História (Re)Começo - Terceiro Capítulo:

Ele expressou um sorriso tímido e arrumou a franja em seus olhos.

– Não… – Aquela voz ao vivo só aumentou minha teoria de que lhe conhecia. – Só se você tiver costume de ficar pelas salas da área artística.

– Não... Desculpe, devo ter me confundido.

– Acontece...bem, senta aqui!

Ele apontou para o espaço vago na sua cadeira, confirmei com a cabeça e me sentei.

– Sabe tocar?

– Não…

– Se incomoda se eu tocar?

– Acredito que não…

Ele espalmou as mãos sobre as teclas e logo começou uma melodia calma, era tão bom ouvir aquilo, me acalmava, olhei rapidamente para o seu rosto e percebi que tinha seus olhos fechados. Sua expressão era indecifrável, mas mesmo assim prendia minha atenção, sai dos meus pensamentos quando um som alto foi reproduzido por suas mãos com um impacto no teclado e assim ele abriu seus olhos.

– Me desculpe, com certeza você não veio aqui para me ouvir tocar.

– T-Tudo bem, você toca muito bem. – Por que gaguejei?

– Obrigado. – Ele abaixou a tampa do piano cobrindo as teclas.

– Sobre o apartamento, por que teve interesse nele? – “Porque minha amiga me forçou a entrar em contato com você”

– Localização, ele é bem mais perto da faculdade do que minha casa atual.

– Entendo… – Ele se levantou e pegou seu casaco que estava nas cadeiras ao lado.

– Acredito que queira conhecer o apartamento para se decidir melhor, pode vir comigo agora?

– Sim! – Me levantei rapidamente

– Você está muito tempo nesse campus?

– Sim, uns três anos… e você?

– Quatro anos.

– Um veterano!

Ele sorriu sem mostrar os dentes.

– Sim, é você que tem interesse em dividir o apartamento ou está pesquisando para outra pessoa?

– Sou eu, sabe sou bolsista e também recebo uma certa quantia do governo para me manter aqui, o problema é que meu alojamento e muito longe desse campus.

– Entendo, o que está cursando?

– Psicologia.

– Por acaso você não é daquele tipo de psicóloga que gosta de usar os outros como cobaia não né? É porque já morei com um assim e não foi uma experiência muito boa.

– Não…

– Menos mal.

Nós conversamos durante todo o caminho, ele parecia ser um cara legal, e o mais importante não parecia ser um estuprador ou vendedor de órgãos. Seu apartamento era realmente perto, chegamos em pouco tempo, assim que entramos me impressionei, o lugar era organizado e limpo, já estava esperando pilhas de livro, roupas e lixo, mas não tinha nada disso. Ele me explicava regras do prédio, valores e como era a política de lá enquanto me mostrava os cômodos, já havia me mostrado praticamente a casa toda, mas uma porta no final do corredor estava despertando minha curiosidade.

– Bem, é só isso, não é um apartamento luxuoso, mas acredito que tem o conforto necessário para um universitário – Ele fechou a porta da cozinha e olhou para mim, eu ainda encarava o fundo do corredor.

– Bom, agora para dois universitários, certo? – Ele chamou minha atenção.

– Sim… me desculpe, mas o que fica naquela porta? – Apontei na direção e ele olhou.

– A última porta?

– Sim, você não me levou até lá. – Ele olhava para mim, parecia sério.

– Lá… sabe, eu tenho gostos peculiares, você não entenderia…

– Então me mostra a porta da saída. – Falei séria olhando em seus olhos, ficamos assim por alguns segundos até que ele começou a rir, eu o acompanhei, mas na verdade estava rindo de nervoso mesmo.

– Desculpa, lá é meu quarto e como não esperava visita, está uma verdadeira zona, parece que aconteceu uma guerra de meias e cuecas, mas se você insiste tanto em ver…

– Não! Tudo bem, eu que devo me desculpar, ás vezes não controlo minha curiosidade.

Como já estava ficando tarde precisei ir para casa, ele me levou até a portaria.

– Eu gostei muito do apartamento e os valores não são tão altos assim… mas preciso pensar.

– Tudo bem, ninguém mais entrou em contato comigo, então desde que o apartamento não evapore, posso esperar até que se decida. – Ele sorriu para mim, passei quase a tarde toda com ele e aquela sensação de que já nos conhecíamos não deixou minha mente, já estava saindo pela portaria quando me lembrei que não havia me apresentado, então voltei rapidamente até ele antes que entrasse.

– Ellen! – Ele se virou para mim.

– Desculpe, o que?

– Meu nome, não nos apresentamos direito, meu nome é Ellen. – Estendi minha mão e ele a segurou.

– Verdade, prazer Ellen, Min Yoongi.