Boomer soltou um suspiro de alívio quando tinha acabado. Não que fosse ruim desenhar e as crianças terem ficado admiradas, mas foi ruim se tratando de pessoas. Odiava ficar na presença de estranhos. Tinha uma sensação de que tudo daria errado e seu nervosismo estragaria tudo. E sempre foi pessimista.
Culpou a adolescência pelas suas inseguranças. Em parte, estava correto.
Três horas e meia se passaram desde os desenhos com crianças órfãs ao lado de Bubbles Utonium, mas agora sua casa estava à vista e sua cama clamou por ele. Um longo sono lhe faria bem, mesmo sua mente se corroendo em algo feroz e seus olhos se agitando em uma tentativa de permanecer acordado.
Boomer não ficava tão fatigado fazia algum tempo e essas malditas escadas nunca pareceram tão longas, indo direto para a casa do Mojo. Boomer estava tão cansado que nem conseguia flutuar. Isso gastava mais suas energias, então decidiu andar.
Ele olhou furiosamente para os restantes doze degraus. Foi uma dura caminhada.
E iria classificá-los no seu nível de sadismo, no entanto, cada um tinha um estilo distintamente diferente. Subindo a última escada, Boomer pegou sua pequena sacola cheia de suprimentos e balançou a cabeça. Realmente precisava parar de deixar sua mente vagar tanto. Brick o incomodava alegando: “Você já sonha acordado o suficiente!”
Um empurrão contra a porta fez com que se movesse para dentro. Infelizmente, ele empurrou um pouco forte demais, a porta voltando para bater na cara dele. Então soltou um grunhido.
Uma risada cruel do sofá revelou a localização de um de seus irmãos mais velhos. Boomer olhou para ele enquanto segurava o nariz. Os olhos verdes enrugaram-se de alegria e um sorriso arrogante o saudou.
— Perder uma briga com uma porta... isso é simplesmente triste. — O moreno riu de novo, nunca deixando uma chance de zombar do loiro.
Boomer percebeu que Butch não mudou nos últimos anos. O desordeiro verde ainda era alto, bruto e agressivo; especialmente quando se tratava de lutar. Ninguém poderia dizer que Butch não colocou todo o desempenho em uma batalha.
Boomer se recusou a insultar seu irmão, em vez disso, chutou e fechou a porta atrás dele e caminhou em direção à mesa da sala de jantar que ficava a poucos metros do sofá.
Butch se virou e ficou pendurado nas costas do sofá com um sorriso malévolo.
— Onde você esteve, pequeno Boom? Brick está estranhando o seu comportamento, e até ficou zangado. Aliás, eu também notei. Mas tanto faz — comentou, brincando com as almofadas.
— Surpresa, surpresa. Brick nunca é feliz — foi a única coisa que Boomer murmurou em resposta quando começou a esvaziar sua sacola no tampo da mesa.
— Ei, você não tinha uma mochila com suas merdas de arte quando saiu?
Boomer piscou em choque e parou. Era verdade que havia largado a mochila no gramado porque estava bastante ocupado. Então conferiu seu celular e percebeu uma nova mensagem. E suspirou aliviado quando leu o que a superpoderosa azul tinha guardado.
A parte surpreendente foi que Butch percebeu isso. Claro que ele poderia se concentrar e ser observador... se quisesse. A parte difícil foi conseguir que o desordeiro verde se importasse o suficiente para fazer isso. Boomer decidiu responder à pergunta do irmão da maneira que o irritasse: não diria nada.
Depois de alguns segundos de silêncio, Boomer pôde sentir o brilho dos olhos do irmão na parte de trás de sua cabeça. Butch odiava ser ignorado.
— Tsc, tanto faz — murmurou, virando-se para a mesa de café e retomou qualquer atividade que estava tão atentamente trabalhando antes do loiro entrar. Boomer terminou de soltar o último dos suprimentos e caminhou em direção ao seu quarto, espiando por cima do ombro do irmão enquanto andava.
Balançou a cabeça levemente e voltou-se para o corredor, mal evitando tropeçar nas botas pretas de Butch deixadas no meio do caminho de entrada. O loiro as chutou para o lado com um pequeno olhar — pelo menos ele havia limpado a lama deles desta vez. De alguma forma, era Boomer quem sempre delega as tarefas de limpeza quando o Mojo não chamava a faxineira. Uma brava mulher corajosa. E o desordeiro azul gostava dela.
— Espero que você tenha uma boa desculpa para quando Brick chegar em casa! — gritou o moreno.
O loiro revirou os olhos e fechou a porta do quarto.
Boomer soltou um suspiro e enrolou a camisa em forma de uma bola. E foi jogada no cesto de roupa suja.
“Vou ter que recuperar meus materiais de artes na próxima vez que eu sair”, pensou e caiu em sua cama, maravilhosa e confortável. Essa foi uma das melhores coisas de se viver à vontade. Um bocejo escancarou sua boca e os acontecimentos do dia começaram a se repetir em sua mente. Foi um dos dias mais bizarros e agitados em muito tempo.
Como ia contar a Brick sobre isso? Ele honestamente não tinha ideia de como o ruivo reagiria à notícia de que uma Superpoderosa o convenceu a desenhar crianças. Ainda mais para interagir com ela de boa-fé. O líder poderia levar tudo com calma ou poderia explodir. Boomer esperava que fosse a primeira opção.
As Superpoderosas sempre foram um gatilho para o desordeiro vermelho.
Bubbles Utonium, a superpoderosa azul. Ele não tinha certeza de como se sentia ainda. Não a odiava exatamente. Ela sempre foi tão simpática e alegre, é improvável não gostar de alguém assim.
Bubbles era como um raio de sol. Sua aparência, é claro, havia mudado, mas foi seu comportamento que o surpreendeu. Era incomum ver de perto o rosto dela; a exuberância da malícia escondida atrás de enormes olhos de cristal.
Ela realmente não o importunou tanto quanto teria pensado. Bem, sem contar a parte da chantagem. Por que ela o quis por perto, então? Bubbles poderia ter contado seu segredo e o humilhado. Boomer reprimiu uma carranca; ficar chateado com isso era muito esforço agora. Então se aconchegou mais em sua cama e soltou outro bocejo.
De repente um forte estrondo atravessou seu quarto e arrancou Boomer abruptamente de seu sono pacífico. Saltando quase no ar, acidentalmente se atirou da cama e foi direto para o chão. Um silvo de dor escapou pelos dentes quando agarrou sua cabeça e tentou processar o que estava acontecendo.
Um rápido olhar sobre a cama mostrou-lhe a fonte da perturbação. Bloqueando a porta com os braços cruzados e uma careta horrenda, o autoproclamado líder, Brick. Olhos vermelhos de sangue olhavam-no sem nenhuma emoção legível, o lance de tentar não transparecer suas emoções. O líder estava principalmente preso em um estado de desaprovação permanente de qualquer coisa. Como se sua carranca não fosse severa o bastante.
Boomer abandonou o rosto do desaprovador irmão mais velho para as suas calças jeans relativamente desgastadas e camisa de botão escuro. Alguém normalmente pensaria que adicionar um boné de beisebol vermelho a um conjunto acabaria com sua aparência autoritária. Brick usava aquele boné desde o dia em que foi criado.
O loiro nunca o tinha visto sem o boné, e tinha certeza que Brick dormia com isso. O vermelho opaco da tampa só fez seu vibrante cabelo ferrugem se destacar ainda mais. As longas madeixas eram mantidas amarradas na nuca e penduradas no ombro. Butch se divertiu uma vez tirando sarro e como resultado não foi capaz de mastigar por dois dias, e isso foi possível depois, por causa da super cura.
Falando de seu brutal irmão do meio, lá estava o verde olhando por cima dos ombros de Brick com um sorriso. Sem dúvida esperando o show começar. Butch sempre gostava quando alguém além de si mesmo ficava radicado.
Boomer ficou de pé e silenciosamente se sentou em sua cama. Era sempre melhor deixar Brick iniciar uma conversa quando tinha aquele olhar em seu rosto.
— Por que você saiu? E antes de falar que não é grande coisa, eu sei que não é assim. Tem coisa acontecendo, então, fale — disse com uma voz calma.
“Como responder?”
Boomer ofereceu-lhe um encolher de ombros e começou a pegar fiapos no seu edredom.
— Estava com alguém. — Ele se limitou a contar que ficou com uma garota.
Brick ficou satisfeito, por hora. Manter os olhos nos irmãos era cansativo.
...
Ela piscou para o teto colorido escuro cheio de estrelas brilhantes. Bubbles tinha decorado seu quarto e parecia estar pairando nos confins da galáxia. Tudo brilhava de noite. Não precisava nem de luz acesa com aquela tinta especial que dava o efeito palpável e intrínseco.
A superpoderosa azul recebeu uma mensagem. Finalmente. Mas conferiu e ficou decepcionada. Vinte minutos atrás ela tinha enviado para Boomer: “Olá. Tudo bem com você?”
E recebeu um mero: “Oi. Estou sim”.
Bubbles realmente tinha que se esforçar. O garoto não era capaz de tirar conversa fora. Só se passou um dia depois que o viu no orfanato e desenharam crianças, ao lado de Boomer, ela queria conversar e ter notícias dele. É um trabalho árduo compreendê-lo. Isso porque não falava muito. E não pegava a dica.
Bubbles mandou outras mensagens e passaram-se dias, ele respondia coisas curtas, e em longos intervalos, mas respondia, de qualquer forma. Isso fazia ela sorrir.
Tinha tantas coisas que passavam em sua mente, ela queria algum amigo diferente e a ajuda dele em outros assuntos envolvendo Arte.
Dias depois teve sua chance.
...
— Muito obrigada, Bubbles. Estou muito feliz. — A Sra. Marrie agradeceu novamente e a superpoderosa ficou envergonhada. Pela forma que olhava a jovem, parecia que sua participação na festa era essencial para ser um sucesso, e de certa forma, era mesmo.
— Estou um pouco nervosa. Vai ser maior que o atual. Vou receber muitos pedidos — Bubbles colocou as tintas espalhadas aleatoriamente na mesa, juntamente com os pincéis, lendo o cartaz com orgulho e apreensão: Incríveis pinturas faciais de Bubbles.
Era a primeira vez que a clínica infantil daria uma festa de arrecadação, e isso era muito importante para todos. Bubbles foi convidada pelo seu incrível talento e também por ser uma heroína influente e gentil. Ela era a cara da campanha. Marketing incluído.
— Duvido que não consiga, não seja modesta. Não existe pintora mais perfeita em nossa cidade.
Isso fez a superpoderosa sorrir carinhosamente. Bubbles conhecia todos os funcionários da clínica. E todos a amavam, principalmente as crianças.
— Aposto que os meninos vão pedir para serem super-heróis — disse animadamente. Bubbles amava desenhar super-heróis; imaginando como seria pintar os rostos de meninas, tanto quanto de meninos.
— Eu adorei a pintura que você fez no meu rosto — elogiou Marrie.
— Você apenas me pediu para decidir por você. Eu desenhei algo bonito.
Bubbles olhou para o rosto da mulher, sorrindo. Havia pintado uma borboleta.
— Você que está bonita. Cresceu tanto — A mulher elogiou a superpoderosa.
Bubbles era uma garota linda, alguém que recebia olhares admiráveis todos os dias.
— Pensou em convidar o seu amigo. Qual o nome dele?
— Boomie — Era na verdade o apelido para não ser reconhecido. Não que ele tenha feito algo ruim durante o dia que desenhou no orfanato. — Eu pedi para ele vir. Depende se o cara aparecer...
— Eu soube que as crianças do orfanato amaram o garoto. Ele tem tanto talento quanto você. E o que me intriga é o quanto vocês se parecem.
Bubbles encolheu os ombros.
— Ele desenhou muitas crianças. Todas ficaram felizes. Principalmente naquela pintura que ele fez na tela. A mistura das cores. Os tons. Os traços. Ficou muito... — A loira parou quando percebeu que estava elogiando além da conta. — Quero dizer, ele alegrou o coração das crianças.
— Ele é um rapaz muito bonito. Tem certeza que não é universitário?
— Ele é só alguns meses mais novo que eu — Bubbles sorriu inocentemente.
— Você viu o tamanho daqueles músculos? — Marrie deu uma piscadela.
A superpoderosa pensou no assunto e parecia ter razão. Ser um adolescente com elemento X deve tê-lo tornado poderoso. Algumas meninas ficaram encantadas com Boomer, outras garotinhas ficaram agitadas pela altura dele. Mas quando Boomer começou a colorir o mundo daquelas crianças, suas expressões suavizaram e somente tinha sorrisos.
Ele não era o maior adolescente que ela já tinha visto, mas era maior que qualquer outro garoto do seu colégio.
De alguma forma, Boomer focou o olhar somente em Bubbles, uma maneira de conseguir fazer algo sem tremer totalmente. Ele não conseguia lidar muito bem com as crianças. Bubbles sorriu quando ele apenas conseguia acenar com a cabeça, trêmulo. O desordeiro azul não falou quase nada.
Ela conseguiu o número do celular do rapaz. Hora ou outra conseguia puxar alguma conversa, que acabava com ele mandando um “tenho que ir”, e parecendo receoso. Afinal, ainda era um vilão? Essa foi a questão, principalmente. Porém, ela achou que Boomer não devia mais ser temido. Como uma pessoa que expressa sentimentos tão bonitos em sua arte poderia ser do mau?
Mas tinha que ter certeza absoluta.
— Vai dar tudo certo, bobinha — a senhora segurou as mãos dela com cuidado, e sorriu sinceramente. — Não fique nervosa.
Bubbles respirou fundo e se acalmou. Estava mais preocupada se Boomer iria aparecer.
Hoje devia ser um dia feliz e não podia deixar coisas ruins entrarem. Iria proteger a todos caso isso acontecesse. Suas irmãs sabiam do evento, mas a superpoderosa azul encarava aquilo como parte do trabalho e até chegou a chamá-las para participarem, porém elas tinham os próprios compromissos. Foi melhor assim, caso Boomer aparecesse.
As irmãs estavam um pouco separadas ultimamente. Bubbles ficava triste quando acontecia. Depois retirou seu celular do bolso e verificou as mensagens. Então soltou um suspiro exasperado e impaciente.
No entanto, ergueu a cabeça para a senhora e sorriu:
— Pode deixar. Hoje vai ser um dia muito feliz. Juro que vou proteger vocês e assegurar que tenham toda a diversão para as crianças.
— Esse é o espírito, Bubbles.
A superpoderosa azul muitas vezes via as discussões de suas irmãs mais velhas e parecia ser algo do destino ambas brigarem, discordarem ou não se darem bem. Tudo bem, Bubbles não foi retirada totalmente da equação por implicar aqui e ali.
E voltando ao assunto, Blossom e Buttercup discutiam regularmente. E Bubbles acostumou-se a aceitar o fato inevitável e aproveitava o tempo para contemplar a beleza do planeta Terra, e era uma maneira única e específica. Sua mente se enchia de itens fofos e positivos, como filhotes, algodão-doce e música. Eventualmente, suas irmãs iriam parar e perguntar em voz alta:
“Por que Bubbles parecia meditar no sofá?”. E ela fazia isso para dar um ar de mestre formidável.
Depois escutava de Blossom em como devia levar a meditação a sério. Ou ingenuidade e besteiras, de acordo com Buttercup.
Elas não entendiam que seu lugar feliz era seu refúgio num mar de brigas, discussões e entidades malignas.
Alimentada pela alegria que sempre a dominava quando envolvia arte e criança, havia decidido se dedicar em seu trabalho e estar aqui para se divertir e não para ficar incomoda por causa de Boomer. Se ele não aparecer, o rapaz que sairia perdendo.
...
Boomer decidiu aparecer. Estava receoso, principalmente se alguém o reconhecesse. Bubbles pensou sobre isso e decidiu mascarar com tinta. É algo simples, mas deu certo. Nem o reconheceu já que era uma pintura muito carregada e pesada, sombreando em torno de seus olhos, embora sofresse algumas alterações.
— Pronto. Você agora é o Coringa, só que loiro e mais feliz — Bubbles sorriu docemente. Depois mostrou o espelho e Boomer fez um beicinho quando viu seu rosto parecendo um palhaço.
Ela conseguiu ouvir as batidas frenéticas do coração dele, mais barulhentas que a conversa das pessoas. “Ele está tão nervoso.”
— Fica calmo. Ninguém vai te reconhecer — O loiro assentiu com a cabeça. Bubbles o olhou, examinando seus olhos vacilarem e seus dedos se enrolaram. — É isso que tem receio, não é? — recebeu um aceno de cabeça. — Tudo que você tem que fazer é escutar o pedido da criança e pintar o rosto. Enfim, se você não conhecer o personagem, pode procurar uma imagem no celular.
— Entendi — murmurou baixinho.
Ela abriu sua maleta e se virou para Boomer
— Agora, pode pintar meu rosto?
— Hm... o que quer?
— O que você achar melhor — Ela retirou os pincéis e a tinta, tentando controlar a felicidade de ter um desordeiro dando alegria para crianças e não ser tão solitário quanto antes. Ele parecia ser assim, introvertido pela sua vida no crime, sem amor na família, sem alguém para dizer o que era certo e errado.
Então Bubbles sentou-se na cadeira. Ela o observou e ele sequer piscou. O desordeiro se abaixou e ficou próximo dela, com as tintas nas mãos. Engoliu em seco, olhando o rosto de Bubbles com atenção, inclinando o rosto e se aproximando com lentidão. Sua mão se levantou e quase a tocou. Vários segundos se passaram e Boomer não fez nada, nem avançou, até piscar pela primeira vez e falar:
— Tudo bem.
Ela ficou parada e Boomer com o coração extasiado, e toda aquela ansiedade sem fim agora ia se desgastando, dando lugar à uma nova emoção. Tocou com delicadeza o rosto dela e traçou com auxílio do pincel, a tinta fria e molhada, fazia cócegas em torno de onde o loiro pintava.
— Terminei — anunciou, virando-se para pegar o espelho com a mão manchada de tinta. Boomer tentou evitar tocar na pele de Bubbles novamente, mas era quase impossível e ela hesitou antes de pegá-lo. Ele suspirou brevemente antes de assisti-la sorrindo.
— Um coelho? Nossa. Está muito lindo — ela se olhou atentamente. Os traços no nariz eram muito adoráveis e feitos do seu pincel mais fino. — Eu amei — então pulou da cadeira.
Bubbles tocou a mão dele antes de olhar para seus olhos esbugalhados. Boomer corou quando ela sorriu de orelha a orelha, uma covinha afundando em seu rosto.
— Obrigada por me ajudar, Boomie.
Ele tentou falar, mas nada veio. Então apenas assentiu a cabeça.
A noite já havia crescido quando Boomer chegou bem há tempo antes de tudo começar. Bubbles falou de crianças com diversos problemas que iriam se envolver com Arte, e ele seria convidado a ser assistente dela, pois Bubbles era considerada uma artista na comunidade, e ele ficou até animado. Seria mentira dizer que não estava interessado em se envolver. Ele queria muito, tudo que envolvesse um pincel e tinta, Boomer adorava.
É sua paixão, ele aceitaria como aquilo.
A parte ruim era ser conhecido e pela sua fama de vilão, levaria tudo a um caos. Boomer não queria isso. E seus irmãos iriam brigar com ele se descobrissem que trabalhou com uma inimiga.
Ele tentou não ficar muito incomodado com as chances de ser reconhecido, além disso não tinha planos para aproveitar o dia e o que raramente acontecia, nunca tinha planos, de dia ou de noite.
A primeira vez que passou a tarde inteira com a Bubbles desenhando crianças, a jovem furtou sem deixar rastros o celular do desordeiro e adicionou o seu número nos contatos dele sem sequer perguntar se podia. Boomer não sabia o que fazer, então ela pediu o número dele também. Ele cedeu quando a loira falou com algo envolvendo Artes e crianças carentes. A superpoderosa pegou a ação no flagra, Boomer se importava com algo. Não estava falando somente de Artes.
Isso a deixou feliz.
Bem, Boomer não fez o tipo falante. Todas as crianças pediam coisas parecidas. Ele pegou mais meninos pedindo super-heróis de filmes famosos. Boomer conhecia todos, então foi fácil pincelar no rosto dos pequenos.
Bubbles cuidou das meninas que queriam ser princesas e animais fofinhos. Sorriam sempre que viam a superpoderosa azul e seu rosto alegre. Ela estava muito feliz por tê-las ajudado a criar uma memória.
Boomer se assustou quando avistou pais chorarem de alegria quando um menino conseguiu sorrir e participar de algo. Muitas perguntaram a razão da pintura no rosto de Boomer. Ele apontava para Bubbles sem responder.
— Qual seu nome? — perguntou uma criança. O desordeiro ficou quieto e olhou com esperanças para Bubbles. Ela murmurou que estava ocupada. Em seguida, suspirou e tentou responder.
— Boomie.
— Que nome estranho.
Boomer deu de ombros.
— Eu quero um desenho pior que o seu. E não deixe tudo colorido — disse o garoto, rindo um pouco e fazendo o desordeiro corar de vergonha. — Brincadeira. Ficou legal. Eu quero que pinte o Venom.
“Foi novo. Ninguém pediu vilões.” O desordeiro assentiu antes de limpar o pincel e tingi-lo com nova cor. Preto e branco. Quando terminou, a criança pegou o espelho e gritou.
— Estou macabro. Uau. Obrigado — O garotinho pulou da cadeira e ofereceu a mão para o desordeiro. Ele aceitou e o menino sorriu. E foi embora. Os pais da criança gritaram quando o viram. Boomer se perguntou se era certo pintar algo sinistro na cara de uma criança.
Alguns minutos depois, Bubbles e Boomer estavam limpando todos os pincéis quando perceberam que a festa era ao lado e já não teria mais rostos para pintar.
— Por que um coelho? Eu pareço com um coelho? — Ela se inclinou para bem perto do rosto dele.
Boomer encolheu os ombros e tentou explicar.
— Antes, um pouco.
— Quê... antes?
— Ano passado... Você me lembrava um coelho.
Uma lâmpada acendeu na cabeça de Bubbles.
— Está falando de quando eu estava gorda? — perguntou, fazendo-se ofendida.
— Não... não estava gorda, mas parecia um coelho. Tipo, quero dizer, não quero dizer gorda, quis dizer fofa. É isso!
A loira queria rir pela atitude desesperada.
Boomer parou de se explicar quando a escutou rindo.
— Estou brincando.
Ele suspirou com o coração batendo forte. “Que vergonha!”
— Acho que você percebeu que eu mudei. Me acha fofa ainda? — perguntou com doçura.
— O quê? — gritou, pulando.
— Estou brincando... Não estou ofendida. Eu meio que parei de me cuidar quando a Blossom sumiu. Fiquei deprimida. Mas estou bem agora. Hoje eu não perco mais um dia enfiada em casa, triste e sem fazer nada. Quero viver cada dia ao máximo.
Boomer apenas a olhou, incerto de tudo.
— Deve ter sido difícil para você, sem o Brick... certo? — disse, sua voz cheia de sinceridade. — Ele é seu irmão e demorou, mas eles voltaram. Espero que tudo esteja bem na sua casa, Boomer.
Ele queria dizer que nada era igual a antes. Mas não podia e principalmente, por que deveria falar com ela? O dia que Brick falasse o que estava errado, o que estava sentindo, seria o dia que o inferno congelasse e os porcos voassem.
Não sabia se estava tudo bem.
— As coisas tem andado diferentes depois daquilo. — Ela admitiu e isso pegou o desordeiro muito desprevenido. Bubbles tinha uma leve bruma de lágrimas que queriam sair. — Quero dizer, se nós não... se nós tivéssemos prestado mais atenção, saberíamos a intenção do inimigo. E eles os levaram para longe de nossa família. E nem tivemos ideia. Não fizemos nada além de esperar. E esperamos... eu me sinto tão inútil, caso isso aconteça de novo.
Boomer ficou a olhando, sua respiração parando.
— E sabe o que há de pior? Tem casos recentes de coisas parecidas acontecendo no mundo... o que aconteceu aqui na cidade... Meu pai, ele me falou... Ele me falou que...
— Bubbles? — Maria se aproximou de ambos, sorrindo e feliz. — Você não vai acreditar de quantos estamos conseguindo arrecadar, principalmente de ligações de pessoas que você ajudou... está tudo bem?
Bubbles virou-se e limpou o canto dos olhos.
— Estou sim. Estou bem.
Boomer ficou parado feito uma pedra, observando as duas conversando.
— As crianças pedem para a fazerem voar um pouco e depois tocar alguma música. Você poderia?
Bubbles acenou com a cabeça.
— Sim. Eu adoraria.
— Como você faz elas voarem? — perguntou Boomer sem perceber. Ele corou quando recebeu atenção indesejada.
— Eu pego uma criança com as mãos na cintura e eu voo, segurando-a. Elas fingem que são super-heróis — Bubbles sorriu. — Ah, já sei. Você vem comigo.
Ela pegou a mão dele e o puxou para perto.
— Hã? Como assim...? — engasgou com as palavras.
Para a surpresa de uma loira, Boomer sabia tocar violão. Então é claro, colocou o tímido Boomer para tocar. Então arrependeu-se tanto. Quem mandou abrir a boca? Por isso não falava nada.
Demorou um pouco além da conta para Boomer tomar coragem. Ele primeiramente focou em dedilhar as cordas e nem olhou para as crianças, com o tempo passando, a música tomou três minutos que se passaram rápido depois que venceu seu medo e sua gagueira inicial.
A música escolhida foi Just Like Heaven de The Cure.
Ninguém, nenhuma criança ou sequer a loira zombou dele. Apenas incentivos. Aqui fora era tão diferente. As pessoas não o botavam para baixo como seu irmão Butch, e sorriam para ele com sinceridade sem aquele rosto zangado de Brick.
Pela primeira vez na vida ele tocou para outras pessoas e foi eufórico. Vívido. Emocionante! Ele queria até tocar de novo quando bateu na realidade e então negou, envergonhado.
Crianças fizeram uma fila no lado de fora perto da árvore do jardim e um de cada vez voava como um super-herói. Boomer achou muito esquisito aquilo tudo, mas carregou algumas crianças antes de Butch ligar.
— Cadê você, caralho? Você nunca fica fora tão tarde da noite! — gritou Butch, o celular apoiado pelo ombro e jogando multiplayer ao mesmo tempo. — Porra, filhos da puta. Olha só, você me fez perder um cara desgraçado.
— Estou com... uma garota.
— De novo?! Puta que pariu. É o dia do apocalipse. É realmente verdade? Uma garota? Jura por tudo que é sagrado?
— Sim — retrucou. O que tinha de mais em estar com uma garota?
— Porra, vou te deixar em paz, e aí tenta comer a gostosa. Espero que seja gostosa, hein. Ou tá banido da família. Ela tem peitos grandes?
— Hã...
— Aproveita e vê se consegue pegá-los, por mim. Como seu irmão, entendeu? Ah, ela tem pernas, quero dizer, quadril...?
— Tchau — Boomer desligou assim que escutou as baboseiras de seu irmão louco por sexo. Não tinha que responder a mais nada de suas coisas vulgares.
— Crianças, não contem pra ninguém sobre o meu parceiro, tudo bem? É nosso segredo — pediu Bubbles. Todas elas prometeram e sorriram felizes.
Quando tudo acabou, Boomer foi ao banheiro e retirou a maquiagem, vendo que estava muito pesado em seu rosto. Ele ia indo embora, assim que se despediu das crianças escutou um grito:
— Boomie! — Bubbles o chamou. — Preciso entregar algo a você.
Ele ficou pairando no ar antes dela o seguir, um canto isolado para conversarem. O garoto recebeu uma revista de uma faculdade. Depois ficou encarando a garota e ela pediu para ele folhear aquilo. A cada página o desordeiro ficou intrigado. A faculdade tinha as melhores aulas de Artes de Townsville e do estado.
— Legal...
— Você poderia seguir a Artes, sabe? Faculdade. Já pensou sobre isso?
Boomer encolheu os ombros e continuou abrindo uma nova página. Parecia incrível. Bubbles sorriu em comoção.
— Não acha que pode estar na hora de você pensar um pouco no seu futuro? Quero dizer, você é muito mais que um Menino Desordeiro, é mais que um criminoso. É mais do que os outros veem.
Boomer parou tudo aquilo que estava lendo e a olhou. Bubbles deu um sorriso sincero. Ela disse aquilo mesmo? Ninguém nunca tinha falado assim com ele.
— Nunca pensei — respondeu simplesmente, seus olhos vagando pelo escuro da noite e as estrelas do céu. Bubbles fitou as estrelas. — Como tem essa certeza sobre mim? Você nem me conhece.
— Alguém com seu talento, me deixa brava. Também estou com ciúmes — disse ela, pegando a expressão corada de Boomer. Ela sorriu inocentemente. — É sério. Você fez as crianças sorrirem hoje. Sua Arte é incrível.
— Valeu...
— Pense com seriedade, ok? É a melhor faculdade que tem por aqui. E você ainda tem tempo.
— Eu nem frequentei a escola. Como eu iria pra faculdade?
— Então, frequente uma escola. Nunca é tarde para estudar.
— Não é tão simples. Mas vou pensar nisso.
O loiro dobrou antes de guardar no bolso.
— Eu me diverti.
— Ok...
— Boa noite — sussurrou ela antes de voar para longe e acenar.
Boomer ficou acenando até ficar com dor no braço.
...
Quando o desordeiro azul chegou em casa, encontrou um Butch desmaiado no sofá, roncando e com um pedaço de pizza em seu moletom, vestígios de ketchup e mostarda o lambuzando. Boomer teve que limpar para o irmão não acordar com insetos em cima dele.
E desenhou um pênis na cara dele com um canetão preto difícil de sair. Butch raramente se olhava no espelho, provavelmente estaria na rua com esse desenho e ainda não notaria. O garoto esquecia de escovar os dentes ou lavar o rosto, então o loiro não ficou preocupado em levar uns cascudos doloridos e fatais.
Brick estava em seu quarto quando Boomer pisou em sua casa e ofereceu um sorriso, e seu irmão não fez nada além fechar a porta.
Boomer dirigiu-se ao seu canto na casa. Fechou a porta e se preparou para dormir. Quando tirou a roupa e vestiu o pijama, não pôde deixar de pensar e examinar suas ações durante a noite, particularmente no momento de pintar Bubbles.
Uma vez enlouquecido, Boomer caiu em sua cama e descansou a cabeça em seus braços. Então foi ao encontro de Bubbles e pintou rosto de crianças, grande coisa, e daí? Ele devia considerar isso como insanidade temporária ou algum outro tipo de quebra mental. Butch fazia coisas assim o tempo todo, agia sem pensar. Talvez estivesse apenas absorvendo algumas das tendências de seu irmão?
Não, isso não pareceu certo. Isso exigia uma falta de pensamento, e ele tinha isso em abundância. Não o fazia muito bem na maior parte do tempo, mas o que poderia fazer? Então, se não fosse algum tipo de resposta instintiva, então o quê? Boomer sabia que era uma parte desonesta dele tentar obter coisas sobre as garotas. E não era da sua natureza. Não que ele jamais admitisse isso para seus irmãos.
Tinha que haver algo que o fizesse. Uma razão.
Ele sabia quanto tempo passou enquanto refletia sobre suas ações. Dez minutos, trinta minutos, uma hora? Poderia ter sido qualquer período de tempo. Ainda não veio a ele. Talvez estivesse pensando nisso profundamente?
Boomer não conseguia parar a risada autodepreciativa com esse pensamento. Claro que estava pensando nisso muito profundamente, esse sempre foi o problema dele. A resposta provavelmente estava bem na frente de seu rosto.
“Certo, Boomer, pense de novo. O que você estava sentindo quando viu aquelas crianças e Bubbles?”, pensou para si mesmo.
Lentamente, passou o momento mais uma vez em sua mente, sem dissecá-lo como estivera, apenas deixando-o tocar; tentando sentir as emoções novamente. Quando chegou a hora, a única razão pela qual ele poderia encontrar por se permitir ficar perto de Bubbles e se divertir com as crianças.
A revelação o fez piscar e encarar seu teto com perplexidade. Isso não fazia sentido. Ela era uma das Superpoderosas, ele era um Desordeiro. Eles foram feitos especificamente para destruí-las. Como ele queria ficar perto dela?
Isso era tão confuso! Desde o incidente com Blossom e Brick, ele ficou desconcertado, fora de sintonia. Ele era Boomer! O mais emocionalmente estável de seus irmãos. Não deveria ser assim. Essa foi a única palavra que ele poderia apresentar para se adequar à sua situação. Estranho.
Com um gemido, tentou sufocar seus pensamentos com um travesseiro. Não funcionou, é claro, mas por que não podia simplesmente ir dormir? Estava cansado o suficiente. Mas toda vez que fechava os olhos, lá estava ela e era nojento. Loira estúpida, com suas marias-chiquinhas estúpidas e fofas.
Ele seriamente achou isso?! Era oficial, era louco. Precisava fazer Butch socá-lo no rosto, talvez isso fizesse seu cérebro voltar a um estado funcional. Depois de um minuto ou dois de chafurdar em autopiedade tingida de nojo, Boomer levantou o travesseiro do rosto e respirou fundo.
“Acalme-se Boomer... acalme-se. Você está apenas cansado. Tem sido um dia longo e sua mente está pregando peças em você. Além disso, ela é a única garota que você teve contato próximo, é claro que você aplicaria o termo fofo para ela. Caralho. É um tipo natural, coisa de adolescente. Apenas relaxe.”
O loiro respirou fundo e soltou lentamente. Sim, estava cansado. O sono iria ajudá-lo. Com o sono, sua mente cessaria suas divagações inúteis e seria rejuvenescida. E quando acordasse, todos esses pensamentos traidores sobre marias-chiquinhas e olhos azuis-celestes desapareceriam, algo que ele poderia marcar como subprodutos de exaustão e pressão.
De repente seu celular apitou recebendo uma mensagem.
Bubbles: Eu não consigo dormir. E você?
Boomer: Eu também não…
E conversaram por horas sobre Artes, baboseiras que aconteceram em seu dia a dia, entre outras curiosidades. Boomer descobriu que Bubbles uma vez levou uma baleia bebê para casa e inundou o laboratório de seu pai. Bubbles descobriu que Boomer já tentou adotar um cachorro, pois gatos o odeiam e arranhou seu olho.
Ela perguntou como um gato poderia ter tanto ódio dele. Boomer respondeu que era simplesmente assustador aquelas presas. No entanto, eles evitavam falar de seus irmãos, e não era coisa de se falar no celular.
Nem se deram atenção que ficaram até o sol raiar.
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