma na outra de modo lento. As mãos grandes de Koutarou foram às coxas de Keiji, circulando-as sem de fato apertar. Só ficaram ali, como se não soubesse o que fazer com elas e isso deixava Keiji ansioso por qualquer atitude. Porra, só queria que Bokuto continuasse com a determinação de quando o prensou contra o carro momentos antes. Sequer percebeu que, em meio à própria agitação, começou a roçar no corpo grande do mais velho – a própria intimidade deslizando de modo gostoso entre os corpos.
Aquela leve fricção pareceu ser o limite de Koutarou. Não houve tempo para Keiji pensar. Bokuto havia colocado-o de lado no momento que inverteu as posições novamente, apertando o corpo esguio ao direcionar o rosto para aquela região tão sensível e excitada de Keiji; que sentia o sangue bombeando forte nas veias enquanto um gemido saía involuntário quando um sorriso malicioso pintou nos lábios compridos de Koutarou, provocando uma aura sensual que nunca se fizera presente antes e, nossa, combinava com ele – que parecia disposto a enlouquecê-lo ao não deixá-lo pensar ou agir. Simplesmente enfiou-se entre as pernas de nosso protagonista, a língua deslizando dos testículos para a entrada sensível, fazendo Keiji soltar o primeiro gemido realmente alto da noite. Porra. Akaashi sentia o rosto quente demais ao dar-se conta do que acontecia; as mãos de Koutarou separando-lhe as nádegas para ter mais espaço fez Keiji largar o corpo de bruços, com o rosto bonito afundado no travesseiro; o quadril indo contra a boca que o estimulava.
Não conseguia entender como Bokuto podia ser tão bom com a boca; a língua deslizando e pressionando. Os lábios e dentes marcando de modo distinto suas nádegas; mordidas e chupões podiam ser sentidos na pele – certamente gravando-lhe a tez clara em tons distintos de vermelho e roxo. Keiji só sabia gemer, completamente rendido; a cabeça parecia dar giros enquanto um arrepio forte subia-lhe o corpo quando Bokuto afastou-se. O encarou com o rosto ainda meio afundado no travesseiro; precisando piscar algumas vezes até conseguir focar a visão naquele homem infernal. Bokuto estava entre suas pernas, com o corpo meio curvado enquanto cospia nos próprios dedos. Como se o rabo de Akaashi não tivesse saliva o suficiente. Ainda sim, o coração batia tão forte quanto a respiração que escapava pela boca ao senti-lo forçando os dedos para dentro de si. Koutarou o tocava sem pressa, fazendo Keiji se remexer e pedir por mais através de grunhidos sempre que sentia o homem girar o pulso para alcançar pontos diferentes em seu interior. Sentia lágrimas acumulando-se no canto dos olhos, sem acreditar que o doce Bokuto Koutarou – aquele que lhe oferecia sorrisos largos e de olhar infantil – estava a ponto de fazê-lo chorar de tesão apenas lhe fodendo com os dedos. Surreal. Akaashi quase não conseguiu pedir, meio aos berros, para que lhe fodesse com o próprio pau. Quase.
Aproveitou que o homem se afastou para rolar na cama, ficando de barriga para cima, apenas para adorar a visão do mais velho colocando a camisinha. Quis dizer a Koutarou que ele tinha um pau bonito, mas acabou engolindo o comentário ao perceber que ele parecia meio tímido. O encarou, desacreditado. Sério mesmo? Bokuto Koutarou estava lambendo seu rabo a momentos atrás para ficar com vergonha?! Sequer fazia sentido! Principalmente com aqueles olhos que pareciam querer lhe engolir. Keiji sorriu de lado, malícia escorrendo daquele repuxar de lábios. Abriu as pernas; olhos fixos em Bokuto enquanto o próprio pau sofria um solavanco, desejando que Koutarou não hesitasse àquela altura do campeonato porque, sinceramente, tudo o que Akaashi não precisava era lidar com gente confusa.
Felizmente, não foi o caso.
Koutarou voltou para a cama, o rosto tão vermelho quanto era possível enquanto separava ainda mais as pernas de Keiji, encaixando-se contra a entrada sensível. Foi inevitável para Akaashi curvar o corpo quando Bokuto empurrou-se para dentro dele; cravando os pés no colchão enquanto gemia alto; a característica dor da penetração fazendo-se presente. Sorriu ao ouvir Bokuto gemer baixo e contido porque, porra, ele ficava incrível com a expressão cheia de tesão, investindo contra seu corpo em movimentos lentos e fortes, dando um tranco no corpo de Keiji sempre que chegava ao máximo da estocada. Precisou cravar as unhas nos braços fortes para não deslizar pelo colchão, a boca aberta deixando escapar todo e qualquer som.
As coisas se intensificaram rapidamente; Keiji mantinha as pálpebras semicerradas, os olhos revirando-se sempre que era puxado pelas pernas para que Koutarou pudesse ir mais fundo enquanto murmurava qualquer coisa contra sua bochecha, ofegante. Em algum momento, Akaashi ousou abrir os olhos, sentindo o próprio pau dar um solavanco, molhado e completamente fora de controle com o brilho feroz nos olhos âmbares – tendo o prazer em perceber que Bokuto parecia tão ensandecido quanto ele mesmo estava naquele momento. De pernas enlaçadas nas costas largas, com as mãos alheias lhe acariciando e o pau bonito indo fundo, foi de se esperar o gemido alto saindo pela boquinha pequena quando Koutarou lhe puxou para sentar-se em seu colo; o próprio pênis em uma fricção gostosa entre os corpos. Bokuto investia com mais força; a respiração rápida e entrecortada deixava nítido que ele estava quase lá.
Quando Bokuto gozou, Keiji fez questão de olhar para seu rosto – achando aquela uma das cenas mais bonitas que já havia visto durante o sexo. Olhos apertados, boca aberta e cenho franzido; os braços fortes enlaçando sua cintura enquanto investia com estocadas curtas. Koutarou manteve-se abraçado a si quando direcionou a destra à intimidade de Keiji, masturbando-o com uma intensidade que o pegou desprevenido; o gemido alto parecendo ecoar pelo cômodo. Akaashi movia-se contra a mão alheia como se a vida dependesse disso, completamente agarrado ao corpo grande de Bokuto – a barriga contraindo a cada besteira sussurrada contra a bochecha. Aquilo era demais para si. Com a quantidade de estímulos que recebeu desde que pisara dentro daquele quarto, acabou por gozar forte o suficiente para sujar tanto a si quanto Bokuto, adorando ver aquele o peito largo respingado de porra.
O estado de letargia veio rápido. Se não fosse Koutarou lhe segurando, teria caído no colchão como se não tivesse ossos. Ao invés disso, foi deitado na cama com todo o cuidado, recebendo beijos e carinho nos fios negros antes de ter o corpo limpo. Sequer se mexeu durante o processo, mantendo-se de olhos fechados e meio sorridente ao ser envolvido pelos braços fortes. Bokuto falava algo enquanto roçava o nariz em seu cabelo. Infelizmente, Akaashi nunca fez o tipo falante após o sexo – principalmente se estivesse com os sentidos alterados devido à embriaguez. Seu discernimento já parecia ter lhe abandonado e as pálpebras finalmente pesavam o bastante para não ter a intenção de abri-las novamente. Restou a Keiji, então, aconchegar-se no corpo de Koutarou, sorrindo pequeno ao sentir-se tão acolhido e confortável com o calor que emitia dele; tão doce quanto o riso que escutou antes de adormecer completamente.
༻♡⋅⋅⋅
Estava sozinho na cama ao acordar.
O corpo doía em tantas partes diferentes que, se estivesse bem, poderia facilmente listar por intensidade. Ficou deitado na cama por algum tempo. Olhou para o lado. Havia um copo de vidro, um jarro com água e uma cartela de comprimidos sobre a mesa de cabeceira. Nada de Koutarou. Sentou-se, tendo a impressão que iria quebrar ao meio com a dor na lombar enquanto observava o cômodo. O quarto de Bokuto era mais organizado do que esperava – e completamente diferente do seu. O quarto de Keiji tinha muitas prateleiras e uma escrivaninha praticamente do tamanho da própria cama; completamente abarrotado de papel empilhado. Já o quarto de Bokuto tinha uma grande cama centralizada e não havia escrivaninha alguma no cômodo. Mas tinha uma otomana em frente à grande janela e não pôde deixar de notar a muda de roupas dobradas em cima desta. Foi então que levantou-se, procurando pelas próprias roupas após tomar praticamente metade da água do jarro junto ao comprimido, não vendo nada no chão do quarto. Decidiu, então, usar as roupas que estavam dispostas na otomana porque, bem… seria melhor do que sair abrindo as gavetas de Koutarou.
Já devidamente vestido com trajes que claramente não eram do seu tamanho, decidiu sair do quarto em busca do dono do apartamento – um choramingo saindo de seus lábios ao espremer os olhos devido a claridade que o deixava meio enjoado. Caminhou para onde julgava ser a sala; o som característico do comercial do canal de desenhos podia ser ouvido em volume baixo enquanto sentia o coração bater forte a ponto de fazer pressão em seus ouvidos. A verdade é que estava receoso e os motivos eram tantos que pareciam embaralhar em sua cabeça. Sequer sabia se Koutarou morava sozinho e a última coisa que queria é que alguém além deles soubesse o porquê de estar ali.
Ficou meio chocado com todo o espaço daquele cômodo conjugado com a cozinha, sendo inevitável o repuxar de lábios assim que notou Bokuto em frente a um dos balcões picando algumas frutas e, ufa, estavam a sós. Koutarou estava concentrado o suficiente para dar a impressão de ser a tarefa mais importante do mundo e quente como o inferno naquele avental que cobria o torso nu. Mordiscou o cantinho da boca. Meu Deus. Deveria ser crime ser tão bonito após a noite bagunçada que tiveram.
—Bom dia, Bokuto-san. – os olhos arregalados em sua direção foram o suficiente para esquentar o rosto de Keiji, fazendo-o ficar sem graça. Koutarou largou a faca. —Acho que é bom dia, ao menos… – o coração continuava acelerado e a situação piorava ao ver o homem aproximar-se de si com um sorriso mínimo nos lábios. —E-eu peguei essas roupas emprestadas porque não achei as minha-
—Bom dia, Akaashi! – o acanhamento da parte de Keiji foi inevitável ao ter um dos braços fortes enlaçando sua cintura enquanto a outra mão acariciava-lhe os fios de cabelo. Koutarou sorriu daquele jeito que o fazia brilhar. Nossa. —Você acordou cedo! Ia te chamar depois que terminasse de preparar o café da manhã. – ele cheirava a sabonete e pasta de dentes e foi então, com o rosto bonito e sorridente se aproximando do seu, que Keiji lembrou-se que não havia ido ao banheiro. Desviou o rosto, levando uma das mãos até a boca alheia.
—Eu… Não escovei os dentes nem nada do tipo...
—Oh. – sentia o sorriso de Bokuto aumentar na ponta dos dedos, a mão alheia segurando a sua antes de depositar um beijo na palma. —É a última porta do corredor. Tem toalhas limpas no armário e pode usar a banheira, se quiser. Vou terminar o café da manhã.
Keiji caminhou até o banheiro a passos lentos; os pés arrastando no piso frio. Sequer conseguiu espantar-se ao ver que aquele cômodo também era bastante espaçoso. Com o intuito de não abusar da receptividade, optou por usar a ducha, deixando a água quente cair sobre as costas enquanto mantinha-se por bons minutos com a cabeça no azulejo frio, pensando em como resgatar a falta de vergonha na cara da noite anterior para lidar com aquela situação porque, diferente do que esperava ou estava acostumado, Bokuto parecia extremamente feliz e confortável por tê-lo ali no dia seguinte, sorrindo pra si de um jeito que nunca haviam feito antes. Céus. Terminou de se lavar e vestir-se pensando nisso, agarrando-se na personalidade brilhante de Bokuto para que o clima não ficasse esquisito; voltando para a sala após higienizar os dentes do jeito que dava.
A mesa estava posta de modo nada elaborado mas, em contrapartida, havia uma boa variedade de coisas para comer – fazendo Keiji perguntar-se se era seu destino relacionar-se com gostosos que sabiam cozinhar. Sentou-se de frente para Bokuto assim que este o chamou para comer, começando a observar tudo o que havia sobre a mesa. Torradas com ovos, três tipos de frutas cortadas, chá e suco. Sopa de misô. Akaashi serviu chá para ambos.
—Sei que gosta de café, mas achei que seria bom dar um tempo pro seu corpo se recuperar da noite anterior. Aliás, você está bem, Akaashi?
—Para ser sincero, estou meio surpreso em descobrir que você sabe cozinhar, Koutarou-san.
—Quando se tem duas irmãs mais velhas, meio que você acaba aprendendo uma coisa ou outra. – assentiu enquanto mordia uma das torradas, adorando o barulhinho crocante ao mastigar. Encarou Bokuto de olhos arregalados, surpreso em perceber que aquilo estava realmente gostoso. Koutarou sorriu. —Você precisa experimentar as panquecas da nee-chan. Ou o peixe grelhado da nee-sama. Serão suas comidas favoritas no mundo.
—Elas vão ter que se esforçar muito para tomar o lugar dessa torrada. Caramba, Kou, eu poderia comer isso o resto da vida pela manhã.
Aquilo fez Bokuto dar um largo sorriso, nitidamente feliz. Porém, ao invés de iniciar qualquer tipo de falatório, o homem à frente parecia acanhado; as maçãs do rosto adquiriam uma coloração meio avermelhada enquanto servia-se com frutas em silêncio. Keiji sorriu pequeno, agradecendo com um aceno de cabeça quando a tigela foi entregue para si. Comiam em silêncio; Koutarou distraindo-se com o cartoon que estava sendo exibido no momento. Akaashi aproveitava o atípico silêncio para pensar em tudo o que havia acontecido nas últimas horas de sua vida. De fato, Koutarou não lembrava em nada o homem com quem havia transado; meigo ao tentar disfarçar quando era flagrado encarando-o. Céus, Keiji sequer conseguia desviar o olhar daquele sorriso fofo que parecia colado nos lábios compridos. Queria beijá-lo e, pensando nisso, arrastou a cadeira para trás – o barulho parecendo alto o suficiente para atrair a atenção de Bokuto, que fixou os olhos em si conforme aproximava-se. Keiji sentia o sorriso insistente em sua boca até mesmo no momento que direcionou ambas as mãos para o rosto bonito de Koutarou; os polegares fazendo uma carícia nada discreta nas maçãs altas antes de curvar-se para poder roçar a própria boca na de Bokuto.
Não sabia se era devido à sobriedade ou ao momento, mas aquele beijo era diferente. Era lento e suave. Sem qualquer tipo de agitação ou necessidade de maior intensidade. Pelos céus, Keiji sentia que poderia passar a tarde inteira beijando-o – ficando mais certo disso ao ser puxado para sentar-se no colo do mais velho com um cuidado que não estava acostumado e, se fosse sincero consigo mesmo, perceberia que nunca havia se relacionado com alguém que o tratasse com tamanha preocupação. Afinal, Keiji nunca esteve em um relacionamento sério. Não por falta de oportunidade, mas sim por falta de interesse de sua parte. Seus pais haviam se separado em algum momento de sua infância e aquilo havia o marcado o suficiente para crescer acreditando que aquele tipo de carinho e atenção só serviriam para machucar quando as coisas não dessem certo; que todo o amor dedicado a alguém poderia tornar-se o mais cruel sentimento apenas porque um dos lados – ou ambos – não queriam mais aquilo. Havia visto o amor tornar-se mágoa e raiva quando sua mãe descobriu a traição. Viu a intensidade transformar Kiyoomi em algo que jamais imaginara; vendo-o entrar em colapso ao discutir com Atsumu, praticamente gritando que o amava e o quanto precisava dele. Já a dedicação de Osamu só serviu para despedaçá-lo quando Rintarou desejou mais que uma vida numa cidade que era pequena demais para ele; com alguém que era simples demais para sua vontade de conquistar o mundo.
Ainda sim, ali estava ele, largando um café da manhã pela metade em cima da mesa apenas para afundar-se no sofá com a pessoa mais sincera em relação aos próprios sentimentos que havia conhecido. Trocavam beijos e carícias, sorrindo ao roçar o nariz em pele exposta; dedos passando entre fios de cabelo. Koutarou pediu para que passasse o dia com ele e Keiji, envolvido demais em receber aquilo que nunca teve, só soube assentir, chupando o lábio inferior de Bokuto com tanto cuidado que parecia até uma carícia. O mais velho fez um barulho semelhante a um ronronar; desligando o que parecia ser o último fio de bom senso de Akaashi, que agora sentia-se necessitado em ouvir aquele som sempre que fizesse carinho em Koutarou.
Em algum momento daquele fim de manhã, em meio a todos os beijos, carinhos e preguiça sentida exclusivamente aos domingos, acabaram transando novamente. Sem urgência dessa vez – apesar do desejo arder na pele sempre que Koutarou deslizava as mãos grandes pela lateral de seu corpo. Foi um sexo lento e gostoso, com Keiji abraçado ao corpo grande; com pernas entrelaçadas no quadril enquanto Bokuto roçava os lábios no dele, sorrindo e sussurrando coisas doces. Sexo carinhoso e cheio de cuidado. Aquilo fazia seu coração bater em um ritmo que começava a conhecer; uma sensação aquecida dentro de si. Era novo e era bom. Fazia Keiji roçar os próprios pés nos de Bokuto, abraçado a ele mesmo após gozarem; sendo embalado para um sono gostoso e, ao acordar, ainda tinha Bokuto abraçado a si, fazendo carinho em seu cabelo.
—Eu poderia me acostumar com isso… – a voz saía meio quebradiça enquanto se aconchegava um pouco mais, fazendo o parceiro rir.
—O convite para dormir aqui ainda está de pé. – apoiou o queixo no peito largo de Bokuto, encarando-o com a tão característica cara de nada. Koutarou riu, apertando os braços em volta da cintura esguia. —Eu sei, eu sei. Coisas da faculdade e trabalho amanhã cedo. Só estou dizendo que, caso mude de ideia, podemos ir buscar suas coisas. Não me incomodaria de ter sua companhia, Akaashi. Mesmo que ficasse apenas estudando quieto no canto. Eu até faria um esforço para não te atrapalhar.
Por Deus. Bokuto era o único a dizer que Akaashi tinha o intuito de fazê-lo se apaixonar e, ainda sim, era Keiji quem estava precisando tomar cuidado dobrado para não cair nos encantos de Koutarou e fingir que não tinha qualquer tipo de obrigação fora daquele apartamento. Também não tinha uma resposta decente para esquivar-se do assunto – ao menos, não alguma que evitasse deixar um clima estranho. Por sorte, Bokuto era o tipo de pessoa que se distraía fácil, então Keiji sequer precisou preocupar-se em dizer algo; apenas aproximou os lábios da boca alheia, roçando-os de modo gentil; sorrindo ao ver os olhos dourados depositarem toda a atenção em sua boca. Selou os lábios de Koutarou; a destra acariciando a mandíbula demarcada com um toque tão gentil que quase passou despercebido. Quase.
—Kou… – sussurrou contra os lábios ao afastar-se um pouco; a boca raspando na de Bokuto ao falar. —Estou com fome…
Os olhos grandinhos de Koutarou piscaram algumas vezes antes do homem assustar Akaashi ao levantar-se em um salto, completamente animado com a ideia de cozinharem algo juntos – depois do banho, claro. Diferente do período da manhã, Keiji trajava um roupão fofo e com cheiro de amaciante enquanto grelhava algumas postas de salmão muito bem temperado por Bokuto – este fatiando alguns vegetais para cozinhar no vapor. Perguntou sobre suas roupas e celular, descobrindo que o eletrônico estava carregando e suas roupas haviam ido direto para o cesto de roupa suja. Algo relacionado a cheiro de cigarro. Nenhum dos dois insistiu no assunto.
Assim como tudo que havia acontecido naquele domingo, o almoço foi tranquilo; o ar de preguiça sempre pairando ao redor deles. Ainda sim, para Keiji, era difícil não deixar a imaginação ir para o lado sexual sempre que o roupão de Koutarou afrouxava, deixando boa parte do peitoral largo à vista; os olhos turquesas de Akaashi passeando livremente por toda a pele exibida sem intenção. A mordida na curva do pescoço pálido deixava claro que Koutarou havia tido uma noite agitada e, de um jeito estranho, aquilo não o incomodava – ou talvez não soubesse da existência daquela marca.
De todo modo, não seria Akaashi quem avisaria.
༻♡⋅⋅⋅
Após uma tarde inteira de preguiça no sofá fingindo prestar atenção no cartoon exibido na grande TV enquanto recebia o melhor carinho do mundo e sentia o peito de Koutarou subir e descer enquanto respirava, acabou recebendo a ligação de um Sakusa extremamente irritado. Afinal, o que Keiji estava pensando da vida para não mandar uma mensagem sequer quando Kiyoomi havia sido bastante claro sobre o assunto?! Olhou para fora e concluiu o óbvio: Estava tarde. Precisava ir para casa. Bokuto fez manha, mas não foi o suficiente para convencer Akaashi de ficar. Ofereceu uma carona que foi prontamente recusada, mas Bokuto parecia obstinado em fazer aquele último favor.
Foi desse modo que Akaashi Keiji, trajando roupas maiores que si e segurando uma imensa marmita para dividir com Kenma no jantar, acabou voltando para seu apartamento minúsculo. A falta de jeito começou a querer se fazer presente quando o carro chique de Koutarou parou em frente ao prédio que morava e, ainda sim, não pareceu ser o suficiente para segurar o sorrisinho que enfeitava os lábios de nosso protagonista. Sequer era forte o bastante para impedi-lo de colar a boca na de Bokuto em um beijo de despedida que mais parecia um convite para retornar. Porém, ao subir os lances de escada e parar em frente à porta do apartamento 334, a única sensação de retorno que teve foi de sua realidade meio infeliz.
Akaashi Keiji era um rapaz de 22 anos e bolsista em sua segunda faculdade. Dividia o apartamento com Kenma, com quem havia discutido dias atrás. Mais do que isso, havia retribuído o chá de sumiço que seu parceiro, Osamu – cunhado de seu querido amigo, Kiyoomi – para ter um momento de prazer com alguém que deveria estar na sua lista de pessoas proibidas.
Agora, dentro de seu apartamento, encarando Kenma enquanto sentia Pompom enroscar-se em suas pernas, ele sabia que algumas pendências não poderiam ficar para depois. Não quando Kozume apoiava o queixo no encosto do sofá; os olhos analíticos mantendo-se fixos em si. Desviou o olhar, meio nervoso e procurando as palavras certas para iniciar qualquer assunto. Sorriu pequeno, sentindo-se como um adolescente que sabe que aprontou – o que, em partes, era verdade.
—Trouxe comida para nós dois.
—É sério isso?! Você some por praticamente um dia inteiro, não atende minhas ligações e quando chega, a primeira coisa que diz é que trouxe comida?! – O-oh. Kenma parecia realmente irritado. Keiji sabia o quão difícil era tirar o amigo de sua paz e, por tal motivo, optou por ficar quieto, encolhendo-se. —Posso ao menos saber o que aconteceu para você aparecer aqui com comida e vestindo roupas de outra pessoa? Aliás, cadê as suas roupas, Akaashi?!
Enquanto Kozume disparava uma infinidade de palavras que deveriam deixar nosso protagonista ao menos um pouco envergonhado, Akaashi apressou-se para pegar alguns utensílios e dois pares de hashis, sentando-se ao lado do amigo logo em seguida. Abriu as marmitas; uma estranha satisfação preenchendo seu corpo ao observar a expressão surpresa de Kenma.
—Estava com Bokuto-san. – deu de ombros quando os olhos espertos do amigo se arregalaram, indicando o espanto que aquela frase causava. —Osamu deu um jeito de encontrar-se com o ex-namorado e Kiyoomi-san sugeriu que eu desencanasse desse, hm… Lance que tenho com Osamu e, bem…
Ok, aquilo era difícil. Contar as coisas para Kenma não era algo que tinha o costume de fazer. Ambos eram introvertidos, então não possuíam nenhum tipo de rotina que os fizessem conversar durante refeições ou qualquer coisa do tipo – apesar de saberem tudo o que acontecia na vida um do outro. Mas depois de alguns dias conversando somente o necessário com o amigo, achou que seria adequado contar de uma vez o que tinha acontecido.
—Espera- – Kenma terminava de mastigar uma quantidade generosa de comida antes de continuar falando. —Tá me dizendo que você usou Bokuto para se vingar do Miya?!
—Não seria má ideia. – resmungou de dor ao ser chutado, rindo da cara de Kozume que só faltava jogar comida em si. —Claro que não! Eu bebi demais e acabei esbarrando com Bokuto-san e, bem… Achei que seria divertido ir para a casa dele.
—Deve ter sido divertido mesmo. Você tá acabado. – deslizou pelo sofá quando Pompom subiu em seu colo, deitando-se meio torto com um sorrisinho nos lábios. Kenma comia em com calma antes de voltar a falar. —Akaashi… Sei que não quer que eu me meta nos seus assuntos mas, sabe… Koutarou não parece ser o tipo de pessoa que faz sexo casual e… O que quero saber é: O que você vai fazer agora?
—Sinceramente, Kenma, eu não sei… O dia de hoje foi bom e não estou falando só de sexo. – riu ao ver a careta no rosto de Kenma, deixando claro que não queria saber detalhes. Suspirou, o sorriso ainda fixo nos lábios enquanto continuava a falar. —Bokuto-san só é… Diferente. Não que Osamu seja ruim. Só que não ter alguém apaixonado pelo ex-namorado deixa tudo mais fácil de lidar. E Bokuto-san é tão gentil e atencioso que eu só… Me senti bem.
—Akaashi… Por que não termina de uma vez com Osamu?
Ah, esse assunto…
—Não tem o que terminar, Kenma. Já disse, eu e ‘Samu não temos nada sério. – falava em um tom cansado, com a cabeça apoiada no encosto do sofá. Encarou o amigo. —E mesmo que precisasse terminar… E depois? Corro o risco de perder o meu emprego?
—Por Deus, Keiji, ninguém tá dizendo para você terminar com um e ficar com outro! – aquele assunto estava deixando Kenma nervoso; era nítido pelo modo como ele agitava os hashis de um lado para o outro conforme falava. Formou um bico nos lábios, coçando atrás da orelha de Pompom. —Você não precisa pensar nisso hoje. Só… Por favor, considere a ideia pelo menos um pouco! Talvez te faça bem depois de todo esse tempo enroscado naquele idiota que só te procura pra tentar fingir que não está infeliz.
Certo.
Keiji pensaria no assunto. Em outro momento, claro, quando o sorriso de Koutarou não estivesse tão fixo em sua mente.
༻♡⋅⋅⋅
Claro que, em algum momento, Akaashi precisaria voltar para a sua verdadeira realidade, onde entrava no serviço às seis da manhã para iniciar sua rotina maluca que terminava sempre no início da madrugada. Infelizmente, o início de uma nova semana havia caído como uma bomba quando, no dia seguinte, ao ouvir o despertador às cinco da manhã, se deu conta da burrada que havia feito.
Havia transado com Bokuto Koutarou. Filho de seu chefe. Um risco para seu emprego.
Seria mentira se dissesse que pensar naquilo não o deixou em verdadeiro pânico. Merda. Sequer sabia como iria encarar Koutarou no serviço. Pior; não sabia como lidar com seu próprio gerente. Pensou em faltar ou simplesmente fingir uma dor de barriga sempre que avistasse Tetsurou, afinal, qualquer coisa que pudesse comprometer sua imagem parecia mais atraente do que confrontar os olhos espertos de Kuroo e seu cérebro parecia pifar sempre que ouvia o sobrenome “Bokuto” surgir no ambiente de trabalho. Não importa qual Bokuto eles se referiam porque, bem… A cabeça de Akaashi parecia dar voltas e estacionar o pensamento nos olhos saltados e sorriso largo – fazendo-o querer sumir ao lembrar que estava enroscando-se naquele corpo enorme do jeito mais indecente possível a menos de um dia.
Porém, de modo estranho, sua rotina manteve-se como se o fim de semana nunca tivesse existido. Koutarou não apareceu na conveniência e Kuroo não fez uma piada sequer sobre a noite de sábado. Até mesmo a faculdade parecia tranquila demais e isso, de modo um tanto contraditório, deixava Keiji uma pilha de nervos. Era fácil encontrá-lo de cenho franzido ao perder-se nos próprios pensamentos sempre que concentrava em alguma tarefa. Claro que Bokuto não havia, de fato, sumido. Volta e meia trocavam mensagens de texto, vez ou outra recebendo alguma imagem que lhe tirava o riso porque, bem… Bokuto era um homem engraçado. Mas em momento algum chegaram a conversar sobre o que havia acontecido entre eles e Keiji não sentia-se bem para ser o primeiro a tocar no assunto.
O problema é que aquilo não saía de seu pensamento. Pior que pensar no que havia entre ele e Koutarou ou em uma possível conversa com Kuroo sobre seu amigo, ainda tinha sua situação pendente com Osamu. O Miya havia mandado algumas mensagens e Keiji, decidido em dar um ponto final em tudo, mas sem a coragem e disposição necessária para confrontar o homem, respondia somente quando lhe convinha e sempre com respostas monossilábicas. Era desgastante ter que pensar em tantas coisas ao mesmo tempo e ainda lidar com a rotina de trabalho e faculdade. Se fosse sincero consigo mesmo, diria que precisaria de um descanso. Até mesmo Kenma havia percebido que Keiji estava diferente nos últimos dias – aéreo ao executar as tarefas mais simples, como o café que preparava todas as manhãs. O excesso de pensamento também o fazia perder o sono e fumar mais cigarros do que de costume. Era óbvio o desgaste; sendo acordado a fortes chacoalhões por Kozume nessa madrugada antes de perceber que havia adormecido no pequeno sofá de sua sacada segurando o celular; uma mensagem digitada pela metade com o remetente para Koutarou. Akaashi estava um caco e era nítido as bolsas escuras abaixo de seus olhos; pensamento e movimentos mais lentos que o normal. Precisava de descanso.
—Ei, Keiji. – Koushi balançava uma das mãos em frente ao rosto do protagonista, chamando-lhe a atenção. —Tem certeza que não quer ir para casa? – negou com um meneio de cabeça. Sabia que, caso ficasse sozinho com os pensamentos, a última coisa que faria seria dormir. Sugawara suspirou, apoiando ambas as mãos nas laterais do quadril. —Vá ao menos descansar um pouco na salinha, sim? Você tá horrível!
—Estou bem, Suga-san.
—Tá, claro. – o deboche escorria como veneno da boca de Koushi; totalmente diferente da mão que ia em meio às costas de Keiji, empurrando-o de modo gentil em direção à ala de funcionários. —Sério, Keiji. Tenta dormir um pouco. Você tá com uma cara péssima e se Kuroo-san te ver assim, vai brigar com nós dois. Não se preocupe! Eu te acordo caso precise de ajuda!
A única escolha que Keiji parecia ter era aceitar sua condição. Até porque sequer tinha ânimo para ir contra a decisão alheia. Porra, estava só o pó. Precisava mesmo de um cochilo. Deitou-se no sofá após retirar os sapatos, flexionando o braço sobre o rosto no intuito de bloquear um pouco a claridade. Sua mente tentava trabalhar rápido, mal deixando-o terminar uma linha de pensamento antes de afundá-lo no próximo. Não entendia o porquê de um pequeno acontecimento ser capaz de tirar o sono e a paz. Talvez porque prezava seu emprego. Ou porque sabia que, uma hora ou outra, precisaria conversar tanto com Bokuto quanto com o Miya. Porém, naquele momento, só queria que sua mente desligasse por dez minutos. Seus olhos estavam tão pesados…
Não foi surpresa alguma ter a mente viajando mais uma vez para a imagem de Koutarou – tão atraente com os ombros queimados do sol e com um sorriso largo tão contagiante preenchendo o pensamento. Estranho mesmo foi a voz de Kiyoomi surgir, repetindo de modo insistente as palavras ditas na noite do bar, como se estivesse em looping. Mais estranho que isso era o modo como Kiyoomi ainda parecia estar com a razão. Não que fosse difícil porque, porra, até um cego perceberia que ele e Osamu estavam fadados ao fracasso desde o ínicio.
Não.
No começo, talvez, tenha dado certo. Akaashi serviu bem como curativo para a ferida aberta do Miya. Mas bastou a primeira ligação para Rintarou por parte de Osamu para tudo o que era bom e divertido tornar-se algo meio amargo. As noites de sexo eram apenas isso e, apesar de serem amigos, sempre tinha aquele gosto amargo no momento de despedir-se. Suna havia marcado de modo profundo na pele e mente de Osamu, provocando ferimentos que um simples curativo não seria capaz de curar. Miya Osamu precisava de remédio; um tratamento que pudesse curá-lo daquilo que ele chamava de amor. Já Keiji precisava de mais do que noites mal dormidas e sentimentos pela metade.
Queria mais tardes deitado num sofá e enroscado com alguém que lhe tratasse com devoção. Queria algo real e por inteiro. Tão real quanto o carinho que passou a receber nos fios escuros enquanto a própria mente tentava lhe engolir a sanidade. Ah, conhecia bem aquela carícia – até porque seria difícil esquecer depois de ter tido aqueles mesmos dedos lhe tocando por um dia inteiro. Sorriu, sem abrir os olhos, um suspiro escapando-lhe sem a real intenção; provocando o riso naquele que não viu a semana inteira. Então, abriu os olhos, podendo finalmente rever Koutarou – bonito como sempre e, ainda sim, parecendo diferente. Piscou algumas vezes, meio confuso e sem saber o que dizer. Bokuto coçou a nuca, ainda sorridente.
—Oi, Kaashi! Desculpa por te acordar. Foi sem querer.
—Não tem problema, Bokuto-san. – sentou-se antes de pedir para que o homem se acomodasse ao lado, vendo Koutarou sentar meio rígido no canto do sofá. Sorriu ao perceber que aquilo, sem sombra alguma de dúvida, era timidez. —Mas então… Como foi sua semana?
—Sinceramente, foi infernal. Tive a entrega de dois seminários e meu orientador de estágio parece disposto a arrancar o meu couro. Mal tive tempo para comer. – Bokuto espremia os olhos daquele jeitinho que sempre fazia Keiji rir. Dessa vez, não foi diferente. Nosso protagonista riu até perceber que estava sendo encarado. Precisou de um momento para puxar o ar e se recompor, fitando as orbes douradas que tanto gostava. Koutarou sorria daquele jeito bonito e envergonhado; provocando certa confusão em Keiji. —Kaashi, eu queria conversar com você sobre o que aconteceu com a gente.
Ah, não.
Ele sabia que a realidade havia caído como uma bomba em si. Já havia assimilado o que havia acontecido. Então porque saber que Bokuto queria conversar lhe deixava em pânico? Merda, sequer sabia como lidar com aquele assunto sem engasgar-se nas próprias palavras. Talvez por isso havia desviado o olhar; soltando junto à respiração boa parte da própria frustração. Passou a mão no rosto e cabelo, tentando procurar as palavras certas.
—Me desculpe, Bokuto-san. As coisas saíram um pouco de controle no fim de semana e… Eu poderia dizer que bebi demais e colocar a culpa na bebida, mas… Me aproximei de você porque quis. – olhou de modo breve para Koutarou; arrependendo-se no segundo seguinte. —Mas o que fizemos não foi certo.
—Com certeza não foi. – era uma surpresa ouvir tal afirmação sair da boca de alguém tão despreocupado quanto Koutarou. Feria seu orgulho, de certo modo, porque havia sido bom pra caralho. —Hm… Se incomoda se conversarmos em um lugar mais tranquilo?
Foi então que percebeu Koushi entrando para fazer sabe-se lá o que. Sorriu para ele antes de levantar-se e seguir Bokuto – este pedindo licença a Sugawara antes de sair da salinha e seguir rumo ao pequeno escritório onde Kuroo costumava trabalhar. Keiji seguiu o pedido do homem e sentou-se assim que uma das cadeiras lhe foi oferecida; agradecendo a gentileza. Sentia algo esquisito no estômago porque não esperava que depois de quase uma semana fosse ficar tão próximo de Bokuto novamente – este dando um jeito de sentar-se de frente para si, apoiando os cotovelos nos próprios joelhos; próximo demais.
—Akaashi, o erro foi meu. Você estava claramente chateado quando se ofereceu para ir ao meu apartamento e sinto que me aproveitei da situação. Me desculpa. Nunca tive alguém tão bonito e inteligente me querendo e-
—Bokuto-san, – Keiji precisou tocar a mão do homem para que este lhe encarasse. Bokuto piscou algumas vezes. —O que está querendo dizer, exatamente?
—Que você é bonito e inteligente.
—Não. – sorriu, achando graça na confusão de Koutarou. —Quero saber o motivo de estar me contando essas coisas. Você vai me demitir? Ou só vamos fingir que nunca aconteceu?
Koutarou parecia incomodado com as perguntas de Akaashi. O brilho sempre alegre em seu olhar carregava certo receio e sequer havia um sorriso nos lábios compridos ao coçar a nuca e suspirar – e aqueles pequenos gestos deixavam Keiji em polvorosa; como se não pudesse conter os próprios sentimentos que teimavam em revirar dentro de si.
—Eu nunca prejudicaria seu serviço desse modo, Akaashi. – oh. —Mas também não consigo fingir que nada aconteceu entre a gente. – o-oh.
—Então… Como resolvemos isso?
Uma pergunta fácil para uma resposta difícil; Akaashi sabia. Koutarou também, aparentemente. Nosso protagonista observou o homem à sua frente ficar pensativo por um breve momento, como se realmente buscasse uma resposta ou algum tipo de coragem para dizer o que lhe vinha em mente. Sentiu certa satisfação por ver as maçãs de Koutarou se tingirem num tom róseo; o brilho vacilante percorrendo o olhar âmbar ao procurar seus dedos. Akaashi permitiu-se tocar os dedos de Bokuto num segurar meio tímido que atiçava seu coração aos poucos – como se qualquer ato pouco pensado pudesse quebrar o envolvimento de ambos. E então, Koutarou sorriu pequeno ao apertar os dedos elegantes de Keiji.
—Sei que você é bastante rígido sobre seu ambiente de trabalho, mas… Quero te conhecer do jeito certo, Akaashi. Saber mais sobre você, do que gosta e aproveitar sua companhia com calma, então… Por favor, me dê uma chance!
Ah…
O que dizer sobre Bokuto Koutarou?!
Keiji só soube sorrir; o rosto aquecendo enquanto a agitação dentro de si parecia maior do que nunca. Deveria estar louco porque, diferente de qualquer recusa que esperasse sair da própria boca, pegou-se inclinando em direção a Bokuto, os lábios roçando sutis nos alheios; o sorriso ainda fixo na própria boca. Uma loucura, com certeza. Mas não conseguia conter. Koutarou parecia ter um ímã que lhe puxava a seu favor. Deve ter sido por isso que deixou uma carícia na mandíbula e pescoço alheio; os lábios pressionando o canto da boca alheia antes de levantar-se, indo de encontro a Koushi que lhe chamava da porta da salinha de funcionários.
༻♡⋅⋅⋅
Segundo Sakusa, Akaashi não poderia passar o resto da vida fingindo que as mensagens de Osamu não existiam. Elas eram reais e lotavam seu celular a cada dia que passava. Segundo Sakusa, Keiji precisava se resolver com o Miya e, aparentemente, aquele era o dia para tal feito.
Era por isso que estava sentado na cozinha chique de Osamu enquanto este lhe entregava uma xícara de chá; o cheiro adocicado invadindo-lhe os sentidos e Kiyoomi, apesar de jurar que estaria por perto, havia sumido apartamento adentro junto ao namorado desde o momento que pisara ali; abandonando Keiji em um clima bastante desagradável porque, bem… Não estava pronto para enfrentar Osamu – este parecendo irritado consigo como nunca havia ficado antes. Apertou a xícara em mãos, observando a fumaça que saía da bebida.
—Então… A que devo a honra de sua presença na minha casa? – deu de ombros, ainda sem encará-lo. Ouviu o homem suspirar. —Te liguei a semana toda, mas resolveu fingir que não existo. – manter-se em silêncio parecia deixar Osamu ainda mais irritado. O encarou, então, podendo ver todo o descontentamento do Miya pelo franzir da sobrancelha e o olhar gélido que lhe lançava; como se fosse o culpado de todos os seus problemas. —Você poderia ao menos ser sincero comigo, Keiji.
—Voltou a ver Rintarou depois daquele dia?
Ah, ali estava. A expressão de surpresa de quem não espera que um segredo seja revelado. Não que Osamu fizesse questão de esconder porque, do contrário, não levaria irmão, cunhado e o carinha com quem estava saindo para o mesmo local que encontraria seu ex. Mas ainda sim, ali estava a cara surpresa de quem havia sido descoberto. Akaashi riu de modo amargo, como se debochasse de si mesmo. Voltou a xícara para a mesa, apoiando o rosto em uma das mãos enquanto encarava aquele rosto estupidamente bonito, aguardando uma resposta.
E ela veio junto a um sorriso rancoroso que fez o sangue de Keiji ferver de um jeito ruim.
—Não me lembro de precisar me justificar com você, Keiji. Agora, se vamos jogar desse jeito, você pode começar me contando sobre o cara com quem dormiu naquela noite.
Akaashi não era um homem que se arrependia de suas decisões justamente porque costumava pensar demais sobre elas. Porém, naquele momento, desejou nunca ter conhecido Miya Osamu, pois cada palavra que saía de sua boca escorria tantos sentimentos ruins que pareciam impregnar em si, deixando-o péssimo. Já não estava mais acostumado com o brilho lúgubre de olhos cinzentos e o sorriso de aspecto congelante. Havia acomodado-se em olhares quentes e dourados e sorrisos mornos que lhe confortavam a alma. Queria fugir dali; correr para bem longe e esquecer Osamu. Os olhos encheram-se de lágrimas. Queria ver Koutarou. Ainda sim, respirou fundo, tentando se recompor.
—Como você mesmo acabou de dizer, não precisamos justificar nada um ao outro.
—Claro que não. É mais fácil pra você fingir de santo enquanto joga todos os erros nas minhas costas. É mais fácil você esconder as coisas, como vem fazendo a tempos, certo?! Chega a ser ridículo, Keiji, porque você me cobra tanto por uma fidelidade que nunca te prometi e eu sequer sei com quantos caras você tem saído.
—Eu saí somente com você durante todo esse tempo.
—Mentira! – Osamu elevou a voz como nunca fizera antes; as mãos batendo contra o mogno da mesa de jantar. Keiji arregalou os olhos, sequer conseguindo evitar que as primeiras lágrimas da noite escorressem. —Para de mentir.
—O único que mente aqui é você, Osamu! Mente não somente pra mim, mas para si mesmo! Se agarra a um sentimento que deveria estar enterrado e insiste em algo que já não faz mais sentido. Alimenta a ideia que Rintarou irá voltar mesmo sabendo que ele não se encaixa em uma cidadezinha pequena e, principalmente, não se encaixa com você!
—E não é exatamente o que você tem feito, Keiji? Você não tem tentado se encaixar em um sentimento que sequer existe entre nós?! Não vêm tentando, por todo esse tempo, se agarrar em um relacionamento que nunca foi desejado?!
—Eu estou cansado de viver pela metade, Osamu! – gritava a plenos pulmões e, naquele momento, Sakusa entrava no cômodo junto a Atsumu; cada um se colocando ao lado de quem era mais próximo, no intuito de intervir. —Você pode se contentar com os restos de um relacionamento, Miya, mas eu quero mais do que essa coisa esquisita e fragmentada que você me oferece!
—Então sugiro que procure outro alguém, Akaashi, porque daqui – Osamu apertou a camiseta que vestia como se segurasse o próprio coração; a expressão contorcida em sofrimento. —Não vai conseguir nada além de pedaços.
Foi a gota d’água. Sakusa lhe puxou pelo braço com bastante facilidade para o quarto de Atsumu, deixando-o ali para pegar um copo d’água e despedir-se do amado antes de levar Keiji para casa. Sentia-se atônito; cansado. Estava triste e machucado. Mesmo com a dor de um término e discussões recorrentes, Osamu sempre foi alguém gentil. Era o cara mais compreensível que conhecia, então ser tratado daquele jeito, como se fosse o pior dos seres, era, sim, de grande surpresa. Céus, sequer conseguia entender o porquê das coisas estarem tomando aquele rumo tão estranho e cheio de conflitos – justamente por ser o tipo de pessoa que pensava três ou quatro vezes antes de tomar uma decisão. Ele e o Miya se davam bem. Eram amigos e apenas amigos. Simplesmente não fazia sentido sentirem ciúmes.
Ciúmes.
—Kiyoomi-san. – chamou baixo quando já estavam dentro do carro do amigo. —Seria possível que eu e Osamu nos enganamos todo esse tempo e, não sei… Estamos em uma relação baseada em posse e ciúme?
O suspirar alto do amigo o fez encolher no banco do carro. Sakusa era alguém que não costumava medir as palavras – por mais que elas pudessem machucar. Mas, apesar de tudo, não era alguém cruel e, certamente por saber que Keiji estava desgastado emocionalmente, acabou demorando mais do que de costume para soltar uma resposta.
—Bom… Você e Osamu tinham algo, por mais que não aceitassem. Ninguém fica mais de um ano com alguém fingindo não estar em um relacionamento, Akaashi. Principalmente quando existe certa exigência para tornar-se exclusivo.
—Osamu nunca foi só meu, Kiyoomi… Rin surgiu alguns meses depois e arrastou ‘Samu para essa bagunça de sentimentos que nunca se organiza. – sorria triste, sentindo as lágrimas escorrerem livremente. Tentou enxugar o rosto. —E eu sequer consigo ficar bravo por ele escolher o ex, sabe? Rin-chan é tudo o que ele sempre quis desde, sei lá, sempre. É bonito, engraçado, super inteligente e talentoso.
—Akaashi, qual é. Você também é super inteligente e talentoso e, convenhamos, não conheço ninguém mais bonito que você. Sei lá, você tem algo nesse rosto que hipnotiza qualquer um. – Sakusa passou a mão em frente ao próprio rosto enquanto falava, sem tirar o olhar da estrada. —Sem falar desses seus olhos. São os olhos com a cor mais incrível que já vi.
Keiji, apesar de rir, meneou a cabeça de modo que negasse cada uma das palavras de Kiyoomi – simplesmente por não concordar com nada que o amigo dizia. Akaashi estava longe de ser alguém talentoso. O seu fracasso em achar um emprego na área de literatura havia deixado bastante claro que sequer tinha aptidão para fazer o que gostava e por se esforçava em uma segunda faculdade. Também achava impossível alguém de beleza tão ímpar quanto Sakusa Kiyoomi dizer que alguém além de si mesmo era o mais bonito. E a maior mentira de todas era, sem sombra de dúvida sobre seus olhos, pois não havia a menor possibilidade de existir olhos mais fantásticos que os dourados de Koutarou.
Koutarou.
Pensar nele aquecia seu peito, o sorriso surgindo de modo instantâneo. A voz de Bokuto surgia em sua mente; o corpo aquecia de modo gostoso ao lembrar-se da forma que o homem sempre buscava por sua atenção – seja chamando-o daquele jeitinho esganiçado ou apoiando o queixo no topo de sua cabeça sempre que se abraçavam. Era atencioso e gentil, sempre perguntando o que queria fazer ou se estava tudo bem. Era o sopro de vida que Keiji precisava. Queria ver Koutarou.
—Quer ficar em casa essa noite? A gente pode conversar sobre o tal bonitão que te manda mensagens e assistir algum filme brega. – apesar de achar graça na forma entediada que o amigo sugeria as coisas, acabou recusando, agradecendo a boa vontade. —Quer que eu te deixe em algum lugar específico?
—Quero ir para casa esfriar a cabeça, Sakusa-san.
—Hm… Achei que você queria ver o talzinho com quem troca mensagens. – encarou o amigo, espantado em perceber que nada passava pelo olhar escuro; mesmo com a atenção em outras coisas. Sakusa sorriu daquele jeito debochado que sempre fazia Keiji querer socá-lo bem no meio dos dentes. —O que?! Não é como se eu não soubesse que você está envolvido com outra pessoa. E cá entre nós, Keiji, eu te incentivei a desistir do meu próprio cunhado justamente porque sei que vocês só conseguem machucar.
Era verdade. Kiyoomi não tinha o hábito de mentir – diferente do próprio namorado. Ainda sim, não sentia-se à vontade para dizer em voz alta que queria, sim, ver o talzinho das mensagens. Por Deus, queria tanto vê-lo que o coração chegava a agitar somente com o pensamento de Koutarou aceitar buscá-lo tarde da noite no meio da semana. Sakusa certamente percebia sua agitação do mesmo modo que era capaz de perceber qualquer coisa, mas não comentou nada a respeito. Akaashi sentiu-se grato por isso e mais um tanto de coisas, mas foi capaz de agradecer apenas pela carona até a frente do prédio onde morava e prometer passar o próximo dia de folga com o amigo. Sakusa garantiu que cobraria por aquela promessa e Keiji só soube rir porque, bem… Você não prometia coisas que não poderia cumprir a alguém como Sakusa Kiyoomi.
Acendeu um cigarro enquanto observava o carro bonito do amigo afastar-se, tragando o cigarro enquanto desbloqueava o celular. Sorriu ao perceber que o contato de Koutarou estava aberto na tela do aparelho – a selfie da academia preenchendo o visor quando apertou o botão de chamada. Soprou a fumaça; encostou-se na mureta do jardim mal cuidado que havia em frente ao prédio. O celular chamou uma vez. Voltou a tragar. Chamou mais duas vezes enquanto olhava para o céu. Suspirou.
—Alô? Akaashi?
O coração passou a bater mais rápido somente por ouvi-lo. Sentiu-se meio ridículo.
—Boa noite, Bokuto-san. Me desculpe por ligar.
—Não tem problema. Não é como se eu estivesse em um compromisso super importante a essas horas da noite!
Riu breve, achando bonitinha a voz animada do outro lado da linha que parecia realmente feliz com a ligação; a fumaça escapando de sua boca. Abaixou o olhar para os próprios sapatos, sentindo o coração apertar de uma forma meio engraçada ao sentir-se inseguro com os próprios pensamentos.
—Sei que combinamos de ir devagar, mas… Seria possível me buscar? Por favor...
—Aconteceu alguma coisa?
Havia acontecido, sim. Estava acontecendo desde o dia que ele entrou em sua vida sem ao menos pedir licença, trazendo para dentro de si toda aquela bagagem emocional que não estava acostumado a lidar. Akaashi, sempre tão precavido, agora via-se a ponto de gritar diante da perspectiva de algo desconhecido. Ansiava por saber se Bokuto apareceria durante o expediente ou se enviaria mensagens de texto durante seu período de aula somente para perguntar se precisaria de carona para casa – sempre com a desculpa que provavelmente choveria. Sorria ao sentir o coração bater rápido toda vez que Koutarou lhe chamava e lhe queria, porque só conseguia querer de volta. Céus. Bokuto Koutarou havia acabado com a sua vida. Havia destruído qualquer resquício daquele ser que nada exigia; o obrigando a abandonar tudo que não fazia sentido – ou que fazia meio sentido – apenas para envolvê-lo em tudo que fosse demais. Koutarou havia feito Akaashi abandonar a própria realidade gélida para, então, aquecê-lo com seu cotidiano quente; daqueles que só quem sente demais poderia ter. E agora que Keiji havia experimentado sentimentos aquecidos, não conseguia mais voltar atrás.
Sentiu o queixo tremer, indicando o choro que estava preso. Não conseguiria mais segurar. Por isso, com a voz trêmula e as lágrimas escorrendo de modo pesado pelo rosto bonito, foi que admitiu em voz alta a única coisa que se passava em sua cabeça.
Queria vê-lo.
Precisava vê-lo.
Queria, mais que tudo, ficar com Koutarou.
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