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História Redemption - Capítulo VI - Sweet Commitment



Notas do Autor


Olá, terráqueos. Tudo pão? Venho aqui, além de entregar o capítulo a vocês com muito amor, alegria e carinho (amo demais esse ♥), dizer que O DATABASE ESTÁ DISPONÍVEL para se deliciarem. Lá vocês encontrarão informações importantes sobre os clãs, a cidade, os personagens, suas descrições, etc. Aproveitem bem! ^^ LINK NAS NOTAS FINAIS. No decorrer da história vou atualizando ele, aviso aqui quando o fizer. ;)
No mais, boa leitura! ;)
~Marima
*~*~*
Relôu frens, como estão?
Viram as notícias sobre o anime? Não? É pq não tem
Ainda
Bem, hj temos muitas emoções, e uma conversinha q eu amo demais da conta meu deus do céu muito linda aaar T-T
Vão logo ler ela, vão
Boa leitura abençoados!
~Ginko
*~*~*

Capítulo 6 - Capítulo VI - Sweet Commitment


Fanfic / Fanfiction Redemption - Capítulo VI - Sweet Commitment

— Você está brincando? ― indignou-se a moça¹, pousando a xícara em suas mãos sobre a mesinha do lado externo do pequeno café de Madame Pompi. Os cabelos negros, parcialmente presos a um coque complexo e alto, esvoaçavam levemente para trás com a brisa fresca de outono; os olhos escuros expressavam toda a descrença lançada a amiga à sua frente. ― Você se casará com um dos homens mais desejados do feudo! Você sabe quantas mulheres por aí queriam estar no seu lugar? ― Abaixou o volume da voz propositalmente, se aproximando da outra por cima da mesa. Essa a encarava com cara de tédio. 

― Eu nem mesmo o conheço, Yoko! ― retrucou a outra², quase exasperada. 

Seus cabelos também negros, soltos e caídos em grandes cachos definidos esvoaçavam aos poucos, às vezes obrigando-a a tirá-los dos olhos verdes vivos. 

― Todos o conhecem! É claro que você o conhece ― ironizou, ainda indignada. 

― Não ― redarguiu novamente. ― Eu ouço falar e conheço de vista o Comandante Geral da Tenshouin Shinikayou, não meu futuro marido. 

― Mas é ele o homem com quem você irá se casar! ― exasperou-se. 

― Shii ― repreendeu imediatamente à companheira, observando se alguém prestava atenção à conversa. ― Isso ainda não foi anunciado pra cidade! ― sussurrou, embora quisesse mesmo era gritar pra outra calar a boca. 

― De qualquer forma, pelo amor de Deus, Mayah. Você está prestes a se tornar mulher do segundo homem mais importante de Aokigahara. Deveria é estar agradecendo ao seu pai por lhe dar esse presente. ― Levou a bebida quente mais uma vez aos lábios, o que fez a Kouzuki suspirar. ― Aliás ― Um sorriso malicioso surgiu nos lábios pintados em vinho ―, ele é um pedaço de mal caminho. 

― Yoko! ― ralhou pasma pela cara de pau da colega, embora a dita cuja apenas continuasse a rir com gosto. ― Queria que Hiroshi estivesse aqui numa hora dessas ― ironizou. 

― Ah, cala a boca ― mandou, ainda rindo. ― É a mais pura verdade. ― Continuou sacaneando, o que fez Mayah rolar os olhos por um segundo. ― Mas falando no diabo... ― chamou a atenção da amiga, indicando com um menear discreto as costas dessa. 

Mayah, por sua vez, virou-se, com intenção de enxergar o que ela lhe indicava e, sendo assim, viu o assunto da conversa caminhar pela rua, acompanhado de dois de seus subordinados. Os três pareciam concentrados na conversa que mantinham, provavelmente algo relacionado ao trabalho deles. 

— Céus, essa farda só o deixa mais interessante. — Ouviu a voz de Yoko ressoar insinuante; preferiu ignorar o atrevimento, porém. 

Observou então por um segundo à sua volta. Com exceção das mulheres que visivelmente eram casadas, todas — absolutamente todas — revezavam-se em observar o comandante e cochichar entres elas mesmas. 

Rolou os olhos mais uma vez. 

Não era que ela não compreendia a situação. Era verdade que a maior parte das solteiras de Aokigahara desejavam estar no seu lugar, prestes a firmar casamento com ninguém mais ninguém menos que o primogênito do líder Sakata, que embora não fosse o sucessor do clã, era atualmente o homem mais importante da cidade depois do próprio líder. Numa sociedade onde bons casamentos ainda eram sempre uma honra e muito bem-vindos, ela deveria estar realmente radiante de felicidade, como provavelmente todas aquelas mulheres estariam. 

Mayah, porém, não se importava com o status que Sakata Gintoki carregava ou no quão atraente ele poderia ser ― embora tivesse que confessar que ele tinha seu charme. Estava muito mais interessada ― e preocupada ― com como seria a vida a dois com aquele homem. Nunca tivera qualquer contato com o líder da Shinikayou, mas nas poucas vezes que o vira agindo, ficara bem claro que não era alguém com quem qualquer sujeito devesse se meter, e tão pouco uma pessoa afável. Crescera em uma família absolutamente calorosa e amigável, e lidar com uma pessoa que aparentava tanta frieza e seriedade não a deixava nenhum pouco confortável. Essa, talvez, fosse sua maior preocupação. 

— Sabe, você não é obrigada a fazer isso, Mayah — Yoko voltara a se pronunciar, agora muito mais gentil e amigável. — Seu pai não está te obrigando a isso, certo? 

— Não — confirmou em meio a um suspiro. — Ele nunca me obrigaria a me casar com quem quer que fosse caso eu não quisesse. Deixou isso bem claro quando conversou comigo sobre a aliança. 

— Então pronto. Se você não quer se casar com ele — iniciou, acompanhando com o olhar os três membros da organização, que já haviam passado do café em vários metros —, é só o dizer a seu pai. Embora eu realmente ache que você seja louca por estar desperdiçando um homem desses — terminou voltando a seu tom sacaneador. 

Mayah, no entanto, preferiu ignorar o último comentário. 

— Eu sei o quanto essa aliança é importante para nossa família. Por mais que papai e Souichirou-sama sejam amigos de infância e mantenham uma ótima relação de negócios, estar tão diretamente ligado ao clã Sakata traria uma estabilidade muito maior para nós, obviamente. O papai não vai precisar se preocupar tanto com o mercado, porque terá muito mais influência nele... — Suspirou mais uma vez. — Eu não vou voltar com a palavra que dei ao papai, mas isso não muda o fato de eu estar realmente preocupada com o que me espera. Eu não faço ideia de como saberei lidar com esse homem, Yoko. 

— Bem, deve preocupar mesmo saber que irá se casar com "o demônio de Aokigahara" — ponderou a afirmação da amiga. Logo sorriu travessa, contudo. — Mas isso só o deixa mais interessante; você não acha? 

— Desisto de você, Yoko. Sinceramente — reclamou virando o rosto, enquanto ouvia a gargalhada divertida da outra morena. 

Mais uma vez então observou por alguns instantes o homem que já ia ao longe. 

"Quais desafios você tem para mim?” 

(...)

— Shinsuke-sama, pare com isso...

Com os centímetros extra de seu cabelo, adquiridos ao longo de alguns meses de abandono da manutenção do comprimento, era possível agora que o pequeno de aproximadamente oito meses em seus braços pudesse alcançá-los. O bebê havia cismado em brincar com os fios loiros, puxando, amassando entre os dedinhos e tentando os pôr na boca.

Ainda assim, a jovem que sentia pequenas fisgadas no couro cabeludo sequer colocava mais algum esforço em impedir que ele o fizesse.

— É possível que ele se torne uma criança mimada se continuar o chamando de Shinsuke-sama. Não é, Shinsuke-dono? — o homem perguntou, pegando a mão do pequenino entre os dedos em pinça e balançando, recebendo um murmúrio indecifrável como resposta.

— O Shinsuke-sama é o Shinsuke-sama! Não tem como eu chamar de outro jeito! E não é o mesmo que você tá fazendo chamando ele de Shinsuke-dono, senpai idiota?!

— Hum, de fato. E é um dos motivos porque não podemos ficar com ele.

A viagem havia sido longa, Matako encontrara o bebê renascido ainda em março e já haviam passado-se oito meses desde então.

Desde o dia em que saíra de Edo, usando como combustível a culpa por ser tão fraca a ponto de ter deixado seu líder perecer e apoiando-se na esperança de quem sabe por algum milagre encontrá-lo, Matako vagou por todos os lugares possíveis, de um buraco de dragão a outro, até o milagre realmente acontecer. A partir de então, enquanto faziam a viagem de volta, cuidou dele da melhor forma que pôde, junto à Takechi — que a achou pouco depois dela ter levado o recém renascido do lugar onde o apanhou.

Chegando a Edo, não demoraram muito a descobrir que aquela pessoa também renascera. Também não precisaram de muito para perceber o que deveriam fazer em seguida. Ele era o único que poderia criá-lo de forma a torná-lo o homem que foi antes, o único que o criou de forma a merecer tantos esforços não só dele, mas de três idiotas que pareciam ser inquebrantáveis a ponto de ser assustador. E mais do que tudo, tinham certeza que ele era o único o qual o próprio Shinsuke gostaria de ter como tutor e mentor.

Assim sendo, ali estava o fim da viagem. A jornada acabaria naquele dojô da família do garoto yorozuya, do qual já avistavam o grande portão de madeira.

Matako segurou o pequeno Takasugi um pouco mais forte em seus braços.

Ela sabia que não era um adeus. Sabia que não iria para muito longe dele, e que não importava se acabaria parecendo estranho, o veria crescer, nem que fosse de longe. Sabia que mesmo que seu rosto enrugasse, suas costas encurvassem e seus sentidos enfraquecessem, seus olhos ainda estariam voltados para ele até o fim de sua vida. Mesmo assim, queria aproveitar enquanto ainda o tinha em seu abraço, enquanto ainda o tinha tão perto, e proferir baixinho aquela palavra que carregava tantos sentimentos.

— Shinsuke-sama, obrigada.

Quatro batidas na madeira soaram.

— Com licença! Tem alguém em casa?! — Takechi gritou, batendo ao portão, logo em seguida ouvindo alguém se aproximar pelo lado de dentro.

— Pois não? — Atendeu simpático, com um sorriso que logo se desfez em leve surpresa quando percebeu quem eram as duas figuras à sua frente. — Ora...

— Shouyou-dono, temos um assunto a tratar com você. — O ex-estrategista se adiantou.

O mestre deu uma olhada para os dois, e então para o mini humano que tinha, nesse momento, seu rosto apoiado no ombro da jovem. Ela o ajeitou em seu colo, a fim de que seu rosto se virasse para frente.

Por um segundo o homem ficou um tanto paralisado, fitando o rosto infantil com a expressão incrédula. Mas tão logo formou-se um sorriso que, a loira tinha certeza, era tão terno como nunca havia visto antes. Os olhos claros pareceram encher-se de felicidade, mas principalmente, de alívio. De alguma forma, Matako se sentiu mais próxima daquele homem, pois o que parecia ver era o que ela mesma sentira. A felicidade de o ver de novo depois de achar que nunca mais o faria; e o alívio de saber que ele estava ali, e que essa era uma segunda chance de poder o proteger e vê-lo ser feliz.

Naquele pequeno instante, percebeu que assim como ela, aquele homem só queria que esse alguém tão importante em suas vidas pudesse ter um destino diferente.

— Bem, creio que pôde perceber que esse bebê é Shinsuke-dono. Matako saiu à procura dele nos buracos de dragão assim que soube o que havia acontecido.

— Sim — respondeu simplesmente, dirigindo então sua atenção para a senhorita. — Obrigado, Matako-san. Por todos os seus esforços, e por ter estado ao lado daquele samurai bom-pra-nada. Obrigado aos dois. — Curvou-se levemente, aumentando o sorriso em seus lábios.

— Não, Shouyou-dono, não há realmente algo para agradecer. Nós apenas seguimos uma força maior que a nossa, alguém que nos levou a nossos objetivos quando não éramos capazes.

— Shinsuke-sama nos salvou. Enquanto nós não pudemos fazer nada por ele.

— Então nós gostaríamos de deixá-lo com você. É o melhor que podemos fazer por ele agora, e estamos certos de que também é o que ele iria querer.

A loira avançou um passo mais para perto de Shouyou, estendendo o bebê e entregando-o a ele. Ela, no entanto, não se afastou de volta à sua posição inicial.

O miúdo Takasugi sequer estranhou o novo colo e já se aconchegava a ele, mas ainda se segurava à Matako, apertando o indicador dela com a mão rechonchuda e observando seu rosto.

— Tenho a impressão... que mesmo que vocês não reconheçam o que fizeram, nosso jovem samurai aqui ainda se sente grato.

A garota sorriu para seu líder renascido. Um sorriso um pouco estranho, acompanhado de olhos úmidos, mas nem de longe um sorriso triste.

Os dois membros da Kiheitai curvaram-se ligeiramente, em um agradecimento silencioso, e partiram sem se despedir, deixando discípulo e mestre assistindo suas costas mais e mais distantes.

— De uma forma ou de outra, tenho certeza de que se lembrará deles.

(...) 

― Você pediu para que ele chegasse mais cedo? ― quem perguntou à Souichirou foi Karien, que terminava de se arrumar, diante da penteadeira no quarto do casal. O líder havia acabado de tomar banho e no momento saía do banheiro, ainda de toalha. 

― Sim. Mas a resposta que tive não me agradou muito ― respondeu sem alterar seu tom tranquilo, como de costume, embora ficasse bem claro para ela que não estava satisfeito. 

Já eram 19:30 e ambos se preparavam para descer e esperarem pelos convidados: o Clã Kouzuki. Naquela noite, Sakata Souichirou e Kouzuki Kazumi formariam por fim a aliança dos dois clãs, por meio do casamento de seus primogênitos. 

Era sabido, e muito bem explanado, que o herdeiro e próximo líder dos Sakata seria Akira e não Gintoki. Souichirou, no entanto, não poderia negar o sangue que corria nas veias do prateado. Assim como isso também era reconhecido por qualquer cidadão do feudo; ainda mais com o samurai sendo quem era: o Comandante Geral da Tenshouin Shinikayou. Por esse traço sanguíneo é que ambos os líderes dos clãs resolveram unir ainda mais as duas famílias. 

Os Kouzuki eram uma das famílias mais influentes e ativas economicamente do feudo, considerando que eram os melhores e maiores criadores de armas brancas, principalmente katanas¹, de Seikigahara, assim como estavam entre os melhores do mundo. Os Sakata e eles eram muito próximos, já que o clã governante de Aokigahara era um dos maiores de seus compradores — por conta da Shinikayou. Desse modo, Souichirou e Kazumi eram amigos de infância e mantinham uma ótima relação desde sempre. Resolveram estreitar então ainda mais os laços com aquele casamento. 

— "Farei o possível", foi o que ele disse — concluiu sua fala após secar um pouco mais os cabelos. 

— Esperamos que ele realmente faça o possível, então. — Terminou de colocar seu par de brincos dourados, com pequenas esmeraldas nas pontas, levantou-se e virou-se de frente para o marido. — E então? — pediu sua opinião sobre si. 

— Está maravilhosa — elogiou sorrindo levemente. — Pode descer para recebê-los, por favor? Não me demoro também — pediu, vendo em seguida sua esposa afirmar em um meneio com a cabeça e seguir para fora do cômodo, deixando-o sozinho. 

Assim que Karien chegou ao salão no qual a longa escada se iniciava, a primeira coisa que viu foi seu enteado abandonando o chaveiro sobre um dos criados-mudos próximo ao hall. 

— Seja bem-vindo de volta — cumprimentou cortesmente, recebendo o agradecimento breve do outro. — Eles não demorarão muito a chegar, então acho melhor subir logo. 

— Sim, não vou me demorar — concordou já subindo os degraus, seguindo para seu quarto. 

Karien, por sua vez, observou-o subir, para logo depois ouvir a voz de Rose e Tomoko se aproximarem, provavelmente para também receberem os convidados. 

(...)

Eles já alcançavam as últimas semanas de novembro. Havia se passado quase três meses desde que deixara Edo, em setembro, e assumira a Tenshouin Shinikayou. A água fria escorria pelo corpo, em gotas fortes e contínuas. Enquanto terminava de se enxaguar, contudo, seus pensamentos não estavam concentrados em terminar seu banho. Na verdade, queria adiar aquele fim o máximo que podia.

Inacreditável. Ele realmente estava prestes a concordar com aquilo em alguns minutos.

O que diabos estava pensando ao ter aceitado, mesmo que relutante, o anúncio que seu progenitor dera alguns dias antes? Poderia muito bem ter apenas dito que não se importava nenhum pouco se aquilo era bom ou não para o clã ou qualquer coisa parecida, virado as costas e ido trabalhar. Mas não, ele precisava acabar acatando a ordem no final da discussão, só pra assistir a si mesmo a fazer uma palhaçada daquelas.

Os detalhes do anúncio ainda estavam bem frescos em sua memória. E com aquilo ele não sabia se ria, se ficava irado ou se se afogava na banheira ao lado.

— O que está me dizendo? — questionou meio perplexo, meio abobado.

― Exatamente o que você ouviu, Gintoki. Você irá se casar ― repetiu, observando a expressão do mais novo se tornar ainda mais incrédula. ― Com a primogênita do Clã Kouzuki, Kouzuki Mayah, filha de Kazumi, o qual tenho certeza que você já conhece. Eles virão jantar conosco daqui alguns dias, já que ele viaja hoje a negócios.

― Espere só um segundo. ― Riu com escárnio. ― Eu não me lembro de sequer conhecer essa mulher, muito menos de pedir sua mão em casamento. E não fiquei bêbado o bastante nos últimos meses para fazer isso sem me lembrar ― ironizou, tentando acreditar que aquilo era uma piada de mau gosto.

― Não, não fez nada disso. Mas eu fiz por você ― concluiu tranquilamente, voltando a sentar-se em sua cadeira.

― Também não me lembro de ter falado qualquer coisa sobre aceitar esse tipo de ordem ― retrucou deixando o sarcasmo de lado. A exasperação tinha passado, e a irritação agora começava a lhe subir.

― E era preciso? ― Levantou uma de suas sobrancelhas.

— Se era preciso? — Riu num misto de contínua incredulidade e mais escárnio.

— Foi o que acabei de lhe perguntar — pronunciou-se sem se abalar com a reação contrária.

— Você está brincando? — Voltou a total incredulidade.

— Pareço?

Gintoki, por sua vez, voltou a encarar os olhos do líder, vendo não somente a expressão neutra de sempre, mas também o olhar gelado que por mais incrível que parecesse, fazia algumas semanas que não recebia.

Não era preciso dizer mais nada.

— O jantar começará às oito, como sempre — concluiu, dispensando-o logo em seguida.

Era certo que naqueles meses sua vida havia mudado mais que nos últimos 20 anos. Confirmara que não só teria que deixar sua vida em Edo para trás como também a si mesmo como lá vivia, assumira responsabilidades que nunca antes assumiria, obrigara-se a se tornar alguém muito diferente do que estava acostumado a ser. De vez em quando, parava para observar a si mesmo durante o dia e percebia que sem dúvidas se tornara um completo desconhecido até para ele mesmo. Sua sorte era uma das poucas qualidades das quais se orgulhava ― se é que era realmente uma qualidade: adaptação.

Às vezes aquilo até o impressionava, mas ele era um ser humano totalmente adaptável ao que quer que lhe aparecesse. Sempre fora. E somente por isso é que provavelmente conseguira se adaptar aquela nova vida, completamente diferente de todas as que vivera antes.

No entanto, chegar àquele ponto era assustador até mesmo para ele. Estava terminando seu banho para em minutos conhecer sua futura esposa.

Sem dúvidas, aquilo demoraria muito mais que apenas alguns dias para ser digerido.

Se é que seria...

(...)

Uma hora e meia se passara desde que os visitantes chegaram. Àquela altura, todos sentados à mesa já se serviam com a sobremesa. E por isso mesmo estava concentrado demais em seu pedaço de torta para prestar atenção a qualquer outra coisa a sua volta. Na verdade, durante todo o jantar se dera ao trabalho apenas de responder quando se direcionavam a ele, o que para sua felicidade, depois dos primeiros minutos passara a ser um pouco mais raro. Daquele modo, só percebeu a situação quando ouvira a voz recém-conhecida chamando seu nome, alguns instantes depois.

Após ouvir o chamado, levantou seus olhos para encarar a mulher à sua frente, do outro lado do móvel, só então percebendo que estavam apenas os dois à mesa.

— Ah, que bom. Pensei que tivesse alguma deficiência auditiva — comentou mexendo com a colher em seu pedaço de torta.

Gintoki, por sua vez, levantara as sobrancelhas com o tom usado por ela, embora logo em seguida preferira ignorar o comentário irônico.

— Como você consegue? — Sorriu com escárnio, os olhos esmeraldas afiados encarando-o. Ele, porém, apenas a olhou de volta, indagador. — Ser tão... — Pareceu buscar o adjetivo mais adequado, mas não encontrou, desistindo de dar continuidade a fala, certa de que o outro sequer se importaria com isso.

Estava enganada, contudo.

— Tão? — questionou Gintoki, agora curioso para descobrir a impressão da mulher.

Nada naquela noite o interessou realmente; não pelas pessoas presentes, mas por simples falta de interesse. Na verdade, ele podia não ter participado ativamente da conversa e fugido dela na maior parte do tempo, mas durante todo o jantar observou tudo o que podia quanto aos visitantes.

Constatou, por exemplo, que Kazumi adorava gargalhar alto — o que o levou a se perguntar como ele e Souichirou eram amigos de infância, sendo que raramente via o governante dar um mero sorriso um pouco mais aberto —, e que Sumiko, sua esposa, era igualmente sorridente. Os filhos do casal pareciam ser tão agradáveis quanto os pais, embora cada um a seu modo: Midori³ era mais centrado e tinha certo ar culto, o que não mudava o fato de também ser muito simpático; Misaki(4) tinha um jeito mais reservado, mas se esforçava para participar da conversa sempre que podia; Miyako(5) parecia ser muito gentil e a maior parte do tempo passou conversando com Keiko, que não parava de lhe fazer perguntas, no entanto, parecia ser tímida o suficiente para quase não participar da conversa geral; e Mayah... Aquela sem dúvidas era um caso à parte na família.

Mayah era absolutamente simpática e animada — lembrava muito ao pai naquele quesito. Sempre respondia com entusiasmo quando lhe dirigiam e era uma das que mais mantinham a conversa durante o jantar. Aquele jeito aberto, contudo, não o enganara nenhum pouco. Não que ela fosse fingida ou qualquer coisa parecida, longe disso; a primogênita dos Kouzuki era realmente como ali se mostrava ser. O olhar afiado e meticuloso, entretanto, já o deixara bem claro o gênio que ela possuía, assim como também a língua afiada — embora extremamente educada — que repondera aos comentários provocativos de Akira no decorrer do evento, explanara muito bem aquela característica.

Dessa forma, estava curioso para ver o que precisaria enfrentar naquela noite e pelo resto de sua vida.

— Tão indiferente — respondeu assim que passara a surpresa por ele se interessar pela conversa. — O que o torna consideravelmente irritante. — Não pôde deixar de alfinetar, entretanto. Até porque, aquele tipo de atitude realmente a irritava. — Esse olhar de indiferença o tempo todo no seu rosto pode parecer que simplesmente não se interessa em nada do que aconteceu aqui essa noite, sabe?

— E você acredita ser outra coisa? — ironizou.

— Então está me dizendo que você se encontra no jantar de seu noivado e não está interessado nisso? — questionou mais uma vez, num misto de perplexidade e leve irritação.

— É — afirmou simplesmente, cortando mais um pedaço da torta ainda na mesa.

— Ótimo — exclamou sarcástica, recostando-se ao encosto da cadeira. — Eu realmente pareço ter tirado a sorte grande, não é? — Sorriu, ainda com sarcasmo. — Exatamente como imaginava.

— O que você quer que eu diga? — Lançou a pergunta sem encarar nada além do garfo em sua mão e sua guloseima.

— Qualquer coisa já é mais do que nada. Mas você não parece nem mesmo se esforçar pra isso dar certo. O que eu duvido que vai dar com esse tipo de atitude — esclareceu um pouco mais séria; a irritação logo voltou a subir, porém, assim que percebeu que ele sequer ainda lhe dava ouvidos. Algumas veias saltaram em sua testa.

Gintoki, por sua vez, concentrava-se em saborear o pedaço dos deuses em seu prato. Podia ouvir alguma coisa de algum lugar, provavelmente ela falando com ele, mas não deu atenção àquilo, mais interessado no sabor cítrico em meio ao adocicado e perguntando-se como podiam criar algo tão maravilhosamente delicioso. Precisava lembrar-se de agradecer à Mona, cozinheira-chefe da mansão, por aquela benção.

Assim, estava prestes a colocar mais um pedaço da sobremesa na boca, quando sentiu algo vindo perigosamente em sua direção. Não teve muito para pensar, mas seu instinto o levou a se levantar e desviar imediatamente do objeto voador, derrubando a cadeira no chão junto do prato, que se quebrou próximo ao móvel. Arfando levemente, voltou seus olhos para o metal cravado no armário encostado à parede atrás de si, e abrindo ainda mais os olhos em surpresa, tornou a virar-se para a mulher de pé do outro lado da mesa, que possuía seus olhos verdes-vivos o encarando absolutamente irritadiços.

— O que você pensa que estava fazendo?! — exclamou em exasperação, num tom mais agudo que o normal. — Você poderia ter me matado!

— Era a intenção — declarou simplesmente, externando toda a sua insatisfação. — Quando eu falo com alguém, prefiro que essa pessoa preste atenção no que eu digo — explicou o motivo do ataque com a faca.

— Você me joga uma faca na cara porque eu não estava te ouvindo?! — indignou-se. — Devo avisar aos outros que é desequilibrada mentalmente? — Sorriu sarcasticamente, num misto de nervosismo e ainda a exasperação do ato anterior da mulher.

— O que disse, seu maldito de permanente?! — Sua raiva subira alguns níveis, fazendo-a contornar a mesa. — Fique sabendo que sou ótima com facas e semelhantes. — Sorriu ameaçadora, agora próxima ao comandante.

— E eu não sou nenhum pouco cavaleiro — avisou sorrindo nervosamente, numa careta contorcida de igual raiva.

— Bom saber. Melhor que eu te exclua do mapa antes de casarmos então.

— E como pretende fazer isso? — desafiou.

— Com essa mesma faca — anunciou pra logo travar uma luta um tanto caótica contra os braços do homem, que tentavam afastá-la da arma branca. E com razão, porque ela não parecia estar blefando.

— O que vocês estão fazendo? — A voz surpresa de Tomoko interrompera os xingamentos e maldições que ambos lançavam um ao outro, mas somente Gintoki a respondera.

— Estou salvando minha vida! É isso que estou fazendo!

(...)

— Gintoki. — Ouviu as batidas leves na porta, mas preferiu fingir que não. ― Gintoki, eu sei que ainda está acordado. Abra, por favor, querido. ― Não pôde continuar ignorando, porém.

Arrastando-se para se levantar da cama, foi até a porta e abriu, para logo em seguida sua avó entrar e ele voltar à posição inicial.

— Não seja assim. Não tem motivos para estar tão desanimado — começou, sentando-se ao lado do neto jogado sobre o colchão.

— Eu estou sendo obrigado a me casar com uma psicopata. Como eu deveria estar animado pra isso? — indignou-se momentaneamente.

— Não fale assim. — Riu. — Mayah é um encanto.

— Um encanto? — exasperou-se, sentando-se. — Ela quase me matou! Com uma faca no meio da testa!

— Bem, acho que todos concordamos que isso foi um leve exagero. Até ela mesma. — Divertiu-se com a expressão distorcida do mais novo. — Mas ela já te pediu desculpas por isso, não pediu?

— Claro, e isso muda o fato de no resto da minha eu ser obrigado a rezar para não ser assassinado pela minha esposa — respondeu mais uma vez com ironia.

— Não é como se você tivesse um gênio muito diferente, é? Afinal de contas, se eu não tivesse chegado naquele momento, você com certeza também tentaria responder o ataque à altura — alfinetou, lançando um olhar lateral.

A única resposta que teve, no entanto, foi a careta insatisfeita do neto. Tomoko, por sua vez, suspirou, mesmo que o sorriso ainda perpassasse levemente por seus lábios.

— Tenho certeza de que isso em algum momento irá mudar — comentou serenamente.

— Sinto muito, mas duvido que dessa vez esteja certa, vovó.

— Tudo bem. Então vou pedir que me escute um momento, tudo bem? — pediu com zelo, fazendo-o encarar-lhe de certa forma curioso com o que diria. — Sei que você não está satisfeito. Assim como também sei que você seguirá em frente com isso, mesmo não gostando nenhum pouco da situação. Porque você é assim, complicado demais pra tentar entender. — Sorriu mais uma vez. — Mas se vai realmente seguir em frente com essa exigência do seu pai, então poderia ao menos tentar encarar de forma diferente, não acha?

— E de que forma você quer que eu encare,vovó? Eu vou me casar em seis meses, com uma mulher que nunca vi na minha vida antes de hoje, e que tentou me matar, quando há poucas semanas eu sequer pensava que iria ter algum relacionamento que durasse mais de duas horas na vida. Isso é assustador — confessou voltando a exasperar-se.

— Tenho certeza de que seja. Sempre é. Ainda mais quando se trata de um casamento arranjado, como aqui costuma ser. E eu sei do que estou falando. — Lembrou-se de sua própria experiência. — E você não acha que ela também esteja assustada e preocupada com isso? Ela se casará com o homem que se tornou o mais temido da cidade, pensa em como deve estar se sentindo. Além disso, tem como olhar de outra forma. Principalmente para você. — O olhou de forma doce. — Veja, você largou tudo em Edo, inclusive pessoas as quais você amava e que te davam força para continuar seguindo em frente, não importava o que acontecesse, certo? Então porque não tenta enxergar Mayah, e o futuro que vocês podem construir juntos, como um desses motivos de força?

— Meio difícil enxergar dessa forma quando eu conheci ela hoje e já foi um desastre.

— Me diga, quantas das pessoas que você ama e com quem se importa vieram de repente e já te conquistaram no primeiro minuto de convívio? E quantas chegaram de repente, mas o tempo passou, elas se achegaram mais, e quando você menos percebeu, já haviam se tornado tão importantes pra você?

Por um instante, Gintoki parou para pensar, mas não precisava de muito tempo para constatar o óbvio.

A resposta era nenhuma e todas, respectivamente.

— Foi o que imaginei. — Sorriu mais uma vez. — Porque é assim que as coisas são e que devem ser. Nós não amamos uma pessoa de uma hora pra outra, seja qual tipo de relacionamento for, inclusive e principalmente no sentido romântico da palavra. Não existe amor à primeira vista. Isso é besteira. A paixão pode até vir de repente, assim como atração e afins, mas amor... Ele é muito mais complexo do que apenas um sentimento repentino e avassalador. Nós não amamos simplesmente, nós decidimos amar. E essa decisão vem com o tempo, e com muita, muita paciência. — Voltou seu olhar para as luzes brilhantes da cidade, que atravessavam a janela aberta. — Acho que podemos dizer da seguinte forma: brotos de Sakura(7) quando surgem no chão, são desinteressantes, crescem lentamente e não parecem dignos de muita atenção. Assim que crescem, porém, se tornam uma das mais belas coisas do mundo. Quando florescem, chamam a atenção de qualquer um que passe por ele, transformam paisagens simples em verdadeiras obras de arte, embelezam a vida como poucas coisas conseguem fazer; e mesmo quando suas pétalas estão caindo, formam uma poética e maravilhosa paisagem, o que encanta todos ao seu redor. Então, apenas dê tempo ao tempo; quem sabe a psicopata assassina não seja seu broto de Sakura? — Mais uma vez sorriu, de forma doce e apaziguadora.

— Não faço ideia se isso vai realmente acontecer, mas prometo tentar me lembrar do que ouvi aqui hoje — prometeu em meio a um suspiro derrotado.

Por que aquelas pessoas irritantemente sábias sempre tinham que falar aquele tipo de coisa? Só existiam duas pessoas que conseguiam ser daquela forma, sua avó e seu mestre. Ambos sempre estavam certos, e aquilo o irritava além da conta. Ele só queria poder reclamar de toda aquela palhaçada em paz e se livrar da obrigação de seguir em frente com aquilo. Será que era tão impossível o permitirem isso?

— Obrigada por me ouvir — agradeceu gentilmente, logo levantando-se e abandonando um beijo na testa do neto, para em seguida sair do quarto e deixá-lo sozinho, remoendo sua própria raiva.


Notas Finais


DATABASE: https://drive.google.com/open?id=1a1jHIfszWxOFaZnF0h_DzdDg25WyGU-Q
¹- Yoko: https://i.imgur.com/h8eK4EW.png
²- Mayah: https://i.imgur.com/5FwlZV3.jpg
³- Midori: https://i.imgur.com/yaDoAJT.jpg
(4)- Misaki: https://i.imgur.com/xLvjMRB.jpg
(5)- Miyako: https://i.imgur.com/l3gELiT.jpg
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Então é isso, pessoal. Esperamos que tenham gostado! ^^
Um grande beijo e até o próximo! :3


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