Tori gritava por socorro e a única resposta que obtinha era a de Parker, que latia para ela do lado de fora do closet. Ela estava morrendo de vontade de ir ao banheiro, estava com fome e sede. Não sabia que horas eram, o seu relógio de pulso que tanto adorava estava em seu quarto. Se é que aquele quarto ainda era dela. Victoria ainda estava com os pulsos presos pela braçadeira de plástico, que machucava sua pele toda vez que tentava forçá-la para quebrá-la. Parker parou de latir, o barulho da fechadura sendo aberta fez Tori dar um passo para trás, a porta se abriu e Henry entrou no cômodo.
- Você está bem? – Henry notou que ela estava assustada. O rosto ainda úmido das lágrimas.
- O que você vai fazer? Onde está Red? – Ela perguntou.
- Eu não vou fazer nada de mau a você, ele apenas me pediu para tirar você daqui. Estenda seus braços. – Henry ordenou. Ele retirou um canivete do bolso. – Eu vou soltar você, Victoria. – Disse, ao perceber que ela estava receiosa. Ela estendeu os braços e ele cortou a braçadeira plástica. Victoria massageou os pulsos e saiu do closet sendo acompanhada por Henry. Parker pulou em sua direção e ela tratou de acalmá-lo. O cachorro andava ao seu lado.
- Você ainda não me disse onde ele está. – Ela olhou para Henry, que era tão musculoso que provocava medo à primeira vista. Quando ele abriu a boca para falar, ela saiu correndo e se trancou no banheiro. Estava a ponto de se urinar nas calças. Henry estava de sobrancelhas franzidas quando ela saiu. – Eu estava apertada. – Disse, sem jeito.
- Deve estar com fome , também. – Disse.
- Estou. – Passoua mão na barriga, que roncava.
- Vamos fazer assim: você toma um banho e depois desce para comer. Aí eu conto onde Red está. – Ele abriu a porta do quarto e Tori concordou com a cabeça.
Subiu as escadas com uma sensação de fraqueza. Red tinha sido cruel ao deixá-la lá dentro. Mas, ele era a sua única salvação de conseguir um emprego que não fosse naquela cidade ou perto do convento. Tinha medo de estarem procurando por ela. Não porquê as Irmãs tivessem carinho por ela. Se estivessem procurando-a, seria por apenas orgulho e vergonha de ter deixado uma das noviças escapar. Tomou um banho rápido e desceu as escadas correndo, com medo de que Henry tivesse ido embora. Mas, para a sua sorte ele estava na cozinha, sentado em um dos bancos altos, esperando por ela. Ela fez o mesmo.
- Agora me conte onde ele está. – Ela comeu a pizza que provavelmente tinha sido comprada por Red mais cedo. Henry respirou fundo.
- Ele me ligou dizendo que tinha ido até o Convento. – Disse.
- O quê?! – Perguntou incrédula.
- Fique calma. Deixe eu terminar de falar. – Ele falava calmamente. Victoria deicidiu escutá-lo sem interrompê-lo. – Red não está acreditando na sua história. Ele foi até o convento que você disse e as freiras informaram que não há nenhuma garota desaparecida ou que houvesse fugido. E que nunca existiu uma noviça chamada Victoria. – Henry tinha o rosto sério. Victoria não podia acreditar que aquela história fosse real.
- Mas eu passei quase toda a minha vida naquele lugar! Pelo amor de Deus! – Ela bateu na mesa. – Ele não pode acreditar nessa história! – Mordeu o lábio inferior.
- Red ficou desconfiado, ele quer tirar a dúvida. Por isso está de tocaia perto do convento, ele quer entrar lá e encontrar sua ficha. Checar se o que você contou é verdadeiro.
- E se ele não achar minha ficha? Pelo que você falou o convento não está muito interessado em ter o nome estampado no jornal por causa de uma noviça que resolveu fugir por aí. O convento é respeitado por muitas pessoas. – Victoria concluiu. Henry estava com um ar pensativo, refletindo sobre o que ela dizia.
- Se sua história for verdadeira, você pode ter razão. - Disse. – Você não sabe seu sobrenome? - Henry suspirou cansado ao vêl-a negar com a cabeça e retirou o celular do bolso. – Você teve alguma amiga naquele lugar? – Discou o número de Red.
- Sim. – Ela franziu o cenho.
- Qual o nome? – Pôs o celular no ouvido.
- Francesca Beans. – Disse. – O que ela tem a ver com isso? – Perguntou, mas ele estendeu um dedo em sua direção pedindo silêncio.
- Red? – Uma pausa se seguiu. – Ok. Quando você entrar no convento, se você não achar a ficha de Victoria, procure a ficha de Francesca Beans. – Deu uma pausa. – Ok, nos vemos mais tarde. – E desligou. Tori ficou um pouco triste por ele não ter perguntado por ela. Mas, lembrou-se do que Henry tinha dito anteriormente: Red não se importa com ninguém. – Termine de comer e descanse, Victoria. Não vai adiantar ficar acordada esperando por ele. – Guardou o celular no bolso.Ele se levantou.
- Você já vai? – Perguntou.
- Eu preciso ir. – Deu um sorriso sem graça. – Boa noite, Victoria. Tente desculpar Red, ele é um cara... Complicado. – Suspirou.
Victoria assentiu com um gesto de cabeça e Henry foi embora. Parker estava deitado perto da porta e dormia tranquilamente. Terminou de comer a pizza e bebeu o resto da Coca-Cola, lavou os talheres e colocou o resto na geladeira.Desligou as luzes da cozinha e do corredor que levava para sala. Victoria não queria ir para cama, ela estava ansiosa demais para dormir. Ela se deitou no sofá e ligou a TV. Parker deitou-se perto da porta, esperando por Red.
Tori pegou no sono horas depois. Ela abriu os olhos e descobriu que já era de manhã. Sentiu cheiro de café vindo da cozinha. Suas pernas doíam por ter ficado em pé dentro do closet no dia anterior. Sentou-se no sofá e esforçou-se para levantar. Entrou na cozinha e ficou surpresa ao perceber que não tinha ninguém. Apenas a cafeteira estava ligada. Franziu as sobrancelhas. Virou-se para a porta e viu Red encostado, de braços cruzados. Vestia apenas uma calça de moletom de cor azul-marinho.
- Red. – Engoliu em seco. – Bom dia. – Mordeu o lábio inferior, apreensiva.
- Bom dia, Victoria. – Respondeu, com um tom gélido na voz.
- Red, eu...
- Eu quero que me explique o porquê de sua ficha no convento estar incompleta. – Interrompeu-a. Victoria viu as fichas na mão dele. Red jogou-as em cima do balcão. Ela franziu as sobrancelhas.
- Como assim incompleta? – Sentou-se no banco alto e abriu-as. Colocou a ficha aberta de Francesa ao lado da sua.
- As páginas 10 e 11 estão faltando. – Ele se aproximou e sentou-se ao seu lado. Tori olhou para ele com uma expressão confusa e voltou seu olhar para a ficha de Francesca que parecia estar completa. Red estava certo, as páginas 10 e 11 não estavam na ficha dela. Era a parte em que estava escrito no título das páginas “Despesas, Transações bancárias e Doações”.
- O que isso quer dizer? – Olhou para ele.
- Parece que todas as garotas do convento precisam pagar uma taxa para entrar, assim ele pode ser mantido. Quem ajuda são os responsáveis pelas crianças que entram lá. Eles podem doar qualquer coisa: alimentos, roupas que não queiram mais e que podem ser vendidas, ou dinheiro. – Deu uma pausa. Victoria escutava atentamente. – Os pais de Francesca contribuem com alimentos. – Pousou o dedo na ficha. – “Doações: alimentos” – Leu. – E assim segue uma planilha, que eles digitam no computador, imprimem e atualizam a ficha a cada ano. Também estão inclusas algumas despesas como os dias de feriados que eles cobram taxa. Além de cobrarem taxa pelos finais de semana que deveriam ser passados com a família, mas me parece que sua amiga passa no convento. – Red explicou.
- Eu não sabia de nada disso. – Franziu as sobrancelhas. – Como eu nunca soube? – Folheou sua ficha novamente. Viu o nome de seus pais e sentiu vontade de chorar. Esses anos todos sem saber seu sobrenome e agora estava com uma ficha sobre si mesma nas mãos. Incompleta, mas era apenas um detalhe... Ou não. – “Victoria Elliott Vegard. Filha de Marcus Vegard e Iris Elliott.” – Leu. Seus olhos lacrimejaram, olhou para Red que tinha os olhos azuis fixos nela. – Eu nunca soube meu sobrenome.... Nem o nome dos meus pais. – Em um impulso abraçou-o pela cintura, pegando-o de surpresa. – Obrigada. – Apertou-o. Tentou não deixar as lágrimas caírem. Red pegou-a pelos ombros, afastando-a.
- De nada. Mas, você abusou da minha confiança, Victoria. – Olhou em seus olhos. – Não gosto quando fazem isso. – Disse.
- Eu só fiz isso para me proteger... Depois eu não sabia o que fazer, como você iria reagir quando eu contasse. - Disse. Ele deu uma risada de escárnio.
- O que você achou que eu iria fazer? Te jogar na cama e fazer alguma besteira?! – Riu.
- É claro que eu não pensei isso! - Bateu no balcão. – Eu também não achava que você iria me prender no closet. – Disse. O rosto emburrado olhando para ele.
- Esse foi o seu castigo por abusar da minha confiança. – Deu um sorriso amarelo. – O que você temia que eu fizesse? – Perguntou.
- Eu temia que você me mandasse embora. – Murmurou.
- Não vou mandar você embora. – Os olhos de Victoria se iluminaram. – Ainda não.
- Como assim “ainda não” ? – O brilho dos seus olhos se apagou.
- Primeiro vamos terminar aquele trabalho que Henry me arranjou. Depois iremos investigar sobre quem mantinha você dentro daquele convento. – Ele se levantou para encher uma xícara com o café recém feito. Ela o observou.
- Depois disso eu vou embora, é isso? Vai me despachar para quem quer que estava me sustentando? – Ela se levantou.
- É o que eu tenho em mente. – Tomou um gole do café e colocou a xícara no balcão.
- Eu não vou embora daqui. – Bateu o pé. Red riu do gesto. – Pare de rir de mim! É sério! Eu vou ficar aqui com você! – Victoria se irritou ao vê-lo com um sorriso nos lábios. – Do que está rindo?
- Da sua falta de noção. – Ele se aproximou dela. – Victoria, eu sou um cara muito difícil de se lidar, com toda certeza Henry já deve ter dado uma aula de “Como não se meter no caminho de Christopher Red”. – Deu um risinho. – Eu admiro a sua persistência e admiro o fato de você gostar de minha companhia, mas eu prefiro ficar sozinho. Além do mais, isso aqui não é um orfanato ou uma casa de caridade. Quem decide qualquer coisa aqui sou eu e eu decidi que você vai embora quando eu souber quem é o responsável por você. – Disse.
- Mas é a minha vida! Quem decide de agora em diante sou eu! E eu não quero descobrir quem é meu responsável! Eu quero trabalhar com você e ficar aqui! – Exclamou. Ele suspirou cansado e rolou os olhos.
- Você quer me ver matar pessoas para sempre? Quer esconder os corpos dessas pessoas para sempre? – Perguntou com o rosto próximo ao dela. Victoria podia se perder naqueles olhos azuis gélidos.
- Sim! – Disse sem muita certeza. Ela não queria fazer nada daquilo, mas queria ficar perto dele. O considerava importante. E se ela tinha que vê-lo fazer isso para ficar ao lado dele, ela não se importava.
- Como você é teimosa! – Soltou o ar pela boca. Coçou a barba rala e ruiva, em um gesto de impaciência.
- E você é irritante! – Respondeu. Ele cruzou os braços.
- Me ofende e ainda quer me forçar a te aceitar aqui? - Riu. – Teimosa. – Bagunçou os cabelos dela.
- Pare de fazer isso... Não sou mais um menino. – Arrumou os cabelos. – Eu vou ficar aqui e não há ninguém que me diga o contrário. – Cruzou os braços.
- Eu posso te colocar para fora quando eu quiser, Victoria. Não abuse da minha paciência. – Disse entre os dentes. Victoria limitou-se a ficar com o rosto emburrado. Ele analisou seu rosto. – Você não tem furos nas orelhas. – Ele franziu as sobrancelhas.
- Eu cheguei ainda bebê no convento e as freiras disseram que eu não tinha os furos nas orelhas. Elas disseram que pode ter sido uma vontade de minha mãe. – Victoria sentiu um calor percorrer suas pernas quando os dedos de Red massagearam o lóbulo da sua orelha.
- Nunca teve vontade de usar brincos? – Retirou os dedos e colocou nos bolsos da calça. Ela balançou a cabeça negativamente. Victoria nunca foi muito feminina e a tradição do Convento insistia que as noviças e freiras não tivessem vaidade.
- Eu nunca usei roupas de menina, só a roupa de freira mesmo. – Disse. Os olhos azuis dele eram tão profundos e frios. Ela nunca sabia o que realmente se passava por aquela mente. O queixo anguloso e a boca irônica de Red eram as partes do rosto que ela mais gostava. – Você vai me deixar ficar com você? – Perguntou de repente.
- Conversaremos sobre isso depois. – Ele serviu café em outra xícara e ofereceu a ela. – Tome o café e coma alguma coisa. Vou até a cidade comprar algumas coisas. – Disse.
- Red. – Chamou-o antes que ele saísse da cozinha. – Obrigada. – Ele assentiu com a cabeça e saiu da cozinha. Victoria sentiu uma chama de esperança se acender em seu coração. Talvez não seria necessário sair dali. Ela podia ser amiga de Red e os dois morarem juntos como ela e Francesca. Ela sorriu diante da possibilidade.
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