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História Recomeçar - Adeus, Bruno


Escrita por: juniechild

Notas do Autor


Boa noite gente, até que não estou demorando para atualizar :p Mereço um doce ueheuheueh
Eu quero agradecer os comentários do capítulo anterior, vocês me deixaram mais segura de prosseguir com o rumo oficial da fic, e eu quero que saibam que dói tanto em mim quanto em vocês </3
Sem mais delongas, boa leitura ^^

Capítulo 53 - Adeus, Bruno


Fanfic / Fanfiction Recomeçar - Adeus, Bruno

 

POV Bruno

Depois de uma noite difícil, eu resolvi tentar deixar isso de lado e curtir um pouco Ashley. Mas ela quis tocar novamente no assunto emprego logo de manhã, e eu acabei me excedendo. Sei disso, mas foi mais forte que eu. Eu preciso, realmente preciso, aprender a lidar com o fato de ela querer trabalhar, e ser independente.

Para esfriar um pouco a cabeça, fui para o estúdio.

Peguei uma garrafa de whisky e me sentei para afinar o violão.

 

- Olá primo. – Brooke apareceu vestindo um roupão de seda e um sorriso no rosto.

- Bom dia. – Voltei a olhar para o violão.

- Como você está? – Ela sentou quase no meu colo. Fingi que não percebi.

- Com um pouco de sono, e você?

- Cansada e triste. Terminei meu namoro com Scarlet.

- É uma pena, ela parecia legal.

- É. – Peguei uma palheta e ajustei o afinador mais uma vez. – Ashley que deve estar muito bem né.

- Aham. - Falei sem dar atenção de verdade a ela.

- Aliás, eu nunca a vejo triste. Está sempre acompanhada daquele... hum... como é o nome dele? – Arqueei uma sobrancelha.

- Ed?

- Não, um moreno, com cara de mau encarado.

- Lucas? – Estreitei os olhos.

- Esse mesmo. Ele vivia aqui. Seja de dia ou de noite.

- É mesmo? – Larguei o violão de lado. – Me conte mais sobre isso. – Enchi outro copo com whisky.

Ela abiu um pouco o robe de seda e cruzou as pernas.

- Então primo, - Ela começou a acariciar meu braço. – Eu não sei o que deu nela, eu disse para ela “você está avisando o Bruno? Ele pode não gostar” mas ela só me ignorava.

Isso não pode ser verdade, Ashley não seria capaz disso. Seria?

- Ela não me avisou, de fato.

- Pois é. – Ela pôs a mão em meu ombro. – Deixa eu te contar umas coisas, ela me fez prometer que não ia contar, mas não acho certo esconder de você.

E foi assim, que eu fudi com o meu dia. Foi assim que eu quase matei minha namorada e meu filho. Isso é, se nenhum deles está morto a essa hora.

 

 (...)

 

Eu fui covarde demais para aparecer naquele hospital. Fiquei trancado em casa chorando como um moleque. Talvez Ashley tenha razão e eu seja mesmo um otário.

 

(...)

 

- Bruno! – Ouvi a voz de Jaime. – Bruno abre essa porta! – Ela começou a bater e eu ajeitei a coluna.

- Vai embora!

Fez-se silêncio, e logo eu ouvi o barulho de tranca.

- Você me forçou a fazer isso. – Ela disse entrando no quarto.

- O que você quer? – Falei. Meus olhos voltaram a marejar.

- Bruno. O que você fez com você? O que você está fazendo com sua vida? – Ela se sentou na cama a minha frente.

- Eu... – A falta de palavras não me deixou surpreso.

- Ciúmes demais faz as pessoas sofrerem.

Ficamos alguns minutos, ou talvez horas em silêncio. Um olhando para o outro.

- Como... – pigarreei – Como ela está?

- Na sala de cirurgia. Presley disse que o bebê vai nascer essa noite.

- Prematuro?

- Sim Bruno. E tem chance de um dos dois acabar morrendo. Ela perdeu uma boa quantidade de sangue. Está quase em coma.

Mordi o lábio até sentir gosto de ferro e puxei meu cabelo.

O que eu fiz. O que eu fiz!

- Eu sou um idiota.

- Não, você não é um idiota. Só precisa começar a ter ações mais sensatas, e que não levem ninguém para o hospital. – Ela andou até a minha frente. – Vem cá. – Me puxou para um abraço.

- Ela nunca vai me perdoar, eu nunca vou me perdoar Jaime. Ela me deu todas as oportunidades e eu as joguei fora, cada uma delas. Por causa das minhas infantilidades. – Voltei a morder meus lábios.

- Só o fato de você se dar conta disso, já é um avanço. Agora – nos desvencilhamos. – Vá tomar um banho. Eu vou preparar algo para você comer e depois vamos para o hospital.

- Não. Eu não posso ir para lá. Eu vou ser apedrejado.

- Toda ação, gera uma reação – Ela sorriu, um sorriso triste e secou minhas lágrimas.

(...)

 

Coloquei minha velha jaqueta de Los Angeles, óculos e meu boné de guerra e fui para o hospital com Jaime.

Minha boca já estava toda cortada de tanto que eu a mordi.

 

- 5º andar, sala 17. – Ouvi a recepcionista dizer e fui atrás dela, rezando para não ser reconhecido.

 

Seguimos em silêncio. Eu pensava em tudo e pensava em nada ao mesmo tempo.

Assim que a porta se abriu, eu vi Lucas abraçado com Andrye e suspirei.

Ele tinha que estar aqui. Não sei por que me surpreendo ainda. Talvez ele seja a pessoa certa para Ashley, e eu seja só um babaca que está atrasando ela.

- Alguma novidade? – Jaime disse se sentando ao lado de Presley, que me ignorou completamente.

 

Senti o olhar de Lucas para mim, e me encolhi na cadeira.

O soco e o tapa que eu levei me deixou marcado. Daqui a algumas horas meu rosto vai ficar escuro e dolorido.

 

- Nenhuma. Eles disseram que assim que terminarem vem nos avisar. Mas já tem quase 5 horas e nada. – Ela disse abraçada ao K-luv.

- Eu – Fiz menção de falar algo mas Tahiti me cortou.

- Cala a boca Peter. – Levantei as mãos em rendição. – Você nem devia estar aqui em primeiro lugar.

- Tahiti! Não falei assim, ele é o pai da criança – Jaime disse.

- PAI? É mesmo Jaime? Por que ele não pensou nisso quando acabou com o chá de bebê dela? Por que não lembrou que ela estava carregando um bebê antes de chama-la de vadia e humilha-la daquele jeito? – Ela se levantou e saiu pisando fundo pelo corredor.

 

Abracei meu joelho e encostei a cabeça na parede.

 

Flashback On

 

3 semanas que Ashley se trancou em seu apartamento e eu não se mais o que fazer.

Todos os dias eu venho aqui tentar convence-la a sair, mas de nada adianta.

- Bom dia Ash – Falei e me sentei encostando todo o corpo na porta. – Eu trouxe um violão hoje. Você gosta de música, então quem sabe ajude. Você não precisa dizer nada, só ouça.

A única coisa que ouvi foi um arrastar de pés e pigarreei.

- Mais uma vez você está sozinha em casa

Lágrimas escorriam de seus olhos

E eu estou do lado de fora

Sabendo que você é tudo que eu quero

Mas eu não posso fazer nada

Eu estou tão indefeso amor – Cantarolei dedilhando o violão. –

Ela sabe bem, mas

Ela não pode evitar

Quero dizer a ela

Mas seria egoísta

Como você se cura

Um coração que não pode sentir, está quebrado

O amor dele é tudo que ela sabe, tudo que ela sabe, tudo que ela sabe

O amor dele é tudo que ela sabe, tudo que ela sabe, tudo que ela sabe

 

Você vem vivendo assim há tanto tempo

Você não sabe a diferença

E isso está me matando

Porque você pode ter muito mais

Eu sou o único correndo atrás

Mas você me ignora

Então você ainda não pode ver

 

Todos os dias são iguais

Então você ainda está sofrendo

Nunca teve um amor de verdade antes

E não é sua culpa – Parei de tocar.

- Quer ver um pouco de sol? – Arrisquei, sem resposta. – Tudo bem, vou terminar essa música então e vou.

Ela sabe bem, mas

Ela não pode evitar

Quero dizer a ela

Mas seria egoísta

Como você se cura

Um coração que não pode sentir, está quebrado

O amor dele é tudo que ela sabe, tudo que ela sabe, tudo que ela sabe

O amor dele é tudo que ela sabe, tudo que ela sabe, tudo que ela sabe

 

Tudo o que ela sabe é a dor

No canto de uma casa vazia

Ela ainda está confortável

Eu quero que ela saiba

Que pode ser melhor do que isso

Eu não posso fingir... – Respirei fundo e larguei o violão. – Queria que fôssemos mais que amigos. – Falei por fim e respirei fundo.

- Ash? – acariciei a porta e fiquei esperando, um som, alguma coisa. Mas não ouvi nada.

Arrumei meu violão na capa novamente.

- Então, eu já vou indo. Até amanhã, ou quando estiver pronta para sair. – Me levantei e fui em direção ao elevador.

 

- Espera. – Ouvi sua voz tremular e paralisei.

Devagar me virei n direção de seu apartamento e a encontrei toda descabelada, uma blusa gigante cobrindo até metade da sua perna, olhos inchados e a porta entreaberta.

Sorri.

- Eu acho que... Já fiz muita desfeita em fazer você cantar, então... – Mordeu o lábio inferior – Eu acho que você deve ter, sei lá, ficado com a garganta seca...

Ri de seu jeito desajeitado e fui em sua direção.

- Acho que vou querer um suco. E quem sabe um bolo. – Sorrimos.

 

Flashback Off

 

Eu batalhei para conquista-la, e aí virei um idiota. Parabéns para mim.

 (...)

 

POV Narradora

 

Foram quase 2 horas de parto onde os médicos precisaram dar tudo de si para não deixar a paciente perder mais sangue. A equipe não podia perder nenhum segundo e o pequeno Hernandez nasceu as 0h51min da manhã, com 39 centímetros.

Os médicos comemoraram por ter salvo uma vida, mas logo encaminharam mãe e filha para a UTI. A fase de risco havia passado, nenhuma vida foi perdida. Valeu a pena o esforço. Agora era garantir que o pequeno Gabe chegasse as 40 semanas com muita força e alguns quilinhos a mais, e que a mãe se recuperasse, aí sim, eles poderiam se intitular heróis.

 

Do lado da sala de espera Bruno resolveu levantar para espairecer a cabeça, e Lucas, que estava servindo de ombro para Andrye, se levantou e foi atrás dele.

Bruno bebeu um gole de água e quando virou para voltar a sala, foi imprensado por Lucas na parede.

Lucas o levantou quase 10 centímetros do chão e falou pausadamente: - Se alguma coisa acontecer com Ashley, eu quero que você tenha a plena convicção de que eu irei te perseguir e te matar. Entendeu? – Ele disse e Bruno assentiu, ainda assustado.

- Dá pra me por no chão. Por favor.

- Cadê sua marra de hoje mais cedo? Ein? Perdeu, né – Ele riu irônico e soltou Bruno.

Lucas deu as costas a Bruno e voltou para o corredor.

- Você ainda continua sendo a 2ª opção dela. – Bruno tentou sorrir, mas estava muito atordoado para isso. Mesmo sabendo que não podia cutucar o leão com vara curta, não resistiu.

- Se você continuar agindo desse jeito, não vai existir nenhuma opção. – Ele disse sem olha para trás. Bruno ficou parado, sentindo o peso das palavras o atingirem em cheio.

Ele observou Ed sair do elevador e falar qualquer coisa com Lucas e os dois entrarem na sala de espera.

 

(...)

POV Bruno

 

- Familiares de Ashley Kennedy? – Levantei os olhos e foquei nos dois enfermeiros na porta da sala de espera.

- Todos nós. – Lucas disse de pé. Relutei em revirar os olhos.

Obviamente ele iria se aproveitar para ganhar pontos... O que eu estou pensando?!

- Hum. Okay. O parto foi um sucesso, e mãe e filho foram transferidos para a UTI. Daqui a algumas horas Ashley acordará e nós a transferiremos para o quarto, e então ela poderá receber visitas.

Soltei um suspiro e agradeci a deus por ele não se vingar de mim tirando a vida do meu filho ou da mulher que eu amo.

Lucas olhou para mim de relance e assentiu.

- Graças a deus deu tudo certo. – Ed se sentou ao meu lado.

- Você não quer me matar e arrancar meus órgãos para vender no mercado negro? – Ajeitei os óculos.

- Não, prefiro deixar o trabalho para Ashley. E bem, todo mundo sabe que você é fraco. Só não sei o que te fez partir pra cima dela do jeito que eu ouvi dizer.

- Eu não bati nela. Jamais faria isso.

- Palavras são piores que tapas Bruno. Você já deveria ter aprendido isso, não acha?

Olhei para ele, que bebeu um gole de água e sacudiu os ombros.

- E como vai com a Andrye?

- Não falei com ela desde que chegamos. Eu tecnicamente a feria com palavras também. Não de uma forma tão grave, mas ela se magoa com facilidade. – Ele suspirou. – Normalmente eu já teria desistido dela e partido para outra, mas... Sei lá cara.

- Você realmente gosta dela né.

- Eu a amo. Tive certeza disso quando ela me expulsou de casa.

- Esse é o nosso defeito meu caro Ed – Coloquei a mão em seu ombro. – Nós nos damos conta das coisas muito tarde.

 

Voltamos a ficar em silêncio. E então uma agonia nova surgiu no meu peito.

Como será meu filho? Seu rosto, será que ele é cabeludo, gordinho?

- Com licença, qual de vocês é o pai do filho da paciente? – O enfermeiro voltou a nossa sala e eu me levantei.

Olhei para Lucas e ele revirou os olhos. Sorri.

- Sou eu.

- Me siga.

- Precisamos fazer a certidão de nascimento da criança. – A enfermeira me explicou quando já estávamos no corredor.

Fiquei em silêncio e ela chamou o elevador.

 

Nós não tivemos tempo de decidir o nome do bebê. Eu queria Noah, ela queria o que? Gabriel? Victor?

Baguncei meu cabelo e minha cabeça começou a doer.

 

- Eu preciso que você me informe o nome completo dos pais. Outra enfermeira disse assim que entrei na sala de registros.

- O da mãe é Ashley Kennedy. Eu não tenho certeza se tem mais algum nome além desse. – Me senti nervoso. – Mas na ficha médica dela deve ter tudo o que você precisa.

- Tudo bem, já achei aqui. O seu é?

- Brun... Quer dizer... Peter.

- Eu preciso do seu nome completo. – A enfermeira me encarou como se eu fosse um zumbi.

Talvez eu parecesse um.

- Peter Gene Hernandez. – Peguei a carteira e entreguei logo meus documentos.

- Ótimo. – Ela me devolveu os documentos. – O nome da criança por favor?

- É... Vai ser – Cocei a cabeça.

- Ainda não decidiu? Eu não tenho o dia todo senhor. Aqui não damos privilégio a ninguém.

- Tudo bem, tudo bem. O que soa melhor, Noah Kennedy Hernandez, ou Gabriel Kennedy Hernandez?

- Você e a mãe da criança não decidiram isso? – Ela quase riu. – E você quer que eu decida?

- Eu só quero uma opinião.

- Ora Jane, - A primeira enfermeira disse – Não seja tão má com ele. – Ela riu e tomou um gole de café. A tal “jane” deu de ombros. – Se você estiver em dúvida, pode unir os dois nomes. Tipo Noah Gabriel Kennedy Hernandez. Muitos fazem isso. – Deu de ombros.

Seria um jeito de agradar aos dois. E bem, eu acho que ele poderá mudar o nome quando for mais velho.

- Tudo bem. Pode escrever “Noah Gabriel Kennedy Hernandez”.

- Está pronto. Devidamente registrado. – Ela me entregou uma cópia impressa e me deu instruções de ir ao cartório pegar a original daqui a alguns dias.

- Agora, eu acho que você gostaria de ver sua esposa – A primeira enfermeira sorriu e eu sorri, mas me pareceu mais uma careta.

- Claro, ela já foi transferida para o quarto?

- Sim senhor.

(...)

 

POV Ashley

 

Gelado. Eu estou em algum lugar gelado. Mexo meus braços e sinto algo molhado.

Abro os olhos, e me vejo no meu do mar, no meio de uma tempestade.

Antes de pensar em qualquer coisa, algo me puxa para o fundo e eu começo a me debater enquanto afundo.

Quando olho para baixo, vejo Pedro.

- Você vai morrer. – Ele balbucia.

Tento chutá-lo, mas a água parece densa demais. Meus pensamentos se confundem e eu já não sei mais o que devo fazer.

- Afunde, se deixe levar – O sorriso quase atravessa seu rosto e eu vou parando de lutar aos poucos.

- Mamãe! – Ouço uma voz ao fundo e vejo um garoto. Ele faz sinal para eu subir.

Mas subir é tão complicado, é melhor afundar.

- Mamãe! – Ele fala de novo, mas sua voz fica abafada.

Olho para Pedro de novo, que dá tchau com as mãos.

Olho para o garoto novamente, e ele estende as mãos. Meu ar começa a faltar e eu me afobo. O garoto parece estar em uma espécie de caixa transparente e eu vejo lágrimas em seus olhos. Seu cabelo é cacheado e está desarrumado, sua pele é um pouco mais clara que a de Bruno e seus olhos são verdes.

- Gabe! – Tento gritar, mas me afogo.

Volto a me debater e tentar subir, mas a água está tão densa e torna a subida quase impossível.

Meneio a cabeça e minhas lágrimas se misturam a água, ardendo meus olhos.

Meus pensamentos se confundem novamente e eu volto a tentar subir, e dessa vez chego a superfície.

Quando chego a superfície, vejo trovões por todo o céu e há um barco há alguns metros. As pessoas não me enxergam e por mais que eu tente gritar, minha voz não sai.

Algo agarra em meu pé e eu vejo Pedro tentando me puxar.

Um pedaço de madeira se aproxima de mim e eu me agarro nele, mas mesmo assim acabo sendo puxada para baixo novamente. Gabe não estava mais lá em baixo, mas eu não me deixo vencer. Esperneio e dou o um melhor para fugir de Pedro.

Quando volto a superfície, o barco continua lá, mas o mar se agita e eu tento nadar até o barco, mas se sinto fraca e todo o meu corpo parece gelatina.

Num lapso de adrenalina, jogo o pedaço de madeira, que atinge a lateral do barco. As pessoas se viram até mim e arregalam os olhos.

- Corre, vem rápido. – Todas elas gritam rápido e eu ganho um pouco de força para nadar.

Uma criança aponta para trás e eu vejo uma mistura de tubarão e baleia vindo rápido. Na minha direção.

Eu não tenho chance contra ele.

- Eu. Preciso. Tentar. – Fechei os olhos e comecei a me lembrar de qualquer lembrança feliz, qualquer coisa que me desse força de continuar.

E então. O mar se acalmou. E eu estava perto da beira, podia sentir a areia debaixo dos meus pés.

 

...

 

Abro os olhos novamente e minha visão fica toda embaçada. Mas eu estou seca e tudo o que eu ouço é um bip ritmado.

- Oi – Engasgo com minha saliva.

 

Sinto algo em meu queixo e acabo vomitando.

- Olá senhorita Ashley. – Ouvi uma voz calma. – Pode vomitar, está caindo na comadre. E é normal isso.

Minha mente clareia aos poucos e eu sinto uma pressão na cabeça.

- O que aconteceu? – Digo e ela limpa a minha boca.

Mexo minha mão e levo a minha barriga. Mas ela parece um pouco menor.

- Onde está meu filho? – O bip aumenta drasticamente e a enfermeira faz uns barulhos tentando me acalmar.

- Calma, se acalme.

- Me acalmar? Eu quero meu filho. Ele morreu? – Comecei a vomitar de novo.

- Ele está bem agora. Vocês dois. Você teve uma lesão e se nós não realizássemos o parto, a bolsa iria estourar e matar o bebê.

- Eu tive o que? – Meus membros pareciam pesados e estava difícil para mexer os olhos.

- Não é nada para se preocupar agora. Como se sente?

- Pesada, e minha cabeça dói.

- É efeito da anestesia. Em minutos passará.

Ela começou a tirar alguns fios de mim e o enjoo foi passando. Logo eu consegui passar a mão nos cabelos e respirar de verdade.

Então aquela coisa do afogamento foi coisa da minha cabeça?!

- Quanto tempo eu fiquei desacordada? Onde está meu filho?

- Umas 5-6 horas. Seu filho está na UTI neo natal. Assim que você se sentir recuperada, vamos tomar banho e lhe transferir para um quarto.

 

(...)

 

2 horas depois, eu já estava acomodada no meu novo quarto. O médico disse que seria bom eu ficar aqui até segunda feira, e depois de me dar um sermão sobre bater nas pessoas, principalmente grávida, ele me disse que Gabe iria ficar no UTI até completar 40 semanas, para que ele não fique com nenhuma sequela.

Eu acabei chorando, já que esse não era o tipo de parto que eu gostaria de ter, mas guardei a raiva para descontar em outra pessoa.

- Temos visita – A enfermeira de antes disse da porta. Logo atrás apareceu Lucas e Andrye.

- Amiga – Ela vinha com os olhos vermelhos e a cara toda amassada

Quase me amassou de tão forte que foi seu abraço.

- É bom te ver também Drye. É muito bom te ver. – Meus olhos lacrimejaram.

- Eu também quero um abraço. – Lucas disse e eu vi seus olhos marejados.

- Awn, você tá chorando.

- Não tô não. – Ele riu e me abraçou.

Foi...Bom abraça-lo.

Ele tirou o cabelo do meu rosto e acariciou meu rosto. Segurei em sua mão e o puxei para perto de mim, beijando seu rosto.

Lucas virou o rosto e me deu um selinho rápido.

- Opa, foi sem querer – Ele riu.

- Você tá se aproveitando de mim. Não vale – Ri também.

- Eu não vi nada. – Drye disse e riu.

- Toc toc – Meu corpo estremeceu e minha cara. – Posso entrar?

 

- Não. – Disse e Andrye levantou as mãos.

- Ashley, deixa ele entrar, vocês precisam conversar.

- Eu odeio dizer isso, mas concordo com ela. – Lucas disse e olhou para Bruno, que fitava um ponto qualquer no espaço.

Suspirei.

- Me deixem sozinha com ele por favor.

Os dois assentiram e saíram do quarto.

- Ash... – Ele começou a brincar com as mãos. – Meu amor, eu tenho tanto a te dizer, mas eu nem sei por onde começar.

Já podia sentir a fúria correr por minhas veias.

- Primeiramente, não me chame mais de meu amor, nunca mais. E eu tenho coisas para falar agora. Então você vai ficar quietinho e me ouvir.

 

(A música não é necessária, já que o ritmo não faz par com o que vem a seguir, mas se quiser ouvir, o link está nas notas finais)

Mudaram as estações, nada mudou

Mas eu sei que alguma coisa aconteceu

Tá tudo assim, tão diferente

- Eu sei o que você vai dizer. Eu só quero pedir que você pense um pouco mais. – Seu rosto se contorceu.

- Pensar Bruno? Pensar? – Meus olhos marejaram. – Você quer que eu pense sobre o que mais?

 

Se lembra quando a gente

Chegou um dia a acreditar

Que tudo era pra sempre

 

- Bruno, eu estou desgastada, cansada, morta praticamente. Estou cansada de tentarmos, e sempre acabarmos aqui.

- Ashley,  nós somos jovens, nós erramos todos os dias...

- Nós erramos sim. Nós erramos muito. Mas nós podemos tentar mudar. E você não quer mudar Bruno. Você sempre acaba fazendo as mesmas coisas, cometendo os mesmos erros. Olha o que o seu ciúme fez comigo Bruno. – Ele fechou os olhos. – OLHA PRA MIM BRUNO! Olha para onde eu estou. Eu estou numa cama de hospital

 

Sem saber, que o pra sempre, sempre acaba

 

- Eu sei...  –Sua voz saiu cortada – É sobre isso que eu quero falar, eu estava cego.

- Chega de desculpas Bruno. Para de tentar jogar a culpa para os outros. Eu quero que você me diga, onde eu estou?

- No hospital. – Seu maxilar estava trincado.

 

Mas nada vai conseguir mudar o que ficou

Quando penso em alguém, só penso em você

E aí, então, estamos bem

 

- Aonde eu sempre venho parar quando você faz merda Bruno?

- Hosp...Hospital.

- Você acha que eu deveria pensar sobre isso? Você acha que nosso amor é bom? Acha normal isso?

- Eu...

- Você o que?

 

Mesmo com tantos motivos

Pra deixar tudo como está

Nem desistir, nem tentar

Agora tanto faz

 

- Nosso amor pode não ser o mais normal. Mas nós nos amamos, e nós não nos importamos, ou não nos importávamos com o que as pessoas pensavam.

- Sim eu me lembro disso. Eu me lembro de tudo Bruno, de cada suspiro, cada vez que dissemos “eu te amo” um para o outro, cada briga, cada reconciliação. Eu lembro que costumava ser excitante essa coisa, essa... vida inconstante. Mas isso ficou no passado. Agora são outros tempos. Agora não somos só nós dois. Nós estamos mais velhos, temos filhos Bruno. Filhos! Você o tamanho da responsabilidade?

- Eu sei, mas nós podíamos tentar.

- Nós já tentamos... – Fiquei alguns segundos em silêncio e deixei as lágrimas caírem. - E eu não quero tentar outra vez. – Meu corpo inteiro tremia.

- Você... O que?

- Eu estou cansada, eu não quero mais criar esperanças sobre você e ver você me decepcionar outra vez. Eu quero algo sério, eu quero alguém que caminhe comigo, e não que me coloque para baixo. Eu quero alguém que me apoie, alguém que eu possa confiar.

- Você está... terminando?

- Estou Bruno.

- Mas, você disse...

 

Estamos indo de volta pra casa

 

- Eu sei o que eu disse. Eu recuperei a minha memória Bruno. – Falei por fim.

- Como? Quando?

- Não importa agora. Eu me lembro de tudo o que disse. Me lembro das juras as estrelas, lembro das promessas. E o que me dói mais é saber que sou eu quem está pondo um fim em tudo.

 

Mesmo com tantos motivos

Pra deixar tudo como está

 

- Eu não posso deixar você Ashley. – Ele deu um passo para frente.

- Você pode Bruno. Você vai viver sem mim, como eu vou viver sem você. Nós somos fortes no final. Você vai ver.

- Eu não quero deixar você. – Ele deu outro passo para frente.

- Você não quer deixar de sentir que tem poder sobre mim Bruno. E é o que eu quero me libertar.

 

Nem desistir, nem tentar

Agora tanto faz

 

- Se libertar do que? – Ele estava ficando perigosamente perto.

- De você, você é... Uma droga, eu quero largar e não consigo deixar.

 

Estamos indo de volta pra casa

 

- Você... Simplesmente não consegue entender que nós fomos feitos um para o outro?

- Bruno, nós fazemos mal um para o outro. Nós nos magoamos dia após dia - Não chorávamos mais. Havia apenas, ressentimento. Duas pessoas machucadas, uma lutando contra a outra.

- Eu não aceito isso - Ele estava perigosamente perto de mim.

Eu não posso deixa-lo fazer o que ele quer fazer, eu preciso de forças. Não posso deixa-lo me enganar de novo. Senão eu nunca vou ter coragem de sair.

Mas antes que eu fale qualquer coisa, Bruno avança e me beija.

Eu quase choro, raiva e saudade misturadas numa explosão hormonal, juntando com o contato físico que eu tanto amo, apesar de tudo.

Bruno segura meu rosto, me impedindo de fugir, e eu me permito entregar ao beijo, a última vez.

Nosso beijo começa suave, como se nós estivéssemos nos conhecendo agora e estivéssemos tímidos. Mas minha mão involuntariamente agarra sua nuca o puxando contra mim.

Mas algo dentro de mim apita "PERIGO!" e eu tento ignora-la só uma vez. Sinto minhas lágrimas salgadas se misturarem com o nosso beijo e o quebro.

- Ashley - Nós estávamos ofegantes. - Não podemos deixar isso morrer!

- Bruno, nós temos que deixar isso morrer! Não é saudável.

- Eu não acredito em você. Não depois de ter me beijado desse jeito.

Fechei os olhos, e tentei me controlar.

- Bruno, me entende. Eu quero você, mas eu não posso. Nós não podemos, é perigoso demais. - Procurei alguma coisa no meu cérebro que o fizesse entender o que eu queria dizer. - Você já pensou no espaço? No universo, o que tem depois da Terra?

- Hum... Não?

- Está pensando agora?

- De fato. Mas o que isso tem a ver com a gente?

- Quando você começa a pensar no espaço, sua mente tenta ir sempre mais longe, mais ao futuro, tentando ver outros planetas, coisas aqui na nossa "via láctea" certo?

- Sim.

- E você consegue ver tudo isso. Por que é algo próximo a nos, não é um futuro tão distante, seria algo comparado a meses. Agora tente ver além da "via láctea". Qualquer coisa que seja, vá pulando de galáxia em galáxia. - Dei uma pausa, Bruno me olhava confuso - Seu cérebro já não consegue mais atingir e tudo se torna um breu, certo?

- Sim.

- Digamos que o que tem além da nossa galáxia seriam os anos. Eles ficam confusos e incertos. Pretos. Vazios. É isso que eu penso quando olho para você e eu.

- Você não consegue ver um futuro para nós. É isso que você quis dizer com toda essa merda de galáxia e estrelas?

- Exato - Engoli um soluço e me parabenizei por não ter confundido tudo.

- Ótimo. Então é isso?! - Ele se afastou de mim. - Acabou tudo aqui, e agora. Sem chance de pensar e responder mais tarde.

- É o melhor para nós...

- Não fale por mim - Ele falou 3 tons mais alto. - Fale só por você.

- Eu não quero criar inimizade entre a gente.

- Por que? Por causa dos nossos filhos?! - Desdenhou - Ora não seja patética Ashley.

- Você não precisa ser um idiota.

- Eu sempre fui o idiota pra você. Não faz mais diferença. - Ele sorriu. 

Eu vi o velho Bruno renascer. O Bruno que tentou me beijar no Brasil. O Bruno de 2014. - Adeus Ashley.

- Adeus, Bruno. Seja... Feliz - Tentei sorrir e ele me olhou debochado.

- Com certeza, eu consigo seguir sem você.

E assim ele fechou a porta, e levou meu coração junto.

 


Notas Finais


Música do flashback --> https://www.youtube.com/watch?v=MZnUp1UeK9Y
Música do fim do capítulo --> https://www.youtube.com/watch?v=VEPjOB5MCA4
Até o próximo capítulo


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