História Raio de Sol - Solangelo - Afrodite, a deusa do amor

NICO 

Nico estava terrivelmente, estupidamente, incontestavelmente triste. Achou que seria mais fácil lidar com a tristeza quando ela voltasse, mas se enganou. Se enganou de maneiras estrondosas, estratosféricas. Ao mesmo tempo que estava triste, não estava surpreso. O filho de Hades já sabia que as coisas iam acabar desse jeito, sua amizade — ou o que quer que fosse — com Will Solace era perfeita demais para dar certo. E Nico nem entendia o porquê de ela ter, aparentemente, acabado. 

O.k, Will provavelmente não gostara do jeito que o Lorde das Trevas desobedecera com todos os significados da palavra, e da maneira mais perigosa possível, todas as suas ordens médicas. Nico sabia das consequências, sabia que iria se dar mal fisicamente. Sua saúde estava começando a ficar um pouco mais estável, e ele já causara um retrocesso enorme. O pior de tudo era que ele sabia disso, entendia isso, mas continuava não se importando nem um pouco. 

Pensar em si mesmo nunca foi um de seus luxos pessoais. Nico nem teve, algum dia na vida, um luxo desse tamanho. Ele só viu o perigo, pensou na situação, bolou um plano perigoso e colocou-o em ação. Tudo em menos de trinta segundos. Aquela era sua especialidade. Em momentos de crise, Nico aprendeu a se colocar à disposição dos outros para salvá-los, principalmente se estes fossem seus amigos e colegas. Mesmo que alguns desses olhassem torto ou agissem com repulsa perante sua presença. Talvez tivesse aprendido que ser um semideus fosse realizar sacrifícios. Talvez Percy, inconscientemente, tivesse mostrado isso a Nico. O filho de Hades jamais esqueceria o modo como um garoto de treze anos, com os olhos mais profundos do que o oceano todo, empunhara uma espada à beira de um penhasco, na neve, para enfrentar uma mantícora. Desde então, Nico seguia seu exemplo completamente à risca. 

Mesmo assim, Nico gostaria de entender as últimas palavras de Will Solace. 

“Eu te odeio.” 

Com certeza não era a primeira vez que alguém dizia isso a Nico. Mas, de alguma forma, aquela foi a vez que mais doeu. Doeu de verdade. Nem se Percy Jackson dissesse isso, doeria tanto.

Nico repassou em sua cabeça todos os últimos três dias. As conversas com o filho de Apolo, as implicâncias, as piadas, os apelidos. Ele queria entender onde errou. Será que sempre esteve errando, e só não percebeu? Droga, Nico. O que você esperava?, dizia a si mesmo. 

Não queria acreditar que o que estava acontecendo era verdade. Nico não queria ter que ir embora, não queria ter que desacreditar de tudo e de todos novamente. Não queria parar de falar com Will Solace, ainda mais depois da conversa que tivera mais cedo com Percy Jackson. 

Quando Nico finalmente pôde se entender melhor, quando seus pensamentos estavam um pouco mais esclarecidos, as coisas deram errado. Sua vida era uma piada de mau gosto. 

O filho de Hades estava sozinho em seu alojamento, ainda dolorido. Sua cabeça não latejava como quando voltou das sombras, mas ainda persistia um leve incômodo. Estava com a mesma roupa de sempre, o que era bom. Isso significava que ninguém o despiu para curá-lo enquanto estava desacordado. Só duas pessoas tinham ido ao seu encontro naquela manhã, fora Kayla, que estava na enfermaria quando Nico abriu os olhos, e Hedge, que o ajudara mais uma vez. Aquele sátiro era mesmo alguém a quem Nico devia parte de sua vida. 

As duas pessoas eram as mais conflituosas na vida do Lorde das Trevas. Uma era Percy Jackson, o primeiro a entrar no quarto — sem sua permissão —, alegando as infinitas preocupações, seguidas de mais algumas desculpas. O filho de Poseidon jamais pararia de se desculpar, e Nico não gostava da ideia de ter que ficar aceitando-as todas as vezes. Assim que Percy entrou e no momento em que decidiu ficar, a conversa se tornou estranha. Nico não queria pensar nisso por enquanto, ainda mais depois da visita de Solace. Estava considerando as possibilidades de Will ter ouvido, por acidente, algumas partes de seu desabafo com Percy, e talvez por isso tivesse reagido daquele jeito doloroso. Orava ao seu pai para que esse não fosse o caso, mas se fosse, Nico se puniria para o resto da vida. 

O filho de Hades esfregou as mãos nos cabelos e sentou-se na maca. O acampamento, do lado de fora na janela, estava ainda mais lindo. Talvez o sentimento de tristeza e a sensação de que deveria ir embora deixasse tudo mais bonito por ali, tudo mais difícil de ser abandonado. O céu estava da cor dos olhos de Solace. Nico se xingou ao pensar nisso. Não queria pensar em Will, só que isso era algo impossível. O estúpido e irritante Raio de Sol se tornara dono de toda a sua cabeça, vinte e quatro horas por dia. Era Will Solace isso, Will Solace aquilo, Nico parecia uma criança idiota. 

E, de certa forma, ele não estava arrependido de nada. 

Continuou observando o acampamento da janela, pensando em como seguiria adiante. Não poderia simplesmente ir embora, alguém descobriria e o impediria. Provavelmente Hazel, que contaria a Jason, que contaria a Piper, e aí todos eles amarrariam as mãos e pernas de Nico em sua própria cama, para que ele não fosse capaz de ir a lugar nenhum. Por outro lado, não podia continuar na enfermaria. Will Solace ficava lá o tempo todo. Droga, Will era seu maldito médico. 

Nico Di Angelo precisava, urgentemente, dar um jeito de pelo menos repousar em seu próprio chalé, sozinho, sem que ninguém atrapalhasse seus pensamentos.

Espreguiçou com cuidado, se certificando de que todos os seus ossos estavam no lugar. Confere. Em seguida, levantou-se da cama e evitou olhar seu reflexo pelo vidro da janela. Se normalmente já parecia acabado e sem graça, Nico não queria ver como seu rosto estaria depois de quase ter sido engolido por escuridão e trevas. De tristezas, já bastavam as causadas por Will Solace. Antes que pudesse pensar no que fazer, ouviu batidas na porta. 

— Kayla, estou bem. Obrigado. — respondeu Nico, assumindo que fosse a irmã de Will, checando a sua situação atual. Fisicamente estava o.k,  já emocionalmente, ia de mal a pior. 

— Abre logo a porta, Nico. 

O moreno assustou ao perceber que, na verdade, era uma voz masculina que o chamava. Nico conhecia aquela voz, era Jason Grace.

— Ah, desculpa, Jason. Pode entrar, tá aberto aí. — Nico deitou-se novamente na maca. 

Jason Grace entrou rápido, acompanhado de Piper. O filho de Hades não se incomodou, até que gostava da presença dela, apesar de ser filha da deusa que Nico mais odiava. Todos os dias podia imaginar Afrodite comendo jujubas, enquanto ria da vida amorosa e desastrosa de Di Angelo. 

— Céus, Nico, você está mesmo inteiro. — Jason saltitou em sua direção, com aquele olhar irritantemente amigável que sempre carregava no rosto. 

Nico nem teve tempo de negar o abraço. Antes mesmo que pudesse impedir, Jason apertou suas costelas, dando risada e comemorando. 

— Você é muito idiota mesmo, seu imbecil. Não tome todas as responsabilidades pra si mesmo da próxima vez. — Jason disse, sem soltar os braços ao redor de Nico. 

— Bom dia, Grace. Melhor você me soltar agora, por favor — Nico murmurou a última parte para si mesmo, desconfortável — Antes que minhas costelas voltem a se dissolver. 

Jason se afastou, como se nem tivesse lembrado do fato de que o filho de Hades não gostava de ser tocado na maioria das casos. Na maioria. 

Seus dois colegas continuaram em pé. Piper abriu um sorriso grandioso e sincero. 

— Oi, Nico. Que bom que você está melhor. Ficamos muito preocupados. — A voz de Piper era doce, mesmo que não estivesse usando o charme. Isso assumindo-se o fato de que ela não estava. 

— Preocupados? — Jason fez uma expressão de quem estava desacreditado da namorada — O acampamento inteiro quase surtou, Piper. 

— Você vai deixar Nico assustado, Jason. 

Nico deu uma risada abafada. 

— Estou vendo que se importam, a quantidade de gente que veio me visitar se resume a duas pessoas.

Jason levou sua mão até a nuca. 

— Hoje é dia de treinamento extensivo, seu tonto. A maioria dos semideuses está por aí em lutas amistosas. Além disso, tem gente ajudando a arrumar a bagunça que o Leão de Neméia fez no anfiteatro, a outra metade só está apavorada e esperando outro ataque. 

— É, acho que vai acontecer. — Nico respondeu. 

Os três riram. Fazer piadas da vida de um semideus era o que os mantinha sãos. 

— Nico, viemos pra ver se você está bem, mas não só por isso — Piper interviu, assumindo um tom sério, ainda que agradável. O filho de Hades pôde sentir o semblante de Jason escurecer. Aquela visita tomaria algum rumo extremamente delicado. 

— Então, o que mais? — perguntou Nico. 

— Vimos Will Solace por aí de um jeito bizarramente amedrontador. Ele não está falando com ninguém, Nico. Parece uma pessoa completamente diferente. — Jason respondeu, receoso. 

Nico sentiu uma pontada aguda em seu coração. O que diabos está acontecendo? 

— A gente queria saber se aconteceu alguma coisa entre vocês dois. — Piper continuou, sem se abalar. O assunto não parecia algo difícil para a filha de Afrodite, era como se, pela primeira vez, alguém além de Solace não escolhesse as melhores palavras para falar com o rei dos fantasmas. 

— Ele só veio aqui, me encarou, disse que me odiava, e foi embora. — Nico tentou dar de ombros, segurando as lágrimas antes que elas se tornassem visíveis. 

— Só isso, Nico? Simplesmente assim? — perguntou Jason, confuso. 

— É. Eu estava conversando com o Percy e daí… 

Piper interrompeu a fala. 

— Espera. Você disse que Will viu você e Percy conversando? — a garota de repente arregalou os olhos, como se entendesse todos os segredos do universo. 

— O que tem isso? — Jason e Nico responderam em uníssono. Piper deu risada da sintonia, enquanto Nico estranhou-a. 

— Vocês são muito burros. — a filha de Afrodite sentou-se na cadeira — É claro, Nico. É óbvio. Will ficou com ciúmes. Ele estava vindo te ver e… BUM! Encontra você com Percy, o cara que você foi apaixonado por anos. Além disso, fui capaz sentir a raiva dele quando você se sacrificou a um quilômetro de distância. Nico, você quase matou ele de preocupação. 

Nico piscou repetidas vezes. As palavras de Piper não faziam sentido algum. Jason, que até então se mantinha calado, falou: 

— Você se meteu na maior confusão que poderia se meter, cara. Boa sorte. 

Piper fuzilou o namorado com o olhar, o que fez com que Jason rapidamente encolhesse a postura. Nico achou aquilo engraçado. 

— Que confusão? Algum de vocês pode me explicar no que, exatamente, eu estou me metendo? 

— Você está se metendo com a minha mãe, Nico. Will Solace gosta de você. — Piper encarou o filho de Hades, com a maior seriedade do mundo — Eu posso sentir isso. Eu entendo dessas coisas, muito mais do que eu gostaria, Nico. Acredite em mim. 

O moreno de olhos negros não conseguiu abrir a boca para responder algo que não fossem murmúrios sem sentido. Estava atordoado demais até para se mexer. O filho de Apolo perfeito, o próprio Will Solace, o raio de sol ambulante do acampamento. Ele estava gostando de Nico? No sentido mais profundo da palavra? Impossível. Piper estava errada. 

— Eu sei que você está tentando se convencer de que não é verdade, seu idiota. Posso ver isso nessa sua cara de melão — Jason deu um peteleco na testa de Nico, que voltou a si mesmo — E eu também sou tão esperto quanto Piper pra perceber que você também está afim do Solace.

— Não acho que você seja tão esperto quanto eu — Piper deu risada — mas isso é verdade, Nico. Todo do mundo do acampamento sabe que vocês tem alguma coisa. 

— Mesmo que seja verdade, o que eu posso fazer agora? — Nico resmungou, fechando a cara — Ele está com raiva de mim. Não vai querer falar comigo. 

— Ele não precisa. Tenho um plano. — Piper pareceu se animar com a ideia. Pela expressão de Jason, aquele não seria um plano muito confortável para Nico. 

Dois dias. Esse foi o tempo que Nico ficou sem falar com Will Solace. O filho de Hades já estava tão habituado com a companhia do loiro que aqueles míseros dias pareceram uma eternidade. Durante todo esse tempo, Piper colocou o seu plano em ação. 

A garota fora tão engenhosa que puxou do fundo de sua memória o dia em que Quíron deu uma bronca em ambos, na frente de todos, bem no meio do refeitório. Sua punição: Organizar os destroços do anfiteatro e limpar os estábulos. O centauro tinha provavelmente esquecido do castigo, por conta do ataque e tudo o mais, mas Piper fez questão de lembrá-lo, usando um pouco de seu charme. Seu objetivo era fazer com que Nico Di Angelo e Will Solace ficassem sozinhos, obrigatoriamente. 

E assim aconteceu. Quíron concordou plenamente que seria justo, apesar do acontecido, que o castigo permanecesse. Era desse jeito que se mantinha a ordem entre os adolescentes. 

Um pouco relutante, Nico foi na onda de Jason e Piper. Ambos eram bons amigos… seus amigos. Estava com medo do que poderia acontecer, mas mesmo assim, apareceu na hora da detenção. De qualquer forma, se não aparecesse, levaria um sermão extremamente desconcertante de Quíron, e Nico não queria ter que ouvir seus discos de bandas famosas dos anos 70.

Primeiro, organizariam o anfiteatro. Eram por volta de cinco da tarde, e o sol já de punha. O horizonte estava banhado com tons laranja arroxeados, exatamente igual ao dia em que Nico passara a tarde nos campos de morango com Will Solace. O melhor dia de sua vida. O filho de Hades chegou e, para sua surpresa, Will já estava lá, retirando destroços e o varrendo o chão. Nico se aproximou, com medo. Todas as suas inseguranças passaram pela sua cabeça como um filme de terror. 

Will não notou sua presença. Ou simplesmente fez de conta que o Lorde das Trevas não estava por ali. O coração de Nico começou a doer, seu peito estava ficando sufocado. Apesar disso, tentou ignorar a sensação terrível, colocando-se ao trabalho. 

Passaram uma, talvez duas horas de completo silêncio. Will varria por ali, levantava alguns destroços por lá, sem nem mudar de expressão. Nico estava sentindo falta de seu sorriso radiante, e também estava impressionado com a força do filho de Apolo, que carregava pelo menos três ou quatro restos dos pilares do anfiteatro de uma vez só. Pare de admirá-lo, dizia Nico a si mesmo. 

Algum tempo depois, o rei dos fantasmas simplesmente abriu a boca, sem que seu cérebro tivesse de fato solicitado: 

— Eu não consigo mais fazer isso. 

Silêncio total. 

— Até quando você vai me ignorar, Raio de Sol? — Nico largou a vassoura que estava segurando e aumentou o tom de voz — Eu quero saber pelo menos o que eu te fiz. Me responde logo, Solace. Por favor, se esses últimos dias não foram uma completa mentira, então…

Will parou de varrer. Virou-se na direção de Nico, com uma expressão que o filho de Hades nunca tinha visto estampada no rosto do loiro. Estava furioso. Furioso e triste. Os olhos estavam marejados, os lábios apertados, o semblante completamente perdido. 

Nico pensou que seu coração fosse pular para fora do corpo a qualquer segundo. 

— Você não fez nada, Di Angelo. Este é o problema. Não fez nada, e ao mesmo tempo fez tudo. — Will falava com a voz aguda — Você agiu como um herói, quase se matou. Mesmo depois de eu ter dito a você para não fazer isso. Foi a única coisa que eu te pedi, Nico. Será que você nunca vai me escutar? Não vai acreditar em mim? 

Nico se forçou a falar, apesar de estar tremendo. 

— Se foi isso que te deixou irritado, eu peço desculpas… — ele se aproximou de Will, que o afastou novamente — Eu não pensei em mim. Só pensei que tinha que salvar todo mundo, eu tinha que salvar… 

— Tinha que salvar Percy Jackson? — lágrimas começaram a cair pelo seu rosto — É, eu sei Nico. Eu vi. Você fez tudo aquilo por ele, não fez? É sempre ele. Nunca deixou de ser. 

Nico paralisou. Não conseguia chorar, não conseguia dizer nada. Era um completo idiota, um fraco. Nunca passara pela sua cabeça que seu amor antigo por Percy poderia machucar Will tanto assim. Nunca nem imaginara que ele seria capaz de machucá-lo daquele jeito. 

Will continuou: 

— Eu cuidei de você, Lorde das Trevas. Eu quis ser seu amigo, eu quis de verdade. Eu acordava todos os dias animado pensando nas coisas que eu poderia te mostrar, eu estava tão absorto no mundo que a gente criou, tão animado em ter a sua companhia. A cada dia na enfermaria que passava, eu percebia a pessoa incrível que você era. Que você ainda é, Nico. Tudo isso, e eu nem me dei conta… — o loiro esfregava os olhos, tentando cessar as lágrimas e secar o rosto — Não consegui me dar conta de que você não superou Percy. No fundo, acho que estou com raiva de mim mesmo.

Nico arranjou forças para falar três palavras: 

— De você… mesmo? 

— É. — Will revirou os olhos, ainda vermelhos — Estou com raiva de mim mesmo porque sem que eu pudesse controlar, antes mesmo que eu me desse conta, passei a querer ser mais do que o seu médico, Nico. Não quero ser só o seu amigo neste acampamento. Estou apaixonado por você. É por isso que te odeio. 

Nico Di Angelo sentiu que estava prestes a desmaiar. Piper, aquela filha de Afrodite estava mesmo certa. Will estava se confessando bem ali na sua frente, olhando nos seus olhos, enquanto chorava. Enquanto chorava muito. Nico estava com medo de agir, sentiu seu estômago revirar, talvez vomitasse ali mesmo e saísse correndo. Mas não. 

Nico não era mais uma criança, e portanto não deveria agir como tal. Não sairia correndo, dessa vez não iria fugir. Isso porque além da tontura e da confusão que estavam na sua mente, Nico sentiu uma felicidade inexplicável. Will Solace estava apaixonado por ele, e acabara de dizer isso com todas as palavras. Era delirante demais para ser verdade. Com dificuldade, deu alguns passos à frente, na direção do filho de Apolo. 

— Você não precisa dizer mais nada, Di Angelo. Eu vou resolver isso…Eu vou. — disse Will, corando e desviando o olhar pela aproximação do moreno. 

 Nico ignorou. Continuou em frente, até estar perto o suficiente. Seus rostos estavam a menos de um palmo de distância, e ele pôde sentir a respiração do loiro ofegante. Suas bochechas vermelhas estavam com um aspecto adorável. Mesmo chorando, Will Solace conseguia ser lindo. 

— Cale a boca, Raio de Sol. Você entendeu tudo errado. Quer saber sobre o que eu conversei com Percy? — Nico pegou nas mãos do filho de Apolo — Eu posso mostrar a você. Disse a ele que queria fazer mais ou menos isso...

Antes que Will pudesse dizer alguma coisa, Nico avançou sem hesitar, encostando seus lábios nos do loiro. Eram macios e salgados, por conta das lágrimas. Ao mesmo tempo, também tinham gosto de morango. E o beijou, beijou, e o beijou. Uma, duas, três, mil vezes. Colocou a mão em sua nuca e agarrou seus cachos loiros com a ponta dos dedos. Will retribuiu o beijo quase que imediatamente, enquanto colocava uma das mãos no rosto do moreno, a outra agarrando sua cintura. 

Poderiam ter ficado ali por horas, mas ainda tinham coisas a falar. Interromperam o beijo. 

— Você não demonstrou isso a Percy, né? 

— Ele namora, seu idiota. E eu não sinto mais nada por ele. Posso te provar, se você quiser. 

Will Solace deu risada. Nico sorriu instantaneamente. Céus, como senti falta desse sorriso, pensou consigo mesmo. 

— Acho que preciso de mais esclarecimentos, seria legal se você pudesse me… 

Nico interrompeu a fala do raio de sol ambulante. Juntou seus lábios novamente, sem receber protestos de volta. Depois de algum tempo considerável, Nico afastou os dois novamente. Will pareceu protestar com o olhar. 

— Foi meu primeiro beijo. 

— Eu sei. 

— Foi tão ruim assim? — Nico corou. 

— Não foi nada ruim. Definitivamente não foi ruim mesmo — Solace riu. 

— Podemos… Manter isso em segredo? Só por um tempo? 

— Tudo no seu tempo, Lorde das Trevas. Ainda estou cuidando de você. 

E assim, beijaram-se de novo.