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História Refulgente (Amor de Babá) - Parte XI


Escrita por: Escritora6523 e AnaCCohen

Notas do Autor


Olá, como vão todos? Como prometido mais um capítulo. Tem mais um até o fim do mês!
Boa leitura!

Capítulo 12 - Parte XI


Abri os olhos e, por um momento, não sabia onde estava. O despertador tocava, eram seis horas da manhã. Olhei ao redor e estranhei, espiando pela fresta da janela onde a luz fraca da manhã entrava. Ali não havia a vista de árvores e o campo que eu tanto amava, não, tudo o que pude ver foram prédios altos e o barulho de carros passando do lado de fora. Desliguei aquele barulho irritante, cocei os olhos e só assim pude me lembrar. 

Era verdade, eu disse a mim mesmo. Eu não estava em casa. Fazia uma semana desde que eu tinha feito as malas e saído de fininho sem que ninguém me visse, bem na calada da noite. Eu ainda não tinha me acostumado. Era o silêncio de vozes e ao mesmo tempo, o barulho interminável de carros, as noites aconchegantes e o apoio dos meus amigos, a compreensão que antes eu não sabia que merecia. Era libertador decidir o que eu faria sem precisar ficar olhando para o lado com medo de decepcionar alguém. Assim, apenas me restou levantar da cama e enfrentar mais um dia. Tomei banho, escovei os dentes e coloquei a primeira roupa que encontrei. Eu mal vi por onde ia, deixando que meus pés me levassem.

Parei um momento em frente a mesa e entrei na cozinha, encarei o copo em minhas mãos, a água dentro dele se movendo enquanto eu o remexia devagar. Eu me sentia estranhamente vazio; nem triste, nem irritado e tão pouco feliz. Era uma ausência de emoções que apenas me deixava aliviado. 

Devia ser o novo medicamento, ou talvez tenha sido a explosão na noite anterior. Eu me sentia calmo. Eu não poderia agradecer o suficiente por ter Thalia e Jason na minha vida. Eles haviam ficado mais um tempo comigo e se sentando ao meu lado no chão da sala. Eles me abraçaram bem apertado até que minha respiração voltasse ao normal e eu tivesse me acalmado, ainda olhando perdido para as minhas próprias mãos. Eu não sabia o que tinha de tão importante que me fazia olhar tanto para elas ou porque Jason e Thalia ainda não estavam em seus próprios quartos. Eu os questionei, me sentindo leve e confortável, mesmo que eu estivesse sentado naquele chão de madeira, duro e gelado. Os irmãos olharam um para o outro e pelo canto do olho vi Thalia dando de ombros. Eles não me responderam, apenas se levantaram, me levando junto e caminharam comigo até o meu quarto, me fazendo sentar na cama e deitar logo em seguida, Jason me cobrindo do queixo até os pés com o edredom. Eu me lembro de ter suspirado e fechado os olhos, com eles ainda me olhando, me observando com preocupação. 

Foi assim que peguei no sono, com a presença deles e o barulho da porta se fechando quando eu enfim perdi a consciência. Mas agora… agora--

— Nico, como você se sente?

Ah, era Jason. Ele costumava sair mais tarde do que eu. Nesse horário ele ainda estaria dormindo, aproveitando cada segundo a mais de sono que pudesse arrancar. Mas não hoje. Hoje Jason já estava de pé, vestindo a mesma calça da noite anterior e uma camiseta de uma banda de rock. Ele me estendia um copo de café puro sem açúcar, exatamente como eu gostava de tomar de manhã cedo.

— Hm? — Perguntei, aceitando a caneca fumegante. Coloquei o copo de água em cima da bancada e inspirei o aroma de café, recém-moído e coado, dando um grande gole, nem percebendo quando minha língua se queimou.

— Você dormiu bem? — Ele repetiu.

Eu apenas sorri, quase me sentindo acordado, aquecido por sua preocupação. Esse era Jason, um psiquiatra em tempo integral, porém ainda em formação. Se eu o conhecesse bem, poderia dizer que Jason seria um ótimo profissional. Ele se importava mais do que deveria.

— Sim, obrigado. E sim, eu estou bem. Já tomei meu remédio. E não, não sinto sintomas de um ataque de pânico ou falta de ar. — Eu disse e tomei mais um gole do meu café, dessa vez tomando cuidado para não queimar a língua. Já Jason, ele fez uma careta e parou em frente a mim, cruzando os braços.

— Eu me preocupo. Não quero que--

— Jason, você sabe que eu te amo. Mas não precisa se preocupar. — Eu sorri para ele de novo e tomei o resto do meu café, o vendo corar. Fazia pouco tempo que a gente tinha retomado contato, mas eu não me lembro dele ser tão charmoso e bonito, meio desajeitado também. Acho que eu estava passando muito tempo com Percy, porém esse tipo de abordagem tinha suas vantagens. Jason gaguejou e corou mais, levantando as mãos e apontando para mim, suas palavras se cortando e não chegando a lugar nenhum.

— De verdade. Acho que eu precisava desabafar, sabe? Está tudo bem.

— Nico, a forma que você agiu antes… tão agressivo… não pareceu normal.

— Quer saber? Eu acho que foi ótimo! Eu nunca me senti tão livre, como se nada pudesse me parar.

— Eu sei disso, sei o quanto é difícil para você se expressar. Quero que você saiba que sempre que você quiser, pode falar comigo.

— Jason, você é meu melhor amigo. Eu estou morando na sua casa! É claro que eu sei que posso contar com você. Mas tem coisas que eu preciso fazer sozinho.

— Eu sei disso. — Ele voltou a repetir, dando a volta na mesa e me encarando de perto, seus brilhantes olhos azuis me encarando seriamente. — É que… você parece tão pequeno, tão vulnerável que parece que você vai quebrar com a menor das pancadas.

— Jason--

— Eu sei que você não é indefeso, você mostrou isso ontem. Você me mostra isso a cada dia que passa. Quero que você saiba que estamos aqui, eu, Thalia, Luke e Frank. Estamos aqui se você precisar. Até quando você vai levar sozinho o peso do mundo nas costas?

Eu bufei e o empurrei levemente pelos ombros.

— Não seja tão dramático. Eu pedi ajuda, não pedi? Então, porque todo esse drama?

— Percy… nunca vi você reagir assim por causa de alguém. Com tanta… paixão.

— Paixão? Então você acha que estou apaixonado? Que vou fazer loucuras? — Eu revirei os olhos e dei as costas para ele, indo atrás da minha mochila. — Eu já saí de casa. O que mais eu poderia fazer?

— Algo que vai colocar você e Percy em confusão.

Ah, depois eu que era o inocente. Já era muito tarde para pensar nisso e era Jason que não via a realidade. 

Eu acenei para Jason, observando sua careta contrariada e peguei minha bolsa. Era melhor que Jason não soubesse disso. Quanto menos pessoas percebessem, melhor.

***

— Bia, eu estou bem. Um dia desses a gente se vê.

— Niccolas Di Ângelo! Hazel precisou ir atrás de você para sabermos notícias suas! O que vai precisar acontecer para você aparecer? Alguém sofrer um acidente? — Bianca praticamente berrou do outro lado da linha. — Você até mudou o número do seu celular!

— Tudo bem, tudo bem! Eu assumo, eu precisava de um tempo, tá? Prometo que vou visitar.

— Você promete?

— Eu prometo.

— Quando?

— Errr… logo?

— Nico!

— Eu acho… no fim de semana? A gente pode se encontrar em algum lugar.

— Ah. — Ela me disse, e do outro lado da linha, pude ouvir sua voz murchando. — Eu pensei… certo. Você me liga? Papai está me chamando.

— Eu ligo.

— Se lembre, você prometeu.

A linha caiu e eu olhei para o celular, me trazendo um sorriso ao rosto. Eu confesso, eu estava sendo infantil, o mais egoísta de todos, mesquinho, até. Ver Hazel e agora Bianca procurando por mim era tudo o que eu precisava; era tudo o que nunca pensei que elas fariam. Eu quase não conseguia acreditar que eu importava ao ponto delas pararem que o estivessem fazendo para falar comigo. Só faltava Hades aparecer na minha porta.

Sentindo o peito aquecido, tirei o cartão magnético da bolsa e quando estava a ponto de destrancar a fechadura, alguém segurou meu braço, me puxando para debaixo de uma árvore ali perto.

— Niccolas. — Alguém sussurrou, finalmente me permitindo ver quem era essa pessoa tão rude que tinha me puxado com tanta força.

— De novo, não! — Eu resmunguei de angústia. Claro que era Will aparecendo na minha frente, ainda mais alto e musculoso que antes, seus olhos brilhantes faziam meu estômago se revirar de repulsa. Talvez fosse raiva ou ansiedade, ou talvez fossem todas essas coisas misturadas.

— Eu senti sua falta, baixinho. — Senti mãos se enrolarem em volta de mim e dei um passo para trás, evitando seu abraço.

— Will, eu fui bem claro com você.

— Me evitando e fugindo de mim? Eu acho que não.

— William Solace!

— O quê? — Ele olhou para mim, finalmente parecendo prestar atenção.

— Não há mais nada entre nós.

— O que é isso? Você vai jogar todos esses anos fora por causa de sexo? De uma tara? Eu não me importo, agora que você teve sua diversão a gente pode ir ao que interessa.

— Will, eu--

— Olha, eu sei como é isso. Todo homem tem a necessidade de experimentar coisas novas, eu não te culpo. Mas o que a gente tem? É pra sempre.

Eu estava chocado, boquiaberto, atônito, abismado. Will estava confessando que tinha me traído, bem na minha cara?

— Will, vou falar com todas as palavras: Nós estamos terminando. Já terminamos. Isso entre nós já não é possível. Deu pra entender?

— Ah, vamos lá! É por causa disso que você está bravo? Por causa de uma foda? Eles não são importantes.

— Eles? Eles? Você tem noção do que está dizendo? — Parei por um momento e respirei fundo. — Will, você me traiu. Você entende? Olha, eu estou muito cansado. Até nunca mais.

Eu me virei para ir embora, mas, de novo, Will me segurou pelo braço, dessa vez me prendendo contra a árvore.

— É assim que você me retribui por todos esses anos? Tudo o que eu fiz por você e sua família?

— Eu não pedi que você fizesse. — Respondi. Mas Will estava certo, eu não disse nada e não fiz nada para evitar todo o dinheiro que a família Solace investiu nos negócios de Hades, mesmo assim… eu me negava… me negava a me sentir mal por isso!

— Sua vad--

Foi a vez de Will respirar fundo e se acalmar. Quando ele voltou a falar, Will tinha um sorriso colado no rosto. 

— Olha, sei que você está confuso. Foram tantas mudanças, não? Eu posso esperar, dar o tempo que você tanto precisa.

— Will, eu sei de você e Lou. Sei que vocês estavam juntos antes mesmo de você me conhecer. Como você pode fazer isso comigo? Com ele? Você não se importa nem um pouco?

— Ele é só meu amigo, baixinho. Você é o único para mim.

— Você-- você não tem jeito! Se eu for na sua casa agora, ele vai estar na sua cama? Ainda dormindo? Ou quem sabe no sofá, lugar que vocês tanto gostam, hm?

— Você… você viu?

— É claro que eu vi! Eu teria que ser um cego para não ver! Agora, se você me dá licença…

— Nico, por favor. Eu te amo. Eu prometo que--

— Eu já te dei todas as chances e você continua fazendo as mesmas coisas!

— Se você sabia, porque só agora… ah! É por causa daquele Percy? Você acha que agora tem mais opções? Que ele vai ficar com você? Alguém inútil que não serve para nada? — Foi então que o sorriso de Will voltou com tudo, covinhas e dentes brancos, fazendo meu estômago se revirar ainda mais. — Não seja ridículo. Alguém como ele nunca ficaria com você. Aposto que ele te fode do jeito que você nunca me deixou, não é? Ele te satisfaz? Diz o que você quer ouvir? Você não tem vergonha? Um homem da idade dele brincando de casinha com você?

Will balançou a cabeça e se aproximou mais.

— Seria horrível se a polícia fosse envolvida. O que aconteceria se as pessoas soubessem que o famoso Percy Jackson fode garotinhos menores de idade?

— Você… você não tem como provar.

— É verdade, mas imagina a reação das pessoas ao saber das acusações?

— Eu… eu preciso de um tempo para pensar.

— Oh, é claro que você precisa, querido. Todo o tempo que você quiser. Enquanto você pensa, que tal a gente ir no cinema? Essa sexta?

— Eu saio tarde do trabalho.

— Sei que você pode fazer um esforcinho. Te pego aqui as sete, tudo bem?

Will sorri mais uma vez para mim e se abaixa até estar na minha altura, se aproximando mais e mais e eu… eu não conseguia fazer isso; virei o rosto bem na hora que seus lábios tocariam os meus, beijando meu rosto.

— Está tudo bem, baixinho. Eu posso esperar.

Will tocou nos meus cabelos, os afagando amorosamente e se afastou, permitindo que eu visse algo que embrulhou meu estômago ainda mais. Percy estava ali, observando tudo, bem mais perto do que eu me sentia confortável. 

***

— Ah, Percy Jackson! Eu não te vi aí. Você esperou muito tempo? Vim trazer Nico no trabalho.

Não! Eu queria gritar, eu nunca faria isso. Mas Will ainda estava ali e a ameaça tinha sido bem clara. Deixei que Will me guiasse pelo ombro e me colocasse em frente a Percy. E eu… eu engoli em seco, eu nunca tinha visto Percy daquela forma; ele não estava irritado ou bravo como eu imaginava, não, era uma ausência de expressão tão neutra que me… que me fazia temer.

— Nico, você está atrasado. — Percy estressou cada palavra perfeitamente, seu peito estufado e respiração profunda e lenta. Talvez… ah… talvez no fim temer não fosse o sentimento certo.

Pigarreei, limpando a garganta e andei o resto dos passos até ele, me sentindo pequeno e tímido como há muito eu não me sentia.

— Levante a cabeça. — Percy me disse, e eu me vi obedecendo sem hesitar. — Ethan me chamou. Ele pensou que você precisava de ajuda.

Eu engoli em seco pela segunda vez naquela manhã. Eu estava errado, não havia uma ausência e sim um excesso, um excesso controlado de tudo o que Percy nem tentava esconder. Percy olhava apenas para mim, seus olhos quentes e tempestuosos fincados nos meus, fazendo eu me remexer de ansiedade.

Ah, porque isso era tão difícil? Eu sentia… sentia que se ele mandasse, naquele momento eu faria qualquer coisa.

— Eu…

— Você precisa de ajuda, Nico? — Percy voltou a insistir e eu não consegui mentir. Meramente acenei, deixando o ar sair devagar.

Percy ofereceu a mão para mim e eu aceitei, suas mãos grandes cobrindo a minha, me guiando até o carro estacionado do lado de dentro dos grandes portões de ferro maciço, ignorando completamente Will que continuava nos observando.

— Ei, você não pode fazer isso! Nico e eu--

Mas eu não estava ouvindo o que Will dizia, eu me concentrei na mão de Percy sobre a minha e na sensação que esse toque inocente me causava.

Quando chegamos ao carro eu apenas… eu apenas deixei que Percy me segurasse pela cintura e levantasse, me ajudando a sentar no acento do carona, permitindo que ele colocasse meu cinto de segurança. Percy bateu a porta e deu a volta no carro, arrancando assim que se sentou ao meu lado, suas mãos grandes apertando o volante com mais força do que o necessário. E o silêncio. Se antes o som da voz de Will revirava meu estômago, o silêncio de Percy me dava ânsia, me fazia querer saltar do carro em movimento só para não ter que enfrentar sua reprovação.

— Eu… — Tentei quebrar o gelo. — Ele não fez nada. Will queria conversar.

— Hm.

— Ele não me beijou nem nada…

— Hm.

— Will, ele queria--

— Chega. — Percy enfim disse, sua voz baixa e grave, mas que no silêncio do carro soava como se Percy estivesse gritando. — Você não tem que se explicar para mim.

— Ele--

— É o suficiente, Nico.

Eu vacilei, me encolhendo contra o acento do carro, a sensação indo direto ao meu estômago como se ele tivesse me dado um soco. Percy nunca tinha falado assim comigo, tão frio, tão rígido, tão… dominador. Ele parecia ocupar todo o espaço e me apertar contra o banco do carro apenas com sua voz e era como se ele esperasse ser obedecido, esperando nada mais ou nada menos do que isso. Eu sentia como se tivesse cometido um erro, feito um garotinho mal criado que merecia ser castigado. E o pior de tudo, eu me sentia estranho, como se talvez eu realmente merecesse isso.

E sabe o que era mais estranho ainda? Era que Percy não estava me ignorando, como Will costumava fazer quando nos brigávamos ou como Hades fazia quando estava irritado. Não, Percy ainda olhava de tempos em tempos para mim pelo retrovisor e outras vezes, virando a cabeça, me encarando fixamente para voltar sua atenção a estrada. Eu só queria… só queria esconder meu rosto e chorar feito o garotinho indefeso que todos diziam que eu era.

***

O resto da manhã passou como uma tortura lenta e desconfortável, porém, indolor. Esperei as crianças terminarem de comer, levei elas para a escola e quando eu voltei, Percy estava ali, na sala onde eu costumava ficar pela maioria do tempo. Ele se sentava no sofá bem em frente onde eu sempre me sentava – no chão em frente a mesinha de centro – onde eu passaria horas estudando até que o almoço estivesse pronto.

Eu parei por um momento na entrada da sala de estar e respirei fundo quando o vi ali. Me forcei a dar os poucos passos e peguei meus livros, os colocando em uma pilha organizada em cima da mesa e tirei meu caderno e canetas em seguida. Percy apenas me encarou por alguns segundos, voltando a sua leitura, parecendo menos… rígido.

— Você já comeu? Não te vi colocar nada na boca.

Certo, comida… abaixei a cabeça, fingindo pegar algo na mochila e me senti corando. Não era minha culpa, quando ele falava comigo daquela forma, todo rouco, grave e tão sério me fazia imaginar… o que mais eu podia colocar na boca…

Não! O que eu estava fazendo? Dei um pulo e levantei a cabeça, ele estava me observando, nada de seu olhar divertido ou sorriso no rosto. Ele deveria apenas querer a resposta, certo? Então, porque… Ah! Eu não aguentava mais! Eu coloquei os braços em cima da mesinha de centro e escondi o rosto neles, parecia que eu ia derreter de mortificação a qualquer momento! Como um olhar e dez palavras podiam fazer isso comigo? Talvez Will estivesse certo e eu só quisesse…

— Nico, respire fundo. — Ele tocou no meu braço, suas mãos indo para meus cabelos, os acariciando devagar. Só que dessa vez aquele toque inocente só serviu para me deixar ainda mais nervoso, no limite do que poderia aguentar. Eu gemi, encabulado e irritado.

— Então para de olhar assim pra mim! — Eu praticamente gritei, acho que eu estava choramingando também, ainda com o rosto escondido.

— Tudo bem. — Ele disse, sua voz se suavizando. — Olhe para mim, sim?

Eu obedeci. Não havia nada que eu não faria por ele. E se com sua voz grave eu não conseguia negá-lo, com aquela voz suave que acariciava meus sentidos eu faria muito mais.

— Eu… eu sinto muito. — Murmurei fracamente. — Não fique bravo comigo.

— Pronto, está tudo bem. — Ele continuava falando e tocando nos meus cabelos, suas mãos deslizando para minha nuca, se fincando ali, me impedindo de fazer qualquer coisa que não fosse prestar atenção nele. Mas Percy não sorria, ainda todo sério. Ele estava ajoelhado ao meu lado, seu olhar na altura do meu. Porém, o que ele me disse em seguida fez minha respiração parar. — Tenho que pedir desculpas. Eu não tenho o direito de agir assim.

— Agir como?

— Eu estava com ciúmes. — Percy disse sem rodeios, aquele tom de voz grave voltando, seus olhos capturando os meus, fazendo eu me aproximar dele sem nem perceber. — Eu sou um homem muito ciumento, eu não gosto de outras pessoas tocando no que é meu.

Eu pisquei e respirei fundo, olhando em seus olhos. Ele não parecia estar brincando, porque, de fato, eu nunca o havia visto tão sério. Eu era dele? Eu era? Eu não sabia mais o que eu estava fazendo ou pensando.

— Eu… — Eu não pensei ou hesitei, me joguei no colo dele e o abracei bem apertado pelo pescoço.

Eu estava fazendo isso, eu estava mesmo sentado no colo dele e eu não ligava, eu precisava disso, precisava ter certeza que ele não iria embora sem me deixar explicar. Então, enrolei minhas pernas em volta dele e baixinho para não quebrar o clima, comecei a sussurrar no ouvido dele: — Will queria voltar comigo. Ele disse que você só queria brincar, que você nunca… nunca ficaria comigo. Que eu só… ele disse que vai falar com a polícia… eu não sabia o que fazer. Ele não me beijou, eu juro… eu nunca--

— Shh… está tudo bem. Eu acredito em você. Não se preocupe com isso. — Então, finalmente os braços de Percy me seguraram com força pela cintura e ele me abraçou, só assim eu soube que estava perdoado. Seus lábios que sussurravam no meu ouvido tão baixinho quanto eu tinha feito deslizaram pelo meu rosto, roçando contra minha pele, parando no topo da minha cabeça, me fazendo suspirar e fechar os olhos, me sentindo acolhido e aquecido por dentro. Eu queria que Will fizesse com que eu me sentisse dessa forma ou até Jason, serviria qualquer outro garoto que eu tivesse conhecido que não fosse Percy. As coisas seriam tão mais fáceis e eu nunca mais teria que me sentir culpado por sentir isso, como se eu estivesse fazendo algo errado a cada vez que Percy me oferecia o que eu tanto precisava.

Mas não importava. Apenas dessa vez, eu me deixaria ser embalado e tocado dessa forma suave e afetuosa, talvez quando tudo isso acabasse não pareceria tão condenável.

***

Respirei fundo e entrei com as crianças na casa. Desde aquele incidente com Will as coisas pareciam… estar se esquentando e se acalmando ao mesmo tempo, se ajeitando conforme os dias passavam. Eu não sabia explicar, era como se eu estivesse dentro de uma panela de pressão e com o menor toque tudo pudesse ir aos ares. Eu podia jurar, algo no olhar e na atitude de Percy tinha mudado, os sorrisos retornaram, mas a intensidade nele apenas aumentava, cozinhando e cozinhando a cada dia que passava até que… bem, a comida estivesse pronta. 

E como de costume, Percy Jackson se mostrava ser a pessoa mais gentil e cavalheiresca que eu já tinha encontrado na vida. Mesmo que eu tivesse a chave da casa, Percy sempre estava acordado para me receber. Tomávamos café da manhã com as crianças, ele dava um beijo de despedida nelas e sempre tinha um afago para mim, suave e discreto, mas que me fazia amolecer todas as vezes. Se não eram suas mãos deslizando pelo meu cabelo quando ele passava pela sala ou se levantava da mesa, era aquele pequeno toque nos ombros que costumavam seguir para minha nuca, mas eram sua voz suave e rouca, toda macia e os olhares atentos, sempre prestando atenção nos mínimos detalhes que realmente me enlouqueciam. 

Naquele dia não foi diferente, Percy tinha limpado a boca, se levantando e sorrindo para mim quando observei em câmera lenta, ele deu a volta na mesa, se despedindo das crianças e então eu senti, suas grandes mãos acariciaram meus cabelos de passagem, ele se afastando, subindo as escadas para o segundo andar, como se nada estivesse acontecendo. Eu não pude evitar de seguir sua figura desaparecendo pelas escadas, o cheiro de Percy já estava impregnado nos meus sentidos, reunindo tudo o que eu gostava no mundo; café preto bem forte, livos, um perfume amadeirado e hortelã, me fazia lembrar da nossa casa na Itália onde havia uma plantação de hortelã e café bem ao lado da nossa propriedade.

Olhei para as crianças, tentando ver se elas tinham percebido alguma coisa e suspirei aliviado. Elas olhavam de volta para mim, inocentes e bem-comportadas, como se esperassem por algo.

— Certo. — Eu disse, confuso. Olhei mais uma vez para trás como se pudesse enxergar entre as paredes e deixei o ar sair. Aquilo não significava nada. Nada de nada.

Me levantei, as crianças me seguindo e assim saímos de casa, em direção ao carro que Percy havia comprado para as crianças. Agora, já era hora do jantar, era ridículo pensar nisso enquanto as crianças estavam bem ali, comendo e falando alegremente com Percy, e Percy respondendo e prestando atenção, era eu quem não tinha comido muito, brincando com a comida e fantasiando com o homem que deveria apenas ser meu chefe. Era melhor não pensar em coisas que estavam foram do meu alcance.

— Nico, você quer que o cozinheiro prepare outra coisa? Você não tocou no prato. Isso acontece a dias. — Claro que era Percy quem falava, sempre atento a tudo e a todos, ou melhor, seu complexo de controle falando alto mais uma vez mais.

— Não estou com fome. — Eu disse, mantendo meu olhar na comida, só de olhar para Percy eu me sentia culpado. E quente.

Sério, como eu podia ser tão patético assim? Como? Até as crianças começavam a perceber.

— É a sua ansiedade? — Alice perguntou toda preocupada.

— Hm. — Eu afirmei, o que era uma completa mentira. Ansiedade não era o que eu chamaria aquela vontade.

 É, eu finalmente tinha passado do ponto.

— Você tomou seu remédio? — Percy questionou e eu enfim olhei para ele.

Foi um erro, ele tinha um sorriso no rosto, mas era aquele tipo de sorriso. Percy sabia exatamente o que acontecia comigo. Será que seria muito ruim se eu dissesse que meu remédio era ele? Eu odiava quando ele me olhava assim, todo satisfeito e no controle. Porque, na verdade, eu não odiava nenhum pouco. Assim, me sujeitei a apenas suspirar, enfiando uma garfada na boca de uma comida qualquer que eu nem sentia o gosto, me conformando com meu destino.

***

Foi em um dia qualquer que finalmente minha panela estourou. Eu estava ali, cuidando da minha vida e estudando, para variar, quando braços fortes rodearam minha cintura por trás e a cabeça de Percy repousou sobre o meu ombro, suas mãos apoiadas contra meu abdômen me fazendo gemer, surpreso. Mas aquele não tinha sido um grito de susto, não, foi gemido agudo e necessitado que faria até Luke, a pessoa mais pervertida que eu já tinha conhecido, corar.

— Ora, ora. Você precisa de ajuda com isso?

Eu arfei, eu curvei a coluna e paralisei, chocado com a minha reação quando percebi o que acontecia. Eu estava… hmm… ereto? Por causa de um abraço? Quantos anos eu tinha? Isso não podia continuar, assim eu não sobreviveria.

— Nico? — Percy perguntou com aquela voz afável dele ainda me abraçando por trás, suas mãos acariciando minha barriga por cima do tecido da minha camiseta. Mas não dessa vez, porque eu sei o que ele estava tentando fazer; o humilhante é que ele estava conseguindo.

— Percy, eu preciso que você pare.

— Você precisa? — Agora a voz dele soava brincalhona, mas ele não me enganava.

— Eu quero que você pare.

Percy me soltou e eu me virei em direção a ele, sentindo a garganta apertar. Porque parecia que eu estava terminando com outra pessoa em menos de um mês? Talvez porque eu estivesse. Eu não podia prejudicar o meu futuro e o dele em algo que eu sabia que cedo ou tarde acabaria. Assim, eu inspirei bem fundo, deixei o ar sair e abri a boca:

— Per--

— Eu sei o que você vai falar. Você não precisa me dizer nada.

— Não, você não entende.

— Sim, eu entendo. Você quer que eu pare.

Eu o encarei e ele me encarou de volta, seus olhos faiscando. Era como se ele já estivesse esperando por isso, a rejeição. Ele nem parecia triste ou decepcionado, apenas parecia aceitar as coisas como elas eram, conformado.

— Eu te amo. — Pronto, eu disse. — Eu te amo. — Eu repeti.

— Você me ama? — Ele disse, descrente, um sorriso lento se formando em seus lábios.

— É por esse motivo que isso tem que acabar. Se fosse outra pessoa, eu me aproveitaria de você e te ameaçaria por dinheiro. Eu não posso fazer isso. Eu não dormiria bem sabendo que eu fui a razão da sua ruína.

— Nico! — Percy riu, riu tão feliz e segurou na minha mão, seus olhos brilhando de felicidade. — Não seja tão dramático.

— Não, eu não aguento mais! Eu vou embora agora mesmo e--

— Se acalme, sim? — Então, Percy se aproximou mais e seu rosto se virou na minha direção, seu hálito quente contra minha boca e suas mãos me puxando pela nuca, seus lábios estavam tão perto dos meus e… eu coloquei minha mão no meio, impedindo seu avançar.

— Eu não posso! Isso é errado. É tão errado!

— Se você me ama e eu te amo, não é errado, querido. É apenas a natureza humana. Hmm? — Percy se inclinou para perto de mim mais uma vez e a única solução que encontrei foi me levantar, fugindo dele.

— Percy, não! — Dei a volta ao redor do sofá e tentei colocar alguma distância entre nós dois.

— Percy, sim. — Ele sussurrou, se levantando também.

Eu juro, me sentia em uma comédia romântica ou talvez no começo de um pornô bem clichê.

Percy se lançou em direção a mim e me pegou pela cintura antes que eu pudesse fugir mais uma vez. Ele me segurou pelo pescoço, puxando minha cabeça para trás e então seu hálito estava contra meu rosto mais uma vez, a meros milímetros de distância.

— Quero me demitir. — Dessa vez não tentei fugir e fechei os olhos, esperando pelo pior.

O beijo nunca veio, o que veio foi um resmungo decepcionado.

— Você está falando sério.

— Eu estou.

— Nico, você vai deixar que essas pessoas digam como você deve viver?

— Isso não é sobre elas, é sobre se vou conseguir dormir com a consciência tranquila. Eu mal comecei a minha vida, você já tem uma carreira estabelecida. E se eu precisar mudar de país?

— Eu vou com você.

— E se eu não tiver tempo?

— Eu espero por você.

— E se--

— Eu faço tudo por você.

Percy parecia tão decido quando eu, mas… eu não podia fazer isso com ele, e nem comigo.

— No próximo semestre vou para a faculdade, mas até lá espero que você possa me respeitar.


Notas Finais


Muito dramático?
Vamos, me deixe um comentário. A pior coisa que pode acontecer com um escritor é o silêncio.
E claro, obrigada por ler! Sua presença aqui é muito importante^^


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