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História Rainha Vermelha - Aurélio Cavalcante


Escrita por: HeloShe

Notas do Autor


Aprendeu a obedecer
A cumprir
A mirar
Atirar
Acordar
Apanhar
Se camuflar
E sentir medo? A não sentir medo? Ele não havia aprendido.

Capítulo 6 - Aurélio Cavalcante


Fanfic / Fanfiction Rainha Vermelha - Aurélio Cavalcante

O 4º de uma geração de militares, seu destino já fora traçado desde o ventre. Natural de São Paulo, cresceu ouvindo sobre as grandes guerras e os heróis do exército brasileiro.

Ainda criança presenciou sua vó sofrer uma das maiores perdas, seu avô virou um mártir, morreu honrando o seu país. Passou sua adolescência observando sua mãe rezar todos os dias para que seu pai voltasse vivo da batalha.

Com 18 anos chegara então a sua vez, afinal... a honra, a garra e a determinação estavam em seu sangue. Não era bem assim que desejava passar a vida, mas era evidente a tristeza que traria para sua família se contrariasse essa tradição.

Aos 25 anos, já sendo reconhecido como um dos melhores soldados, fora alistado para batalhar ao lado dos Estados Unidos, deixando para trás sua família e sua noiva, Ana Lívia, por quem era totalmente apaixonado e que casaria assim que voltasse.

Esses 5 anos que passou em campo foram o seu pior pesadelo, toda a sua infância enfeitada por grandes heróis se tornou um mar de sangue e toneladas de culpa em seus ombros.

Definitivamente Aurélio voltou para casa diferente de como saiu, a angústia e a tormenta habitavam em seu corpo e tudo que ele desejava era paz e perdão, mas já não acreditava que o merecia. Só existia uma pessoa que seria capaz de fazer seu mundo colorido outra vez. Mas onde estava Ana Lívia?

*******

- eu quis marcar esse encontro para poder falar pessoalmente-

- fui na sua casa e seus pais disseram que estava doente e não podia receber visitas. Está tudo bem?-

- está sim, Aurélio. Mas o que tenho para falar é outra coisa-

- então fale, meu amor- carinhoso ele pega nas mãos de sua noiva percebendo que ela estava temerosa

- não posso me casar com você- cuspiu fora o que a atormentava, para que fosse digerido de um jeito rápido

Aurélio permaneceu estático, procurava em sua mente algo que tenha feito de errado para ela tomar essa decisão.

- fiz algo de errado?-

- não, Aurélio...-

- se é pelo meu trabalho, eu prometo que serei o mais flexível-

-Aurélio, me escuta...-

Mas ele continuou a falar, a pedir perdão, atropelava as palavras de Ana Lívia.

- Aurélio!- gritou, e então recebeu a atenção que desejava – não tem nada a ver com isso, é muito delicado e eu espero que me entenda-

- então diga-

- eu... eu me apaixonei por outro homem-

Ela havia se preparado para os gritos, os questionamentos, os lamentos, mas tudo o que recebeu foi o olhar decepcionado de Aurélio, e isso a quebrou. Ele não merecia isso, nunca a tinha feito mal, sempre fora tão amoroso. Mas esses anos longe dele acarretaram uma carência em si e foi aí que ela caiu.

- Me desculpe, Aurélio- não fez questão de segurar as lágrimas – diz alguma coisa, briga comigo!-

- A única coisa que me manteve vivo esses anos, era saber que um dia eu te levaria ao altar- era como se seu coração estivesse em pedaços

Então ele se levantou de onde estava

- onde você vai?- ela perguntou

- espero que seja feliz-

*******

A vida de Aurélio nunca mais foi a mesma, mas ele não deixou que aquilo o derrubasse, trataria de buscar a sua felicidade, mesmo que durasse segundos. Seus relacionamentos eram a curto prazo, e a desculpa era que um soldado precisava ser livre para garantir somente a sua sobrevivência.

Mas tinha uma coisa que sempre o deixava feliz, e isso ele guardava à 7 chaves.

Pintura, as misturas das cores, a leveza do pincel na tela, Aurélio expressava tudo o que sentia através da arte. E ele é bom nisso.

Infelizmente um dom que julgam não estar à altura de um homem. A família de Aurélio sempre fora muito tradicional e como todos, ou pelo menos a maioria das pessoas nessa época, eram machistas. Mas em Aurélio tinha algo diferente, talvez devido a tudo que passou e presenciou, ou então Deus tivera um propósito especial. Todavia, ainda tinha muito o que desconstruir.

*******

MARCHANDO!”

Lembrou do avô ao ouvir a voz de comando do capitão, voz que ele sabia muito bem como responder.

“Vocês estão me ouvindo?”

“sim, Senhor!”

“Está na hora de servir a um bem maior!”

“Sim, Senhor!”

“A um propósito maior!”

Conseguiu ouvir de relance sua mãe dizer:

- meu filho vai ser um herói, homem com “H” maiúsculo-

Mas Aurélio não podia sentir e dizer. Dizer o que sentia? Aurélio não podia.

As bombas não param de explodir e o alvoroço já está instalado na pequena cidade.

Aurélio já estava no esquema tático, mas por algum motivo ele para. Vê uma multidão correndo de um lado para o outro, ônibus passando cheio de trabalhador, mulheres, crianças, ele olha para o lado e vê os fardados largando o dedo, ele respira fundo e ouve bem alto.

“Tá esperando o que? Larga esse dedo!”

Era o seu dedo e o gatilho, era ele quem decidia?

O capitão manda segurar, Aurélio está atrás de uma mureta, a mão treme e sua frio.

“Está na hora de servir a um bem maior”

Aurélio avista um dos adversários e se posiciona.

“Servir a um propósito maior!”

Ele atira

“Meu filho um herói, já pensou?”

E então aqueles olhos inocentes recaem sobre si novamente, a imagem da mãe com o corpo de seu filho ensanguentado no colo, aquele grito silencioso mas que doeu forte em seu coração, seu maior pesadelo.

Acordou assustado, já perdeu as contas de quantas noites passou em claro, todas as vezes que fechava os olhos o inferno se instalava.

Aos 37 anos ele já estava farto de todas as noites sentir o travesseiro pesar, de saber que a cada passo que dava estava indo em direção ao inferno. Estava cansado de ver sangue inocente derramado e sentia culpa por tudo.

O que Aurélio mais queria era mudar de vida, algo que fizesse ele esquecer, ou então se redimir. Queria mudar de vida, e principalmente trabalho, mudar para algo onde ele realmente protegesse e não que se sentisse um assassino.

********

- Teremos uma grande perda, mas entendo o seu pedido-

- agradeço pela compreensão e por ter me atendido-

- sabe, Aurélio...- O general a sua frente consertou a postura em sua cadeira e pôs as mãos em cima da mesa afim de demonstrar uma figura superior- você é um dos meus melhores soldados e eu tenho um grande apreço por sua família. Quando me fez o pedido de demissão, isso me assustou... e fiquei muito intrigado sobre o porquê dessa decisão, mas respeito a sua escolha de não contar, mas você sabe que não pode simplesmente sair, né?-

- sim, eu sei. Só se eu tiver alguma doença grave-

- e você não tem, é o homem mais saudável que conheço-

- então eu não consegui?-

- eu tenho uma outra proposta, você me pediu demissão, o máximo que posso fazer por você é mudá-lo de função. Estou sendo muito generoso, pois a sua família está conosco a muitos anos.-

- e qual proposta seria essa? Qual função eu teria?-

- houve um pedido por um segurança para uma empresária, se chama Julieta Sampaio-

- já ouvi falar, mas por que pediram isso?

- ela tem sofrido ataques, ameaças de morte, esse mês atacaram o carro dela, foi um ataque a mão armada-

- por que isso? Será que queriam rouba-la?-

- uma mulher quando se mete no mundo de homens, é isso que acontece-

- mas estão errados do mesmo modo, isso não lhes dá esse direito-

- ela tem que estar ciente de onde está pisando. Enfim! A proposta é essa, que você seja o segurança dela, não se preocupe com o salário, manteremos o mesmo-

Aurélio refletiu por meros segundos, seria um completo idiota se negasse. Ser segurança de uma empresária? E ainda receber o mesmo salário? Só sendo burro para negar. Não teria mais o clima de guerra e por mais que ainda tivesse acesso às armas de fogo, agora seria por  proteção, como ele havia desejado.

- quando começo?-

- faça as suas malas, amanhã você parte para o Vale do Café-

******

O que Aurélio não sabia é que seria mais difícil do que imaginava.

Durante o percurso que o carro fazia de São Paulo até o Vale, ele pensou em como seria essa empresária e todo o ambiente. Imaginava uma senhora de idade, provavelmente viúva.

“Bem provável que tenha herdado o que tem de seu marido” pensou

Também não conseguia parar de pensar nessa vida nova que se iniciava, foi um pouco difícil para sua família concordar, mas no fim se acostumaram com a ideia.

Ele sentia que essa era a chance da vida lhe perdoar por tudo o que cometera em guerras. Aurélio tinha para si um jogo interno, achava que se protegesse o mesmo número de pessoas que matou, seria redimido.

Mal sabia ele, que apenas essa vida já valia por mil. Não seria tão fácil como ele pensava.


Notas Finais


Parece que no próximo teremos interação Aurieta
O que vcs esperam?
Será que eles vão se dar bem ou não?


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