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História Raio de Sol - Solangelo - Me conte um pouco mais sobre o mundo


Escrita por: solangelart

Notas do Autor


Oi, oi! Vim o mais rápido que pude.

Esse capítulo tem muito diálogo. Eu amei escrevê-lo. Espero que vocês gostem tanto quanto eu fiquei apaixonada.

Outra coisa: Neste capítulo coloquei uma música que particularmente gosto muito. Desconsiderem a data de lançamento dela, pois muito provavelmente foi anos depois da época em que se passa a história. Sintam-se a vontade para escutá-la enquanto leem. Inclusive, recomendo muito hihi

Beijinhos e até amanhã! Sem falta.

Capítulo 6 - Me conte um pouco mais sobre o mundo


WILL 

Will era realmente bom em atirar morangos. Talvez fossem suas habilidades naturais de arqueiro como filho de Apolo. Ele corria entre os pés de morango o mais rápido que podia, saltitando entre as fileiras cheias de frutos vermelhos e, a cada dois ou três metros, escondia-se debaixo delas para reabastecer a munição. 

Infelizmente, suas vantagens de mira e agilidade não ficavam muito na frente de Nico Di Angelo. O garoto estava mesmo levando a sério, perseguia Will como se estivessem numa disputa de corrida olímpica. Nico já havia acertado morangos por toda a sua camiseta recentemente limpa — Solace faria ele lavá-la com as próprias mãos — e desviava dos ataques com facilidade, mesmo estando tecnicamente em repouso corporal. 

Era como uma partida de paintball em pleno fim de tarde. O sol a esta altura já pintava o céu de cores alaranjadas e o azul começava a desbotar. Já era possível ver a lua e algumas estrelas que, ao anoitecer, banhariam o acampamento com lindas constelações. A iluminação avermelhada deixava os campos de morango com um aspecto celestial, se é que fosse possível. Logo, as duas crianças sujas de tinta natural vermelha teriam de se retirar se não quisessem ser devoradas pelas harpias na hora do jantar. 

De certa forma, a paisagem do horizonte era muito bonita. Embora, na opinião de Will, estivesse perdendo feio para a visão de Nico Di Angelo correndo por aí enquanto atirava morangos, tropeçando e rindo o tempo todo. O sorriso de Nico era um mistério no acampamento. Todos se perguntavam se alguma vez o filho de Hades já sorrira abertamente, com todos os dentes, com todo o seu rosto. E Will Solace finalmente podia dizer que, muito provavelmente, estava sendo o primeiro a ter o prazer de presenciar Nico Di Angelo dando altas gargalhadas, se divertindo como se nada mais o preocupasse. 

E, céus, como estava lindo

Nico prendera metade de seus cabelos negros, brilhantes e bagunçados — esses que Will achava um charme — num pequeno rabo de cavalo, o que fez com que seu rosto ficasse mais à mostra. Enquanto corria e saltava, escondendo-se atrás das árvores, as suas expressões iam de olhos fechados e sobrancelhas franzidas, com os lábios rosados que sorriam de orelha-a-orelha e bochechas avermelhadas, para afeições irônicas e imprevisíveis, como se estivesse planejando seu próximo ataque. 

Will Solace concluiu que Nico era um ótimo estrategista. Estava fazendo o filho de Apolo oscilar na mira por estar distraído admirando o garoto do Mundo Inferior. Era um jogo perdido, e Will não estava nem aí. Seus olhos tão negros quanto a própria noite estrelada brilhavam e lacrimejavam lindamente por conta dos risos constantes, enquanto sua postura frágil de sempre assumira naquele momento um aspecto de confiança inimaginável. É claro, Will sempre achara o Lorde das Trevas um garoto visivelmente atraente. Não sabia exatamente o porquê, não que se importasse em achar justificativas. Apesar disso, durante a guerra de morangos, Nico estava ainda mais bonito e chamativo, como se tivesse desistido de seu semblante sombrio e sério de uma vez por todas. 

Will queria apertá-lo num abraço por isso. E, com certeza, queria vê-lo daquele jeito mais um milhão de vezes. 

— Você é péssimo nisso, Solace — Nico acertou-lhe bem no nariz e, em seguida, lançou um olhar vanglorioso na direção de Will.

O filho do deus do sol tropeçou para trás e caiu sentado na grama, por conta do susto. Havia sido pego de surpresa. Nico estendeu-lhe a mão, oferecendo ajuda. 

— Parece que temos um vencedor, considere-se derrotado por um filho de Hades. 

Will levantou e deu um soco no braço de Nico, que resmungou em seguida. 

— Sou um bom perdedor, Di Angelo. 

— É, estou vendo. 

 

Ambos estavam imundos de grama, terra e sumo de frutas. Will com certeza tomaria um banho antes do jantar, mas ainda não fazia a menor questão de ir embora dali. 

— Venha, Nico, vou te mostrar um lugar legal. — Will puxou o moreno pelas mãos e, novamente, lembrou-se do desconforto do garoto — Desculpe, é costume. 

Nico, por sua vez, não esboçou nenhuma expressão que demonstrasse estar prestes a protestar algo.

— Solace, não tem problema. Você já me fez todos esses curativos. Só, pelo amor de todos os Olimpianos, não me carregue nos braços e saia voando por aí. 

Will deu risada. 

— Por que eu sinto que isso já aconteceu? 

— Não gosto nem de lembrar. 

 

Will Solace puxava Nico levemente pelos pulsos com um semblante mais alegre que o habitual. Por vezes, pensou ter notado seu companheiro lhe encarando pelo canto dos olhos. Resolveu não comentar nada sobre isso, não queria tornar o clima desconfortável, estava sendo um dia maravilhoso. 

— Onde estamos indo, Raio de Sol? 

— Você já vai ver. Feche os olhos. 

E Nico seguiu de olhos fechados. 

Ao chegarem no local que Will estava ansioso para mostrar ao filho de Hades, o loiro suspirou de um jeito aliviante, tirando todo o peso de seus ombros que carregava dos dias anteriores. A vista era perfeita: Tinham saído dos campos de morango e subido uma das colinas mais altas do acampamento, de onde era possível avistar toda a extensão do território. A sol agora deixava rastros rosados e roxos no horizonte, misturando o laranja do fim de tarde com o azul escuro de uma noite estrelada. Abaixo do céu, estava o lar de Will Solace. A área dos chalés estava completamente exposta, todos os vinte, e pareciam em completa harmonia, como se cada um tivesse seu espaço de importância no acampamento. Mentalmente, agradeceu Percy Jackson por isso. O anfiteatro e a arena de combates brilhavam à luz fraca das estrelas e pareciam de brinquedo daquela distância, enquanto a Casa Grande perdia um pouco de seu azul vivo pela iluminação escassa. Will via seus companheiros se dirigindo para o jantar, o que fez ele concluir que eram por volta de seis da tarde. Entretanto, não estava com fome. Muito menos com vontade de sair do lado de Nico. Ambos se sentaram, um ao lado do outro, tão perto que Will estranhou. 

— Pode abrir os olhos. Aliás, — Will lembrou-se dos segundos anteriores — Do que você acabou de me chamar, Di Angelo? 

Nico soltou uma risada abafada e fitou o chão. 

— Achei que fosse justo te dar um apelido idiota também. 

— Você está dizendo que vai me chamar de Raio de Sol? — Will riu alto sem querer, fazendo com que Nico fechasse a cara imediatamente. 

— ...É. 

— Eu gostei, Lorde das Trevas. 

Nico deu-lhe um soco forte no braço. 

— Isso doeu! 

— Que bom. 

— Você é muito mais legal enquanto está lutando numa batalha de atirar morangos — Will aproximou seu rosto do de Nico, cutucando suas bochechas — Vamos, Di Angelo. Olha só essa vista! 

Nico levantou a cabeça e, rapidamente, sorriu de um jeito que só ele conseguia sorrir. Não demonstrava apenas felicidade. Para Will, era uma mistura de todos os sentimentos: admiração, medo, preocupação e ansiedade. Aquele tipo de sorriso era a coisa mais linda do mundo. 

Di Angelo começou a falar com cuidado. 

— Eu nunca tive a oportunidade de ver o quanto o Acampamento Meio-Sangue é bonito. 

— É sua casa agora, Lorde das Trevas. 

— É, eu acho que sim. — Respondeu o moreno, com um tom de voz inseguro. 

Nico abraçou os joelhos e voltou a olhar o horizonte atentamente. Os olhos brilhavam numa escuridão sem fim. 

O silêncio se espalhou no ar por alguns minutos. Não de um jeito desconfortável, muito pelo contrário. Parecia simplesmente necessário. Parecia importante não falar nada naquele momento, como se ambos estivessem apenas observando a paisagem, pensando no futuro, encarando o passado. De certa forma, o silêncio parecia aproximá-los ainda mais. Como era boa a companhia de Nico Di Angelo, pensou Will, ainda que não houvesse nenhuma conversa.

Depois de algum tempo  — minutos ou horas, realmente não fazia diferença — olhando as estrelas ficarem mais fortes e as constelações tomarem forma, Will sentiu necessidade de puxar assunto. 

— Nico, como é o mundo lá fora? 

— Você quer dizer… fora do acampamento? 

— É, o mundo real. Você sabe… Eu moro no acampamento desde os nove anos. Não lembro de muita coisa sobre ser alguém fora daqui. 

— Se eu pudesse descrever numa palavra só, eu diria… Assustador. — A voz de Nico era rouca, porém firme. Seus olhos pareceram marejar por um instante, como se as lembranças fossem dolorosas.  

— Eu sempre imaginei que fosse. — Will esticou seu corpo e deitou na grama — Sabe, a vida de um semideus é horrível. 

 Ambos riram. Sabiam que era verdade. 

— Você se arrepende de estar vivo, Nico? 

— Depende de qual momento você estiver me perguntando. Umas semanas atrás e, tecnicamente, todos os meus últimos quatro anos de vida, sim. Me arrependi amargamente — Nico sorriu com o canto da boca, seus olhos estavam tristes  — Mas agora, neste exato momento, é legal estar vivo

O moreno esticou as pernas devagar e, para a surpresa de Will Solace, deitou na grama também. Era adorável ver seus braços esticados para cima enquanto seus dedos enquadravam as estrelas. 

— Eu queria ter uma vida normal. Penso muito nisso, sabe? Particularmente gosto de estar vivo, mas talvez as coisas fossem melhores se eu estivesse vivo no corpo de outra pessoa. — Respondeu Will, enquanto levava a mão até a nuca, a fim de ficar mais confortável.  

— Acho que todos nós aqui nesse acampamento sonhamos com isso a vida toda. O mundo nunca pega leve com a gente. 

— É… — Will virou-se de lado, encarando o filho de Hades — Sabe, Nico, eu gostaria de ser mais livre. Ir à festas como um adolescente normal, ao invés de ficar preso aqui para minha própria segurança, aprendendo novas técnicas de cura e anatomia humana. 

Nico virou somente a cabeça e sua franja caiu em seu rosto. 

— Eu nunca fui à uma festa e tenho oitenta anos de idade. 

De novo, riram. Até as conversas mais tristes eram capazes de fazê-los dar algumas risadas. 

— Solace, um dia vou levar você para conhecer um pouco mais do mundo fora daqui. Vou levá-lo ao McDonald’s e ao Central Park. A gente pode tomar sorvete e… Ir ao cinema. — Nico virou todo o resto de seu corpo, ficando cara a cara com Will — Eu faço isso, e você me ensina mais sobre as coisas dos dias de hoje. 

Um enorme sorriso se estampou no rosto do loiro. 

— Eu não poderia gostar mais dessa ideia. 

— Não, você precisa me mostrar as músicas, os filmes… Tudo. Quero aprender como funciona cada detalhe. 

— Preciso te mostrar também que não há problema algum em ser o que você é atualmente. — Respondeu Will, apreensivo. Não quis dizer a palavra gay, temendo que fosse desconfortante para Nico. É óbvio, para o filho de Apolo não havia problema algum em ser gay, muito menos na palavra dita em voz alta. Era só uma palavra, não poderia machucar tanto assim. 

Apesar disso, sabia que Nico precisava caminhar no seu próprio tempo. Não forçaria o garoto a se aceitar de uma hora para outra. Era difícil, Will Solace entendia perfeitamente. 

Nico corou e desviou o olhar. Não estava bravo, apenas parecia um pouco receoso. 

— Seria ótimo se você pudesse me ensinar isso… também. 

Will sorriu. 

— Muito bem, Lorde das Trevas. Estive pensando em te mostrar uma música há tempos. É a minha favorita do momento. 

Nico franziu as sobrancelhas, aparentemente interessado na música. De repente, o filho de Apolo levou as mãos até o bolso de sua bermuda e tirou de lá um iPod e fones de ouvido.

— Achei de fosse proibido o uso de tecnologia aqui no acampamento. Sabe, por causa dos monstros e tal… — Nico disse.

— Leo… — A voz de Will vacilou, os olhos de Nico imediatamente se tornaram tristes, mordia os lábios pensativo, Solace sabia que Nico sentia falta de Leo Valdez — Ele me deu antes de partir a bordo do Argo II. Nunca fomos próximos, mas ele ficou sabendo que eu gostava de ouvir música. Me ajuda na concentração… E ele disse que esse aqui não tem perigo. Provavelmente usou algum mecanismo que eu nunca vou saber te explicar pra que não atraísse monstros. 

Apesar da angústia em seu olhar, Nico ainda parecia entusiasmado.

— Me mostre essa música logo, Raio de Sol. 

Will rapidamente colocou os fones no iPod, enfiando um dos lados na orelha, enquanto dava o outro para Nico. Acomodaram-se, ainda deitados no chão, ligeiramente mais próximos pelo comprimento dos fios. 

— A música chama Youth. É de um artista chamado Troye Sivan. Conheci ele por acaso, e acabei gostando. As letras são incríveis… Eu sei que pode não fazer o seu estilo, mas preste atenção na letra. 

E a música começou a tocar. A melodia era uma mistura de batidas animadas e melancólicas ao mesmo tempo, o que combinava extremamente bem com a voz do cantor. Nico franziu as sobrancelhas, prestando atenção no que estava ouvindo. 

 

What if, what if we run away?

What if, what if we left today?

What if we said goodbye to safe and sound?

And what if, what if we're hard to find?

What if, what if we lost our minds?

What if we let them fall behind and they're never found?

 

Will cantarolava baixinho a letra enquanto revezava os olhares entre o céu, totalmente anoitecido, e o rosto de Nico, que estava muito perto do seu. Sabia todas as palavras de trás pra frente. Aquela música, de certa forma, transmitia muitas das coisas que passavam pela cabeça dele. Will tinha vontade de fugir de tudo que era obrigado a viver, sair do acampamento, ser alguém normal. É claro que nunca poderia de fato fazer isso, tinha funções a cumprir, pessoas pra cuidar, todo um lar para proteger. 

Entretanto, a ideia não lhe parecia menos atraente. 

 Nico, surpreendentemente, balançava os pés no ritmo da música, sem falar uma palavra. 

 

And when the lights start flashing like a photo booth

And the stars exploding, we’ll be fireproof

My youth, my youth is yours

Trippin' on skies, sippin' waterfalls

My youth, my youth is yours

Runaway now and forevermore

 

O refrão era a parte mais bonita da música. Escutaram-na até o final, em silêncio, com exceção da cantoria inaudível de Will, que se esforçou muito em diminuir o tom de voz, evitando assim que Nico ouvisse sua voz. Queria que o moreno de olhos negros prestasse atenção na letra. Quando a música acabou, Nico tirou os fones e iniciou a conversa, com um olhar travesso. 

— É incrível como essa música se parece totalmente com você. E em nada tem a ver comigo. 

Will deu risada, um pouco envergonhado. 

— Eu sei. Mas a letra, Di Angelo… 

— Ah, não, não. — Nico balançou as mãos como se houvesse um mal entendido — Eu gostei muito da música, Raio de Sol. Acho que esse cara era um semideus. Sabe, escrever sobre querer fugir, e sobre juventude… Viajar pelos céus e ser a prova de fogo. Com certeza são duas coisas que semideuses podem fazer, Jason e Leo estão aí para provar. 

— Você tem razão, Lorde das Trevas. — Will riu e fitou seu companheiro por um momento, a fim de apreciar seu rosto por mais alguns segundos e, em seguida, levantou-se, guardando o iPod em seu bolso novamente — Vamos, precisamos voltar antes que as harpias nos comam ou, pior, Quíron nos faça limpar os estábulos. 

— Estou morrendo de fome. 

Nico rapidamente se levantou num pulo, ajeitando a camiseta suja que estava um pouco levantada, deixando parte de seu abdômen à mostra. Assim que notou que estava exposto, corou. Solace não comentou nem uma palavra, desviando o olhar. Em seguida, pegou Nico pelas mãos, dessa vez não temendo que o filho de Hades o socasse bem no meio da cara. 

Puxou seu companheiro até o refeitório, antes que alguém declarasse os dois como desaparecidos.



 

 



 


Notas Finais


Obrigada por ler até aqui!

Me digam, vocês estão achando cansativo ou está fluindo bem? Me contem!!!

Até o próximo capítulo :)


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