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História Redingray - Mesa para Dois


Escrita por: AnTenshii

Notas do Autor


Heey, peoplee! \o

Mais um cap lindo de bonito que acaba de sair do forno. ~weee Esse ficou um pouco mais light e açucarado, maaas leiam com atenção e atentem-se as entrelinhas -v-

Boa leitura!! \o

Capítulo 21 - Mesa para Dois


Fanfic / Fanfiction Redingray - Mesa para Dois

JunHoe parecia mais abatido naquela manhã. Preocupação, indignação e a relutância por aceitar o óbvio lhe tiravam o sono.

Apenas na companhia de uma caneca com café e o arquivo de seu novo livro aberto na tela do notebook lhe bastavam em meio a confusão que o atormentava. Cada linha dos últimos capítulos que escrevera foi construída com a ajuda e as ideias essenciais do editor. Havia muito dele ali, de suas experiências, pensamentos e reações.

Experiências, pensamentos e reações de um perseguidor maluco e obcecado. Traços de alguém que quase lhe tirou sua única família.

Botão direito. Excluir. Começaria do zero mais uma vez.

O rapaz recostou-se na cadeira e inclinou a cabeça para trás, apertando os olhos na tentativa de acalmar os pedaços de algo que não poderia se juntar. A confiança custava caro, e esse foi o erro de JunHoe. Ofertou ouro a quem só sabia roubar.

- É tão difícil acreditar.- sibilou na certeza de estar sozinho.

No entanto, logo ouviu passos delicados adentrarem seu quarto. JunHoe não precisou abrir os olhos para saber quem era. O perfume adocicado de laranjeira era inconfundível.

- Não te ensinaram a bater antes de entrar?- indagou azedo, mas a garota não se importou. Estava acostumada com toda a acidez do mais novo.

- Você sabe que não precisamos dessas cerimônias um com o outro.- rebateu, sem perder tempo em se atirar na cama dele ao lado da escrivaninha onde JunHoe estava sentado.

- Pois deveríamos. E levante daí. Não quero que minhas coisas fiquem cheirando a você.- certo descontentamento predominava não só a fala como também as feições de JunHoe.

YuBin o olhou com estranheza, tentando descobrir que bicho o mordera. Estava pior do que ela na TPM. Ela o fitou com calma, livre do impulso arteiro e sarcástico típico de sua personalidade.

- Tentar escrever com a cabeça cheia não vai funcionar.- ela comentou, espiando por cima do ombro dele. Uma tela do editor de textos em branco.- Sei que as coisas estão sendo difíceis, mas por que não relaxa?

Ele voltou-se para ela no impulso de dizer-lhe umas poucas e boas, porém desistiu no meio do caminho. YuBin não disse aquilo por mal. Muito pelo contrário, ela tinha razão.

Era ele quem não conseguia lidar com a torrente de informações que insistiam em levá-lo junto da correnteza.

- Do que você sabe, afinal?- resmungou, deixando os ombros caírem.

YuBin ajeitou-se na cama, sentada de frente para ele, e levou uma das mãos ao rosto masculino. Com delicadeza, contornou-lhe a lateral com a ponta dos dedos e depois deixou que esta repousasse em sua nuca, afagando-lhe os cabelos carinhosamente.

JunHoe não sabia, mas ela também esteve inquieta com a situação da melhor amiga. Era algo que afetou não só HyoMin como também todos a sua volta. Mesmo que o perigo houvesse sido eliminado, os “e se...” ainda retumbavam em seus ouvidos. Estavam todos no mesmo barco e não tinham onde se segurar. E naquele momento ambos tornaram-se porto seguro um do outro.

- Sei que precisamos um do outro. Não é fácil para mim também.- soou um pouco tímida, porém com um fundo brincalhão para aliviar o clima.

- Eu queria que fosse mentira.

Os dedos dele entrelaçaram-se aos dela vagarosamente. As faíscas estavam ali, mas não eram resultado os temperamentos explosivos.

 

- - -

 

Pela fresta da porta, HyoMin assistia a cena que tanto esperou por anos. Não era de seu feitio espionar a privacidade do irmão, mas, por acaso, estava passando pelo corredor quando ouviu as palavras doces sendo trocadas, cheias de sinceridade e um carinho enrustido. Ela nunca imaginou ouvir da boca de JunHoe palavras tão fofas, assim como não esperava que YuBin deixasse de lado o orgulho e a filosofia de que ele deveria reconhecer primeiro o que sentia por ela.

Um sorriso bobo curvou-lhe os lábios, contagiado pelo que ela não deveria estar vendo. Antes que fosse pega, escapuliu para a cozinha. Obrigou-se a se recompor, embora ainda se sentisse um pouco estranha após ter sido liberada do hospital e os ferimentos também continuassem ali para lembrá-la dos dias infernais. De modo geral, o corpo respondia normalmente. Não precisava mais ficar horas a fio em repouso, enfurnada dentro do quarto e tendo que ser vigiada a cada instante.

Aos pouquinhos as coisas estavam entrando nos eixos, iam se encaixando e se revigorado.

Vez ou outra ela se deparava com imagens aterradoras, era atacada por pesadelos e passava noites em claro. Lidar com a própria engenhoca cinzenta em sua cabeça era a pior parte. Bobby aparecia em cada esquina, os olhos cheios de letalidade, como se quisessem ameaçá-la mesmo após ter sido levado pelo vento.

A quem estava tentando enganar? O medo estava enraizado em seu ser e Bobby constituía aquela pequena parte sombria que habitava nela. Talvez fosse um dano irreversível.

O toque do celular acabou interrompendo seus devaneios, e só então ela se deu conta de que aquela ligação acompanhava milhares de ligações anteriores que não foram atendidas.

- Será que dá pra atender a porta?- a voz soou baixa do outro lado assim que atendeu.

- O que? Você... Espera!

HyoMin apressou um pouco o passo e destrancou a porta, a qual revelou o rosto sereno do companheiro de equipe. Nas mãos, ele trazia uma sacola e um punhado de balas de goma de JiHo que viera comendo no caminho.

- Aconteceu alguma coisa?- perguntou incerta, dando espaço para que ele entrasse.

- Hoon mandou que eu entregasse.- disse simplesmente, entregando a sacola a ela.

 Vislumbrou uma caixa de bombons e um bilhetinho que dizia:

“Uma bela flor floresceu hoje.

Melhore logo! Desculpe-me por não tê-la visitado ainda. Apareço aí algum dia.

OBS: E não divida os bombons com o Goonnie. Ele vai comer a caixa inteira se você deixar.

SeungHoon”

Um sorriso meigo foi inevitável. De fato, ganhara um ótimo amigo, assim, por acaso.

Sem delongas, Mino passou por ela e foi direto para a cozinha. HyoMin mal teve tempo de processar o que estava acontecendo e rumou atrás dele.

- Yaah! Que invasão é essa?!

Nenhuma resposta. Ele estava concentrado demais analisando o espaço e os cantos dos armários. Nenhum centímetro passou despercebido, e a demora só estava deixando a garota mais impaciente.

- Mino!- chamou-lhe a atenção, incomodada. Só então ele a olhou com descaso, como se não entendesse o porquê do começo do chilique.

- Preciso resolver algumas coisas.

- Na minha casa?- a incredulidade se fez presente. E ele assentiu.

O rapaz puxou o celular do bolso e os dedos ágeis deslizaram por sobre a tela com destreza.

“Bobby esteve aqui por muito tempo. Ele deve ter instalado câmeras e escutas, e nada nos garante que outro alguém não esteja nos vigiando.”

HyoMin leu a mensagem, a boca formando-se num “o” pelo entendimento e surpresa. Estava tão aérea e perdida que sequer cogitou a possibilidade. Todo cuidado era pouco. Mesmo com a morte de Bobby, os serins ainda transitavam por aí e poderiam buscar vingança.

Mino continuou a vistoria com a garota ao seu encalço. Mantiveram silêncio até se certificarem de que não havia mais nada ali. No final da busca, acabaram tendo em mãos pouco mais de sete escutas e doze câmeras pequeninas posicionadas em locais estratégicos, sem pontos cegos.

- Por isso ele sabia tudo sobre mim.- concluiu para si própria, abismada com a audácia do monstro. Cada descoberta a fazia se sentir ainda mais idiota e até traída, afinal, acreditou no editor a ponto de confiar a segurança de seu irmão a ele.

Era loucura.

- Foi bem fácil para ele conseguir as informações, até porque ele passava boa parte do tempo aqui.- ele continuou, concentrado em juntar todos os equipamentos numa outra sacola.

- Você veio aqui só pra isso?- deixou que a curiosidade falasse por si.

Mino a fitou por um momento, tentando entender o que ela pretendia. Sejam lá quais eram as expectativas dela, pareciam ter caído por terra. No fundo, sabia que devia muitas explicações a ela, porém não estava disposto a traduzir os fatos em palavras por mais mesquinhos e egoístas que fossem.

- Esperava por algo mais?- devolveu a pergunta, ambíguo, e então ela recuou.

- Eu deveria?

Ele sorriu e apoiou uma das mãos na mesa. Com o tronco levemente arqueado para frente, os rostos ficaram quase na mesma altura. HyoMin ainda estava ao seu lado e não recuou com o movimento inesperado. Mino adorava intimidá-la ou constrangê-la, só não sabia que ela estava pegando o jeito de lidar com suas investidas despretensiosas.

 - Não sei. Sua imaginação tende a ser muito fértil, e a minha também.- provocou, divertindo-se ao vê-la ruborizar.

HyoMin disfarçou, limpando a garganta, e se afastou para tomar um copo d’água.

- Para quem imaginou que uma tartaruga morreu, a enterrou e a matou de verdade, eu não duvido.- alfinetou, ganhando um olhar surpreso do rapaz.

- Como você sab...- interrompeu a fala e fechou os olhos, prevendo a resposta.- Argh, JiYong hyung!

- Pobre Dominic.- lamentou de modo teatral, levando a mão no peito.- O espírito dela deve te amaldiçoar até hoje.

- Não foi minha culpa. Eu era uma criança.- defendeu, indignado com a reviravolta do jogo.- Aigoo, olhe só você agindo como meu irmão. JiYong foi uma péssima influência para você.

- Ele me confiou seu legado. Só estou cumprindo minha promessa.- deu de ombros, mas seu olhar era travesso.- Eu sei muito mais sobre você do que imagina, Song Mino.

- Ah, é?- a voz soou melodiosa.

Com a sutileza de um felino, Mino desviou pela bancada que separava a sala da cozinha e seguiu em direção a pia onde HyoMin estava encostada. Ela apenas o observou com curiosidade, mas o lado irresponsável de seu cérebro induzia o raciocínio a tomar um caminho perigoso.

O copo deixou as mãos dela e tornou-se posse dele. O rapaz sorveu o restante do líquido gelado que ainda restava ali e o devolveu como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo.

- Se eu não estivesse atrasado para o escritório, iria querer ouvir as besteiras que o hyung lhe contou. Acho que vamos ter que deixar para outra hora.

- Não acha que já me fez esperar tempo demais?- ele arqueou a sobrancelha em questionamento, então HyoMin prosseguiu.- Eu quero saber o que aconteceu naquele dia. Sei que disse que queria esquecer, mas todas as pontas soltas só continuam a me tirar o sono. Mostre-me essa pilha de segredos que você tanto esconde, mesmo quando diz não ocultar.

- Nós realmente precisamos conversar, mas...

- JiHo vai entender se você desmarcar a reunião.- ela o cortou, soando mais aflita do que pretendia.

HyoMin tinha medo de saber detalhes de todo o trâmite que levou ao seu sequestro ou a ser uma moeda de troca. Todavia, ficar na corda bamba se mostrava muito pior. Se soubesse de tudo, talvez sua mente se aliviasse e então teria espaço para respirar sem sentir aquele nó constante travado na garganta.

Suas indecisões e temores alimentavam seus traumas. Ela não queria ser pega em sua própria armadilha, tampouco queria ser prisioneira da própria mente até o fim de seus dias.

- Não é algo que pode ser discutido as pressas.- deu meia volta, caminhando até a saída.

HyoMin o acompanhou um pouco atrás. As pernas longas eram mais ligeiras que as dela.

- Mino, eu sinto que vou explodir se não souber. Por favor.

Ele parou em frente à porta e a olhou de soslaio, ponderando se era a decisão correta a fazer. Sentia-se mal por ocultar tudo, ainda mais quando ela depositou tanta confiança nele nos últimos tempos como ninguém nunca fizera. Eram uma equipe, certo?

 - Não é melhor tomar mais algum tempo para se recompor?

 - Não. Eu já estou bem.- disse com convicção, embora não tivesse tanta certeza disso.

Mino assentiu, tendo a certeza de que ela arranjaria mil e um motivos para contradizê-lo caso ele insistisse um pouco mais numa resposta negativa. HyoMin conseguia ser tão cabeça dura quanto uma rocha quando queria.

- Me dê três horas. Venho buscá-la.

 

- - -

 

JiHo analisava os dados obtidos nos últimos dias. Pouco mais de três mortes registradas como suicídio sob as mesmas circunstâncias do novo modus operandi utilizados pelos seres sobrenaturais. A ausência de substâncias químicas era um aviso de que não mais tinham tempo de forjar uma situação convincente.

As areias do tempo estavam correndo para ambos os lados.

 - Então a morte de HyeJin está resolvida.- o chefe concluiu, olhando para o rapaz esparramado no sofá em seguida.- Por que ainda menciona MinSeok no relatório?

- Ele participou das investigações com a minha irmã. Há algo mais que MinSeok deve saber, caso contrário não se esconderia tanto assim.- ele suspirou e passou os dedos pelos fios negros da franja desajeitada.- Minha irmã morreu por saber demais sobre algo que Bobby queria manter em sigilo.

- Você disse que ele a matou para se alimentar. Onde está querendo chegar com sua análise?

- No dia de sua morte, HyeJin me falou coisas tocantes e que na época não compreendi a profundidade de suas palavras. Analisando agora, percebo que era uma despedida. Ela sabia que iria morrer.- a voz vacilou por um momento ao recordar-se da cena.

Uma perda dificilmente era superada. Mino ainda a guardava no peito e em suas memórias.

- Na época, morávamos num dos hotéis pertencentes aos meus irmãos. Quando cheguei em casa, a porta estava destrancada. Havia sinais de arrombamento tão sutis que não seriam facilmente percebidas. Bobby já a esperava lá dentro.

- Ele estava atrás de alguma informação que ela possuía ou pretendia calá-la. O estranho é que MinSeok não foi atacado.

- Ele conseguiu fugir.- Mino informou, o olhar perdido num canto qualquer.- Antes de irmos para a pista de esqui, MinSeok enviara um sms, que ela leu e ignorou, fingindo ser algo sem importância.

Mino tomou o próprio celular nas mãos e abriu a galeria. Na tela, uma foto com as iniciais DDM, e outra com os números 4 e 1004 consecutivamente, as quais mostrou para JiHo.

- Era um aviso. Os números indicavam a morte, segundo a leitura japonesa do número quatro, e o anjo, na leitura coreana. Eles sabiam que seriam mortos, e MinSeok provavelmente enviou a mensagem quando percebeu algo errado acontecendo.

 - E a sigla?- perguntou, ligeiramente perturbado pela engenhosidade alheia.

- Foi a última mensagem que ele mandou, provavelmente depois de fugir. Não sei o que significa.

- Talvez o lugar onde ele estivesse se escondendo. Se HyeJin sobrevivesse, poderiam se encontrar.- deduziu, encarando as fotos em busca de alguma resposta.- DongDaeMun?

- É um local forte em comércio. Ele não se esconderia num local assim, cheio de gente.- Mino rebateu, pouco convencido.

- É exatamente isso que um serim pensaria, não é?- um sorriso astucioso moldou-se em seus lábios.- Acho que temos uma grande prova e uma grande descoberta aqui.

JiHo voltou-se para o computador e puxou a ficha mais recente que possuíam de MinSeok.

- Uma ex-namorada possuía uma loja de confecção nos arredores.

Mino acompanhou o raciocínio ligeiro do chefe. As setas em direção ao fim do labirinto começavam a dar as caras e brilharem em meio à escuridão, indicando a direção da saída à medida que cruzavam os corredores incertos e bagunçados.

Uma aposta que poderia dar certo.

- Antes de tomarmos qualquer medida, precisamos dos relatórios de HyoMin. O tal JiWon pode ter lhe revelado alguma coisa que nos favoreça.- JiHo pontuou, enfiando um punhado de balas de goma na boca.

- E quanto ao afastamento?

- Sinta-se a vontade para convencê-la disso. Prefiro que a imprudência dela esteja sob nossos cuidados do que ela sair sozinha para tal. Você lembra o que aconteceu em Yongsan. Não quero correr o risco.

- Tem certeza?- Mino indagou.

- Ela conhece suas limitações.- disse por fim.

Não sabia se aquela poderia ser a última investigação de HyoMin. Ou melhor, de todos eles.

 

- - -

 

- Uma mesa para dois.- ele pediu assim que adentraram o restaurante próximo a casa dela.

O rapaz olhou para baixo, mirando diretamente as mãos entrelaçadas. A dela parecia tão pequena e delicada perto da dele, tão quente. Não era um incômodo e o motivo de estarem daquela forma o fazia sorrir consigo mesmo. A cada dia conhecia lados inexplorados da garota que perdera completamente o orgulho assim que colocaram os pés da rua.

HyoMin tornara-se um pouco arisca com tudo ao redor, especialmente veículos que ousavam se aproximar ou que passavam despretensiosos ao seu lado. Inconscientemente, ora ou outra ela se pegava quase colada ao braço de Mino ou então com os dedos agarrados em sua manga ou na barra de sua camiseta como uma criança perdida e medrosa.

Ela se censurou por estar perdendo sua dignidade tão facilmente. Achou ridículo ficar alerta por míseros veículos cujos motoristas sequer notavam sua existência. Em contrapartida, Mino ficou preocupado e até encontrou fofura naquela figura frágil que a dominara por inteiro.

Controlou-se para não soltar nenhuma farpa como vingança da zombaria que ela fizera anteriormente citando a falecida Dominic, e então segurou a mão dela. HyoMin o fitou numa mistura de estranheza e gratidão por ele ter lido suas palavras mudas.

Naquele momento HyoMin agradeceu por Mino conseguir enxergar todos os espelhos de sua alma, assim a pouparia de admitir sua própria incapacidade. E foi também naquele pequeno gesto que os papéis se inverteram. Em um momento raro, HyoMin também conseguiu bisbilhotar por entre as frestas das janelas dele. E era encantador.

As mãos permaneceram unidas por toda a caminhada até o restaurante, estabelecendo a frágil ligação de uma nova descoberta. Aos pouquinhos, estavam cruzando a ponte e descobrindo um ao outro.

- Acho que você já pode soltar.- ela murmurou para ele, um pouco constrangida com a situação. Apesar de que não ligaria se continuassem daquela forma.

Mino lhe transmitia uma segurança inegável, embora tivesse em mente que poderia se arrepender de encontrar um alicerce em alguém que planejou usá-la como moeda de troca.

- Está melhor?- ele perguntou e esperou ela consentir para soltá-la.

- Obrigada.- lhe sorriu, sem graça.

Minutos depois, foram direcionados a uma mesa num canto mais reservado do salão. Era pequeno, porém trazia aquela sensação aconchegante e familiar. Fizeram seus pedidos e aproveitaram a espera para finalmente esclarecerem as coisas.

- Então, o que aconteceu naquele dia?- foi direta, sem mais frear sua curiosidade.

- Você precisa prometer primeiro que irá me ouvir sem dar chilique ou tirar conclusões precipitadas como sempre faz.- avisou, ganhando um olhar pouco amigável em troca.

- Tudo bem. Vamos lá.- ela fez um gesto descuidado com a mão, e então recostou-se na cadeira. O coração palpitava, e teve de enxugar as mãos suadas nas laterais da calça para controlar o nervosismo.

Mino respirou fundo, tomando um tempo para escolher as palavras certas. Deveria ser cuidadoso, embora tivesse vontade de simplesmente lhe dizer tudo o que estava entalado em sua garganta. Admitir um erro nunca fora tão difícil, ainda mais com os olhos inquietos voltados a si, apreensivos.

 - Conheço Bobby a muito tempo, antes mesmo de saber que a lenda ainda vivia e que íncubus e outros seres sobrenaturais vagavam entre nós. Ele matou minha irmã e tenho o caçado desde então. Esse foi o único motivo pelo qual resolvi ingressar no caso, dessa forma eu o encontraria e faria justiça com as próprias mãos em nome de HyeJin.- ele fez uma pausa, tentando ordenar os pensamentos que deveriam ser lançados e controlar suas emoções ao falar sobre um assunto tão delicado para ele.- Eu nunca fui visto como uma ameaça para ele. Pelo menos não até começar a matar alguns dos seus homens.

- Eu não sabia que HyeJin era sua irmã.- a voz saiu num fio, tocada pelas dores dele.- Mas... onde eu entro nisso?

- Da mesma forma que eu utilizei seus soldados para afetá-lo, Bobby colocou você e Hoon como peças do jogo apenas para me atingir e mostrar quem manda, que era ele quem estava no controle.

HyoMin soltou uma exclamação, arregalando levemente os olhos.

- O Hoon também está envolvido?!

- Sim, mas o motivo deve ser mantido em sigilo, por ora. A questão é que Bobby me fez escolher entre vocês dois.- ele fez uma pausa, com pesar.- Naquele dia em que a levei para casa, o reconheci prontamente, e foi então que eu soube que ele não só estava de olho em você como também estava mais próximo do que deveria. Foi um disfarce perfeito.

- Por isso que ele estava estranho e nem ficou muito tempo. Apenas pegou os manuscrito de JunHoe e foi embora às pressas.- pontuou, as peças começavam a se juntar.

- Bobby dirigia a moto e não fez questão de esconder ou ser cuidadoso. Eu o segui, e foi então que a espécie de chantagem, que ele preferiu chamar de negociação, aconteceu.- os dedos contornaram a borda do copo na tentativa de desviar a atenção.- A situação era delicada, mas eu sabia que o que acontecesse com Hoon seria irreversível.

- Para qualquer um dos dois seria. Alguém morreria no final disso tudo.- rebateu, levada pela indignação. Queria compreender e reconhecia que Mino fora colocado entre a cruz e a espada, mas, no fundo, sentia raiva por ter sido escolhida como voluntária à morte.

- Com você era diferente, HyoMin. Eu poderia intervir, tanto que foi o que eu fiz.- explicou, percebendo o fulgor começar a dominar o olhar feminino. Ele sabia que seria incontrolável diante das palavras difíceis de serem digeridas.- Concordei que a entregaria, mas eu tinha um plano. Eu e Hoon tínhamos. Porém Bobby foi mais rápido e agiu quando estávamos todos com a guarda abaixada.

Mino sustentou o olhar dolorido dela, sentindo a culpa se tornar mais pesada em seus ombros.

- Eu sei o que está pensando, e eu jamais faria isso.

- JiWon me disse tantas coisas...- ela mordeu o lábio, mais afetada do que previu.- Naquela hora eu tinha certeza de que você era o espião, a pessoa na fronteira entre o bem e o mal como JinHwan falou, e não o incendiário daquele dia.

- Pensa mesmo isso de mim?- perguntou num tom mais baixo. Por alguma razão, Mino sentiu o gosto da decepção. Era uma prova de que ela ainda cultivava os pensamentos primitivos da primeira impressão que causara.

Contudo, HyoMin se via perdida no mesmo labirinto. Um lado seu confiava nele, sentia a segurança e a sinceridade no modo como ele a tratava, no modo como arriscou a vida e acabou todo remendado apenas para salvá-la e consertar um erro, via o lado bom das coisas. Já a parte pessimista e desconfiada de seu ser indicava o calabouço das mentiras, das desculpas sem pé nem cabeça e das intenções enrustidas e perversas.

Estava em conflito e não sabia qual lado deveria ouvir: a razão tendenciosa, o coração bagunçado ou o elo desajustado entre os dois.

HyoMin o encarou, convencida de suas incertezas, e não encontrou nada mais do que desapontamento no semblante alheio.

- É isso o que realmente pensa de mim?- ele insistiu. A boca formando uma linha tensa.

- Eu não sei, Mino.- ela confessou.

- Por favor, entenda o meu lado.

Ela o encarou por um momento. Mino estava sendo sincero, e isso ela conseguia ver de longe. Não havia se acostumado com lampejos de transparência que se incrustavam na forte armadura que ele construíra ao seu redor e se surpreendia a cada vez que via.

Se estivesse no lugar dele e tivesse que escolher entre YuBin e Mino, é claro que ela escolheria a melhor amiga, pois sabia que o rapaz conseguiria se virar. Era um pensamento coerente.

Em meio a preocupação, o peso da culpa roubava a fluidez de seu humor. Mino era humano, cometia erros e acertos como qualquer um. A mente dele queria ficar em paz diante das circunstâncias, afinal, apesar dos pesares, todos saíram com vida. Contudo, seu coração manteve-se inquieto, contrariando sua própria lógica e limite racional. Ultrapassava seu controle.

Quando a viu naquele estado, HyoMin refletiu HyeJin aos olhos dele. E agora o sentimento semelhante o corroia. Não era a culpa fermentada pela incapacidade de não protegê-la, e sim de ser o causador de toda a tragédia que poderia vir a acontecer. Estava longe de ser uma preocupação comum com um colega de trabalho. Era algo que ele nunca sentiu desde que HyeJin morrera.

O minuto de silêncio se seguiu com a chegada do garçom, quem entregou suas bebidas e alguns petiscos. HyoMin não hesitou em abrir a garrafa de soju e sorvê-la pela metade, enquanto Mino demonstrava a mais completa indignação, arrancando a garrafa das mãos dela.

- Ficou louca? Você não pode beber enquanto estiver tomando os remédios.- ele censurou. As sobrancelhas franzidas em sinal de insatisfação.

- Estou bêbada demais de realidade.-admitiu, cabisbaixa.- Eu disse que queria esquecer, mas acabei pedindo por respostas... Chega por hoje.

Ela se levantou, sem sequer tocar na porção de anéis de cebola que pediram, e saiu do local. Mino a seguiu em reflexo, certo de que estava deixando para trás parte de seu orgulho.

- Preciso de um tempo sozinha.- reclamou, parando abruptamente no meio da calçada.

- Apenas me deixe levá-la de volta para casa.

Os olhares demoraram-se um no outro, buscando por algo que lhes faltava e os completava ao mesmo tempo. Algo que preenchia o vazio que toda aquela desordem causara no peito. Não funcionou.

HyoMin recusou a oferta com certa arrogância, mas a barreira na qual se forçava a construir perante o mundo veio a baixo quando uma moto passou zunindo em suas costas. A quem estava querendo enganar se não ela mesma?

- Que droga!- xingou, martirizando-se pela própria fraqueza.

Mino não esperou por mais respostas e apenas segurou a ponta da manga comprida que ela usava a fim de guiá-la. Machucava seu ego correr atrás de alguém após um desentendimento, mas ainda se lembrava da promessa que fizera a JiHo sobre cuidá-la. Mino já não tinha mais certeza se o fazia apenas por esse motivo.

- Isso nunca aconteceu.- resmungou na tentativa de reavivar o pequeno caco de sua dignidade. E ela se beneficiou do ímpeto prepotente.

           

- - -

 

O orgulho deixado de lado era a prova de um sentimento que ainda vivia. Fraco, desgastado pelo tempo, apenas um fiapo do que restou e talvez não pudesse ser revertido.

SeungHyun nunca imaginou que chegariam àquele ponto. Talvez fosse coisa de sua cabeça, mas ele conseguia ver as mudanças que estavam acontecendo com sua noiva, desde a ausência até a importância excessiva com algo que ele não via razão para tal.

Desde que engataram o relacionamento, HyoMin deixara claro sua devoção ao trabalho. No fundo, ele não aceitava que um caso fosse mais importante que o amor que possuíam um pelo o outro, tampouco engolia o fato de ela arriscar a vida por pessoas que já haviam morrido. Não teria volta.

Ele não entendia porque era sempre deixado em segundo plano. SeungHyun poderia dar o mundo à noiva com a fortuna que adquiriu com seus negócios, mas ela insistia em se dedicar ao trabalho desgastante.

HyoMin lhe prometera que não faria loucura alguma, mas eram palavras vazias. SeungHyun ainda sentia o nó formado nas entranhas quando recebeu a ligação do cunhado avisando sobre o ocorrido e que HyoMin estava internada. Os piores pensamentos atingiram-lhe como um golpe, e ele teve de relutar contra seu próprio eu para abandonar o egocentrismo e as lembranças da última briga, para só então reencontrá-la.

No dia em que foi no hospital –e ocasionalmente brigou com Mino-, contentou-se em apenas observar sua pequena enquanto dormia.

O conflito interno ainda estava ali, a consciência saindo na porrada consigo mesma e seus vários lados, interpretações e concepções. A cena que vira não lhe abandonava os pensamentos.

E agora estava ali.

- Já vai, hyung?- JunHoe perguntou, descontraído.- Ela disse que não iria demorar.

- Tenho umas coisas para resolver. Pode avisar para ela que eu vim?

- Tudo bem. Ah, está de pé a viagem para a casa da montanha?

 - Claro. Vai ser bom para vocês respirarem novos ares e refrescarem a cabeça.- disse com um sorriso. Apesar das crises constantes com HyoMin, JunHoe acabara se tornando um amigo muito próximo. As brigas não afetariam a amizade.

O rapaz levou a mão para abrir a porta, mas a maçaneta girou sozinha sob seus dígitos. Alguém do lado de fora o fizera e logo a figura de HyoMin acompanhada de Mino apareceu. Um encontro inevitável, uma brincadeira de mau gosto planejada pela mente maligna do destino.

HyoMin rapidamente soltou-se da mão de Mino, enquanto este não pareceu tão incomodado com a presença do outro. O investigador o cumprimentou com um aceno sutil com a cabeça, indiferente ao olhar fuzilante que lhe era dirigido.

Os olhares não vacilaram, presos numa disputa de ego silenciosa. O ar tornou-se denso, acompanhado do clima que pareceu sufocante para a garota que assistia tudo um pouco atrás. Ela descreveria a sensação como um soco no estômago. Dolorido, angustiante.

Pior do que navalhas disfarçadas de palavras, SeungHyun não disse nada. E naquele breve silêncio, Mino leu nas entrelinhas o histórico da relação conflituosa que era mantida por debaixo dos panos.

- Entre.- Mino voltou-se para HyoMin, pousando a mão na base das costas dela na intenção de conduzi-la.- Me avise se precisar de alguma coisa.

- Obrigada.- ela disse num sussurro e viu Mino se distanciar no corredor.

SeungHyun seguiu os movimentos com o olhar até que ele sumisse de vista para só então voltar-se a HyoMin com uma carranca ainda pior. Por entre as camadas de raiva, estava arrasado.

- O que aconteceu com você?- ela levou a mão ao ferimento pouco abaixo do olho do noivo, mas este a afastou.

- Pelo que vejo já se recuperou o suficiente para sair com o amiguinho.- a voz grave veio carregada de ironia, pronta para começar mais uma discussão. Mas HyoMin não compartilhava da mesma vontade.

Ela apenas suspirou, sem saber o que fazer. Tocou o ombro dele gentilmente para abrir caminho e entrar em seu apartamento. A porta encontrou o batente com agressividade, provocando um estrondo oco.

- Tabi, eu não quero brigar, por favor.- quase suplicou.

- Então tudo depende do que você quer ou não? E eu, HyoMin? E eu?- alterou-se.

- Você vai ouvir o que eu tenho a dizer? E se ouvir, vai acreditar?

- Já vi o bastante para saber no que devo acreditar.- manteve o tom gélido, a paciência por um fio.

- E o que você viu? Em algum momento o beijei ou me deitei com ele? Em algum momento disse que sentia algo mais?- a voz vacilou, tomada pela fadiga emocional que vivera nos últimos dias e até minutos atrás.- Você está acreditando em ilusões da sua própria cabeça e toma como verdade absoluta o que lhe convém.

- Ele tocou em você, a colocou para dormir... Eu vi tudo.- acusou, gesticulando.- Eu estava no hospital e vi tudo. Engoli meu orgulho para correr atrás de você de novo, para vir te ver depois que você me deixou plantado aqui e falando sozinho da última vez, e então me deparo com esse sem-vergonha na porta da sua casa.

Um lampejo cruzou a mente dela.

- Então foi assim que você conseguiu isso?- apontou para o ferimento, desacreditada.- Vocês brigaram?!

- Isso não interessa.

- Ele é meu companheiro de trabalho, SeungHyun!

- O problema não é um “companheiro de trabalho”, até porque nunca reclamei de JongIn.

- Eu não entendo porque está agindo dessa maneira e, sinceramente, não sei o que fazer pra você tirar essa ideia da cabeça.- confessou, cansada.- Poxa, estamos a cinco anos juntos e você ainda acha que tenho a capacidade de te trair? Não confia em mim?

O rapaz emudeceu e encararam-se segundos a fio. A quietude se tornou muito mais dolorosa quando passou a traduzir tudo o que a boca não tinha coragem de dizer.

HyoMin deixou as mãos caírem ao lado do corpo em resignação. O olhar dizia muito mais do que palavras. Frio, hesitante, perdido. Machucava ainda mais.

- Meu trabalho sempre foi um problema para você, mas em momento algum você desistiu de mim ou desconfiou, assim como nunca questionei suas viagens e seus negócios.- ela desviou o olhar para um ponto qualquer, sabendo que poderia se arrepender mais tarde de suas ações.- Acho que esse tempo todo só serviu para mostrar nossas diferenças, mas estávamos acomodados demais para perceber.

O cenho de SeungHyun se franziu de imediato.

- Não diga bobeiras. Nós sempre funcionamos bem juntos.

- Funcionamos bem até envolver nossas carreiras e o seu dinheiro.- ela abaixou a cabeça para fitar a aliança em seu dedo. Mino havia lhe devolvido quando estava no hospital.- Você nunca vai aceitar, mesmo dizendo o contrário. Até quando vamos viver dias como este?

- Está me pedindo para aceitar o fato de que você pode sair de casa para trabalhar e sem a certeza de que vai voltar.- a voz tornou-se branda, bem como sua aproximação cautelosa.- O meu maior medo era que acontecesse algo com você, e olha só onde chegamos. Você quase morreu, e pra que? Pra fazer justiça às pessoas que também não irão mais voltar.

SeungHyun tomou o rosto de HyoMin nas mãos e afagou-lhe as bochechas com o polegar. Queria encontrar nos oceanos escuros que eram os olhos dela um motivo para não acreditar que aquelas palavras eram verdadeiras.

- Tabi, eu sei que você foi quem mais sofreu por lidar com a minha bagunça...- ela continuou, engolindo em seco as lágrimas que insistiam em se formar em seus olhos.- Mas não quero que outras pessoas passem pelo mesmo que eu ou as outras passaram nas mãos daqueles monstros, e isso é algo que você não entende. Estamos forçando algo que não está dando certo, e nós dois sabemos disso.

- É isso mesmo que você quer?- a relutância se fez quase palpável, as palavras duras saindo da boca masculina tão facilmente, arrasando a ambos.

Ela apenas assentiu, incapaz de confrontar o olhar dirigido a si, uma mistura de descrença e resignação. Juntou suas forças e afastou as mãos dele de seu rosto delicadamente.

- Vai ser melhor para nós.- a voz deixou seus lábios num sussurro rouco, querendo convencer a si própria ao mesmo tempo em que tentava entender as condições nas quais se enfiara.

A dor no corpo e dos milhares de ferimentos não se comparava a dor da alma naquele momento. Era difícil. Um buraco se abriu em seu peito como alvo de um tiro de canhão. E por através da cratera ela assistiu um pedaço dela ir embora. E dessa vez não tinha volta.


Notas Finais


Meio ambíguo esse cap, maas nem tudo é o que parece ser, né nom? -qq
E sobre esse finalzinho turbulento... bom... Um ponto nem sempre é um ponto final. -v-

Eeenfim, espero que tenham gostado! E até a próxima! \o
Kissus kissus ;** <3


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