Durante a noite, depois do sinal que indicava que era o horário de dormir, Charlie deixou o quarto. Ela havia passado o dia todo naquele cômodo e havia saído apenas para tomar banho pouco antes de jantar, qual ela não apareceu pois não sentia fome, apesar de ter passado praticamente o dia todo sem comer.
Dessa vez a biblioteca estava toda apagada e ela entrou, iluminando o caminho com o isqueiro e foi até a área de leitura, onde se jogou no sofá e acendeu um cigarro. Ela havia ansiado por aquela paz o dia todo. E por mais silencioso que fosse o último quarto do corredor, era possível ouvir o barulho das pessoas no jardim durante o dia e não havia nada mais confortável que uma biblioteca na opinião de Charlie, isso até alguém acender a luz. Demorou alguns segundos para seus olhos se acostumarem a claridade e ela poder enxergar o tal Malik na sua frente.
— Você não pode chegar aqui e roubar meu lugar — disse ele, cruzando os braços na altura do peito.
— Não roubei seu lugar — respondeu ela, tranquila, soltando a fumaça pelos lábios — Você estava sentado no chão e eu estou deitada no sofá.
— Você é burra?
— Já ouvi coisas piores.
Zayn semi-cerrou os olhos.
— Meu nome é Zayn.
— Charlie.
Apesar de manter a cara amarrada, ele virou as costas para ela e pegou um livro em uma das prateleiras mais altas de uma estante e se sentou no mesmo lugar da noite anterior.
Charlie ficou meio sem entender o que havia acontecido, apesar de ter mostrado total indiferença à ele ao continuar deitada no sofá, sem se mover, apenas dando algumas tragadas, havia ficado intrigada com ele a afrontando daquela forma.
— Eu não roubei seu lugar — repetiu ela, se sentando no sofá — Seus amigos só foram muito legais comigo, mas não estou nem perto de querer tomar seu lugar.
— Não estou afim de conversar.
Zayn tinha os olhos vidrados no livro, o que indicava que ele não estava realmente lendo, afinal, seus olhos acompanham as letras/palavras até o final das páginas.
— Não estou puxando assunto com você, babaca. Só estou me explicando.
Charlie sentia que não era justo parecer que queria ter os amigos que Zayn tinha e depois querer ficar no lugar em que ele ficava tranquilo. Ela não estava interessada em ter uma vida social e achava certo deixar isso claro.
— Ok, só cala a boca.
Charlie revirou os olhos com a grosseria dele e acabou sorrindo de leve. Ela se viu um pouco na resposta dele.
Charlie começou a caçar na biblioteca o livro To the Lighthouse e olhou a seção toda de Literatura Moderna e não encontrou. Fazia cerca de dez minutos que ela estava procurando quando Zayn finalmente se incomodou com ela quase pisando em seu pé.
— Caralho, garota, o que é que você quer?
— Cala a boca — disse ela, sem olhar para ele. Zayn puxou o tornozelo dela e Charlie teria caído se não tivesse apoiado nos ombros dele, já abaixada no chão, de forma que seus rostos ficassem próximos — Seu idiota! — Charlie empurrou os ombros dele, fazendo Zayn bater as costas na parede de leve e ele sorriu de canto.
— Que selvagem.
— Vai se fo....
— Hey, só perguntei qual livro você quer — interrompeu ele.
Indignada com a ousadia dele, Charlie cruzou seus braços na altura do peito e empinou o nariz.
— Não te interessa.
— Só estou tentando ajudar — respondeu ele, dando os ombros de forma inocente.
— Aposto que você não conhece esse livro.
— Vamos lá — ele a incentivou e se levantou, deixando o livro que lia no chão.
— To the Lighthouse — disse ela, baixinho, e observou ele passar ao seu lado, quase esbarrando em seu ombro e depois se esticar para pegar algum livro em uma prateleira, de forma que sua blusa se levantasse, exibindo seu 'caminho do paraíso'. Charlie curvou os lábios para baixo em forma de admiração, mas se repôs quando ele se virou para ela.
— Aqui.
Ela arqueou as sobrancelhas e pegou o livro que ele lhe estendia.
— Obrigada — agradeceu ela, surpresa.
— O que disse sobre eu não conhecer o livro? — perguntou ele, se aproximando dela e umedeceu os lábios. Charlie encarou os olhos castanhos dele e deu os ombros.
— Foi um palpite.
Ele não disse nada, apenas passou por ela e se sentou onde estava poucos segundos antes, no chão.
— É o meu livro favorito — disse ele, quando ela se virou para voltar para o sofá.
Charlie interrompeu seus passos e virou a cabeça, o olhando por cima do ombro. Era seu livro favorito também, o seu e de Tyler.
P.S. por favorzinho, leiam as notas finais.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.