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História Rebel Heart - Daddy Issues


Escrita por: MillyFerreira

Notas do Autor


☛ Meninas, muitas de vocês têm me perguntado sobre um grupo no whatsapp. Não, eu não tenho, mas tudo isso depende de vocês. Se tiver pessoas suficiente que queira participar de um grupo sobre a fanfic, não vejo problema nenhum em criar. Quero a resposta de vocês, certo? Beijocas!

Capítulo 34 - Daddy Issues


Fanfic / Fanfiction Rebel Heart - Daddy Issues

— E então?

Ergui o olhar da minha xícara de café, ainda fazendo movimentos giratórios com o dedo sobre a borda, para poder encarar o loiro que sentava à minha frente, com uma expressão meio frustrada, intrigada e curiosa. Eu diria que seus olhos até irradiavam um pouco de irritação.

— O quê? — fiz-me de desentendida, e isso pareceu deixá-lo mais nervoso.

— Você ainda não me contou o que aconteceu lá dentro.

— Você sabe muito bem o que aconteceu lá dentro. Foi apenas uma conversa. Ele me pediu desculpas, e eu o perdoei, quer uma explicação mais clara que essa? — revidei.

— Eu não consigo acreditar nesse imbecil, América! Quem garante que ele não vai tentar alguma coisa quando sair da cadeia? — retrucou, e ao olhar nos seus olhos, percebi que aquilo se tratava de medo… medo de me perder. — Ninguém vira Santo da noite para o dia, ruivinha.

— Bem, ele levou um ano — retruquei, recebendo um olhar cortante. — Olhe para mim, todos os meus membros estão no lugar, estou inteira e sem nenhum arranhão, então eu realmente não estou entendendo esse seu chilique — desdenhei.

— Não se trata de chilique, eu só…

— Eu sei que você entende o tamanho do meu sofrimento — cortei-o e ele me olhou com atenção. — Mas você não estava aqui quando tudo isso aconteceu, e sinceramente, não queria que estivesse. Foi um ano muito difícil para mim, Justin, um ano de altos e baixos, tiveram dias que foram quase insuportáveis de se estar viva. Você mesmo sabe disso, você sabe as condições em que eu estava quando me encontrou. Então eu sei que pode parecer frustrante para você, mas eu precisava disso… entende? Eu estava presa todo esse tempo, eu nunca vou poder recuperar as noites que não consegui dormir por causa do peso na minha cabeça. Não foi fácil para mim ter ido até lá e olhar nos olhos dele, mas eu precisava disso… Eu preciso voltar a viver, Justin, a ser feliz. E agora eu sinto que posso fazer isso, porque eu acabei de deixar esse passado que me assombrou todo esse tempo — desabafei, e minhas palavras pareciam deixá-lo pensativo, porém, mais calmo. — Você não precisa entender, apenas…

— Eu entendo — cortou a minha frase, desta vez, atraindo minha atenção e me fazendo engolir as palavras. Apertei os lábios em uma linha fina, um sorriso quase apagado, mas que não continha nada mais do que o verdadeiro agradecimento. — Desculpa, eu estou sendo muito egoísta, só estou vendo como me sinto, quando na verdade, é apenas o seu bem estar que importa. Me desculpe por isso, eu apenas… te perdi uma vez, não quero te perder de novo.

Olhei em seus olhos, apoiando os braços sobre a mesa e me inclinando sobre a mesma para poder olhar bem fundo nas imensidões castanhas que vem assombrando os meus sonhos mais doces desde o momento que o vi.

— Eu estou aqui agora, não estou? — Fiz uma pausa, minhas palavras nunca foram tão sérias quanto agora, vendo-o prender o fôlego. — Quando você vai entender que não importa quão difícil for, com quem você esteja ou onde esteja — e, olhando o mais profundo em seus olhos que consegui, coloquei as palavras para fora que estavam engasgadas em meu peito há muito tempo: — eu sempre vou, sinceramente e verdadeiramente, amar você com tudo de mim. Porque sem você, sou apenas a metade de um coração, e se eu tive coragem de fazer o que fiz hoje, foi por você, foi por amar você, porque você, Justin Bieber, me ensinou que o verdadeiro sentido de amar não está em palavras, que o amor é composto por um conjunto infinito de sentimentos que não podemos explicar. Eu não sabia que estava perdida até que você me encontrou. Não sabia que estava sozinha até a primeira noite em que passei na minha cama sem você. Você é a única coisa certa na minha vida, Justin.

Ele estava parado ali na minha frente, parecia fascinado, maravilhado, seus olhos brilhavam como nunca brilhou antes. Parecia que seu mundo estava paralisado, sua expressão era um tanto chocada, mas seus olhos estavam derretidos em puro amor, o que me aqueceu completamente por dentro e por fora.

— Você me ama? — Ele ainda não estava acreditando.

Soltei um risinho e voltei para a posição inicial, recostando-me na cadeira.

— Amo. — Confirmei com um sorrisinho.

— Uau! — Sua fascinação me fez rir. — Sabe, eu bem que desconfiava… — brincou.

Dei risada mais uma vez e balancei a cabeça.

— Meri?

— Hum? — levei meu olhar até ele.

Justin respirou fundo e me olhou com a doçura de sempre.

— Eu a amo também.

— É, você já disse isso — brinquei com a borda da xícara, era só o Justin, por que eu estava tão envergonhada?

— E eu vou dizer de novo, de novo e de novo, até dar o meu último suspiro — sua promessa acendeu todos os pontos do meu coração, fazendo-me voar até um futuro juntos.

— Ok, acho melhor pararmos com isso antes que eu estrague o meu café com vômito — fiz uma gracinha, tentando escapar da situação ilesa, mas pareceu funcionar quando ele riu alto.

Justin abriu a boca para responder, mas engoliu as palavras quando a garçonete voltou com a nossa conta que ele tinha pedido minutos antes. Nenhuma palavra foi dita, até porque, nem precisava. Tinha sido muita emoção para apenas um dia. Eu tinha acabado de dizer que o amava, eu me julgava muito corajosa naquele momento, não por isso, mas por tudo o que eu fiz. Agora já não havia mais segredos, algo ainda pesava em minhas costas, e sabia que não dormiria verdadeiramente em paz se não colocasse aquele jogo a limpo. Eu nunca voltaria a ser como era antes, e também, não queria. De agora em diante, o mundo veria uma nova América, não aquela que se importa com opiniões alheias, mas aquela que se importa apenas com o que acha de si mesma, que se ama acima de tudo; eu estou apenas focada em amar as pessoas que me amam da mesma forma, não preciso daquelas que quero que me ame. Pois aprendi que o pouco se torna muito se dado o devido valor.

— Sabe, — começou Justin, pronto para dar a partida com a Harley, me olhando por cima do ombro — deveríamos sair hoje à noite para beber uma cerveja ou algo assim, chamar a Rosie e o Eg, faz tempo que não saímos em grupo — sugeriu.

— Às sete?

Ele sorriu.

— Às sete. — Concordou e deu a partida.

Descansei o meu queixo em seu ombro toda a viagem, guiando-o com minha voz até o caminho de casa. Era loucura que, depois de todos esses meses, ele nunca tivesse ido a minha casa. As coisas eram diferentes agora, mesmo eu ainda achando que era muito cedo para apresentar-lhe à família; estamos bem agora, mas isso não queria dizer que colocamos um rótulo em nosso relacionamento.

Não dei tempo para Justin ficar impressionado com a casa enorme e moderna de dois andares quando resmunguei:

— Droga.

— O que foi? — perguntou ele, confuso, enquanto eu descia da garupa. Subi na calçada e olhei para ele com o nervosismo aparente.

— Droga, é o meu pai — respondi, e ele se juntou a mim para olhar o carro prateado se aproximar. Não tinha saída, ele já tinha nos visto.

— Er, o que eu faço? — Justin olhou para mim.

— Bem, agora você vai ter que falar com ele — disse eu, sarcástica, mas tudo não passava de puro nervosismo.

— Bem — começou ele, girando a chave na ignição, e enfim, desligando a moto e descendo da mesma —, não é todo dia que conheço o pai da minha garota. Será que estou vestido adequadamente? Será que dá tempo de eu ir em casa colocar um terno ou quem sabe um smoking? — Forçou um semblante horrorizado, e riu logo em seguida quando recebeu um tapa.

— Escute só o que estou te falando, Justin Bieber — olhei para ele de forma ameaçadora —, mais uma gracinha e você vai desejar nunca ter nascido.

— Calma, ruiva, sou eu que deveria estar nervoso, não? — Ele segurou o meu ombro ao mesmo tempo que papai estacionou na calçada, a pouco metros de nós.

Thomas Greene desceu do seu belo carro caríssimo com seu terno cortado sob medida, sem a presença de gravata e os dois primeiros botões da camisa abertos. Papai era um homem bonito, muito boa pinta, e apesar da sua idade significativa, parecia bem mais jovem do que muitos galãs de hollywood. Ele tirou seu óculos de sol e olhou diretamente para Justin com seu olhar intimidador, o que não apareceu incomodar o loiro ao meu lado.

— Papai, você por aqui a esse horário? O que aconteceu? — perguntei, claramente nervosa, e ele demorou dois segundos para desviar o olhar de Justin.

— Vim pegar uns documentos que esqueci em casa — disse ele.

— Ah.

— E quem é o rapaz? — perguntou direto.

Abri a boca e olhei para Justin, mas ele apenas sorriu zombeteiro, percebendo a minha falta de jeito para a situação, e ele mesmo se disponibilizou a se apresentar.

— Justin Bieber, senhor — ele deu um passo à frente para poder apertar a mão do meu pai cujo a expressão se suavizou um pouco.

— Thomas. Thomas Greene. — Papai retribuiu o aperto. — Então é você o primo do Eggsy, suponho. Ouvi falar de você, rapaz.

— É, sou eu, sim. — Justin voltou para a sua posição, ao meu lado, todo confiante de si. — Espero que tenha ouvido coisas boas — emendou com um sorriso.

Papai apenas ofereceu um meio sorriso como resposta.

— Harley? — O mais velho apontou para a moto ao nosso lado.

— Oh, sim, gosta? — respondeu Justin.

Olhei para o loiro e depois para o meu pai… Isso é sério?

— Eu sempre quis ter uma, mas a Hanna nunca gostou muito de motos, então… — papai desdenhou. — Sabe como é, a última palavra sempre vem das mulheres. 

Justin soltou um risinho e me olhou de soslaio.

— Sei bem como é.

Nossa, agora já são amiguinhos? Mereço.

— Bem, agora eu tenho que ir — Justin olhou para mim. — Às sete então?

— Às sete — concordei.

Ele apenas deu um sorriso como resposta.

— Sr. Greene, foi um prazer finalmente conhecê-lo — Justin apertou a mão do meu pai mais uma vez. — Até logo. — Ele voltou-se para mim e me beijou no rosto. — Se cuida.

— Justin — chamei-o, e ele parou o movimento da perna para montar na moto no mesmo instante, voltando-se para mim novamente.

Apertei os dentes em uma linha fina e abracei-o pela cintura, ato que foi retribuído no mesmo instante, mesmo tendo pego-o de surpresa.

— Obrigada por hoje — agradeci com a voz abafada pelo seu peito, sentindo seus lábios pressionados em meus cabelos no segundo seguinte em um beijo carinhoso.

— Eu sempre vou estar com você, ruivinha — ele se afastou. — Até mais tarde.

Justin me lançou mais um sorriso e se acomodou na Harley, e desta vez, o deixei que fosse. Fiquei olhando até o momento que ele desapareceu, e dei um sobressalto ao me virar e dar de cara com o meu pai, me observando enquanto afagava o queixo.

— O quê? — Fiz-me de desentendida.

Papai enfiou as mãos nos bolsos da frente da calça.

— Parece um bom rapaz — elogiou ele.

Olhei para ele, surpresa.

— Sério?

Ele deu de ombros.

— A primeira impressão é a que fica, certo?

Abri um sorriso como resposta.

— Ele me faz bem, pai. — Confessei.

Sua expressão se suavizou por completo.

— Se ele te faz bem, quem sou eu para discordar?

Sorri. Ele estava sendo legal… Legal até demais. Estávamos nos esforçando para manter uma boa relação, acho que estava funcionando.

— Vem, vamos entrar — ele estendeu o braço e me acomodei na lateral do seu corpo enquanto ele rodeava os meus ombros, guiando-me até a porta de casa.

                                 ≈ ∞ ≈

Viramos uma dose de vodca de vez garganta abaixo e batemos o copo contra a mesa de madeira, as caretas se assemelhando em todos os pontos da mesa pelo gosto forte e amargo da bebida.

— Minha nossa — exclamou Eggsy com uma cara azeda. — Essa merda me deixou tonto.

— Se vocês continuarem assim, vamos ter que voltar para casa de táxi — Rosie fez uma careta.

Já era quase dez horas da noite, passamos todo esse tempo no Red Bar, um ambiente agradável que, por mais que servisse bebidas, não tinha cheiro de álcool, ao invés disso, um cheiro agradável de madeira se misturando com a decoração rústica. A música era boa, e as pessoas dançavam na pista em frente ao bar, uma tática interessante para quem quisesse gastar energia depois de uma bebida forte.

— É por isso que vamos dançar um pouco — Justin anunciou, se pondo de pé. — Vamos, ruivinha — ele me puxou pela mão e deixei que me levasse.

Já na pista de dança, Justin me puxou para mais perto entre os corpos apertados ao som de Me Enamoré. Dançamos com a mesma animação das outras pessoas ali, tentando improvisar passos com a batida latina, rindo dos nossos próprios erros. Ele tentou me beijar algumas vezes, mas insisti em recusar, rindo das suas caras e bocas.

— Até quando você vai continuar resistindo? — Sussurrou no meu ouvido e mordeu o lóbulo da minha orelha em seguida, causando espasmos por todo o meu corpo. A tensão sexual era quase insuportável, o que só me deixava ainda mais ansiosa para o momento em que eu cedesse.

— Até quando eu puder, baby — esbocei um sorriso sacana e virei-me de costas, sentindo seu corpo se encaixar por trás, o que me fez perder sorrateiramente o fôlego.

— Você não pode fugir de mim para sempre — declarou, distribuindo beijos pelo meu pescoço ao som de Capital Letters, me fazendo fechar os olhos e absorver a sensação de arrepios e a letra da música ao mesmo tempo. — Eu quero te sentir, ruiva… Preciso de você… — mordiscou minha pele, me fazendo ofegar.

— A pressa é inimiga da perfeição — fiz uma pausa para recuperar o fôlego. — Já ouviu esse ditado? — emendei.

— Que se dane essa porcaria de ditado — Justin esbravejou baixinho, e sorri quando ele acrescentou, carregado de desejo: — Eu quero e preciso de você.

Abri os olhos esbocei um sorriso cruel.

— Se você for um menino bonzinho — virei-me sobre o próprio eixo e entrelacei os meus braços em seu pescoço, e ele segurou a minha cintura automaticamente; eu via a luxúria do mais puro pecado brilhando em seus olhos —, posso pensar em facilitar as coisas para você, e você vai poder me conduzir na sua trepada sacana mais rápido do que pensa.

Ele me olhou com fascinação, uma mistura de admiração e adoração, e aquele carinho arrebatador misturado com faíscas de desejo me causava a mais dolorosa e gostosa ardência para tê-lo em qualquer hora e em qualquer lugar.

— Não é com isso que estou preocupado, América — ele olhou no fundo dos meus olhos, como se pudesse tocar a minha alma apenas com um olhar. — Não quero apenas o seu corpo ou o prazer de tê-lo, eu quero você toda, quero por inteiro, com defeitos e qualidades. Quero uma vida juntos, América, isso é pedir demais?

Prendi o fôlego.

— Por que você sempre tem de ser tão nobre?

Ele esboçou um sorriso.

— É um velho hábito.

Dançamos mais algumas músicas e voltamos para a mesa completamente exaustos. Meus pés estavam me matando. Bebemos mais algumas cervejas, jogamos muita conversa fora, rimos e falamos alto, mas já era hora de ir. Despedimo-nos do casal ao lado de fora e eles seguiram seu caminho no carro, enquanto Justin me levava na direção contrária em sua moto. Abracei-o pelo pescoço e descansei o queixo em seu ombro durante toda a viagem, contemplando as chuvas de cores que cobriam toda a cidade e se perdia na imensidão negra do mar bem ao nosso lado.

— Está entregue — disse Justin quando estacionou em frente a minha casa.

Desci da moto e ele fez o mesmo, mas continuou recostado na Harley que estava perfeitamente equilibrada diante da calçada.

— Obrigada pela carona e por todo o resto — disse eu com um leve sorriso. — Foi uma noite legal, estava com saudade de momentos assim.

— Na verdade — ele me puxou pelas mãos, fazendo meu corpo se inclinar sobre o dele apoiado na moto, e entrelacei meus braços ao redor do seu pescoço —, eu estava era com saudade de você.

— Hum, um mês foi demais para sua sanidade sexual? — brinquei, fazendo-o rir.

— Bem, isso também, mas eu estava com saudade do pacote completo — confessou. — Você faz mais falta do que posso explicar, ruivinha.

Minha expressão endureceu um pouco.

— Então não seja mais o idiota que foi e nunca mais vá embora — disse eu, séria.

— Eu prometi, não foi? — devolveu no mesmo tom. 

Enfiei a língua entre os lábios, evitando contato com sua boca carnuda, ou o beijaria ali mesmo.

— Desculpe por hoje mais cedo, eu não sabia que o meu pai estaria em casa naquele horário — desculpei-me.

— Está tudo bem, uma hora ou outra, eu ia acabar conhecendo-o, certo? Você está evitando esse encontro há muito tempo — acrescentou com a sobrancelha levemente erguida.

Enrubesci.

— Não é isso, eu só… antes era…

— Ei, está tudo bem — Justin segurou as minhas mãos ao mesmo tempo que um raio cortou o céu negro, atraindo seu olhar. — Acho que já está na minha hora — baixou o olhar para mim —, não quero tomar um banho antes de chegar em casa.

Rodeei seu pescoço com meus braços novamente e fiquei na ponta dos pés para poder abraçá-lo melhor. Justin abraçou meu corpo, envolvendo-me em todo seu calor, e parecia que nada poderia dar errado naquele momento. Virei o rosto e depositei um beijo na sua bochecha, deixando a marca vermelha do meu batom antes de me afastar.

— Até amanhã — despedi-me e subi para a calçada enquanto ele passava a perna em sua moto e girava a chave na ignição, ligando-a com um ronco potente.

— Se cuida — disse ele antes de partir.

Observei seus faróis sumirem pelo quarteirão, tentando ignorar a sensação de vazio sempre que ele me deixava, mas acontece que não dá para reprimir um sentimento, mesmo que ele fosse indesejado. Eu não queria sentir saudade, eu o queria aqui o tempo todo para que esse sentimento nunca pudesse existir.

O céu começou a brilhar com mais frequência, choveria logo. Aceitei a ideia de que eu passaria a noite sozinha e trilhei o caminho de concreto entre o gramado até a porta de casa, mas a sensação mudou drasticamente quando, do outro lado da porta, ouvi vozes abafadas, tons irritados e até enraivados, o que me encheu de apreensão. Meus pais estavam brigando? Era estranho, eles não tinham uma briga tão séria desde…? Fazia tanto tempo que eu não conseguia lembrar. Mas percebi que não se tratava de uma discussão apenas entre os dois quando ouvi a voz dos meus irmãos, um pouco mais baixas, como se quisessem acalmar a situação. Mas que diabos estava acontecendo? Com essa questão em mente, procurei a chave em minha bolsa e abri a porta quando a encontrei, e quase caí para o lado de fora novamente quando todos os olhares se voltaram para mim, e entre os apreensivos estava o olhar do meu pai, uma mistura de raiva, decepção e amargura. E era para mim que ele estava direcionando aquele olhar.

— Gente, o que está acontecendo aqui? Dá para ouvir vocês do lado de fora — fechei a porta atrás de mim com um semblante confuso.

— Filha… — mamãe começou.

— Não. — Papai cortou-a, firme. — Você não vai passar a mão na cabeça dela, Hanna, não vai.

Minha confusão aumentou mais ainda, mas junto com ela, veio o pânico.

— Passar a mão na minha cabeça? — perguntei, buscando no rosto dos meus irmãos alguma resposta, mas eles sequer conseguiam me olhar nos olhos. — Ok, tá legal, alguém pode me explicar o que está acontecendo aqui?

— Quem tem que explicar alguma coisa aqui é você — papai mostrou todo o seu desprezo ao estender alguns papéis em minha direção, e um pouco hesitante, aproximei-me e os peguei de sua mão, e ainda continuei sem entender ao olhar as fotos presentes ali.

— São as minhas fotos em Malibu, e…? — Eu ainda não conseguia entender.

Papai riu pelo nariz, como se o meu desentendimento fosse um insulto.

— E? — Ele testou minha resposta, sarcástico. — Que porcaria de fotos são essas, América? Você está quase nua em alguma delas!

— Pai, o que… não é nada disso, só são algumas fotos — defendi-me.

— Papai… — começou Amélia, mas engoliu as palavras quando recebeu um olhar cortante do mesmo.

— Não se mete, por favor.

— Todo esse chilique e gritaria é por causa de uma porcaria de foto? — Eu estava incrédula, e o uso das minhas palavras pareceu não agradá-lo nem um pouco, o que me fez encolher diante do seu olhar.

— Eu sabia que não deveria ter te deixado ir nessa porcaria de viagem! — Papai elevou o tom de voz, e só então pude entender a gravidade da situação; ele estava ardendo em raiva. — Eu juro que tentei entender o seu lado, o seu sofrimento, tentei de todas as formas te dar segundas chances, mas veja só você, na primeira oportunidade, age feito uma… uma…

— Tom, por favor — mamãe suplicou, desesperada.

— Não — fiz um gesto de mão na direção da minha mãe, indicando que ela não interferisse, mas meu olhar continuou nos olhos cinzas do meu pai que pareciam vermelhos agora. — Deixe que ele fale.

— América… — a voz de Isaac soou baixinha, como se ele fosse um microrganismo diante de gigantes

— Uma o quê, papai? — encorajei-o com as lágrimas ardendo nos olhos. — Uma vadia? É isso o que ia dizer?

— Não coloque palavras em minha boca, garota — seu tom diminuiu, mas não pela culpa, mas por ser engolida pela raiva que duplicou em seus olhos.

— Não estou colocando palavras em sua boca, não precisa de palavras para saber que é exatamente o que pensa de mim — cuspi as palavras com a mesma raiva que habitava em seus olhos.

Seu semblante endureceu ainda mais, e eu sabia que não havia freios naquele momento.

— Tom, não… — mamãe suplicou com um sussurro, segurando em seu braço forte, mas ele não desviou o olhar de mim, sentindo-se desafiado.

— Se isso vai te fazer se sentir melhor, sim. Era exatamente o que eu ia dizer. — Suas palavras foram como uma bofetada em minha face, o último golpe para fazer com que as lágrimas quente descessem.

O silêncio que pairou sobre o ambiente no minuto seguinte foi insuportável, todos reconheciam a intensa e profundidade daquelas palavras e as consequências que ela poderiam causar. Mas elas foram ditas, ele não poderia retirá-las, o buraco já estava aberto em meu peito e se estendia mais e mais, deixando-me, no mínimo, chocada. Não, eu não aceitaria isso, eu não podia ficar mais um segundo ali. Deixei que as fotos escorregassem entre os dedos e atingissem o chão, movi-me sobre o próprio eixo e andei até a porta, mas antes que eu pudesse tocar a maçaneta, a voz de papai me paralisou no mesmo lugar, deixando-me entre a cruz e a espada:

— Se você sair por essa porta, você nunca mais coloca os pés aqui dentro novamente — sua ameaça congelou todo o meu sangue e até meu coração pareceu parar de bater.

Virei-me para ele, eu ainda não podia acreditar que mesmo depois de todas suas palavras, ele ainda teve a coragem de impor tal questão. Olhei fundo nos seus olhos, mostrando-o que, assim como ele, eu não estava disposta a voltar atrás das minhas palavras.

— Adeus, papai — foi a última coisa que eu disse antes de abrir a porta, ignorando a súplica da minha mãe, pois nem ela me convenceria de ficar mais um segundo naquele lugar.

Andei apressada em direção à estrada, a cabeça pesando dez mil vezes mais, o coração batendo nos ouvidos, deixando-me perturbada com minha própria dor, o choro entalado no meio da garganta, o enorme nó bloqueando o caminho do choro, fazendo que apenas os soluços se mostrassem presente.

— América! — Isaac gritou depois de abrir a porta bruscamente, mas ao invés de deixá-lo vir até mim, corri em direção a escuridão com as lágrimas borrando a minha visão e a dor me puxando para baixo, para um abismo escuro onde não existia saída, e sua voz foi desaparecendo, cada vez mais distante, até eu me perder na minha própria solidão.

Corri algumas quadras até meus pés estarem moídos e meu fôlego desapareceu completamente. Encostei-me em um poste sobre a calçada e deslizei sobre ele até estar no chão, o choro alto se perdendo na rua vazia como um eco que se perde na montanha. Cobri o rosto com as mãos e tentei colocar para fora todo o sofrimento, mas quanto mais eu chorava, mais parecia se alastrar a minha dor. As lágrimas não pareciam uma anestesia, mas sim uma tortura.

Andei durante muito tempo, completamente sem rumo, sem qualquer pensamento coerente em minha mente. Meus olhos estavam vazios, tropecei muitas vezes por não enxergar o caminho em minha frente, e na primeira oportunidade peguei um ônibus para… qualquer lugar. Talvez eu tenha cruzado a cidade inteira, eu não tinha certeza, estava arrasada o suficiente para não prestar atenção no que as pessoas diziam ou que caminho estávamos tomando.

Desci no Red Bar, o mesmo lugar onde estava horas antes com Justin e meus amigos. Eu precisava de uma bebida, precisava fazer essa dor no peito cicatrizar, e talvez, mas só talvez, o álcool pudesse me manter anestesiada e na superfície, evitando assim o meu afogamento. Fiquei hesitante de entrar ali, afinal, eu deveria procurar um lugar para passar a noite, talvez ligar para Rosie para que ela me levasse para sua casa, mas naquele momento, a única coisa que pensei foi: FODA-SE!

Quando me acomodei em uma mesa, os copos de vodca não pararam de vir. Virei dose por dose garganta abaixo, as lágrimas salgadas se misturavam com o gosto amargo em minha boca, e até então, todos os caras que tentavam se aproximar eu tinha mandado pro inferno de bom grado. A música alta dava nós em minha cabeça, causando-me a pior das dores de cabeça, mas eu não podia parar agora. Deixei a bolsa do outro lado da mesa, ignorando completamente o toque do celular que foi engolfado pela potência da música alta, mas eu ainda podia sentir a vibração ressoar pela madeira da mesa.

Pedi mais uma dose ao barman, e cada vez que ele ia, parecia que demorava uma eternidade para voltar. Eu precisava manter a minha boca ocupada, a bebida era a única saída. Quando ele finalmente voltou, sequer olhei para o seu rosto quando peguei o copo de sua mão e ele se retirou sem dizer uma palavra, eu tinha as dispensado no momento em que pedi a primeira dose. Levei o copo à boca, mas antes que eu pudesse concluir o ato, uma mão forte e quente envolveu o meu pulso e tomou o copo de minha mão, fazendo-me olhá-lo automaticamente, e mesmo que a minha visão estivesse um pouco embaçada, não precisava de imagens claras para saber quem estava ali.

— O que você está fazendo aqui? — minha pergunta saiu arrastada.

— Eu vim te buscar — ele respondeu calmo, erguendo-me da cadeira com cuidado, eu não podia me aguentar em pé. — Droga, América, que merda aconteceu, hein? Te procurei por toda parte — ofegou em alívio e preocupação, mas tudo o que eu podia sentir era meu mundo girar.

— Como ficou sabendo que eu… que eu… — meu corpo amoleceu ainda mais com o cansaço pesando em meus ombros que mal conseguiam sustentar o peso da minha cabeça.

— Sua irmã ligou desesperada para a Rosie e ela ligou para mim — Justin explicou. — Eu vou te levar para casa, você bebeu demais.

— Não — tentei me desvencilhar dos seus braços, mas ele me manteve firme perto do seu peito. — Eu não vou voltar para casa — minha voz era apenas um sussurro ao vento.

— Ei, ei, tá tudo bem, ruivinha. Vem, eu vou te levar para minha casa.

Com isso, deixei que ele me levasse, e no primeiro passo que dei senti meus pés cederem e tudo ficou escuro de repente, e só senti seus braços fortes me envolvendo com força, impedindo-me de desabar no chão antes de apagar completamente.


Notas Finais


Dêem uma olhada nessas fanfics maravilhosas, sei que não vão se arrepender:

☛ Sob Pressão: https://www.spiritfanfiction.com/historia/sob-pressao-11720238

☞ No Promises: https://spiritfanfics.com/historia/no-promises-10076182

☛ Secrets Truths: https://spiritfanfics.com/historia/secrets-truths-10076556

☞ Mistakes Of Love: https://spiritfanfics.com/historia/mistakes-of-love-6329863


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