REESCREVENDO AS ESTRELAS
Capítulo 09 — Maybe the world could be ours tonight
[Just give me a reason
Just a little bit's enough
Just a second
We're not broken just bent
And we can learn to love again
It's in the stars
It's been written in the scars on our hearts
We're not broken just bent
And we can learn to love again
Just Give Me A Reason, P!nk]
A manhã de sexta feira mal tivera seu início e Chanyeol já se sentia completamente saudoso.
Era verdade que tinha se oposto à ideia de voltar àquela cidade com seu marido de início porque tinha em mente todos os contras que estar em um local com tanto significado tanto para ele quanto para Chanyeol poderia acarretar. Contudo, depois de uma semana ouvindo o quebrar das ondas todos os dias, cercado por pessoas que não via há muito tempo e norteado pelo sentimento de nostalgia, Chanyeol conseguia entender de onde viera aquela ideia de Baekhyun.
Não doía em nada admitir que fora uma boa ideia no final das contas. Talvez ainda estivesse apegado ao rancor e todas as mágoas que acumulara caso tivesse negado a proposta do Byun e permanecido na casa que dividiam, onde as lembranças ruins eram predominantes e não lhe permitiam enxergar Baekhyun por outra ótica que não aquela. Aquela cidade, contudo, trazia consigo um lado de Baekhyun que há muito tempo Chanyeol deixara de enxergar e era bom perceber que ele ainda existia no homem ao seu lado.
Apesar de ser um lado de Baekhyun que conhecia há muitos anos, fora uma jornada interessante redescobri-lo naquela semana. Fora uma oportunidade que não sabia precisar para que soubesse, definitivamente, que o homem que o amava acima de qualquer coisa ainda existia e estava ali provando isso. Tomar decisões de cabeça quente não era a melhor das decisões e Chanyeol aprendeu isso, de uma forma ou de outra.
Ainda assim, era difícil conter a voz que ecoava no fundo de sua cabeça de que aquilo podia estar acontecendo por uma semana e, quando voltassem à cidade onde viviam e a suas rotinas, as coisas voltariam a ser como eram antes. Não fora uma ou duas vezes em que Baekhyun se mostrou um marido atencioso e amável para que, em seguida, cometesse uma sequência de deslizes com Chanyeol. Por mais que não quisesse dar ouvidos a essa voz, parecia impossível contê-la para sempre e, por isso, Chanyeol sempre estava um passo atrás.
Estava sendo uma viagem maravilhosa, é claro, mas seria ainda mais incrível se pudessem levar esse clima amistoso e amável entre ambos de volta à casa que dividiam. Deus sabe quantas coisas Chanyeol abdicaria para que isso fosse possível, contanto que Baekhyun também estivesse disposto a fazer o mesmo.
Olhou para a cama ao lado, onde o marido ainda estava adormecido. O Sol já começava a alcançar seu caminho por entre as frestas da cortina, mas não era o suficiente para acordá-lo, ainda que os raios solares brilhassem contra a pele de seu rosto. Chanyeol parou um momento para admirar o homem que dormia ao seu lado; havia um instinto, uma necessidade em seu peito em voltar a se aproximar, quem sabe aconchegar-se nas mesmas cobertas e encontrar seu lar de volta no abraço aonde sempre pertencera. Contudo, havia sempre uma mão em seu ombro que o fazia parar onde estava.
Fora ele quem pediu a separação, não Baekhyun. Não era justo que fizesse algo do tipo apenas para confundir os sentimentos de seu marido se o próprio Chanyeol não tinha certeza se gostaria de levar o pedido de separação adiante ou não. Ainda havia alguns pedaços faltando na ponte que os unia e, enquanto ainda estivessem ausentes, Chanyeol não podia simplesmente se entregar a todos os desejos que passavam por sua cabeça.
Ainda que quisesse tanto.
Talvez tenha se passado cinco ou dez minutos desde que passara a olhar Baekhyun adormecido até o momento em que o rosto de seu marido se contraiu um pouquinho, indicando que estava prestes a acordar. Chanyeol rapidamente encontrou algo no que manter sua atenção agora, para evitar questionamentos sobre o porquê o estava encarando. Baekhyun bocejou, erguendo-se na cama ainda um pouco preguiçoso, claramente indisposto em se levantar tão cedo.
Chanyeol sorriu consigo mesmo. Para um homem tão comprometido com o trabalho, Baekhyun estava redescobrindo os prazeres de não precisar acordar tão cedo todos os dias.
“Bom dia”, ele disse quando Baekhyun passou a olhá-lo, desviando a atenção do celular que fora a primeira distração que alcançou. “Dormiu bem?”
“Como um bebê”, Baekhyun sorriu. “Vou sentir falta do conforto desse hotel. Foi realmente um bom achado aqui.”
“Foi você pessoalmente quem escolheu a nossa cama”, Chanyeol o recordou.
“Talvez nós precisemos renová-la”, Baekhyun deu de ombros. “Já faz algum tempo.”
“É, talvez a gente possa”, Chanyeol concordou.
Baekhyun o encarou por um segundo mais prolongado e Chanyeol sabia que havia algo que Baekhyun queria dizer, principalmente por conta da possibilidade que deixara em aberto para o futuro com suas palavras. Contudo, o Byun logo voltou a fechar a boca, olhando-o com uma expressão mais neutra, suave. A chance havia se perdido, mas Chanyeol não conseguia se sentir frustrado por conta disso. Também não estava pronto para cogitar um futuro, independente de como ele fosse.
“O que você quer fazer hoje?”, Baekhyun perguntou. “Nós temos um combinado, não é?”
Chanyeol não imaginara que seu marido traria esse assunto à tona tão cedo, na verdade, e sua expressão talvez tenha entregado como aquilo o pegou de surpresa. A confissão de um desejo nunca atendido enquanto adolescentes saiu de maneira espontânea na noite anterior e não imaginara que Baekhyun levaria tão a sério como estava fazendo. Reprimiu um sorrisinho a seguir por perceber como seu marido se importava em deixá-lo feliz com pequenos gestos, ainda que fosse apenas por aquela semana.
“Pensei em voltarmos a ver os nossos pais”, Chanyeol comentou. “Acho que vamos demorar a voltar aqui, de toda forma, então…”
Em meio às suas palavras, havia o fantasma da separação mais uma vez; talvez demorassem a voltar naquele lugar porque talvez nem mesmo voltassem como um casal. Não era tempo de alertar suas famílias com planos ainda não concretizados, mas era bom aproveitar o tempo que tinham ao lado de seus progenitores enquanto o possuíam. Os problemas do futuro ficavam para que lidassem em outro momento.
“Parece uma boa ideia para mim”, Baekhyun concordou. “Na verdade, é até estranho que quase uma semana tenha se passado e minha mãe não nos intimou a passar mais um dia com eles.”
Chanyeol riu baixinho. “E se bem me recordo, sua teimosia não esconde de onde veio.”
“Não a deixe ouvi-lo dizendo isso”, Baekhyun piscou. “Vou me arrumar, então. Te vejo no saguão?”
Chanyeol concordou. Acordara mais cedo que o marido, um hábito que adquirira naqueles dias de viagem e que não tivera coragem de interromper o sono tranquilo de Baekhyun — uma vez que sabia muito bem que não era assim todos os dias —, e por isso já havia tomado seu banho e estava arrumado para um dia casual. Apanhou seu celular e despediu-se do marido mais uma vez, apanhando o elevador até o saguão.
Um tempo sozinho lhe faria bem, Chanyeol sabia disso, principalmente antes de voltarem a estarem entre seus familiares onde era mais difícil não deixar aparente que algo estava errado. Sua mãe tinha olhos de águia quando relacionado a seus problemas e o Park sabia que não conseguira enganá-la antes, que dirá agora quando não enganava nem a si mesmo.
Estar sozinho também trouxe os pensamentos de outrora mais uma vez à sua cabeça e fora inevitável que dispensasse algum tempo pensando em seu casamento. De cabeça mais limpa e longe dos estímulos que recordavam suas mágoas em cada pedacinho por onde olhava em sua casa, Chanyeol conseguia entender quais eram seus erros em seu casamento também e como fora um pouco injusto que creditasse tudo a Baekhyun.
É claro que se sentira magoado em ser preterido por seu marido em tantos momentos, com o trabalho de Baekhyun sendo o problema central de suas discussões, mas agora conseguia enxergar como o Byun se esforçava para deixá-lo feliz, mesmo que com pequenos gestos — os passeios constantes a beira-mar, mesmo que Baekhyun detestasse a areia, o retorno ao restaurante que foram quando adolescentes, o ouvir interminável sobre tudo que tinha a dizer, mesmo quando não era importante, e até mesmo um desejo antigo que nem mesmo Chanyeol se preocupava em realizar.
Baekhyun estava tentando e parecia no mínimo justo que Chanyeol também estivesse disposto ao mesmo. A única coisa que precisava fazer era aprender a lidar com o receio que se instalava em seu peito, fazendo com que se questionasse se estavam prontos para quebrar esse círculo vicioso ou se voltariam a estaca zero mais uma vez, onde não podia prometer que não se deixaria levar pela mágoa novamente.
A escolha mais sensata para encontrar a resposta para esse questionamento parecia estar na tela de seu celular.
Mal passava das nove da manhã de uma sexta-feira, mas Chanyeol não se importou quando iniciou uma chamada de vídeo com os amigos, no grupo que mantinham em um aplicativo de mensagens. Esperou por algum tempo até que Minseok ou Sehun o atendessem e foi recepcionado por um olhar sonolento de Sehun, os cabelos bagunçados e as luzes ainda apagadas, indicando que tinha acabado de acordar.
“Se você não está morrendo ou em alguma emergência, farei que esteja em uma assim que voltar pra cidade”, Sehun resmungou.
“Bom dia, Sehun, adorável como sempre”, Chanyeol respondeu. “Minseok já está acordado?”
“Graças a você, sim”, Sehun respondeu, cutucando o marido para que aparecesse no vídeo também. Minseok também tinha olhos sonolentos, mas já parecia mais disperso do que o Oh, o que era uma grande vantagem.
“Aconteceu alguma coisa, Chanyeol?”, Minseok questionou com um semblante preocupado.
Chanyeol deu um suspiro. “Coisas demais aconteceram e acho que por isso eu precisava falar com vocês”, explicou. “Amigos são para isso, certo? Para aconselharmos uns aos outros antes de tomarmos decisões que mudarão nossas vidas por completo.”
“Um pouco dramático, mas suponho que sim”, Sehun respondeu. “Comece pelo início enquanto eu tento acordar um pouco mais.”
Chanyeol começou a falar sobre tudo que acontecera na viagem até então, repetindo pontos que já contara aos amigos, mas com uma nova visão sobre eles; uma visão que trazia lados mais positivos a Baekhyun agora que enxergava suas tentativas por trás de cada gesto. Apesar do sono interrompido no dia de folga que tinham, Minseok e Sehun o ouviam com atenção, sem interrompê-lo em nenhum momento porque conheciam Chanyeol — às vezes, tudo que o Park precisava era de um lugar para ventilar seus problemas até que a resposta o alcançasse sozinha.
Talvez acontecesse mais uma vez com esses novos problemas.
E Chanyeol falou. Falou, falou e falou por minutos a fio, até que chegasse na noite anterior e escolhesse com cuidado as palavras que usaria, porque parecia pessoal demais até mesmo para seus amigos mais próximos. Contara, entretanto, sobre a ideia de Baekhyun em realizar seu desejo antigo e conseguiu ver como aquilo mexeu com Sehun e Minseok da mesma forma que mexera consigo.
“E, então, não sei se ainda tenho certeza sobre me separar dele”, Chanyeol suspirou. "Não sei se essa é a ideia mais acertada ou se estou dando continuidade a um pedido que já não faz sentido para nós dois. Assim como não sei se estarei certo em desistir disso e correr a chance de voltarmos a estaca zero, onde não sei se conseguiria pedir pela separação outra vez.”
Demorou alguns segundos para que Minseok e Sehun falassem alguma coisa, olhando um para o outro naquela mania irritante que possuíam de se comunicar apenas com o olhar. Chanyeol, contudo, aguardou com paciência, seus olhos viajando volta e meia até a porta do elevador por onde Baekhyun passaria a qualquer momento. Talvez não fosse uma boa ideia ainda estar em ligação com os amigos quando seu marido retornasse, não quando ele era o assunto.
“E então?”, Chanyeol os pressionou. “Baekhyun chegará a qualquer momento e seria bom ter uma resposta antes disso.”
“Eu acho que você tem a resposta, Chanyeol”, Minseok disse. “Só não é a resposta mais simples e nem a mais fácil, então você não quer enxergá-la. Mas às vezes, a resposta correta está em seguir o que nosso coração deseja.”
“Nem todos os erros são irreparáveis se o Baekhyun estiver tentando de verdade”, Sehun complementou. “E, por tudo que você nos disse agora, ele realmente parece estar.”
Seus amigos, mais uma vez, tinham razão em enxergar a situação como um todo, de uma maneira que Chanyeol não se permitia ver porque ainda sentia a necessidade de proteger a si mesmo de mágoas que nem mesmo sabia se voltaria a sentir. Ainda que não dissesse nada, os dois também conseguiam ver em seu rosto o entendimento desenhado, principalmente pelo sorrisinho convencido no rosto de Sehun.
“Nós acreditamos que você vai tomar a melhor decisão, Chanyeol”, Minseok comentou. “A viagem está acabando, não é? É chegada a hora de tirar esse band-aid de uma vez por todas, por bem ou por mal.”
“Mas por bem é sempre uma escolha mais agradável”, Sehun deu de ombros.
Chanyeol riu baixinho, mas concordou mais uma vez com os amigos. Era chegada a hora e, estivesse pronto ou não para se deixar vulnerável aos riscos novamente, uma escolha deveria ser feita.
E Chanyeol confiava que escolheria o caminho certo dessa vez.
. . .
Voltar a casa de seus pais trazia um sentimento diferente dessa vez, ainda que pouco menos de uma semana tenha se passado desde a última vez em que estiveram ali.
Na primeira visita, eram um casal que caminhava sobre ovos, a todo momento temerosos de que não fossem capazes de esconder o abismo que se formara entre os dois daqueles que os conheciam melhor do que qualquer outra pessoa. Agora, tão pouco tempo depois, mas que parecia uma eternidade, Chanyeol não sabia qual era o limite para que respeitasse o que sentia e, ao mesmo tempo, não entregasse toda a confusão da situação em que estavam a seus pais.
Parecia um trabalho perdido, principalmente porque sua mãe e a de Baekhyun eram amigas há anos e com certeza saberiam lê-los melhor do que ninguém, mas ninguém poderia dizer que nem mesmo tentaram.
Dessa vez, a visita fora planejada para que seus pais pudessem se programar e aproveitassem ao máximo o último dia ao lado da família. Fora combinado de que voltariam a casa dos pais de Chanyeol — sob protestos de sua mãe sobre não ter voltado para casa naquela viagem —, e, por volta do horário do almoço, já se encaminhavam para o local.
A manhã fora tranquila enquanto tomavam café da manhã juntos e combinavam os últimos detalhes do dia. Chanyeol não tinha nenhuma objeção em passar o último dia inteiro ao lado de seus pais — sempre fora o garotinho da mãe, principalmente depois que sua irmã saíra de casa primeiro para a faculdade —, mas não podia negar que estava curioso com o que Baekhyun estava planejando por trás de suas costas.
Porém, o Byun fora irredutível em não dizer nenhum detalhe da surpresa que estava preparando, garantindo a Chanyeol que ele não precisava fazer nada além de aproveitar aquele dia ao lado de pessoas que o amavam. Baekhyun não havia dito, mas Chanyeol sabia que ele estava se incluindo nessa lista.
Houve até mesmo um momento em que Baekhyun sumiu em parte da manhã e que Chanyeol tentou questioná-lo sobre onde havia ido, mas Baekhyun mudou o assunto indicando que já se aproximava do horário combinado para que encontrassem seus pais e apressou Chanyeol até o carro. Sem nenhuma escapatória porque já estavam mesmo no limite do tempo, Chanyeol fez como ordenado, engolindo sua curiosidade por mais algum tempo.
Passara por todo o trajeto pensativo, tentando encontrar uma brecha nas expressões de Baekhyun para que o indicasse o que estava tramando, mas não conseguira nada. Estava até mesmo um pouco arrependido em ter concordado com o acordo da noite anterior e em deixar tudo nas mãos de seu marido porque a curiosidade o deixava inquieto, incapaz de aproveitar o presente sem que estivesse preocupado com o futuro.
Parado em um sinal vermelho, a mão de Baekhyun se sobrepôs a sua, deixando um aperto gentil no local e surpreendendo-o. Quando olhou para Baekhyun, ele tinha um sorriso pequeno, compreensivo, e Chanyeol entendeu — Baekhyun era muito bom em ler suas emoções, embora, em algum momento do caminho, tenha se tornado tão receoso em como lidar com elas.
Avistou a casa de seus pais no final da rua e sentiu a ansiedade crescer em seu peito novamente, por uma razão diferente dessa vez. Eram apenas seus pais, assim como da primeira vez, e ambos já tinham vencido esse desafio em momentos muito menos amistosos do que agora. Não parecia suficiente, contudo, para acalmar seu coração que passou a bater de maneira desenfreada quando Baekhyun finalmente estacionou.
Chanyeol suspirou; era hora de aproveitar as últimas horas com seus pais antes que voltassem para casa, não para que deixasse que sua cabeça lhe dominasse em uma espiral de pensamentos ruins.
“Está tudo bem?”, Baekhyun perguntou antes que deixassem o carro.
Chanyeol assentiu com um sorrisinho. “Só pensando nas situações opostas em que estivemos nas duas visitas.”
Baekhyun pareceu entender sem que fosse necessário dizer mais nada. “Sobrevivemos à primeira”, disse. “Não tem nada a temer na segunda.”
No fundo, Chanyeol também sabia que não, mas estava agradecido pelo conforto de todo modo, então agradeceu novamente com um sorriso e se preparou para deixar o carro ao lado de Chanyeol. A essa altura, seus pais já estavam à porta com sorrisos abertos esperando por ambos e fizeram o caminho rapidamente até o abraço que os aguardavam.
“Vocês demoraram tanto para voltar a nos ver!”, foi a primeira coisa que Sunhee disse quando tinha Chanyeol entre seus braços.
“A semana passou voando, nós nem notamos quanto tempo passou”, Chanyeol justificou. “Mas não iríamos embora sem voltar aqui, sabe disso.”
“Até porque eu ainda tenho que fazer os pratos favoritos do meu menino antes de devolvê-lo a cidade grande”, Sunhee brincou. “Venham, entrem! O almoço está pronto, Minjae me ajudou a preparar tudo para que também sejam os seus favoritos, Baekhyun.”
“Vocês não precisavam fazer tudo isso por nós, de verdade”, Baekhyun disse, com um sorriso aberto e agradecido. “Tenho certeza que está tudo uma delícia.”
“É claro que precisávamos”, Minjae o corrigiu, “não é todo dia que vocês estão conosco. As crianças hoje em dia casam e esquecem de visitar os pais!”
“Devo assumir que Baekbeom também não está voltando tanto assim para casa?”, Baekhyun brincou com a mãe.
“Baekbeom é um desnaturado, até hoje não trouxe meu neto para que a gente possa conhecê-lo”, Minjae reclamou. “Espero que vocês dois não façam igual quando chegar a vez de vocês, ouviram?”
A conversa tinha um clima ameno e ambos sabiam que não trazia nenhuma cobrança naquela reclamação, mas foi impossível conter o engolir em seco, principalmente porque tinham discutido a respeito dias antes. A imagem de Baekhyun com uma criança e o sorriso em seu rosto ainda estava fresca na memória de Chanyeol e seria mentira dizer que não mexia consigo.
“Teremos isso em mente”, Baekhyun respondeu, sempre pensando mais rápido que o marido para tirá-los de situações difíceis.
A mesa já estava a postos quando chegaram e Chanyeol reconhecia seus pratos favoritos misturados aos de Baekhyun. Suas mães realmente não brincaram ao fazer um grande banquete para a despedida dos dois, assim como já deviam ter imaginado. Da mesma maneira que deveriam ter imaginado que não seriam permitidos deixar aquela mesa antes que provassem ao menos um pouquinho de cada prato.
A conversa seguiu de maneira tranquila, com perguntas de seus pais sobre a vida na capital e seus planos para o futuro. Chanyeol, vez por outra, trocava um olhar com sua mãe em momentos como esse, ciente de que a mais velha também estava de olho por recordar muito bem da conversa que tiveram e sobre como seu casamento não estava indo da maneira como desejava. Chanyeol sempre desviava o olhar quando imaginava que teria a mais velha o questionando sobre algo.
Ainda assim, foi impossível que não notasse o sorrisinho no rosto dela todas as vezes em que Baekhyun se aproximava por qualquer motivo, fosse para servi-lo de mais uma porção ou só para comentar alguma coisa. Chanyeol entendia o motivo do sorriso; não era segredo que estava agindo de maneira bem mais confortável ao lado de seu marido agora do que no início da semana e sua mãe estaria feliz com essa mudança.
Afinal de contas, ainda conseguia se recordar do que a mulher lhe dissera sobre como Baekhyun o olhava como se fosse a coisa mais preciosa que tinha.
E agora, às vezes, Chanyeol também conseguia perceber esse olhar.
Após o almoço, foi o senhor Park quem teve a brilhante ideia de ter uma tarde de jogos, como se não conhecesse o próprio filho e não soubesse o quanto Chanyeol conseguia ser competitivo. A família Byun topou o desafio e foi dessa maneira que Chanyeol e Baekhyun acabaram em lados opostos da mesa de centro da sala de estar, com um tabuleiro do Jogo da Vida entre eles e faíscas saindo de seus olhos.
“Sem chances, Baekhyun, essa rodada nem valeu!”, Chanyeol exclamou ao perceber que o marido havia acabado de cair em uma casa de vingança, fazendo com que retrocedesse algumas casas.
“Sob a ótica de quem? Era a minha vez de jogar”, Baekhyun devolveu. “Você só está bravo porque eu sei ler você muito bem e sei qual é a tua jogada. Ou acha que eu não sei que se você caísse aqui não me mandaria voltar também?”
“Por isso nunca gostei de jogar esse jogo com você”, Chanyeol resmungou.
Baekhyun piscou na direção do marido. “Você diz isso porque não sabe perder”, brincou. “Mas eu posso te deixar ganhar da próxima vez, se você quiser. Sabe que eu faço o que você pedir.”
“Não tome esse jogo por garantido porque eu ainda posso virar!”, Chanyeol devolveu, rolando os olhos para os gracejos do mais velho, mas incapaz de conter o sorrisinho.
Baekhyun apenas deu uma risada, voltando a se concentrar no tabuleiro para saber qual seria a melhor jogada para que ganhasse de seu marido. Alheios em sua discussão particular, os dois não perceberam como seus pais os encaravam com risos frouxos no rosto. Sunhee, por outro lado, não conseguiu manter para si seus pensamentos:
“Você se recorda de quando éramos jovens e tínhamos essa disposição, Hyunjin?”, Sunhee comentou com o marido. “Agora me pergunto se você também me deixava ganhar no xadrez.”
Hyunjin deu um riso breve, olhando para o genro com uma piscadela. “São águas passadas, meu bem. Mas você sempre foi uma ótima jogadora, por que eu precisaria fingir que perdi?”
“Ora essa, sempre galanteador, deve ser assim que não percebi todas as vezes que fingiu perder para me deixar ganhar”, Sunhee riu.
Chanyeol também riu, imerso no clima gostoso que dividiam enquanto as famílias jogavam uma contra a outra, e percebeu que se sentia muito mais leve assim, de uma maneira que não vinha se sentindo há algum tempo. Já fazia algum tempo desde que ele e Baekhyun tiveram tempo em comum para que pudessem desfrutar de uma noite de jogos, ou mesmo para que chamassem os amigos para que se divertissem dessa forma. Com os afazeres da galeria e seus pensamentos recorrentes sobre o afastamento do marido, Chanyeol não havia se dado conta de como esses momentos faziam falta.
Agora que tinha Baekhyun do outro lado de um tabuleiro, com um sorriso tão aberto que tornava seus olhos meia-luas e aquele brilho de confiança que sempre lhe instigou, conseguia perceber como os pequenos detalhes eram tudo que importavam, no final das contas. Quem sabe tivesse sido necessário que enfrentassem as turbulências pelas quais passaram para que alguns dias em uma viagem ao passado lhe mostrasse o que um dia foi óbvio, mas se perdeu com o passar dos anos, em meio a rotina.
Talvez não importasse tanto assim quem ganharia ou não aquele jogo da vida. No jogo da vida real, Chanyeol sabia que estava em uma das casas decisivas do tabuleiro, onde a escolha o faria retroceder algumas casas ou deslanchar até a grande vitória. Esperava que confiar em seus instintos o fizesse tomar a decisão mais acertada, ao menos.
Afinal, é como dizem: azar no jogo, sorte no amor, certo?
. . .
Já era início de noite quando Chanyeol e Baekhyun se despediram de seus pais, enchendo-os de promessas de que voltariam assim que possível. Pela primeira vez desde que chegaram ali, Chanyeol finalmente conseguia ver a possibilidade de que cumprissem uma nova promessa juntos.
O tempo dispensado com seus pais fez muito bem ao Park, livrando sua cabeça dos pensamentos ruins que volta e meia voltavam a incomodá-lo, fazendo que dispersasse sua atenção e voltasse ao espiral de sentimentos mistos que só o deixavam mais confuso. Sua mãe sempre foi muito boa em ler o ambiente, principalmente quando relacionado ao caçula, e Chanyeol não poderia estar mais agradecido a mais velha por isso — não foi uma ou duas vezes em que se viu salvo pelo olhar confiante e o sorriso satisfeito no rosto da mãe.
Sua mãe estava por perto em todos os momentos em que Chanyeol sentia que estava próximo demais de Baekhyun, de uma maneira tão natural que nem mesmo se apercebera de quando chegara até ali. Isso, de certa forma, fazia com que se sentisse mais confiante de que estava fazendo a coisa certa; se sua mãe sentisse que estava tomando a decisão errada, ela com certeza não hesitaria em alertá-lo sobre isso, mesmo que soubesse que a decisão final precisava ser de Chanyeol.
Talvez sua mãe não soubesse tudo que vivera com Baekhyun até ali, é verdade, e nem mesmo soubesse do pedido de separação, mas lhe ajudara muito mais do que poderia ter esperado.
De volta ao carro, por um momento, Chanyeol estranhou o fato de que não estavam seguindo o caminho costumeiro até o hotel. Era a última noite que tinham naquela cidade e precisavam resolver as últimas pendências com o estabelecimento antes de partirem. Olhou para Baekhyun de soslaio, percebendo-o muito tranquilo e com o olhar focado no caminho que faziam, e resolveu confiar que o marido sabia para onde estavam indo.
Quem sabe Baekhyun lhe dissesse o que tinha em mente em algum momento, certo? É claro que seu marido perceberia sua curiosidade, o próprio Baekhyun havia dito que sabia lê-lo muito bem e Chanyeol não era a pessoa mais sutil que conhecia. Ainda assim, Baekhyun permaneceu quieto, por vezes cantarolando baixinho a música que vinha do rádio, sem em momento algum perceber os olhares que Chanyeol vez por outra lançava em sua direção.
Com um suspiro baixo, Chanyeol percebeu que não era como se Baekhyun não tivesse percebido. Ele queria que perguntasse. Da mesma maneira que o Byun o conhecia muito bem, Chanyeol também conhecia o homem ao seu lado — Baekhyun adorava fazer com que Chanyeol expusesse sua curiosidade só para que brincasse um pouco mais com ele.
“Não deveríamos voltar ao hotel?”, Chanyeol perguntou como quem não quer nada, olhando pela janela ao invés de deixar o marido ver a curiosidade em seus olhos.
“Mudança de planos”, Baekhyun respondeu. “A noite era por minha conta, lembra?”
Como Chanyeol conseguiria esquecer quando essa era a única coisa que permeava sua cabeça desde que acordara e Baekhyun se recusara a lhe dar qualquer tipo de dica?
“Ainda assim, nós precisamos resolver algumas coisas por lá, como o check-out e—”
“Está tudo resolvido, Chanyeol, você pode confiar em mim”, Baekhyun o interrompeu, olhando-o com um sorriso divertido, mas tranquilo. “Eu te garanti que tudo daria certo hoje à noite, não foi? Nós dormiremos sob as estrelas, como prometi a você.”
Chanyeol nem mesmo tentou conter o sorriso que surgiu com aquelas palavras porque era um desejo do qual havia desistido e ainda lhe aquecia o peito ver Baekhyun tão disposto a realizá-lo. Baekhyun permaneceu como estava, os olhos atentos à estrada, mas com o sorriso que espelhava o seu, indicando o quanto também estava satisfeito com o que estavam criando. Não sabiam para onde aquela estrada os estava levando, mas os levava a algum lugar e era bom o suficiente.
“E como vamos fazer isso?”, Chanyeol quis saber.
“Você verá”, Baekhyun reforçou. “É uma surpresa, Chanyeol. Você sabe como funciona.”
“Não quer dizer que eu não possa tentar arrancar algo mesmo assim”, Chanyeol deu de ombros. “Você sabe, eu costumava saber fazer você falar qualquer coisa.”
“Não se tornou nem um pouco mais fácil lutar contra esse rostinho com o passar dos anos”, Baekhyun garantiu, “mas serei forte dessa vez.”
Chanyeol deu um riso breve, descontraído, feliz por estar se sentindo mais leve como há algum tempo não sentia. Não fez mais nenhuma pergunta e deixou que Baekhyun os guiasse até onde seus planos seriam concretizados. Conhecia aquela cidade tão bem quanto o Byun e agora que reconhecia um pouco melhor onde estavam, sabia perfeitamente para onde Baekhyun estava dirigindo.
Cerca de dez minutos depois, Baekhyun estacionou em uma parte um pouco mais deserta da praia, um local conhecido por Chanyeol por ser para onde escapavam vez por outra nos finais de semana, só para que pudessem admirar as estrelas juntos em um local que o mais novo amava. Havia poucas pessoas que vinham até ali, por ser mais distante dos estabelecimentos, e a essa altura da noite estava completamente vazia, sendo um ótimo lugar para privacidade.
Chanyeol deveria ter imaginado que a memória de Baekhyun não falharia com ambos, afinal, não em um momento tão importante como esse. O Byun o olhou em silêncio, a expectativa acesa em seus olhos, e Chanyeol tranquilizou o marido com um sorriso um pouco mais aberto, agradecido.
“Eu adoro esse lugar”, Chanyeol comentou. “Deveria ter imaginado que voltaríamos aqui antes de irmos embora.”
“Eu sabia que você não o esqueceria”, Baekhyun comentou.
Deixaram o carro, sentindo a brisa marítima alcançando seus corpos e trazendo a Chanyeol mais uma vez a sensação de pertencimento que só a praia fazia com que sentisse. O sorriso não saiu de seu rosto em nenhum momento, nem mesmo quando se voltou ao marido para voltar a enchê-lo de perguntas:
“E então?”, Chanyeol perguntou. “Nós dormiremos na areia? Quando eu tinha dezessete anos talvez eu concordasse, mas aos vinte e sete…”
“As minhas costas doeriam tanto quanto as suas”, Baekhyun brincou. “Na verdade, enquanto estávamos na casa dos seus pais, eu fugi por alguns minutos para preparar uma coisa. Que bom que você não percebeu até agora, o elemento surpresa faz diferença.”
Chanyeol ergueu a sobrancelha, curioso com o que poderia ser. Baekhyun indicou com a cabeça para o carro. Chanyeol o acompanhou, a expressão de curiosidade em seu rosto dando lugar à surpresa quando Baekhyun revelou o que estava aprontando esse tempo todo — na parte de trás da picape, colchonetes foram colocados como se fossem colchões e havia algumas almofadas dispostas para que usassem como travesseiros, bem como mantinhas para que pudessem escapar do frio. Baekhyun provavelmente passara um bom tempo preparando tudo aquilo e depois escondendo para que Chanyeol não percebesse e o mais novo caíra perfeitamente.
“Você realmente fez tudo dessa vez”, Chanyeol brincou, ainda um pouco maravilhado. “Aposto que tem dedo dos nossos pais aqui também.”
“Porventura minha mãe tinha alguns colchonetes em casa que não estava usando e me emprestou fazendo disso uma desculpa para que eu volte para devolver a ela”, Baekhyun brincou, “e sua mãe muito amavelmente nos cedeu as mantas e almofadas quando expliquei qual era a minha ideia.”
“Uma romântica incorrigível”, Chanyeol pontuou.
“Tal como o filho dela”, Baekhyun concordou, sorrindo. “E então? É como você imaginava?”
“É mais do que imaginei, para ser bem sincero”, Chanyeol respondeu. “Eu nunca tinha imaginado nada além de nós dois e as estrelas, mas… Isso parece bem romântico.”
“Então acho que é hora de aproveitarmos, não?”
Chanyeol não poderia concordar mais e, com uma ajuda de seu marido, subiu na traseira da picape, ajeitando-se contra algumas almofadas e sorrindo para si mesmo com a cena que estavam compondo. Baekhyun veio logo em seguida, deitando-se ao lado, um pouco de lado para que pudesse vê-lo. O espaço não era tão grande para comportar dois corpos adultos, mas Chanyeol não se importava tanto assim em estar tão perto de seu marido.
Na verdade, não se importava nem um pouco.
“Poderia ser mais confortável”, Baekhyun comentou em tom de piada, “mas acho que me sai bem o suficiente para uma surpresa em menos de vinte e quatro horas.”
“Você está caçando elogios desta vez, senhor Byun?”, Chanyeol brincou. “Deveria me lembrar do tamanho do seu ego antes de deixá-lo saber que fez algo muito bem.”
“O que posso fazer? Os elogios são meu combustível”, Baekhyun riu. “Mas me é suficiente saber que você está feliz com isso. Era o que o Baekhyun de dezessete anos gostaria de ver no Chanyeol de dezessete anos.”
Chanyeol virou o rosto para encará-lo, se perdendo por alguns minutos no sorriso que Baekhyun tinha e em quanto carinho ele conseguia acumular na maneira como o olhava. Por alguns segundos, o Park sentiu como se dez anos não tivessem se passado e ambos ainda estivessem à beira dos dezoito anos, com planos de conquistar o mundo juntos e tão apaixonados que fazia o peito doer.
Chanyeol sentia muita falta de se sentir assim novamente — e o sorriso em seu rosto tinha também como razão o fato de que finalmente voltara a se sentir.
“Se em algum momento nos últimos tempos eu me fiz entender como se você não mais me fizesse feliz, eu gostaria de pedir desculpas por isso, Baekhyun”, Chanyeol disse, baixinho. O rosto de Baekhyun assumiu nuances de seriedade de repente. “Dos dezessete aos vinte e sete, mesmo que tenhamos nossas falhas, os nossos vacilos, você me fez muito feliz. Obrigado por isso.”
Baekhyun engoliu em seco, contendo o ardor repentino em seus olhos. Não era assim que havia imaginado essa noite; a bem da verdade, não sabia o que esperar daquela noite porque era um desejo de Chanyeol e, além de arrumar todas as pontas soltas para realizá-lo, Baekhyun não havia planejado muita coisa. Ter seu marido se abrindo a respeito de seus sentimentos depois de senti-lo tão distante de si não era exatamente a coisa para a qual havia se preparado.
Ainda assim, guardara aquelas palavras em seu peito a sete chaves, finalmente conseguindo se sentir um pouco mais em paz em saber que fizera Chanyeol feliz. Era seu principal objetivo, afinal de contas, continuassem juntos após o amanhecer ou não.
“Não tem que me agradecer por nada”, Baekhyun respondeu depois de algum tempo. “Sou um homem de objetivos muito simples. A sua felicidade, a nossa, sempre foi um deles.”
Chanyeol assentiu quietinho, remexendo-se onde estava para que pudesse se aproximar um pouco mais do marido, usando de seu peito como travesseiro. Baekhyun nem mesmo se mexeu com a aproximação repentina, estranhando o início de contato vindo de Chanyeol, mas tomando aquele gesto como uma resposta positiva. As coisas estavam dando certo. As coisas finalmente estavam dando certo.
“Sempre gostei de pensar nas estrelas como seres que nos assistem a todo momento, mesmo quando não estão visíveis”, Chanyeol comentou. “Sabe? Como se cada um desses pontinhos tivesse um pouco da gente guardado neles, como uma memória que nunca vai morrer.”
“Mesmo as memórias ruins?”, Baekhyun perguntou.
“Até mesmo elas”, Chanyeol concordou. “Por muito tempo, acreditei que nós só seríamos felizes se conseguíssemos manter acesa a mesma faísca que nos colocou em combustão quando éramos mais jovens. Quando percebi o seu distanciamento, vez por outra, com a rotina do trabalho nos impedindo de manter algumas tradições que construímos, pensei que nós estávamos perdendo o que prometemos manter.”
“Eu sinto muito por isso”, Baekhyun respondeu baixinho. E de fato sentia. “Se eu pudesse voltar no tempo, eu…”
“Não, isso me fez perceber uma coisa que eu não tinha entendido até então”, Chanyeol o interrompeu. “Acho que eu ainda mantinha uma visão muito juvenil sobre o amor, sobre paixão. Não é sobre queimar até arder, sobre estar em combustão a todo momento para sentir que está vivo.”
Baekhyun não tinha certeza de para onde Chanyeol estava guiando essa conversa, mas permitiu que o marido continuasse. Um pouco receoso, ergueu o braço livre para alcançar os cabelos do mais novo, deixando um carinho gentil e suave nas madeixas. Chanyeol não reclamou, nem mesmo desviou o olhar das estrelas, então Baekhyun sentiu como se fosse a permissão que precisava.
“Não é sobre queimar, mas sobre ter o calor como um guia para qual caminho tomar”, Chanyeol voltou a falar. “É sobre se sentir em casa, em qualquer lugar que esteja. E por algum tempo, acho que nós dois nos perdemos do caminho de casa.”
“Mas não ficamos perdidos para sempre, não é?”, Baekhyun tentou. “Sempre há uma luz para nos guiar.”
“As estrelas estão sempre lá”, Chanyeol concordou. “Cada pontinho de luz está sempre lá para nos fazer perceber onde foi que nos perdemos.”
Chanyeol ergueu o olhar e prendeu o seu ao de Baekhyun por alguns segundos, se perdendo na imensidão escura que brilhava mais do que uma supernova sempre que o olhava. Baekhyun não ousou quebrar o contato visual, esperando qual seria o próximo movimento de Chanyeol. Sabia muito bem que seu marido conseguia ouvir as batidas de seu coração cada vez mais frenéticas e, sinceramente, nem mesmo conseguia se importar com isso.
Que Chanyeol ouvisse. Que Chanyeol finalmente entendesse…
A aproximação do mais novo aconteceu como se fosse em câmera lenta, ao mesmo tempo em que pareceu terminar em um piscar de olhos. Os lábios de Chanyeol cobriram os seus em um beijo suave, gentil, carinhoso, quase como se temesse estragar alguma coisa se desse um passo a mais. Baekhyun fechou os olhos, pressionando seus lábios contra os de seu marido, incapaz de conter o sorriso que se desenhava.
Beijar Chanyeol sempre fez com que seu peito explodisse em diversas novas constelações, todas elas com um pedacinho do homem ao seu lado e instaladas em seu coração como se não houvesse lugar melhor para estar. Dessa vez, mais do que em qualquer outro momento, não fora diferente.
Chanyeol se afastou um pouquinho, ainda mantendo os olhos presos aos de seu marido, um sorriso pequeno presente no rosto. Baekhyun também sorriu, mesmo que não soubesse o que deveria falar agora.
“Eu senti saudades de casa”, Chanyeol sussurrou, “então obrigado por tudo isso.”
O Park não esperou por uma resposta, talvez nem mesmo aguardasse por uma reação sua com tudo que havia dito até então. Quem sabe Chanyeol só precisasse tirar aquilo de seu peito e Baekhyun permitiu; deixou que voltasse a se deitar contra seu peito e ouviu o suspiro tranquilo, o fechar de seus olhos e o sorriso que permaneceu mesmo quando o barulho das ondas lentamente trouxe o sono consigo.
Talvez tenham se passado dez, vinte, trinta minutos. Uma hora por inteiro e Baekhyun não saberia, não quando tinha Chanyeol dentro de seu abraço, respirando contra seu pescoço e com todas as suas palavras ecoando na cabeça do mais velho. Senti saudades de casa.
Baekhyun também sentia.
“Obrigado por ainda me considerar o seu lar”, Baekhyun comentou baixinho. “Não sei como fui capaz de deixar as coisas chegarem ao ponto em que eu perdi o meu lar, mas é suficiente para mim que você ainda encontre em mim um lugar para descansar. Eu te amo, Chanyeol. Eu também sinto saudades de casa.”
O homem em seu peito se remexeu um pouquinho, deixando-o atento caso o tenha acordado ou não. Contudo, tão breve quanto o primeiro movimento, sua respiração voltou ao compasso tranquilo. Chanyeol não o tinha ouvido — fosse isso bom ou ruim.
Não esperava que Chanyeol ouvisse o que havia acabado de dizer, não quando tinha quase certeza de que o rapaz havia cochilado em seus braços. Ainda assim, se a teoria de Chanyeol estava certa, alguns pontinhos de luz no céu gravariam aquela memória da história de ambos, e, em algum lugar no céu, suas palavras mais sinceras estariam direcionadas a seu marido.
Em algum lugar muito distante naquele céu infinito, Baekhyun esperava que Chanyeol um dia ouvisse as palavras que deixou jogadas ao vento.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.