História Reconstrução - Capítulo Dois

DANIEL

   Olho para a minha cama e o corpo de Demi me tenta mais uma vez. As curvas e pele suave em exibição me deixam pronto como só ela é capaz de fazer. É uma pena que nossa relação não passe disso, não me entenda mal, nós nos respeitamos enquanto namorados, mas respeito parece ser o único sentimento presente em nosso relacionamento.
   Hoje é quinta feira, véspera da festa que promete ser a melhor do ano, e eu estou atrasado. Dormir com Demi geralmente resulta nisso. Saio do quarto e tomo um banho longo e prazeroso, afinal eu sou só um cara e acabei de acordar. Quando saio, acordo minha namorada e desco para tomar café enquanto ela se arruma. Eu prefiro não estar por perto enquando ela faz isso, a ultima vez que tentei corri sério risco de mutilação, segundo ela, nenhum homem deve presenciar o ritual de beleza da sua companheira. E depois do pouco que vi, eu concordei.
   Já estava na segunda rodada quando ela chegou, sim eu como muito, o judô pode fazer isso por você.
   - Bom dia, benzinho! - me encolho internamente com o uso do apelido carinhoso.
   - Bom dia. - não é como se eu tivesse tempo para usar o apelido que eu sei que ela odeia, porque eu mal terminei o meu 'bom dia' antes dela cobrir minha boca com a sua em um beijo ávido. Ela atrai minha língua com a sua, acariciando lânguida e profundamente, tocando o céu da minha boca com a ponta da língua. Aos poucos ela me tira do sério. Não sei porque, mas o meu corpo sempre reage assim ao seu toque, e antes que eu me dê conta sua mão está me tocando através do jeans. Eu tenho que parar isso se não quiser perder o primeiro período. Isso ainda vai me trazer problemas um dia.
   - Chega... - digo, enquanto retiro sua mão delicadamente do meu membro semi ereto. Ela choraminga, mas colabora.
   Saimos da casa e entramos no carro. Quem vê a cena de fora, deve pensar que moramos juntos ou algo do tipo, quando na verdade, eu só tenho pais muito... liberais, que me permitem fazer praticamente todas as minhas vontades. Dirijo por cerca de dez minutos, como em todos os dias, para chegar na escola. Descemos e nos dirigimos para nossas respectivas salas de aula. Ela entra, e eu permaneço de pé ao lado da porta. Ainda preciso ver alguém antes de entrar.
   Não sei bem quando isso começou... Mentira. Sei exatamente quando e onde.
  
   O dia começou como outro qualquer. Eu estava seguindo a minha rotina com perfeição: aulas, treino e namoro. Só que entre o treino e o namoro, algo inesperado cruzou o meu caminho. Alguém, para ser mais exato. "Eu conheço ela", me lembro de ter pensado, "é a gorota que perdeu a mãe".
   Mas a cena na minha frente não se encaixava na imagem que eu tive dela essa manhã. Ela estava sorrido e conversando, agora ela só chorava. Como se seu coração estive se partindo, bem ali, em mil pedaços. Não podia ouvi-los, mas seus soluços eram visíveis, e ela continuava recitando uma mesma palavra, sem parar. Levei um tempo para entender, mas quando fiz, meu coração também se partiu um pouco. Ela dizia "Mamãe" de novo e de novo. Ela não me viu. Eu fiquei a observando por vários minutos. Só consegui me mover quando notei que seus soluços estavam diminuindo e sua respiração ficando mais calma. Tudo isso aconteceu atrás da arquibancada, sem ninguém além de mim como testemunha.

   Naquele dia, quando ela finamente parou de chorar, continuei caminhando para o vestiário. Lembro que me arrumei enquanto uma nuvem de pesar pairava sobre mim. Naquela noite acabei não encontrando Demi, fui direto pra casa. Passei a noite ouvindo musicas aleatórias e tentanto tirar a imagem da minha cabeça. Entretanto, foi em vão. No dia seguinte, enquanto ela atravessava o corredor distribuindo sorrisos e cumprimentos, eu só conseguia ver ela chorando e chamando por alguém que não viria nunca mais.
   Hoje ela está bonita como sempre, com seu longo cabelo negro arrumado em um trança que cai sobre seu ombro direito. Ela sempre usa calças, coladas na medida certa, que não escondem seu corpo de dançarina. Hoje a calça pretra vem acompanhada de uma blusa de mangas compridas vermelha. Vermelho fica bem nela, me repreendo mentalmente pela observação, mas acabo me convencendo que olhar não faz mal algum.
   Depois de terça, quando me olhou nos olhos e viu algo que não esperava, ela não olhou para mim novamente, não até agora. Hoje ela me olhou e sorriu e algo dentro do meu peito estalou. Ela nunca sorriu pra mim antes. Mas assim como o sorriso veio, ele se foi. Não tive nem tempo de me perguntar o porque. E pra ser sincero, eu fiquei um pouco atordoado.
   Acho que esses quatro meses observando a Sarah confundiram um pouco a minha cabeça e eu nem sei porque.
   Pra começo de conversa, eu só continuei a observando porque queria descobrir até onde ela iria para manter essa fachada de garota perfeita. Ela perdeu a mãe e finge que está bem pra manter o seu nível de popularidade. Imaginando que seja por isso, uma vez que eu não vejo qualquer outro motivo para se anular dessa maneira.
   Ela deve viver para a atenção que recebe. Acho que o que ela tem de bonita, deve ter de superficial.

SARAH

   Porque eu sorri pra ele hoje? Eu sei que por mais que eu tenha tentado me convencer de que imaginei aquilo na terça, a cena continuou se repetindo na minha cabeça. No fundo, eu quero saber se realmente vi aquilo ou não. E se vi, o que exatamente aquele olhar significa? Porque ele me olhou como se soubesse exatamente o que eu estou fazendo? Como ele poderia saber?
   Aos poucos a dúvida está crescendo e me deixando inquieta. E, como se essa dúvida não bastasse, tem a bendita festa. Acabei cedendo e disse ao Jonas que ia. Agora já é tarde pra voltar atrás.
   Em meio a duvidas e ansiedades a quinta passou voando e quando me dei conta, ja estava a caminho da minha primeira festa em meses.
   E eu não tenho um bom pressentimento a respeito disso..