Às vezes me sinto frio, insensível, as vezes me sinto como um psicopata, seja lá como se é definido um psicopata, as vezes me lembro de momentos, tão vagos e depois tão claros, as vezes penso, será que fui hipócrita? será que fui egocêntrico? a verdade é que não sei, entretanto as vezes tenho certeza, sinto a certeza... de que sinto sua falta.
Um breve momento é o que eu mais sinto falta, um breve momento, que não existiu, um abraço apertado, um cheiro e uma curta fala “te amo!”, será mesmo que não aconteceu? ... não, foi apenas um sonho, um belo sonho, tão belo que as vezes sinto saudades dele, sinto saudade daquilo que talvez eu não tive a certeza, ou tive, de tantos momentos... vivemos todos? Talvez esse último, tenha sido um sonho, só porque não era hora dele acontecer. O culpado? ... foi eu! Porque? ... também não sei, as vezes você parecia louca, e eu? eu te julgava ao mesmo tempo que me preocupava, “o que vai ser do futuro?”, se passava na minha cabeça, eu não sei, a verdade é que havia bem grande na minha testa, ou ainda há, um “EU NÃO SEI”.
Longe de mim passar horas e horas, escrevendo coisas que ninguém vai entender, a vida passa muito rápido tenho muitas obrigações e preocupações para pensar... escola, futuro, relacionamentos, ai meu Deus... eu sou gay, minha vó? ... ela, ela está bem. Quando era criança, você era gigante, ai eu cresci mais um pouco e você ficou pequenina, batia nos meus ombros, você fazia meu suco e meu pão com mortadela, as vezes conversava comigo por horas mas as vezes só ficava me observando jogar no celular, sentada ao meu lado.
“Vó! Cadê você?!” eu te mandava por mensagem quando chegava em sua casa e você não estava lá, contava o tempo na minha cabeça de forma muito clara, enquanto estivesse em outro lugar que não fosse sua casa, o tempo passava rápido, eu precisa correr, mas quando estava nela... tudo bem, eu já tinha chegado onde queria. Na infância corria pelo quintal sempre vendo você de longe, minha mãe? Estava trabalhando só ia conseguir vê-la no fim de semana, mas tudo bem... enquanto isso, você estava comigo.
Olhando para trás tudo passou tão rápido, será que vivemos todos os momentos? Eu não sei... fui feliz em todos eles? ... nem sempre, o estresse as vezes fazia parte da nossa relação, o seu jeito tão característico de ser me inspirou, talvez mais do que qualquer outra coisa na vida e isso... isso é uma certeza.
A formatura? Você perdeu, primeiro dia na faculdade? Você perdeu, Meu primeiro namorado? Não conheceu, No primeiro dia do meu primeiro emprego? Não teve café da manhã, no futuro haverá outros momentos, momentos esses, que você já perdeu, pelo menos acho, mesmo querendo que não.
Foi numa tarde de bastante calor, eu sai de casa correndo, precisava ir para escola, mas antes eu tinha que passar na sua casa para almoçar, não era uma obrigação, era um ritual que precisava ser feito todos os dias, saio correndo com uma mochila maior que eu nas costas, já estava nos últimos anos do fundamental e levava muitos materiais, chego no portão passando mal, estava muito quente, abro o portão e desço as escadas, e lá estava você, pequenina lavando a louça e distraída, estava usando uma camiseta regata, a cor não me lembro mais, entro de fininho pela sala, vou até a cozinha e paro bem atrás de você. Abaixo levemente minha cabeça e olho diretamente para sua nuca, e ali eu fico como se tivesse parado no tempo por pelo menos quinze segundos até que notasse a minha presença, foram os quinzes segundos mais claros e sólidos da minha vida, o cheiro, a sensação de aconchego, de carinho e amor, por quinze segundos eu e você trocamos a maior declaração de afeto do mundo sem nem mesmo nos olharmos nos olhos.
E esse momento, existiu? Sim. E foi lindo, o dia da morte? Não quero lembrar a ele eu não devo nada, o ultimo “tchau vó”, me parece tão distante, acho que esse não existiu, afinal de contas nem quando nos sonhos você me disse “até logo” foi um, você sempre esteve aqui, basta eu olhar pra lá, que de alguma forma eu vou te encontrar.
Minha Vó Raquel.
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