História Quimera - Jogos da vida

Então eu resolvi sumir. Não sumir de pegar as malas e ir embora, fugindo da cidade como se eu tivesse cometido um crime, mas desaparecer da vista das pessoas, o que significava na verdade, que eu evitaria sair de casa. Se me ligassem eu estava ocupado estudando, o que não era mentira, pois de fato resolvi me dedicar ainda mais aos estudos. Demorou uns 3 ou 4 dias até que meus amigos entendessem que eu precisava de um tempo com livros e parassem de me ligar, eu tive que prometer que eu ligaria e sairia com eles uma vez ou outra, mesmo eu não estando com vontade de ver ninguém naquele momento, mas eles não precisavam saber disso.
Nunca na minha vida me dediquei tanto aos estudos quanto naqueles dias e até me sentia bem fazendo isso, pela primeira vez eu estava valorizando o aprendizado e sabia que iria ter uma recompensa no final.
Depois de duas semanas em silêncio, minha mãe chega em casa com uma “surpresa” para mim: Anna apareceu lá em casa no fim da tarde com dois ingressos para o jogo do Bordeaux daquela noite. A distância entre Bordeaux e Comté De Bounevialle não era longa, com um pouco mais de uma hora de carro estaríamos lá, mas gostaria de saber o que Anna tinha na cabeça para achar que eu aceitaria o convite e sairia de casa 15 minutos depois dela ter chegado. De qualquer forma, ela estava certa.
Pegamos a estrada em silêncio e só depois de uns 10 minutos que saímos da cidade é que começamos a conversar.
“Theo quem comprou os ingressos. É um presente nosso pra você.” Ela disse.
“Presente de vocês?” perguntei sem entender.
“Sim, Liam, você precisava relaxar um pouco, anda estudando demais, precisa de um descanso de vez em quando, se distrair…”
“É, talvez eu tenha me esquecido de fechar os livros um pouco.” Respondi sem tirar os olhos da estrada e perguntei: “Mas desde quando vocês me dão presente em conjunto?”
“Bom, saímos algumas vezes nessas últimas semanas e em uma de nossas conversas achamos que poderia ser legal fazermos algo por você.”
“Certo. Mas e…”
“E seus estudos? Já escolheu uma universidade?” ela me perguntou, não me deixando concluir a frase e perguntar claramente se de fato eles estão juntos ou não.
“Na verdade, ainda não, mas eu andei lendo algumas coisas muito boas sobre algumas, acho que essa semana, já poderei me decidi” resolvi entrar no assunto dela e continuamos conversamos até chegar ao estádio.
Me diverti bastante com Anna, como a muito a gente não se divertia junto. O jogo não foi dos melhores, Bordeaux terminou empatado com o Nice, placar 1 a 1, mas pelo menos o passeio valeu a pena.
Voltamos falando sobre o jogo, obviamente. Anna não é o tipo de garota que gosta de futebol, mas ela entende a maioria dos lances e faz ótimos comentários, principalmente sobre o estado do uniforme e visual dos jogadores, sempre acaba sendo divertido assistir jogos com ela.
Um pouco antes de chegarmos à Comté De Bonevialle mudei completamente o tópico da conversa e resolvi tirar minha dúvida.
“Anna?”
“Sim?” ela respondeu me encarando, eu não estava olhando para ela diretamente, mas percebi que ela se virou e me fitou na hora em que a chamei.
“Você e o Theo… vocês estão… namorando?” perguntei apertando o volante com as duas mãos e continuei com os olhos na estrada a minha frente.
“Bem, ele diz que sim, mas…” ela parou de falar e parecia que estava pensando no que dizer. Dei uma rápida olhada para o lado e ela estava olhando pela janela.
“Mas?”
“Ainda é cedo pra falar. Você sabe… o que eu sinto, ainda não mudou.”
“Anna, cuidado com o que você vai fazer, o Theo é uma pessoa bacana.”
“Eu sei… e ele te adora.” Disse sorridente “Ele fala constantemente que precisa te agradecer…”
“Me agradecer? Pelo o que?”
“Ele diz que você o proporcionou os melhores momentos da vida dele”
“Bem… quem sabe”