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História Reconstrução - A adulta menos adulta


Escrita por: adolf0 e @3tangfei

Capítulo 16 - A adulta menos adulta


I’m here without you, baby! But you’re still on my lonely mind!¹

— Meu Deus, Naruto, para com isso! — A voz gritada de Kankurou soou por cima da cantoria do Uzumaki e, inclinando o corpo entre os bancos dianteiros do carro de seu irmão mais novo, o Sabaku desligou o aparelho de som. — Você tá, o quê, há doze horas sem ver a Hinata?

— Quatorze… — O loiro cruzou os braços, fazendo bico, e enterrou o tronco no banco do carona. — E eu não to cantando por causa dela, não! A música que é boa, dattebayo!

Gaara, atento a estrada, rolou os olhos. No dia anterior ao aniversário de Shikadai, Kankurou ligara avisando que teria de ir à Konoha de ônibus, pois seu carro estava no mecânico com o motor fundido. Acabou oferecendo-lhe carona para a volta, uma vez que tinha a audiência marcada para às nove da manhã na segunda-feira. E lá estavam eles: cinco e meia da madrugada, observando o céu ainda escuro, atravessando a ponte que ligava Konoha à cidade vizinha e aturando Naruto de TPM.

— Mas eu dou pontos à você, Naruto. — Kankurou bateu a mão sobre o ombro do amigo. — Nem em um milhão de anos, eu diria que você conseguiria sair com a princesinha dos Hyuugas.

— Demorou uns quinze anos, mas ele conseguiu. — Gaara soltou uma risada debochada, lembrando-se do tanto de vezes que tivera que escutar os suspiros estúpidos do loiro, que vez ou outra se perguntava o que teria acontecido se tivesse tido coragem de convidar Hinata para sair quando eram jovens.

O Uzumaki apertou mais o enlace de seus braços, fingindo irritação. Logo, porém, um meio sorriso tomou seus lábios e, com seu tom forçadamente cínico, ele comentou:

— Ao invés de focar na minha vida amorosa - que está indo muito bem, obrigado - por que a gente não fala do Gaara?

O ruivo arqueou ambas as sobrancelhas, surpreso com o rumo que a conversa tomava.

— Quê?

— É mesmo… — Kankurou manteve-se entre os bancos dianteiros, encostando o ombro do lado do loiro. — O maninho chegou todo serelepe ontem à noite.

— Por que será, heinttebayo?

— Segundo fontes confiáveis, o nosso mestre em Direito da Família, aqui — Bateu no ombro do irmão mais novo. — Passou a tarde inteirinha passeando com dois pirralhos e uma loiraça fenomenal.

“Temari bocuda.”, o ruivo pensou, concluindo imediatamente a quem Kankurou se referia como “fonte confiável”. Ele apertou os dedos no volante, pedindo à providência divina um pouco de paciência e serenidade; pois, se o irmão continuasse a falar porcarias e a mencionar Ino de forma tão leviana, acabaria parando o carro e fazendo-o descer e voltar à capital a pé.

— Não vai falar nada, Gaara? — O Uzumaki insistiu, com aquela vozinha que o tirava do sério.

— O que você quer que eu fale? — Gaara suspirou de leve, tentando permanecer o mais impessoal que conseguia. Sabia, porém, que tentar mentir para Naruto era quase o mesmo que tentar mentir para si mesmo; uma vez que o loiro era, possivelmente, a pessoa que mais o conhecia.

— Conta logo o que tá rolando entre você e a Ino! — O advogado loiro insistiu novamente.

— Ou melhor, admite logo que tá mesmo rolando algo entre você e a loiraça! — Kankurou juntou-se à Naruto, obstinado a arrancar a verdade do irmão mais novo.

Gaara apertou o maxilar, semicerrando os olhos por um milésimo de segundo e olhando ameaçadoramente para o irmão, pelo espelho retrovisor.

— Se continuar a chamá-la de “loiraça”, você vai a pé para Tóquio.

O médico ergueu ambas as mãos na altura do peito, como tivesse entendido a ameaça. E, se conhecia bem o ruivo, ele a cumpriria com toda a certeza. Deixou então a tarefa de arrancar a verdade para Naruto, que era perito no assunto.

— Eita. Já sente até ciúmes, ele. — O loiro soltou uma risada anasalada. De fato, quando deixaram a capital para voltarem provisoriamente para Konoha, teria feito piada da cara de quem o falasse que, pouco tempo depois, ele estaria com Hinata e Gaara estaria se engraçando com Ino.

— Você também quer ir a pé pra Tóquio, Naruto?

— Não entendo esse stress todo. — O outro advogado admitiu, dando de ombros e se ajeitando no banco. — Não é como se fosse algo ruim. Na verdade, estou bem contente de ver que você tá se dando bem com a Ino. Ela é uma pessoa muito boa.

Gaara suspirou, relaxando as mãos ao volante. Não sabia até onde conhecia Ino, na verdade. O pouco que conhecia, porém, fazia sentir-se confortável e, de certa forma, seguro.

— Estamos apenas nos conhecendo melhor. — Admitiu, sem dar brecha para detalhes, mas confirmando o que os dois suspeitavam.

Naruto abriu um sorriso, genuinamente contente pelo amigo.

 

Cercada de projetos para revisar, Ino bufou frustrada. Se tinha algo em sua profissão que detestava era o trabalho burocrático, aquilo combinava muito mais com seu pai. Mas, para sua infelicidade, o velho Yamanaka estava tão empolgado com a reconstrução do orfanato que passava mais tempo na obra que na empresa.

Ela largou um dos papéis, apoiando o queixo nas mãos. Porém, quem era ela para julgar o pai? Se a empresa caminhasse sozinha, como se fosse um ser pensante por si só, com toda a certeza estaria no meio das madeiras pregando parede e usando sua serra elétrica, como fizera nas semanas anteriores.

— Ino? — Ela levantou o olhar, vendo Hinata parada na porta de sua sala.

— Oi, Hina.

A morena sorriu, entrando no cômodo e sentando em uma cadeira de frente a mesa da chefia.

— O Inojin está melhor depois da queda?

— Sim! — A loira sorriu largamente, recordando-se da felicidade do filho. — Você já viu um moleque ficar feliz por se ralar todo?

— Bom, acho que dá para entender. — A Hyuuga disse à amiga. — E o Naruto-kun comentou que o Gaara-san parecia contente também.

— Ah, é mesmo? — Ino cruzou os braços, mantendo um meio sorriso em seus lábios enquanto encostava-se em sua cadeira. — E o que mais o seu namorado falou?

A Hyuuga corou levemente, diante a palavra “namorado”. Não tinha nada ainda oficial com o Uzumaki, mas não era como se não percebesse os detalhes. Naruto usava cada vez mais o pronome “nós” e isso a deixava, realmente, nas nuvens.

— Ele não comenta muito sobre a vida pessoal do Gaara-san. — Pontuou, sincera. — Mas, disse que ele parece muito mais tranquilo desde que veio para Konoha e começou a conviver com você e com o Inojin-kun.

Ino que, ao contrário de Gaara, não era cheia dos mistérios, soltou uma risada melodiosa e satisfeita. Com os olhos brilhando, ela direcionou o olhar diretamente para a amiga e confessou:

— Ai, eu beijei o Gaara! Pronto, falei!

Hinata manteve seu sorriso doce, que era transmitido também por seus olhos perolados. Aquela expressão, na opinião da engenheira, era de se acalmar a ansiedade e o coração de qualquer um. Não era à toa que a morena era sua confidente, pois gostava de sua discrição. Se fosse Sakura, por exemplo, um escândalo estaria sendo feito e metade do quarteirão já saberia do acontecido.

— E foi bom? — A Hyuuga indagou, observando com minúcia as linhas de expressão da amiga. Fazia algum tempo que não a via tão radiante. — Digo, ficar com ele. Vocês se falaram depois?

— Primeiro eu tive um chilique.

— Como esperado.

— Mas, a gente deixou a situação mesmo no “vamos ver o que vai dar”. Então ontem nós saímos com as crianças, e deixamos o negócio fluir.

— E como está se sentindo? — A Hyuuga recostou-se também na cadeira, contente com a rápida narração da outra. — Você não se relaciona com ninguém tem um tempo já.

Ino cruzou os braços, reavaliando a própria situação. Seu cérebro tendia a apressar as coisas, talvez por este motivo manteve-se afastada de toda a problemática “homens”, afinal, ser mãe solteira não era tão fácil quanto parecia. Gaara, por outro lado, aparentava ser seu total oposto. Sempre quieto, impessoal. Mas, fazer o quê? Aprendera em cálculo diferencial e integral que, às vezes, você tem que simplesmente tentar vários métodos para chegar a um resultado.

Quem sabe ela e Gaara fosse igual uma divisão por zero. Para os poucos entendidos, era um quociente impossível. Porém, ela era uma engenheira e sabia que, uma divisão por zero, poderia resultar em um número infinito quando aplicado a um limite.

— Estou me sentindo feliz, sinceramente. — Concluiu, esboçando em seus olhos o que acabara de afirmar à amiga. — Olha só, era umas oito da manhã ele me mandou mensagem avisando que já estava em Tóquio.

— O Naruto também me mandou! — Hinata riu em cumplicidade. Quando pensaram que teria alguém dando satisfação por livre e espontânea vontade? — Deixa então fluir, Ino. O Gaara-san é uma pessoa boa, ao que parece.

A Yamanaka, que estava até então agitada com os acontecimentos dos últimos dois dias, sentiu-se tranquilizar. Era bom, de vez em quando, conversar com alguém mais sensata, como Hinata. Pensando ainda no que falar para a amiga, a loira teve o raciocínio interrompido pelo som do telefone em sua mesa. Ela fez sinal para a morena, que estava prestes a atender a ligação, indicando que ela mesma o faria.

— Sim?

Ino? É a Tenten!

— Oi, Ten! Quer falar com a Hinata?

Não, é com você mesmo! Tenho novidades sobre o processo do orfanato!

Ino mordeu instintivamente os lábios, voltando a sentir-se ansiosa.

Tenten era uma das secretarias da prefeitura e atendia diretamente Neji, seu marido, e Rock Lee, um cara enérgico demais para qualquer um conseguir acompanhar. Ambos trabalhavam como advogados na área de assistência e desenvolvimento social; mas, até onde tinha conhecimento, não estavam diretamente envolvidos no processo que Naruto e Gaara montaram. O que a engenheira via como desvantagem, uma vez que a interferência de ambos seria, com toda certeza, positiva para o andamento da ação.

— Anda, fala logo!

Você soube que o Lee vai assumir a secretaria de cultura e esportes no lugar do Gai?

Ino levou uma das mãos ao queixo, incerta sobre a pergunta da outra.

— Acho que não. Mas, o que isso tem a ver?

Então, ele tentou pegar antes o processo, né? O Danzou tava conseguindo barrá-lo, por isso que o negócio estava tão lento.

— Qual o problema desse imbecil? — Ino rolou os olhos, ouvira bastantes histórias envolvendo Shimura Danzou e nenhuma delas eram exatamente boas.

Não sei, mas como secretário municipal de urbanismo e licenciamentos, ele conseguiu colocar a mão no processo.

— Tá, e aí?

— O Lee e o Neji, quando descobriram que o Danzou tinha a ver com a lentidão do negócio todo, ficaram com sangue nos olhos, guria. Daí, o Lee foi direto na Tsunade e pediu que ela passasse o processo para eles, falando que queria finalizar o trabalho dele na secretaria de assistência social com isso.

A engenheira deixou o queixo pender levemente, aquela prefeitura fora, por muitos anos, impenetrável. Após a entrada de Tsunade como prefeita, no ano anterior, as coisas gradativamente pareciam mudar. E para melhor, o que animava grandemente os moradores, que não faziam parte de uma minoria privilegiada.

A Tsunade, primeiro, deu um chamado do Danzou por estar colocando o dedo onde não deveria. Depois, ela entregou o processo para o Kakashi, o Secretário da assistência social, que resolveu atender o pedido do Lee e deixá-lo a cargo disso.

— Ah, é?!

Eu não quero ser apressada, e o Neji me esgana se souber que eu estou te contando isso. Mas, não sei não, amiga. O Lee está no modo “besta verde de Konoha” dele, e você sabe como ele é. Estou apostando que em um mês ele faz o que o Danzou tem travado nos últimos três.

— Tenten do céu! — A loira gritou, esganiçada. — Que novidade maravilhosa! Te amo!

Guarde seu amor para aquele ruivo maravilhoso! — Tenten soltou uma risada do outro lado da linha, sabendo que estava deixando a loira sem graça. Não precisava ser perita em comportamento humano para notar a troca de olhares constante da amiga com o ruivo no aniversário de Shikadai. E tudo, para ela, apenas se confirmou quando os viu seguindo para a casa da Yamanaka, junto de um Inojin parcialmente ralado. — Agora eu preciso ir, só te liguei porque não me aguentei.

— Fofoqueira você, hein.

— Sou fofoqueira, mas fofoqueira do amor! Beijos, loira!

— Tchauzinho!

Ino recolocou o telefone do gancho, digerindo as palavras de Tenten. Olhou então para Hinata, que permanecia muda e curiosa, e abriu um sorriso ainda mais largo que os anteriores, pronta para contar à amiga das novidades.

 

Observando atentamente os traços criados a partir do atrito dos lápis de cor com uma folha branca, Karin observava também as expressões e linguagem corporal de seu paciente. Inojin, por sua vez, permanecia sentado em uma mesa infantil, desenvolvendo tranquilamente o “trabalhinho” que sua amiga ruiva passara para aquela tarde; ela pedira para que desenhasse as pessoas que mais gostava.

Karin puxou então, ao lado do menino, uma cadeira pequena demais para ela. Precisando distribuir bem o peso das pernas, para não acabar caindo, ela sentou-se e, ainda observando o desenho, comentou:

— Como você desenha bem, Inojin!

O menino desviou o olhar da folha para a ruiva, sorrindo.

— Obrigado! O tio Gaara me chama de artista, sabia?

— É mesmo? — Disse, parecendo interessada, aos olhos do pequeno Yamanaka. — E você pode me mostrar agora quem você desenhou?

— Sim! — Ele virou o desenho para a psicóloga, apontando primeiramente para um boneco palito de cabelos loiros, que estava ao lado de um outro menor, também loiro. — Essa é minha mamãe, do meu lado. Do meu outro lado tem o tio Gaara, ele é muito, muito legal! — Inojin sorriu, indicando um bonequinho torto e ruivo. Ele começou então a apresentar os seguintes. — Aqui são a Sarada e o Shikadai, eles são meus melhores amigos!

— A Sarada não era aquela sua amiga, que estava chateada com você?

— Uhum! Mas, eu pedi desculpas pra ela no aniversário do Shika. — Explicou. — Voltamos a ser amigos!

— Nossa, isso é bom!

— Sim! — Inojin sorriu, voltando novamente a atenção para o papel. — Esses são meus padrinhos, o tio Shikamaru e a tia Temari. Aqui é a tia Hinata — Ele apontou para uma morena. — Agora ela namora o Naruto, então coloquei ele também. E tem também meus avós e você!

— Eu? — Karin ergueu ambas as sobrancelhas, genuinamente surpresa com a bonequinha ruiva, que anteriormente julgara ser alguma outra pessoa.

— Claro, você é a adulta menos adulta que eu conheço.

— Sou, é? — A ruiva riu, tentando manter o foco e não se emocionar. — E por que você diz isso?

— Aqui a gente fala de muitas coisas legais e você não manda eu fazer a tarefa da escola, como todo adulto manda.

— Ah, então eu sou uma adulta legal porque não mando você fazer tarefa? — Ela continuou com o tom amistoso, arrancando uma risada divertida do menino que, com um aceno de cabeça, concordou. — Agora me diz, Inojin. Por que você só desenhou sua mãe? E seu pai?

— Acho que eu já falei isso pra você, Karin. — O menino desfez a expressão tranquila, franzindo o cenho. — Eu ainda não tenho pai.

— Todo mundo tem pai, Inojin. — A psicóloga pontuou, mantendo o tom de voz ameno, certa de que não soar como uma “adulta muito adulta" ajudaria o menino a aceitar suas palavras. — Só que às vezes eles não podem estar com a gente, o que é o caso do seu.

Inojin desviou o olhar para sua folha, observando cada boneco palito desenhado. Como desenharia uma pessoa sem conhecer suas feições ou do que gostava? Não era fácil, para um artista expressivo como ele, desenhar alguém que não conhecia.

— Eu não sei muito sobre ele. — Confessou, com a voz parcialmente mais baixa que o costume.

— E você não quer saber? Não tem curiosidade?

Ele apenas balançou positivamente a cabeça, respondendo o que a psicóloga ansiava perguntar desde o primeiro encontro.

Karin esboçou um sorriso mínimo, imperceptível aos olhos azuis fixos no desenho. Ela pediu então para que o menino aguardasse um momento e seguiu para a porta de seu consultório, abrindo-a e dirigindo-se à recepção. Ao ver uma loira sentada, assistindo televisão, dirigiu-se à ela, chamando-a.

— Ino? Você pode me acompanhar?

Ino desviou o olhar para a psicóloga, surpresa com o chamado repentino. Karin costumava conversar com ela apenas no final das consultas, e muito rapidamente.

— Sim, claro. — Ela levantou-se, seguindo a ruiva de volta ao consultório.

Assim que ambas entraram na sala, Karin pediu para que mãe e filho sentassem lado a lado no sofá reservado aos pacientes, ficando de frente à eles em sua poltrona.

— Inojin. — Ela começou, capturando a atenção do menino para si. — A melhor pessoa para sanar suas curiosidades é sua mãe. Qual tal perguntarmos algumas coisas à ela? Eu também estou curiosa para saber sobre você sabe quem. — Disse, escolhendo deixar de lado uma forma explícita de se dirigir ao pai do menino, como se estivesse dando a ele a escolha de continuar com aquilo ou não.

O pequeno Yamanaka olhou da psicóloga para a mãe, que o observava. Pensou, pensou e pensou. Não era como se fosse realmente indiferente ao pai, mas também não queria que sua mãe ficasse triste. Ela olhava tanto para o porta retrato, que ficava na sala de estar, como se falasse também sozinha com aquela fotografia. Porém, fotografias não respondiam.

— Por que ele não quis ficar comigo?

Ino arqueou ambas as sobrancelhas, precisando focar muito para ignorar o formigamento em seu nariz.

— Inojin, o sonho do seu pai era te conhecer. — Respondeu, após uma profunda inspirada. — Infelizmente ele morreu antes que pudesse, não foi uma escolha dele. Mas, eu posso te garantir que ele já te amava mais que tudo.

— Como ele me amava se não me conhecia? — O menino franziu o cenho, genuinamente intrigado.

— Inojin, se eu te contar um segredo, você promete que não conta a ninguém? — A psicóloga tomou novamente a palavra, observando a expressão da mãe do garoto, que indicava claramente a falta de respostas. Inojin era uma criança curiosa demais para se contentar com um “porque sim” e, certamente, sentiria-se ainda mais frustrado se recebesse uma resposta genérica.

— Claro!

— Você conhece o Suigetsu, não?

Os olhos azuis do menino brilharam em excitação.

— Sim! Ele é meu professor de natação! — Respondeu. — Ele é igual a mim! — Disse, referindo-se ao fato do mais velho também ser órfão de pai. — E me ensinou a nadar e diz que eu sou o melhor nadador de Konoha!

Karin sorriu. De certo, o menino não conhecia a parte realmente complicada da história. Não era como se Suigetsu soubesse algo sobre os pais, como Inojin sabia sobre o seu. Ele fora abandonado no orfanato ao nascer, passou parte da vida sem ao menos um sobrenome.

— Ele é meu marido, sabia?

— O que?! — O loiro exclamou surpreso. Nem sabia que o professor era casado.

— Nós descobrimos, na semana passada, que vamos ter um bebê! — Confessou, vendo Ino e Inojin trocarem olhares ainda mais surpresos e, então, sorrirem.

— Que legal!

— Parabéns! — Ino congratulou a futura mãe. Não sabia onde Karin queria chegar com aquilo; mas, uma notícia daquelas, era sempre boa de se escutar.

— Obrigada! — A ruiva agradeceu, sentindo o coração acelerar por um momento. Não costumava dividir muito de sua vida pessoal com os pacientes; porém, naquele caso, imaginou que era por uma boa causa. Alguns questionamentos de Inojin, quanto ao pai, a lembravam muito da época em que conhecera o marido. — Bom, o bebê ainda é tão pequenininho que não conseguimos ver muita coisa. Mas, eu já o amo como sua mãe ama você. Será que o Suigetsu também o ama? O que você acha?

O menino levou uma das mãos ao queixo, refletindo as palavras da psicóloga. O professor de natação se dava bem com todas as crianças, dava bronca quando necessário. Sua mãe vivia dizendo que, quem ama, também dá bronca (apesar de que ele suspeitava ser só uma desculpa para ela poder brigar quando tirava nota baixa em matemática). Tentou imaginar, então, Suigetsu com um Suigetsuzinho na piscina da academia, ensinando o bebezinho a nadar. Riu, certamente não tinha como imaginar aquilo sem seu professor com um sorriso feliz.

— Acho que sim. Principalmente se ele gostar de nadar!

Ino aproveitou a deixa das palavras do menino, confessando algo que, talvez, não fosse de seu conhecimento.

— A coisa que o Sai mais gostava de fazer era desenhar, sabia?

O menino voltou rapidamente o olhar para a mãe.

— Sério?

— Agora, imagine se algo acontece e o Suigetsu não pode mais estar aqui quando o bebê nascer. — Karin retornou a falar, após Ino confirmar a pergunta do filho. — Você vai ser o senpai dele e ele vai te perguntar: “será que meu pai me amava?”. O que você responderia?

A psicóloga sentiu o coração apertar em empatia ao perceber os olhinhos graúdos do menino lacrimejarem quase que instantaneamente. Tinha consciência de que aquilo não era tristeza, era a emoção de um processo de cura, que seria lento, mas que provavelmente estava tendo início.

— Você não precisa me responder agora, tá? — Explicou, olhando gentilmente do menino para a mãe. — Quero que você pense nisso durante a semana e, quando voltar aqui, você me responde.

Emudecido pela sensação intensa que tomava seu peito e garganta, o menino concordou com um aceno de cabeça. Ino, ao lado do filho, continuava a fazer força para manter-se no papel de mãe e não fraquejar quando era o menino quem precisava de apoio. Inspirou fundo, agradecendo-se mentalmente por ter decidido seguir o conselho de Sakura e ter procurado a ajuda de um profissional.

Karin levantou-se de sua cadeira, agachando-se em frente ao sofá onde o menino permanecia sentado. Ela tocou seu nariz com a ponta dos dedos, fazendo com que ele esboçasse um sorriso curto.

— Nos vemos semana que vem, então?

— Un! — Afirmou.

Ela era mesmo uma adulta maneira, Inojin pensou.


Notas Finais


¹ Here without you - 3 Doors Down (https://www.youtube.com/watch?v=kPBzTxZQG5Q)
As músicas do 3DD me inspiram muito pra essa fanfic, vocês não têm noção asuidaishd.


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