História (Re) Começar - Cantando a Liberdade

Sempre soube que eu teria grandes problemas com meu pai desde que eu saí de Eau Claire.

Sempre soube que ele nunca gostou de mim o suficiente.

Sempre soube que o Texas me traria grandes problemas.

Mas não sabia que me traria Jessica Halford.

Minha convivência com meu pai já estava bastante desgastada assim que ela apareceu entre nós...ficou pior quando eles assumiram o relacionamento.

Meu pai muitas vezes me ignorou completamente por causa dela , já me deixou na mão várias vezes e sempre me senti uma pedra no caminho dos dois.

Eu me sentia idiota por estar morando com ele ainda.

Era humilhante.

Jamais imaginei que iria passar por uma situação tão degradante como esta, a ponto de haver uma agressão tão violenta vinda por parte dela. Foi a pior coisa que eu tinha visto na vida.

Me senti culpada por tudo o que aconteceu, pela briga e todo o resto. Me senti culpada por ter feito meu pai terminar o relacionamento com ela.

Não entendi o motivo de Jess ter me machucado , a ponto de mentir pra mim mesma e para todos , falando que era apenas bandagens apertadas.

Eu joguei minha dignidade e honestidade no lixo por causa disso e me senti a pior pessoa do mundo.

Jensen Ackles sempre foi um homem difícil e de temperamento forte, o que sempre me fez ter medo dele, mas mesmo assim eu o amo tanto... nós dois tivemos dias piores , mas nunca soube o motivo de tanta revolta vou nada dele. Não sei se era por ele se julgar incapaz de cuidar de mim ou se era pelo fato da ausência da minha mãe na vida dele. Oi as duas coisas.

Ele sempre impôs sua autoridade em tudo e em todos, mas nunca impôs limites em sua vida amorosa.

Ele é uma pessoa complexa demais para se entender.

Ele sempre amou minha mãe, mesmo depois de falecida , nunca deixou de amá-la e sempre diz que jamais encontraria uma mulher como ela, o que sempre despertou ciúmes e inveja por tarde de Jess.

Ela é uma criatura repulsiva.

E eu , sempre tive que aceitar tudo , sem murmurar e sem me revoltar com algo ou com alguém.

Eu estava só em Austin...sem minha família , sem minha vida pacata e simples que eu levava...mas minha única esperança de amor e amizade tem lindos olhos verdes e se chama Aileen.

Linn sempre foi a mãe que nunca tive ao meu lado e sempre penso que minha mãe era idêntica à ela.

Meu pai sempre fala que minha mãe era valentona , cheia de si e ao mesmo tempo era doce, delicada e extremamente amorosa ele sempre diz que sente como se ela estivesse viva , ao lado dele.

É a mesma sensação que sempre tive.

(...)

Aileen estava no meu quarto, após eu quase chorar à seus pés para que passasse a noite comigo.

Eu estava nervosa , meu pai estava pior que eu...e não tinha ninguém equilibrado entre nós dois para que pudéssemos manter a ordem e o sossego aqui em casa.

Só Aileen.

Estávamos sentadas na cama , enquanto ela penteava meu cabelo.

-Linn... porquê você fez aquilo? - falei baixo.

-Bom...sempre achei ela muito abusada e autoritária...sem falar o que ela fez com você, foi algo intolerável...- ela respondeu calma. - e além do mais, ela tava precisando se colocar no lugar dela.

-Desculpe por ter feito você ficar aqui comigo hoje...na verdade eu praticamente te obriguei! Mas sério, foi mal mesmo!

Caímos na gargalhada.

-Aurê, você é muito mais divertida do que qualquer compromisso meu! Ah... só desmarquei um jantar com o Chris e...- ela falou.

-Com ele? Sério isso? - falei arqueando a sobrancelha. - ah , sei lá...acho que vocês não combinam muito...ele é muito playboy!

Linn riu.

-Então tá mocinha , com quem eu combino então?

-Ah, com um homem que esteja a sua altura...um homão tipo o meu pai! Tanto em palavras quanto nas atitudes...quem saiu perdendo foi a Jessica...qualquer mulher de caráter daria tudo pra ter ficado no lugar dela...mas ela cavou sua cova com as próprias mãos...

Rimos.

Nunca gostei de Jess, nunca desejei seu mal, mas dessa vez ela apelou.

E apelou muito.

Sempre suportei todos os tipos de ofensas vindas da parte dela sem falar nada. Chegou um momento que eu pensei seriamente em fugir de casa e voltar para o Wisconsin.

Respirei fundo.

-Você gosta do meu pai , não é? : soltei no ar.

Ela olhou pra minha cara confusa.

-Hãm? - Linn fez com cara de interrogação - eu? Gostar de Jensen Ackles, o juiz federal do Texas? Sério isso?

-Ah , não se faça de boba! - falei - é ué! Gostar de gostar mesmo...na verdade, gostar até demais!

Ela riu.

-Aurê, seu pai é um homem admirável, tenho muito respeito por ele...ele é meu chefe e de mais um monte de gente! Ele é sério e muito profissional! Perto dele eu não sou nada! Ele manda e desmanda no país inteiro!

Eu ri.

-Pode falar, eu não conto pra ele...eu sei que vocês já ficaram no passado...e que não deu muito certo.

Vi suas bochechas corarem violentamente.

-Linn...eu não vou contar pra ele...mas se precisar de ajuda pra reconquistar o seu poderoso chefão eu posso ajudar! - falei rindo.

-Aurora...eu gosto muito do seu pai...gosto até demais...mas não queremos nos prejudicar outra vez.

-Porquê?

-Jensen achou melhor a gente não levar mais nossas investidas a sério, por motivos profissionais e não ia pegar bem pra gente.

Bufei.

-Aileen...minha mãe era aluna do meu pai e ele o professor dela...você acha que isso impediu eles de ter um relacionamento? Eu sou a prova do amor dos dois! - falei. - é óbvio que você ama ele...não gosta, você ama de verdade... Jess sempre foi uma interesseira , só tava com ele por causa da pessoa que ele é...ela nunca chegará aos seus pés.

Nos abraçamos.

-Jensen é muito especial pra mim...especial até demais eu acho.

Olhei pra cara dela.

-Tá vendo só? Você acabou de admitir que gosta dele! - falei quase gritando.

-Ah Aurê, vai dormir , vai! - ela disse aos risos.

(...)

Acordei cedo como de costume. Aileen ainda estava dormindo.

Depois de tudo o que aconteceu ontem , ela precisava descansar. Eu também preciso voltar ao normal, mas eu tenho aula. Talvez eu esqueça de tudo na escola mesmo.

Arrumei meu cabelo de qualquer jeito , fui até o banheiro fazer minha higiene e desci. Hoje minha rotina voltaria ao normal depois do meu dia de folga ontem. Peguei uma jardineira , uma blusa branca com a estampa do Grand Canyon e um All Star preto.

Lá vai eu para mais um dia de aula.

A casa estava extremamente silenciosa, mas desci assim mesmo...meu pai poderia estar dormindo ainda.

Fui até a cozinha e o encontrei de costas , sem camisa e distraído com algo.

Sorrateiramente , fui até ele e o abracei por trás.

Ele riu.

-Eu conheço essas mãozinhas pequenas! - meu pai disse divertido.

Ele se virou pra mim e nos abraçamos.

Aproveitamos cada pedacinho daquele abraço , sem Jess por perto.

Eu posso ter momentos incríveis com ele , sem ela por perto.

Eu era feliz e nem sabia.

-Deus te abençoe meu amor...como dormiu? - ele perguntou após beijar minha cabeça. -cadê a Linn? Mas que cabelo é esse Aurora? Vira aqui , deixa eu arrumar isso!

-Dormi em um pesadelo e acordei num conto de fadas...- respondi. - parece que tirei um peso das costas... aí pai , doeu! - resmunguei quando ele puxou meu cabelo. - a Linn tá dormindo ainda...

-E eu tirei um peso da minha vida , acredite. - ele respondeu calmo.

-É verdade mesmo? Tipo , vocês nunca mais vão voltar? Acabou de vez?

-O papai está oficialmente solteiro! - ele respondeu aliviado. - depois do que ela fez com você , agora eu sei que Jessica é capaz de fazer qualquer coisa pra conseguir o que quer...mas se tem uma coisa que ela nunca vai fazer é me separar de você...nada e ninguém vai tirar você de mim.

Ele olhou para meus pulsos ainda marcados pelas mãos de ódio de Jessica.

-Aurê...precisamos cuidar disso mais a fundo. - ele disse preocupado.

-Não tá doendo mais... só tá roxo! - ri para disfarçar.

Ele me encarou.

-Não tô falando disso pequena...quis dizer cuidar em meios legais...você vai precisar de fazer um exame de corpo de delito.

Olhei pro meu pai com cara de interrogação.

-Pai...eu não quero causar mais estragos....- falei baixo.

-Misha pode ver isso...bom , ele é seu tio e você vai se sentir mais a vontade...a vantagem de ter um legista na família é essa...

-Preciso fazer isso mesmo?

-Precisa e deve. Jessica agrediu você fisicamente e com certeza vai responder por isso. Vamos entrar com um recurso judicial contra ela...ela já tá bem encrencada na verdade.

Consenti com ele.

Meu pai já foi investigador , delegado , advogado e juiz...ele sabe o que está fazendo e não iria contestá-lo.

-Tá bom...eu faço...- respondi com receio.

Nos abraçamos novamente.

-Eu te amo muito pai...agora eu posso te abraçar quantas vezes eu quiser sem ela surtando de ciúmes! - gargalhei.

Rimos.

Mas perdi as contas das vezes que mal pude me aproximar dele.

-Mas eu tenho ciúmes de você! - meu pai disse ao tocar meu nariz com o dedo.

-Ah , agora que ela se foi , podemos fazer algo né? Eu quero muito viajar! Tennessee , Wyoming , Arizona , ou até mesmo visitar a vovó! PAI, TEMOS QUE IR EM NASHVILLE PELO AMOR DE DEUS!  Ah pai , diz que sim! - falei empolgada sacudindo o braço dele.

Ele riu.

-Jeff te acostumou muito mal garota! Aposto que isso é coisa dele! Tá bom, vou pensar no seu caso, mas antes precisamos de uma coisinha chamada férias! Continue tirando boas notas ,continue  responsável e aplicada e brigue menos na escola... aí nos vamos viajar , só nos dois!

Respirei fundo.

-Quem sabe um dia você não supera o trauma e viajamos para Santa Fe...eu sei que te dói muito lembrar de tudo o que aconteceu lá, mas eu sou de lá...tem muito tempo que não vou pra lá.

Ele olhou pra cima e suspirou pesado.

-Eu quero muito superar isso minha filha, mas acho que nem o tempo vai suprir isso...ainda vou achar quem assassinou sua mãe...ainda vou ver atrás das grades quem tirou Alice de mim, nem que seja a última coisa que eu faça na vida.

-Nunca teve nenhuma pista?

-O caso foi dado como inconclusivo há anos e arquivam as investigações...mas eu continuo a trabalhar nisso por conta própria...eles me afastaram do caso , pois eu estava muito abalado e não tinha condições de continuar a investigação...a cada dia eu tava pior...era algo muito pessoal.

Respirei fundo.

-Eu te amo muito sabia? - falei o encarando.

-Eu te amo um milhão de vezes mais! Você é tudo pra mim mocinha! Agora se apresse , você tá meia atrasada pra escola!

Kay chegou da rua com várias sacolas nas mãos e na mesma hora fui ajudá-la.

-Vejo que a paz reina nessa casa! O ar está mais leve! - ela disse calma. - Jensen eu falei pra você esperar eu chegar com as coisas pra fazer o café da manhã! Tá vendo só como não pode deixar ele sozinho?

-O ar pode estar mais leve , mas essas sacolas não! - falei ao colocar tudo na mesa. - gente , eu acordei super atrasada, agora tenho que correr!

-Deixa que eu te levo! Eu vou levar a Aileen pro trabalho junto comigo daqui a pouco.

Ah, que bonitinho!

Não, não vou estragar a oportunidade deles ficarem sozinhos.

-Não pai , deixa eu eu vou com a Cora, isso se ela já não tiver ido! - respondi colocando a mochila nas costas. - fui!

-AURORA!- Meu pai me chamou de repente.

-Que? - respondi.

-Meu beijo, cadê?

Fui até ele e meu pai me abraçou pela milésima vez e beijou minha cabeça.

-Boa aula pequena...amo você! E cuidado com a rua , presta atenção nas aulas e...

-...e nada de brigas! - completei rolando os olhos. - ah , não começa com sermão!

-Jensen , não se preocupe com a Aurê, ela é um amor de menina, assim como a mãe! - Kaya falou após me abraçar. - se cuida criança.

Ele riu.

-Mau criada do pai! - se eu desocupar mais cedo , eu te pego na escola...

-Tá! - falei.

-Mas o seu café da manhã? - Kay perguntou.

-Eu compro algo na rua! Tchau!

Saí de casa sentindo o sol escaldante no rosto e a brisa fresca da manhã no meu cabelo, como se anunciasse novos rumos , novas mudanças.

Eu estava tão feliz , tão leve que nada e nem ninguém poderia estragar meu dia hoje e nem amanhã.