1. Spirit Fanfics >
  2. Redenção >
  3. Insegurança.

História Redenção - Insegurança.


Escrita por: linscrevi

Notas do Autor


Boa leitura.

Capítulo 27 - Insegurança.


Uma semana se passou. Eu e a Lica estamos indo bem. Uma grande diferença que estamos tendo agora é que, anos atrás, não conversávamos tanto sobre nós. Conversamos mais sobre os outros. Pouquíssimas foram as vezes que sentamos para falar sobre coisas que aconteciam com a gente. Agora estamos nos conhecendo de verdade. Não posso dizer que eu me sinto completamente segura quanto a nossa relação, porque ainda há um certo ressentimento. Mas, a Lica está se esforçando para me mostrar que mudou mesmo.

No colégio, as aulas só melhoram. Cada dia eu me apaixono mais pelos meus alunos. Lecionar não estava em meus planos, mas é um trabalho prazeroso demais, que está me conquistando facilmente.

- Ok, ok... – Faço um sinal para Eduardo diminuir o ritmo, mas ele continua batendo com força. – Ei!!! – Falo mais alto, chamando sua atenção. A turma toda olha para mim. – Eu sei que você estava com saudade de tocar, mas desse jeito, você quebrará a bateria.

- Desculpa, professora. – Ele sussurra, envergonhado. – Eu me distraí.

- Eu percebi. – Gostaria que ele me encarasse, mas ele mantém os olhos nas baquetas. – Você voltou para aula? – Ele assente. – Ótimo, vamos continuar, então...

Sexta-feira, encerrando minha manhã com o terceiro B. Eles podem ser a turma mais complicada do colégio, mas são minha turma favorita. Daqui, sempre saem ideias incríveis e os alunos são extremamente delicados na minha aula. Todos eles. Eduardo volta a tocar com menos força, no entanto sua distração parece ser maior, porque ele não consegue nos acompanhar.

- Acho melhor trocarmos o baterista. – André, que está no baixo, sugere.

- Eu estava doente, animal. – O baterista resmunga.

- Certo, maternal. Acabou o recreio. – Cruzo os braços. – Tudo bem, Eduardo, todo mundo tem um dia ruim tocando.

- Um dia? Aula passada ele estava péssimo também. – André lembra. É verdade.

- Eu estou me recuperando ainda.

- Pegou a doença da raiva?

- Peguei a tua mãe! – Levanta.

- Tem muito perigo. – Ri, sarcástico. – Se fosse o Rodrigo, que gosta de mulheres mais velhas...

- Já deu! – Falo alto. – André e Eduardo. Diretoria, agora!

- Professora, não é pra tanto. – André resmunga.

- Aí a Heloísa resolve. – Eles se fuzilam com os olhos. – Estão esperando o quê? Que eu pegue na mão e leve vocês? – Os garotos se levantam. – Espera! Um de cada vez. Tem que tratar vocês como criança. Vai um, depois vai o outro. Ai ninguém resolve se estranhar em corredor.

André vai primeiro e, depois de alguns minutos, deixo que o Eduardo saia. Suspiro, olhando para o relógio. Ainda estamos na metade da aula. Eu peço para que todos se sentem e resolvo mudar a aula prática para teórica, assim eles se acalmam mais. Funciona. Nenhum outro inconveniente acontece. O sinal toca e meus alunos se despedem rapidamente. Me lembro bem como era maravilhoso escutar o último toque do dia. Todos saem e duas alunas ficam na sala.

- Por que você está com essa cara de enterro? – Sara pergunta para a colega. Eu viro de costas, querendo dar privacidade a elas.

- Fiz minha reavaliação ontem na academia. Engordei 3kgs. – Ouço a menina responder.

- Mas, nem parece. Você está doente?

- Não, por quê?

- Então não tem importância. – Sara diz. – Você está ótima. Qual o problema?

- O problema é que eu estou gorda! – Franzo a testa, guardando minhas coisas. – E nenhum garoto vai olhar pra mim, enquanto eu tiver desse jeito.

- Ai Gabi, eu não acredito que você está assim por causa dos outros. Você é linda, quem vai ligar pra quanto você pesa?

- Eles! – Com o canto dos olhos, vejo Gabriela levantar e sair da sala.

- Professora, eu me tornei o que eu mais temia. – Sara suspira, encostando em uma das cadeiras. Eu me viro pra ela. – A lésbica que se apaixona pela amiga hétero. – Eu mordo o lábio com força. – Pode rir, vai. – Vira os olhos, rindo.

- Desculpa. – Me aproximo. – Todo mundo passa por isso um dia.

- Você passou por isso?

- Bem, quase todo mundo. – Limpo a garganta. – A hétero que eu me apaixonei, não era tão hétero assim. – Rio.

- A Gabi é. Muito. – Faz uma careta. – Tudo que ela faz é pensando no que os meninos irão achar.

- Independente da tua paixão por ela, você precisa ensiná-la a se amar em primeiro lugar. – Ela assente. – Mas se ficar pesado pra você... Melhor você se afastar.

- Eu gosto muito dela pra deixar que ela fique se rebaixando por causa de homem. – Levanta. – Tchau, professora. Até semana que vem.

- Tchau, Sara. Se cuida.

A guitarrista sai, pendurando a mochila nas costas. Colégio é um universo maravilhoso. Às vezes, me dá muita vontade de sentar com cada um deles e ouvir seus conflitos internos. Mas, é como a Clara me falou uma vez, por mais vontade que a gente tenha de conhece-los, precisamos respeitar o espaço deles. Imagina quão insuportável seria se diretores e professores ficassem se metendo na vida dos alunos, sem necessidade? Eu detestaria.

Almoço com os professores, sentindo falta da Lica. Ela não saiu da sua sala desde que o primeiro turno acabou, provavelmente em reunião com alguns pais. Eles contam sobre os problemas que aconteceram hoje. Eu só os escuto. Quando o segundo turno começa, vou para minha sala, retornar as ligações insistentes de um ex empresário meu.

- Samantha, finalmente consigo falar com você!

- Oi, Pedro. – Sento no sofá. – Tudo bem?

- Melhor agora! Soube que você está trabalhando em um colégio, é verdade?

- É sim. Estou dando aulas, dá pra acreditar? – Rio.

- Claro que dá. Você não recusa trabalhos. – Brinca. – Falando nisso, tenho uma notícia maravilhosa para você! Lembra daquela tour que estávamos combinando com a Benedita e a Marina? Temos o momento perfeito.

- Não seria no meio do ano?

- Será. Também! Veja, consegui novas datas e teatros interessadíssimos em receber vocês. – Conta. – Não será grande. Apenas umas cinco cidades pelo Nordeste. Em uma semana, vocês tiram isso! 

- E para quando seria?

- Temos menos de um mês para nos preparamos. – Responde. – Eu sei que você está em um novo emprego, que precisará organizar tudo... A Benê e a Mari também precisarão, então eu deixo o final de semana para vocês pensarem com carinho antes de me responderem, ok?

- Obrigada, Pedro. Eu acho bem complicado agora, porque eu já tinha conversado com a diretora sobre essa possível tour mais na frente e fizemos um horário já preparado para isso. Uma viagem agora atrapalharia demais.

- Eu vou entender caso vocês neguem. Fica tranquila. É só uma proposta. – Diz, calmamente. – Te mando o orçamento por mensagem para incentivar seus pensamentos. – Ri.

- Vou ficar esperando.

Encosto no sofá, pensando. Preciso conversar com a Benê sobre isso. Nós três combinamos de tocarmos juntas um período. Tudo começou por causa de um trabalho que fizemos na faculdade. Os professores amaram. Nós tocamos músicas de filmes. Eu no violão, Benê no piano e a Marina no violino. Modéstia parte, foi uma das nossas melhores apresentações. No final, acabamos criando uma música nossa. Trabalhamos tão bem juntas, que nos deram a ideia de levarmos isso para fora.

Quando conversamos com o Pedro, ele precisou nos ouvir apenas uma vez e já foi marcando datas para apresentarmos esse ano. Eu havia falado com a Clara sobre isso. Tenho viagens e compromissos marcados. Mas como montamos as aulas em cima do meu calendário, tudo estava certo. Até então. Eu me levanto, sem querer pensar nisso agora. Bato na porta da diretoria e ouço a voz arrastada da Heloísa pedindo para entrar.

- Pelo jeito... Já vi que teve confusão. – Lica levanta o rosto, com as mãos ainda na cabeça.

- Quando o Edgar saiu do Grupo, o colégio despencou no número de matrículas, você sabia disso?

- Não, por?

- Então, eu estou começando a entender agora, porque antes não fazia sentido pra mim. – Ela suspira. – Mas, se você escutar a quantidade de absurdos que saem da boca dos pais desses alunos, você entenderá. Os pensamentos são assustadoramente iguais.

- Eu imagino. Mas, a gente tem que levar em conta a criação deles, né?

- Eu tenho que levar em conta a criação que eles dão para os meus alunos. Não quero nem pensar nessas criaturas reproduzindo todas essas merdas.

- Calma. – Seguro a mão dela. – O que aconteceu?

- Ai, Samantha, hoje eu ouvi de tudo. – Aperta os olhos. – Deixa pra lá. Espero que agora a tarde não tenha mais confusão.

- Também espero. – Sinto meu celular vibrando e dou uma olhada na tela. – Meus pais chegam no final do dia. Quer ir comigo busca-los no aeroporto?

- Eu? Eu acho que... – Lica engole seco. – Bem, eu... Seus pais...

- Você conhece meus pais, Lica. – Rio.

- Eu sei, mas... – Põe a mão na nuca. – Eles não me odeiam? – Eu a encaro, pensando. – Vou considerar teu silêncio como um sim.

- Eles não te odeiam. – Suspiro. – Eles só...

- Querem me matar porque eu te fiz sofrer. – Sorri triste. – É compreensível. Talvez seja melhor nos encontramos depois.

- É, talvez seja. – Ainda não tinha conversado sobre nós duas com a minha mãe, não sei qual será a reação dela. – Marcamos outro dia.

- Fechado. – Ela abaixa o olhar. – Queria poder apagar todo meu passado.

- E eu. – Aperto sua mão. – Você comeu? Almoçou?

- Não! Estou trancada aqui desde às 9hrs. Aliás, obrigada pelos presentinhos que você me mandou.

- Desculpa. – Rio. – Mas, foi preciso.

- Eu sei. – Levanta. – Já chamei os responsáveis de ambos para conversamos na segunda. Hoje não dava mais. – Eu me levanto também. – Quer me acompanhar no meu almoço atrasado?

- Com prazer, senhorita. – Ela se aproxima.

- Não ganho nenhum beijo hoje? – Faz bico. – Nem pra melhorar meu dia um pouquinho? – Eu sorrio, beijando-a.

- Melhor?

- Sim. – Me encara. – Às vezes, é difícil acreditar que você está aqui mesmo.

*

 

Nós sentamos na cantina vazia e Dona Helena entrega o almoço de Lica. Nós duas ficamos conversando sobre a Clara, porque ela não queria falar sobre nada relacionado ao colégio. Eu nunca vi Heloísa tão cansada quanto hoje. Minha curiosidade está me matando, mas eu não vou entrar em nenhum assunto que ela não queira. A diretora sorri, olhando para o lado. Eu sigo seu olhar e sorrio também.

- Olá! – Luana senta. – Comendo essa hora? – A artista pega uma batatinha do prato de Lica.

- Uma manhã infernal dá nisso. – A diretora acena.

- Pelo menos ganhou um tempo sozinha com sua namorada.

- Não estamos namorando. – Digo muito rápido. Elas me encaram e eu sinto meu rosto arder. – Digo...

- Eu estava brincando. – Luana sorri. Lica abaixa os olhos para a comida. – Tenho uma notícia para dar! – Ela bate na mesa. – Hoje a Viviane fará a inseminação!

- Wow, já? Vai dar tudo certo, Lu. – Seguro a mão dela.

- Eu tenho certeza. – A morena pisca um olho.

- Eu também tenho. – Heloísa olha para ela. – Vocês serão as melhores mães do mundo. E eu, a melhor madrinha. Mas isso já é comprovado. Pode perguntar para o Tonico.

- A gente já sabe, Lica. – Luana a empurra com o ombro, rindo.

Nós três ficamos ali até o sinal tocar. Deixo as duas conversando e sigo para minha sala. O turno da tarde geralmente é mais tranquilo que o da manhã. Então dou minha aula sem nenhum problema. Quando termino, ajeito minhas coisas e corro para o carro. Está em cima da hora, meus pais já devem estar desembarcando. Eles irão para nosso antigo apartamento. Estava alugado, porque eles nunca quiseram vender. Minha mãe disse que sabia que voltaria a morar aqui algum dia. Aquele apartamento é a paixão dela.

Meu pai até que tentou que eu fosse morar lá quando eu disse que estava vindo trabalhar aqui. Mas eu não quis. Me acostumei a morar sozinha. Voltar pra lá seria como regredir passos difíceis que eu consegui dar, mesmo que eles não estivessem morando nele. Entro no aeroporto apressada, bem a tempo. A última vez que eu me encontrei com eles foi no meio do ano passado. Depois que se aposentaram, quiseram viajar pelo país e não pararam mais. Meus pais são o tipo de casal que eu sonho pra mim um dia.

- Samantha! – Minha mãe me abraça apertado. – Que saudade eu estava de você. – Segura meu rosto. – Como você está? Está bem? Se alimentando direito? – Me observa. – Você está mais magra desde a última vez que eu te vi. Você não sabe morar sozinha. – Eu abro a boca para responde-la, mas ela continua falando. – Agora que estamos todos de volta, vamos morar juntos outra vez.

- Mãe. – Rio, segurando sua mão. – Eu estou ótima. Estou me alimentando muito bem, não drama! – Peço, enquanto meu pai me abraça. – Eu também estava morrendo de saudade. Mas voltar pra casa não dá, mãe. Já me acostumei.

- Ela diz isso até voltar a comer da minha comida. – Fala para meu pai.

- Não usa tua comida pra me trazer de volta. Golpe baixíssimo, Dona Marcela. – Entrecerro os olhos.

Os dois contam sobre as viagens maravilhosas que eles fizeram. Enquanto dirijo, meu pai tenta me mostrar as fotos pelo celular dele. Eles estão tão felizes, que me dá vontade de comprar uma passagem e sair por aí também, conhecendo esse país maravilhoso que é o nosso. Minha mãe diz que viajar pelo Brasil foi uma experiência melhor que sua viajem para o exterior. E eu acredito. Ninguém gosta tanto daqui quanto ela.

Quando eu viajei para Londres, o drama foi enorme. Ela achou que eu fosse ficar por lá e eu realmente recebi propostas para isso. Passei horas ouvindo sobre quão melhor é o Brasil. Ela esqueceu todas as bagunças que nós temos e colocou para baixo do tapete. Coisas de mãe. Eu os levo para meu apartamento primeiro. Meu pai logo sai para resolver a situação do apartamento deles, nos deixando sozinhas.

- Então... – Ela bebe o café. – Você e a Heloísa...

- Bem, a Lica é minha patroa, nós...

- Samantha, isso eu já sei. Você já me contou. – Vira os olhos. – Vocês estão juntas de novo?

- Estamos indo devagar dessa vez.

- Não sei não, Samantha. Essa garota já te fez sofrer demais! – Balança a cabeça. – Por causa dela, você antecipou sua viagem.

- Eu viajaria de qualquer jeito mesmo, mãe.

- Teríamos mais dias. – Fala. – Eu preciso te lembrar como era?

- Não precisa, eu me lembro bem.

Óbvio que minha mãe viajou comigo. Óbvio que ela e eu dividimos um quarto de hotel durante duas semanas, porque eu ainda não tinha combinado com o Guto sobre a república que iríamos morar. Ele e Benê já haviam encontrado um lugar, mas eles mudaram por mim. Então, minha mãe foi minha única companhia por uns dias. Não posso negar, foi a melhor que eu poderia ter. Seu colo, seu abraço apertado, sua raiva igual ou maior que a minha, tudo foi essencial.

Eu nunca tinha me apaixonado antes. Me apaixonei pela primeira vez por uma mulher. Pra minha sorte, meus pais não se importaram com isso. Eles sempre acolheram a Lica muito bem. Eu não precisava dizer nada, eles entendiam que com ela era diferente. Nunca cheguei a apresentar alguém a eles, ninguém dormia lá em casa comigo mais de uma noite. Por mais que eles soubessem que eu estava envolvida com ela, minha reação depois daquela festa pegou os dois de surpresa. Na verdade, nem eu fazia ideia de que gostava tanto assim da Lica.

- Vocês se beijam todos os dias? – Eu assinto. – Vocês transam todos os dias?

- Mãe! – Repreendo-a, ela acena, esperando minha resposta. – Não... Nós estamos... Tentando intercalar...

- Claro. Um dia com sexo, outro dia sem sexo. É o jeito que vocês arrumaram de irem devagar.

- Não faz isso, por favor. – Esfrego o rosto. – É difícil, mãe.

- Eu sei, filha. Eu só estou preocupada.

- Ela está diferente, entende? Foram 8 anos! Lica agora conversa comigo. Nós falamos sobre nossos sentimentos.

- Ok, ok. – Ela balança os braços. – Se você confia nela, eu também vou confiar.

- Não é que eu confie nela... 100%. – Aperto os lábios. – Eu ainda tenho medo.

- Então quando você confiar completamente nela, você me avisa. Enquanto isso, eu vou continuar me preocupando com você.

Nós mudamos de assunto e ela volta a tagarelar sobre a viagem. Não presto tanta atenção, no entanto. Estou confiando demais? Estamos indo rápido como antigamente? Minha mãe diz que vai tomar um banho para descansar um pouco e eu faço o mesmo que ela. Lavo meu cabelo, tentando relaxar. Quando saio do banho, vejo uma mensagem em meu celular.

Lica: Eu sei que você deve estar aproveitando seus pais, mas eu queria te levar em um lugar. Estou saindo em meia hora. Se você puder, eu passo por aí e te pego. Beijo!

Deixar meus pais, que acabaram de chegar, para encontrar a Heloísa, que eu vejo todos os dias, é ir rápido demais. Certo?

Posso saber para onde seria? – Samantha

Apenas rejeita e pronto, inferno! A resposta não demora.

Lica: Um lugar especial para mim. Eu gostaria que você conhecesse.

Especial pra ela. Deve ser importante. Ok...

Estou te esperando. – Samantha

Merda, merda, merda! Por que eu sou desse jeito? Coloco uma roupa mais arrumada e entro no outro quarto. Minha mãe está deitada na cama.

- Preciso dar uma saída. Eu volto, prometo. Antes de vocês saírem.

- Tudo bem, eu vou dormir. A viagem me deixou morta. – Boceja. – Manda um beijo para a Lica.

- Eu não... – Balanço a cabeça. – Pode deixar. – Sussurro. – Qualquer coisa me liga. Tem comida na geladeira. A senhora pode não acreditar, mas tem!

- Você acha que eu não já olhei?

- Claro que olhou. – Viro os olhos. – Até daqui a pouco.

*

 

O caminho no carro é estranhamente silencioso. Nem mesmo o som está ligado. Isso só aumenta meu nervosismo. Nós paramos em frente a uma galeria. As lojas ainda estão abertas. Lica cumprimenta o segurança e nós entramos em um dos corredores, dando a volta no local. Paramos em um lugar afastado. Parece ser um depósito. 

- A única pessoa que eu trouxe aqui foi a Luana, porque foi ela que me deu a ideia. – Abre a porta e acende a luz. – O quê? Eu sou artista, você acha que eu não tenho meu próprio ateliê?

Abro a boca, surpresa. Não é pequeno. Muito colorido. As paredes grafitadas. Vários quadros espalhados. Uma mesa grande, tintas nas prateleiras, sprays, aquarelas, pinceis, lápis... Tudo.

- Por que você me trouxe aqui? – Pergunto, observando seus desenhos.

- Queria que você conhecesse meu refúgio. – Encolhe os ombros. – Eu venho pra cá quando quero fugir do mundo real.

- Parece coisa de filme. – Sussurro. – Posso ver? – Aponto para uma caixa.

- Não sei se você vai gostar. Mas, você pode, se quiser.

- Por que eu não gostaria? – Franzo a testa, abrindo. – Eu amo seus desenhos.

- Você vai entender.

São desenhos obscuros. Pessoas com expressões pesadas. Vejo seu próprio rosto em vários papéis, nenhum deles está feliz. Vejo as datas e as coisas começam a fazer sentido. São desenhos daquela época. Há crianças. Muitas. Meninos, meninas. Tristes. Meu coração aparta. Engulo seco quando o rosto do Felipe começa a aparecer em muitos papéis, sempre parecendo estar com raiva. Sinto os olhos da Lica em mim, mas continuo passando. Prendo minha respiração.

- Você me desenhou. – Digo. Parecem vários retratos do dia que ela esteve lá. – Deus, Lica. – Esfrego o rosto, vendo um desenho meu com a garota que eu estava ficando.

- Eu precisava externar. – Segura minha mão. – Guarda isso. Não era o que eu queria te mostrar. – Eu obedeço, colocando os papéis de volta. – Olha esses.

São desenhos mais felizes. Tonico. As fives. Clara. Marta. Pessoas aleatórias sorrindo. E, mais uma vez, desenhos meus. Desenhos nossos. A gente no colégio, nas festas, no galpão.

- São lindos. – Admito.

- Estou te achando meio tensa. – Diz, nervosa. – Fiz mal em te trazer aqui?

- Não, não é isso. – Guardo os desenhos. – Eu amei conhecer seu lugar, é só...

- Você conversou com sua mãe e está com medo. – Eu a encaro. – Eu imaginei que isso fosse acontecer.

- Eu não estou com medo porque conversei com ela. Eu já... Eu não sei explicar, Lica. Só não quero que isso acabe mal de novo.

- Não vai acabar mal. – Ela segura minha cintura. – Olha pra mim. Não vai acabar mal.

- Eu quero acreditar nisso. – A abraço. – Eu te amo demais, Lica.

- Eu também te amo, Sam. Muito. – Ela me aperta. – Confia em mim.

- Vem aqui. – Eu sento no sofá, puxando-a para o meu colo. – Eu recebi uma proposta hoje. Eu vou fazer uma turnê com a Benê no meio do ano...

- Eu sei, ela me falou. – Sorri.

- Então, hoje me ligaram. Pedro trabalhou com a gente por um tempo, mas continua nos arrumando alguns projetos. Ele que tá organizando a turnê. Ele me falou que conseguiu algumas datas para o Nordeste daqui a um mês. Estou pensando em aceitar.

- Tudo bem. – Franze a testa. – A gente arruma seu horário no colégio...

- Se as meninas aceitarem, eu vou.

- As meninas? – Me encara. – Achei que fosse só a Benê.

- Bem, a Marina também irá.

- Sua ex? – Eu assinto. – Você vai viajar com a sua ex? – Assinto novamente. – Ok... – Levanta do meu colo.

- Lica...

- Tá tudo bem. – Gesticula. – Não estamos namorando. Lembra? Você não me deve explicação.

- É apenas trabalho, ok?

- Samantha...

- Eu não te devo explicação. É verdade! – Seguro seu rosto. – Mas eu estou te dando. Não quero brigar com você. Quero ficar bem. Eu estou gostando do que nós estamos tendo. Não quero estragar, nem vou!

- Você não vai ficar com ela? – Sussurra.

- Não vou. – Sorrio, beijando sua boca. – Não vou ficar com ela.

- Certo. – Suspira. – Está tudo bem, então?

- Está. – Encosto minha testa na dela. – Você pode ter um pouco de paciência comigo?

- O que você precisar. 

- Ótimo. - Me afasto. –  Agora me diz o real motivo de me trazer aqui. Você quer me pintar, né?

- Se for sem roupa, sim. – Sorri, maliciosa. 

- Sabia. - Abaixo o zíper do vestido e ele cai rapidamente no chão. Lica cambaleia para trás, me olhando surpresa. – Pode começar... 

 

Ah, doce calmaria...


Notas Finais


Plots para o Grupo:
- Confusões por causa de um aluno.
- Samantha irá descobrir algo sério sobre um aluno.
- Lica vai precisar expulsar um aluno.

Plot da Samantha:
- Fechado.
- Não posso dar spoiler :) :( :) :(

Tô me sentindo BEM insegura com esses capítulos mais parados. Vocês me perdoem se não tiver com muita graça, mas eu precisava dessa pausa. Prometo que isso vai mudar em breve. Não desistam de mim!! Digam o que vocês estão achando, o que vocês esperam...
Ah, e antes de xingarem por causa da ex... Só... Confiem, ok?

Até o próximo capítulo. Beijo!

Twitter: Linscrevi


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...