História Reencarnação - Jimin - Terceiro Capítulo

● Città de Castelo, Itália.

• Dois de agosto de mil oitocentos e trinta e cinco, século XIX. | 02/08/1835, século 19.

Jisso repetiu pela décima vez a mesma explicação de sempre “Não leia muito rápido, respeite as vírgulas” ou então “Essa sílaba tem o som aberto, não fechado”. Eu apenas assentia e voltava a ler — na verdade, tentar.

— Você está progredindo! — minha amiga bateu palmas entusiasmada.

— Você acha mesmo? — ela assentiu convicta. — Está bem... Então podemos continuar amanhã?

— S/A...

— Estou cansada — ela semicerrou os olhos. — É sério, Jisso.

— O.K, O.K! — a mais nova levantou as mãos em sinal de rendição e se levantou. — Ahh, que vista esplêndida! — falou admirando o nascer do sol.

Estávamos nas margens do rio Tibre, vínhamos aqui quase todas os dias treinar um pouco da minha leitura.

Não havia visto o JungKook desde que ele saira para caçar com o príncipe e companhia, mas fiquei sabendo que o mesmo tinha caído do cavalo enquanto perseguia um cervo. Não acreditei muito nessa desculpa, Jeon sabia calvagar muito bem, mas Jisso parecia que não estava mentindo, do jeito que a mesma é ingênua tenho quase certeza de que quem está mentindo é meu amigo.

Deixando minhas ideias mirabolantes de lado me pus a pensar na princesa Lalisa. Só nos últimos dias a mesma quebrou inúmeros jarros e até mesmo taças de cristais do castelo, e quem sempre levava a culpa? Obviamente eu!

Por causa desses “incidentes” todo meu pagamento será usado como reembolso. Logo agora que eu pensava que as coisas iriam melhorar...

Papai vem me ignorando faz algum tempo, nem me dou ao trabalho de tentar começar uma conversa, pois iria terminar em briga.

De todo modo, não é apenas Jennie que nota como sou tratada pela princesa, Hoseok ontem passou nosso horário de almoço inteiro falando em como a jovem mulher é insuportável, o mesmo até deixou escapar a seguinte frase: “Até o príncipe não aguenta aquela megera”. Eu iria questioná-lo sobre isso, mas Jung foi mais rápido e disse que precisava voltar ao trabalho.

Falando no príncipe, quase não o vejo, o que é uma pena, pois pelo que Lalisa diz sobre ele, Park Jimin é um homem muito inteligente e educado, mas suponho que seja tão idiota e mesquinho quanto ela.

Não que eu esteja o julgando, mas como não ser arrogante quando tem todo mundo na palma de sua mão?

A verdade é que eu nunca vou saber como ele realmente é, nós nem sequer nos encaramos nos olhos, mas isso pode estar prestes a mudar.

Arqueei uma sobrancelha quando Jisso ergueu uma mão e começou a acenar para um pequeno barco que se aproximava da margem. As velas brancas do mesmo balançavam com o ritmo do vento em uma ondulação sincronizada.

A mais nova entrou no rio e eu me levantei rapidamente para pará-la, aquilo até poderia ser o barco real, mas quem lá estivesse não se importaria de passar por cima dela.

— S/N, é o JungKook! — apontou para o irmão no convés do barco a vela.

Jeon acenava sorrindo imensamente para a irmã mais nova, quando seu olhar se encontrou com o meu ele ficou pálido, mas logo pôs seu sorriso de coelho nos lábios e acenou para mim. JungKook tinha o braço esquerdo envolto de ataduras, pelo visto estava sendo bem tratado.

— Uhum, já vi agora vamos — puxei Jisso que não moveu um músculo. — Jisso! — meu chamado foi ignorado.

Eu até poderia deixá-la ir de encontro ao barco, ela até poderia saber nadar, mas não quero que aconteça o mesmo que aconteceu com Sun Hee.

A água que segundos atrás varia em nossos tornozelos já estava em nossa cintura, mas Jisso não parava de andar, parecia que estava hipnotizada pela beleza daquele barco.

— Jisso chega! — gritei, dessa vez a fazendo sair de seu transe.

— Mas o que...? Meu Deus S/N estamos encharcadas! — a outra pegou na minha mão e saiu me puxando até a margem.

— O que deu em você? — perguntei espremendo a saia do meu vestido.

— Não faço a menor ideia — deu de ombros.

— Maravilha.

— Meninas vocês estão bem? — senhor Chul perguntou, apenas por educação pois seus olhos não demonstrava preocupação alguma.

— Sim, senhor — respondemos em uníssono.

— Pode começar a se explicar — JungKook cruzou os braços e fuzilou a irmã com os olhos.

— Desculpe-me eu fiquei apenas encantada com o barco — ouvi alguns risinhos baixos.

Lalisa usava um vestido de seda cor verde-água, não era pomposo como os outros, dessa vez ela também não usava sua típica coroa, e sim uma tiara de pérolas, ao seu lado Park Roseanne vestia uma calça e um par de botas de couro, camisa branca gola alta e uma gravata jabots. Sempre me perguntei como podiam deixar a prima do futuro rei da Coréia usar calça. As duas cessaram o riso some pegarem no flagra enquanto as olhava.

— Mas me diga, como raios você conseguiu isso? — toquei o ombro de Jeon.

— É uma longa história, S/A — ele suspirou.

— Tenho todo tempo do mundo — sorri de lado e ele revirou os olhos.

— Na verdade não tem, o que está esperando para trocar de roupa e vim me servir, criada? — Lalisa arqueou uma sobrancelha. JungKook abriu a boca para falar algo alguém o interrompeu.

— Na verdade ela tem sim, todos os empregados do castelo estão dispensados por hoje — Jimin se pronunciou.

— Pode saber o motivo? — ousei questionar, e pela primeira vez o príncipe me encarou nos olhos sorrindo.

— Hoje a noite daremos uma festa para todos da cidade — eu e Jeon nos entreolhamos, aquilo não seria um motivo para trabalharmos o dobro? — O pessoal da Coréia e da Tailândia irão ficar responsáveis pela organização, iremos dar uma festa estilo asiático — concluiu.

— Que ótimo! S/A, temos que escolher nossas roupas! — Jisso pulava empolgada ao meu lado, mas minha atenção estava no príncipe.

— Se vocês quiserem posso — Jennie parou um pouco de falar — dar de presente o vestido de vocês.

— Ahh, fico agradecida! — Jisso se curvou.

Se antes eu achava que Jisso era ingênua agora tinha certeza, ela não havia percebido que aquilo foi uma forma delicada da Jennie falar que iria nos dar qualquer peça do seu guarda-roupa para mais tarde dizer que nos ajudou. Por mais que gostasse de Jennie não podia esquecer quem ela era: a prima da princesa Lalisa.

Diferente da irmã, JungKook percebeu tudo e rapidamente negou a “gentileza” da outra que sorriu tristonha, Jennie não era boba, sabia o que estávamos pensando.

[• • •]

— “Iremos dar uma festa estilo asiático” — JungKook imitou a voz do príncipe.

— Ele realmente disse isso? — Pietro perguntou rindo. Nós três assentimos. — Não acredito... — gargalhou alto.

— Era bem mais fácil dizer “Suas comidas não são dignas para nós da realeza asiática” — tentei imitar a voz do príncipe Park, e falhei miseravelmente.

— Eu ainda não acredito que o Kook não me deixou aceitar o presente da prima da princesa! — Jisso mudou de assunto radicalmente.

— Você vai me agradecer depois — Jisso ignorou o irmão e logo estava conversando com Pietro. — Pare de birra, Jisso.

— Vocês dois sempre fazem drama quando estão com raiva — falei e Pietro concordou. Os irmãos Jeon abriram a boca ofendidos.

— Ah pare com isso, você também faz birra — Jisso bufou cruzando os braços.

— Não mais do que você, minha amiga — a mais nova me fuzilou com o olhar, mas logo estávamos todos rindo.