30 — Animation
Remus POV
Os últimos dias estavam uma completa loucura.
Havia uma pressão muito grande em cima dos alunos do último ano na escola, havia muitas provas, muitos seminários, muitas expectativas, e conseguir equilibrar toda nossa vida estava sendo algo muito complicado.
Não éramos mais os garotos irresponsáveis do passado.
Agora nossas conversas eram sobre o que faríamos no futuro, qual profissão iríamos tentar, quais caminhos.
James estava muito animado com a perspectiva de ser um auror, e estava trabalhando duro para tentar garantir boas notas. Ao mesmo tempo, Lily queria seguir carreira no ministério com diversos projetos, e havia se inscrito em um programa de jovens aprendizes para iniciar um tipo de curso e estágio assim que terminássemos a escola.
Eu iria seguir estudando, porque queria ter uma graduação para seguir com a minha vocação de dar aulas.
Ao mesmo tempo, Havia Sirius.
No começo do ano, McGonagal e Dumbledore se reuniram com ele, e eu e James fomos juntos para dar apoio.
Mas deixamos que Sirius falasse, e eu me senti orgulhoso de ver como ele conseguiu fazer isso bem, mesmo que muito nervoso.
Ele apresentou muitos argumentos, contou sobre suas dificuldades, e embora estivesse com um olhar aterrorizado por ter Dumbledore o analisando, ele conseguiu explicar muito bem qual sua realidade.
Isso abriu os olhos dos professores, porque era a primeira vez que um aluno levava esse tipo de questão, e os fez pensar em quantos outros poderiam ter as mesmas dificuldades, e estarem sendo impedidos de atingir seu potencial por causa dos meios de ensino.
O que me deixou totalmente rendido, foi que Sirius não me contou sobre o que planejou dizer ao diretor e a professora.
Ao terminar de contar tudo, ele mostrou a eles um projeto que havia tido a ideia.
Foi engraçado, porque havia várias folhas soltas, desorganizadas e rabiscadas que ele foi colando na lousa, me provando que aquela era uma ideia espontânea que foi se formando aos poucos.
O projeto de Sirius não era para ajudar as próprias notas. E sim para ajudar qualquer pessoa que tivesse dificuldade.
Era como uma grande oficina, para todos que estivessem tendo algum tipo de impedimento em aprender. E nessa oficina, iriam apresentar seus talentos, projetos e qualidades.
E eu não poderia amá-lo mais ao ver ele dizer, muito seguro, que embora todas as pessoas tivessem dificuldades, todas também tinham talento. E às vezes, estar tão concentrado em ver nossas dificuldades nos impedia de alcançar o nosso potencial e descobrir tudo o que éramos incríveis fazendo.
James interrompeu o discurso dele, muito emocionado, para bater palmas orgulhosas.
O ponto é: os professores concordaram.
Vez ou outra aparecia nas aulas algum espertinho que achava que por ali seria mais fácil ter boas notas, mas logo de início eram identificados.
Não havia muitas pessoas dentro do grupo, mas foi incrível notar que Sirius não era o único.
E ele ficou muito emocionado quando a primeira turma fechou. Quatorze alunos da escola haviam se inscrito, e eles sempre faziam reuniões para conversar e trocar vivências. Isso ajudou bastante para cada um deles nas aulas regulares, porque havia ali uma rede de colaboração e suporte.
Sempre tinham dicas para ajudar um ao outro, para lidar com o estresse, com as dificuldades de foco, e as dificuldades emocionais.
As avaliações de cada um deles era desenvolvida pensando especialmente em uma maneira de os avaliar de forma justa, e eu estava feliz por Sirius.
Ver o brilho nos olhos dele, vê-lo se sentindo capaz e inteligente para lidar com essas situações estressantes do dia a dia que geralmente custavam tanto para ele.
Além de tudo isso acontecendo, havia um outro projeto.
Quando bani a ideia de passar as noites de lua cheia com meus meninos, eu sabia que ambos haviam ficado contrariados.
Mas também sabia que iriam respeitar e que entendiam minha decisão.
Queria ser um adulto maduro, e não havia como conseguir se continuasse deixando a mim mesmo solto pela noite.
Ao mesmo tempo, eu também pedi ajuda para os dois, porque queria ser um animago da forma correta. De uma forma segura para as pessoas ao meu redor.
Então esse era o novo projeto dos marotos, e foi bom para nós. Estivemos perdidos demais desde que concluímos o Mapa do Maroto, sem um foco.
Desenvolver um novo processo e um novo feitiço para tornar uma pessoa um animago, burlando tudo o que criava empecilho para pessoas diferentes, como eu.
Criar esse tipo de encantamento não era fácil, sabíamos disso. Mas criar um mapa interativo como o nosso também não era algo que alguém houvesse feito antes de nós, então os quatro estávamos animados.
Era ainda melhor agora, porque havia Lily para ajudar, e ela havia concordado em tentar desenvolver o novo método para passarmos pela transição para animagos juntos, e fechar o grupo com todos em suas formas animais.
Então era de grande ajuda ter ela e suas ideias, sabendo que também teria ela junto de mim para aprender e passar pelo longo processo.
Não havíamos avançado muito, porque era complicado conciliar com nossa vida.
Mas ainda assim, Sirius parecia ser o mais empolgado, porque em qualquer tempo livre ele colocava ideias no papel.
Havia feito e refeito diversas vezes uma fórmula de encantamento, tentando descobrir o que poderia substituir alguns procedimentos dos que já existiam.
Respirei fundo, vendo James sentado na própria cama, os olhos me seguindo pelo dormitório.
— Juízo, vocês dois — Pedi, vendo ele assentir, enquanto Sirius vinha até mim me abraçar.
— Moony...
— Não sejam dramáticos — Pedi ao ver os olhares deles — É só uma noite. Eu vou ficar completamente bem — Garanti — Você pode dormir com Prongs hoje — Lembrei Sirius.
Eles estavam sensíveis sobre minha primeira noite sozinho na casa dos gritos.
— Não é a mesma coisa sem você — James reclamou, muito mal humorado, fechando as cortinas da própria cama de uma forma dramática, e eu suspirei.
— Vá dormir com ele — Insisti para Sirius, beijando os cabelos escuros — Vejo você pela manhã.
— Boa noite, Moony — Ele disse, me encarando, e naquele instante em quase quis desistir da ideia, só pelo olhar angustiado de Padfoot.
Mas era uma questão de princípios, e eu sentia que precisava fazer isso. Precisava começar a assumir responsabilidades e agir como um adulto.
Então eu fui.
Marchei em direção a enfermaria, onde McGonagal estava esperando para me acompanhar até a casa dos gritos.
Era sempre um professor que me acompanhava até lá, e eu não sentia vontade de dizer nada.
Era a primeira vez em anos que eu iria enfrentar uma lua cheia sem eles.
Até mesmo nas férias, os dois se programavam para estarmos juntos na minha noite de cão.
Assim que chegamos até o local, a professora agiu normalmente.
Com magia, fez uma grade muito resistente ser erguida, como se me trancasse em uma cela, que era dentro de um dos quartos daquela casa, e após isso eu apenas me sentei ali, para esperar a última hora.
Por precação, sempre me levavam uma hora antes.
Ela se despediu com um aceno, e seu olhar agora era normal. Já estava acostumada.
Nas primeiras vezes, eu senti a pena em sua expressão ao partir.
Não era um processos fácil. Havia aquela poção experimental que me ajudava a ter lapsos de memória, mas não eram completos. Em alguns momentos, após transformado, eu sabia que era Remus. Em outros, não.
Era difícil compreender a transição, eu mesmo não conseguia lembrar de muita coisa no dia seguinte, e nem acompanhar as mudanças do meu estágio de consciência, embora já houvesse escutado James e Sirius conversarem sobre o assunto, porque ambos conseguiam saber, apenas de olhar em meus olhos, quando eu estava ou não consciente da minha parte humana.
Suspirei, me recostando contra aquela grade.
Se fechasse os olhos, poderia fingir que em no máximo dois minutos veria James e Sirius saírem debaixo da capa da invisibilidade para ficar comigo.
Então foi provavelmente por isso que me sobressaltei quando Sirius apareceu ali.
Surgindo debaixo da capa de James, com um olhar cheio de angústia.
— Padfoot! Você prometeu que...
— Eu sei — Ele disse baixinho, suspirando ao se aproximar para sentar diante de mim no chão, mas sem abrir a grade — Você disse que quer ficar trancado aqui nas noites de lua cheia, e eu entendo. Mas não posso, Moony, te deixar ficar sozinho.
— Sirius, a ideia de ficar preso é justamente não poder ferir ninguém. É fazer isso como Dumbledore queria quando me aceitou aqui, ficar sozinho e...
— E você vai fazer. Vai passar a noite toda trancado ai, eu não vou te soltar — Ele disse ao assentir — Só...só vou ficar aqui também,ok?
Soltei o ar, sem saber nomear o sentimento que me tomou.
Porque no fundo, me assustava passar por aquilo sozinho.
Mesmo que quisesse fazer as coisas como deveria, pensar em passar a lua cheia sem as outras duas partes de mim era... perturbador.
— Eu só... não consigo — Ele desabafou, muito baixo, os olhos claros fixos nos meus enquanto uma de suas mão envolvia uma das grades — Não consigo, Moony, te deixar sozinho. Então... vamos fazer separados... mas eu vou estar aqui. O tempo todo.
Isso me fez sorrir, sem qualquer força de ir contra ele, e assenti.
— Remus e Sirius, Moony e Padfoot. Desde sempre— Prometeu, e eu sorri.
— E para sempre — Concordei, me sentando diante dele, pensando em como era estranho ter aquela grade nos separando.
— Prongs não sabe que eu vim, mas ele ainda estava irritado. Falou que nunca mais vai falar com você — Me informou, e eu sorri.
Sabia perfeitamente que o máximo que James conseguia aguentar, eram cinco minutos.
Ele sempre acabava falando comigo sem querer, ou para perguntar onde estava alguma coisa que havia perdido.
As dores da transformação não demoraram para acontecer.
Meu corpo inteiro doía e queimava, e essas sensações pioravam conforme eu via Sirius me encarando por trás da grade, os olhos cinzentos demonstrando preocupação.
Isso me fez virar para o outro lado, mas obviamente chegava um ponto da transformação onde era quase impossível controlar minhas vontades.
E os olhos de Sirius foram a última coisa que eu vi, antes de apagar.
A escuridão predominava todos meus sentidos, e em um instante eu abri os olhos, muito atordoado.
Não tinha muita noção de localização quando assumia essa forma, mas alguma irritação me tomou enquanto meu instinto me fez começar a tentar escapar, arranhando a parede onde havia uma janela, sentindo a frustração me tomar.
Minhas unhas afiadas desceram sobre minhas próprias patas, me fazendo ganir de dor, embora sem conseguir parar o movimento.
Mas aos poucos, aquele som baixinho me chamou a atenção, e eu me virei, conseguindo achar alguma claridade a ponto de ver de onde vinha o som.
Era daquele cão chorão. Conhecia seu choro, porque estava acostumado a vê-lo chorando.
Ele estava separado, do outro lado da grade, as patas batendo contra a mesma, e isso me fez aproximar, sentindo ele me encarando.
Por um instante, eu me vi olhando ao redor, procurando algo que não sabia o que era, mas o cão chorão me chamou a atenção novamente ao esticar uma das patas pelo vão da grade.
Isso me fez aproximar, feroz em defender o território, perdido entre sentidos, mas quando ergui os dentes para rosnar para ele, a pata estendida se chocou contra meu rosto de forma atrevida, me fazendo piscar.
O cheiro dele tomou todos os meus sentidos, agora de perto, e eu passei a lhe farejar em reconhecimento.
E de alguma maneira, quando ele pressionou o focinho pela grade, roçando o nariz na ponta do meu, um pouco daquela dor que sentia por toda parte se desfez.
E uma parte de mim o reconheceu. Não como Remus.
E sim como Moony. Aquele cão estava sempre comigo.
A noite foi longa.
Sentia que precisava escapar, mas não consegui sair. Não importava o quanto arranhasse, mordesse ou batesse contra as grades, elas não cediam.
O cão passou muito tempo ali, tomando minha atenção, uivando ou choramingando naquele som que sempre tirava minha concentração.
Não conseguia focar em nenhum instinto enquanto ele chorava daquela forma, e isso fazia minhas orelhas doerem.
Em algum momento, eu havia cedido para o cansaço por toda a tentativa de escapar, e me jogado contra o chão, perto da grade e do cão chorão, que se deitou do outro lado, perto de mim.
Ele nunca tinha medo de se aproximar.
Não importava se eu rosnasse, mostrasse os dentes ou fizesse qualquer coisa. Ele sempre estava ali.
O cão chorão.
O meu Padfoot.
Era difícil conciliar as duas partes. Em momentos tinha lapsos de humanidade, em momentos a parte animal me tomava por completo.
Mas era incrível notar que ambas as partes reconheciam e respeitavam tanto Sirius quanto Padfoot, o cão chorão.
Em algum ponto da madrugada, eu acordei com um som, abrindo os olhos vagamente, enquanto sentia um pouco de paz com a visão estranha.
Aquele outro animal peculiar, com a galhada, havia aparecido. Era outro que me seguia por toda parte.
Ele havia prendido os galhos na grade, e o cão estava com a boca ao redor das patas dele, ajudando-o a puxar.
Quando ergui o corpo, os dois congelaram os movimentos, me encarando.
Estava tão cansado e sentindo as feridas ardendo, que apenas chutei com força a galhada presa, vendo os dois caírem do outro lado, jogados um sobre o outro.
Voltando a deitar no chão daquela casa estranha, senti de repente a sensação de que não precisava sair, ou escapar.
Não precisava mais procurar nada.
Padfoot e Prongs, eu pensei, em mais um lapso, fechando os olhos.
Os dois deitaram diante de mim, separados por aquela grade.
As patas saindo para meu lado, ambos sem medo.
Eu não precisava de mais nada. Sirius e James estavam ali.
E Moony pode dormir em paz. Seu cão chorão e seu animal estranho das galhadas estavam ali.
O bando estava unido.
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