— Então… você vai ficar… comigo?
— Eu prometo. Vou estar do seu lado quando você acordar.
Percy seguiu Nico pelo corredor apertado e o acompanhou para dentro de um quarto ainda mais minusculo, onde uma cama de casal ocupava a maior parte dele, apenas tendo espaço para a tal cama, um guarda-roupa pequeno e uma mesa de computador compacta. Ele tentou não prestar muita atenção nisso, o importante ali era como Nico se arrasou pelo quarto, tirando os sapatos enquanto ia, se deixando cair na cama feito um saco de batatas pobre, se remexendo até conseguir tirar suas calças. A jaqueta veio em seguida, junto a uma camiseta de malha escura. Quando Nico se deu por satisfeito ele estava apenas de cueca, se esgueirando pela cama até cair com a cabeça no travesseiro, suspirando contente.
Não era sempre que as pessoas se sentiam tão confortáveis para tirar a roupa na frente dele. E normalmente Percy se aproveitaria do momento, mas Nico parecia tão cansado e abatido, ainda com os olhos inchados, que ele apenas ficou ali, parado, e meio em choque, observando Nico piscar devagar para ele e entrar debaixo das cobertas.
Se fosse décadas atrás e se ele ainda estivesse envolvido no mundo dos fetiches, Percy diria que Nico estava em uma onda de endorfinas boas, o tão famoso sub high; era difícil definir de qualquer outra forma. A felicidade histérica, o cansaço, a obediência cega, principalmente o contentamento e inibição. Ele se perguntava o que poderia ter acontecido antes dele aparecer para que um beijinho inocente e alguns abraços pudesse se tornar tão intenso. Ele não precisava ser um gênio para saber que algo de muito errado estava acontecendo com Nico. Como é que ninguém tinha o avisado disso? E porque Jason precisaria passar a noite acalmando Nico?
— Vamos, está na hora de dormir. — Percy disse. Ele se aproximou da cama e terminou de cobrir Nico. Era como se ele tivesse voltado ao passado, só que de uma forma desconfortável; Annabeth nunca estava em casa, então ele era o responsável por dar boa noite as crianças e se certificar de que elas estariam dormindo como deveriam.
— Você… você ficar mesmo? — Nico falou, sua voz saindo baixinha e tímida, tão lenta que chegava a ser espaçada. Seus olhos acompanhavam sua voz, lutando para permanecer abertos, se fechando para se abrir cada vez mais preguiçosos.
Dessa vez, ele não hesitou. Percy se ajoelhou na cama e se encostou ao lado de Nico, ele levou suas mãos ao rosto dele e acariciou seus cabelos agora mais compridos do que quando eles se conheceram.
Percy se curvou sobre Nico e o beijou mais uma vez, um pouco mais demorado, porém, tão inocente quanto antes.
— Prometo. Você vai ter que me expulsar se quiser que eu saia.
— Então, você vai morar aqui.
Nico sorriu e piscou lento para ele, a guerra contra a consciência sendo finalmente vencida pelo cansaço. Nico bocejou, molhou os lábios e enfim deixou que seus olhos se fechassem. E Percy? Ele respirou aliviado. Não porque quisesse se livrar de Nico e sim porque ele precisava descobrir o que estava acontecendo.
Ele se levantou da cama e pegou seu celular da jaqueta do terno, discando o número da primeira pessoa que veio a mente, a que saberia melhor o que acontecia. Ele apertou o ícone de chamada e esperou impaciente pelos toques até que Jason atendeu a ligação.
— Deu certo? — Essa é a forma que Jason o atendeu, sua voz toda descontraída e com tom de bom humor que lhe deu nos nervos; Jason não devia estar tão feliz quando Nico parecia a ponto de ter uma crise nervosa.
— Se deu certo? Jason!
— Tudo bem, não precisa gritar.
— O que você quer dizer com isso? Porque você não me contou?
— Percy, se acalme. Não é tão sério. Eu posso ter exagerado.
— Exagerado? Quanto?
— Se você quer saber, Nico não teve nenhuma crise de pânico nesses anos. Na verdade, ele lidou com tudo melhor que eu esperava.
Era isso o que Stephany, a psiquiatra de Nico, tinha lhe dito dois meses atrás. Mas bastante tempo tinha passado desde então, tempo o suficiente para algo grave acontecer. Será que Jason não via a gravidade do problema? Ele não sabia que Nico era do tipo que guardava tudo para ele e sofria em silêncio? O mais silencioso e quietamente que pudesse?
— Será que ele se afundou nos estudos e trabalhou até que não poder mais? Ele se ofereceu para fazer coisas para os outros? Nunca nega nenhum favor?
— Bem… sim. Mas isso é normal… não é?
— Você tem certeza que tirou seu diploma?
— Não precisa ofender. — Jason disse numa voz pequena e contemplativa.
— Ele ainda faz terapia? — Perguntou.
Só para ter certeza.
— Sim, com a mesma médica.
Menos mal.
— Ele tem comido bem?
— Acho que sim. Quer dizer, Nico está sempre indo de um lado para o outro. Nem sempre vejo ele comendo.
Bem que ele suspeitava.
— Eu pensei que você gostasse dele.
— Eu gosto! Mas não assim. Ele é meu amigo, eu… eu não sou adequado para namorar ninguém.
— Se você diz. — Afinal, Percy não era psicólogo de ninguém. Ele suspirou e olhou para cama, Nico ainda parecia dormir docilmente. — Eu tenho que ir. A gente se vê.
— Não, espera! — Jason disse do outro lado, apressado. — Você sabe que eu não falava sério, não? Eu nunca ficaria na frente da felicidade do Nico.
— Eu sei. Nem por um momento acreditei nisso.
Porque não fazia sentido. Se ele conhecesse alguém que gosta desde o colégio, Percy podia garantir, eles não seriam apenas amigos por muito tempo.
— Me liga depois? — Jason disse.
— É, até depois.
Percy desligou o telefone e se virou para a cama. Nico respirava calmamente, uma de suas mãos estava em cima da coberta, a outra, debaixo do travesseiro, porém, em seu rosto estava uma expressão tão feliz que era como se alguém tivesse lhe dito que todos os dias seriam natal. Nesse momento Percy soube, Nico tinha ouvido a conversa, fingindo que dormia, tentando respeitar sua privacidade. Será que Nico não sabia que ele nada tinha a esconder? Bem, ele tinha, mas não seria por telefone que Nico descobriria seus segredos.
Ele colocou o celular em cima da escrivaninha, tirou os próprios sapatos, pendurou sua jaqueta na maçaneta da porta e começou a desabotoar os botões de sua camisa, um de cada vez, deixando que ela escorregasse de seus ombros. Suas calças vieram por último e ele quase pensou em tirar a cueca. Tudo aquilo era um showzinho, é claro, um espetáculo para os doces olhos de Nico que ainda fingia dormir, agora espremidos em uma pequena careta de ansiedade. Entretanto, sua respiração o denunciava, suas bochechas rosadas o entregavam mais ainda.
Percy acabou mudando de ideia. Ele desligou as luzes do quarto, deixando que apenas o abajur iluminasse o cômodo e caminhou até a cama bem devagar, indo em direção a Nico, suas partes íntimas cobertas, sem realmente esconder nada. Não que ele estivesse tentando; parece que seu lado sádico tinha acordado.
Se sentando na cama, ele levantou as cobertas e se aproximou de Nico. Daquela distância Percy podia sentir o calor que ele emanava, quase podia ouvir seu pequeno coração disparando. Percy atravessou a última barreira e abraçou Nico, o puxando contra seu peito, entrelaçando seus braços em volta de Nico, roçando pele na pele devagar. Ele ouviu um gemidinho arfado e sorriu. Como ele não poderia? O momento que ele mais esperava tinha chegado e tudo o que ele queria fazer era… apenas abraçá-lo. Não era ridículo? Quando ele tinha se tornado tão sentimental? Tão fraco?
O que estava tudo bem, eles podiam ir devagar. Talvez quem não tivesse pronto era ele. E se acontecesse o mesmo que tinha acontecido nas outras vezes e ele decepcionasse mais uma vez? E se Nico estivesse esperando por algo quando Percy não podia oferecer nada disso?
— Per? — Nico murmurou baixinho e se mexeu, ele levantou a cabeça e olhou para Percy, todo sonolento e delicado. — Seu coração está disparando.
— Não é nada.
— Nada? — Nico fez uma carinha triste e voltou a se deitar sobre seu peito, suspirando e levando uma de suas mãos a cintura de Percy, fazendo um carinho ali e o abraçando todo aconchegante e acolhedor. — Se você quiser conversar, eu não me importo.
Percy sentia vontade de chorar e rir ao mesmo tempo. Ali estava Nico, com problemas bem maiores dos que o dele, tentando o confortar, enquanto ele que deveria ser o homem mais velho e responsável se deixava levar por emoções sem relevância.
— Hmmm. Sobre o quê?
— Quando você voltou?
— Um mês, quase dois. Acho que eu não estava pronto.
— Você não estava pronto? — Nico voltou a levantar a cabeça, o olhando de lado e parecendo confuso.
— Eu não tenho estado num bom lugar, sabe? Mental?
— Hm. — Nico acenou, indicando que escutava.
— Eu estive… avaliando as coisas.
— A gente?
— Não, você não é o problema. Eu sou.
— Eu já ouvi isso antes.
— Eles estavam certos. — Porque Nico não poderia fazer nada de errado, não na visão dele. Porém, Nico não parecia ter entendido, fazendo um biquinho magoado.
Percy teve que se corrigir rapidamente. Ele abraçou Nico com mais força e o ninou devagar.
— Eu falo sério. O jeito que eu trato as pessoas… teve um motivo para Annabeth me trair.
— Sei. — Nico murmurou, prensado contra seu peito sem tentar se soltar. Na verdade, suas mãos vieram parar ao redor do pescoço de Percy e seus lábios em seu ombro, sua voz saindo abafada.
— Eu posso ser cruel. Frio. Distante até. Eu não sou uma pessoa boa. Usava as pessoas para o que eu bem entendia.
— O que mudou? — Nico disse mais uma vez, o abraçando mais forte ainda. — Anne me disse que você não é o mesmo de antes. Esse foi o único motivo dela assinar os papéis.
— Você sabia que eu estava prestes a assumir a presidência das empresas? Eu estava esperando terminar meu doutorado e…
— E?
— Não fazia mais sentido. Eu nem sabia porque fazia aquilo.
— Oh. — Nico disse, voltando a encará-lo com surpresa.
— Na verdade, eu sabia, sim. Era pelo poder. Eu teria o controle de tudo e poderia fazer o que eu bem entendesse já que temos sessenta por cento de todas as ações da empresa. Eu queria isso, amava a sensação de estar no topo do mundo.
— Então, o que aconteceu? — Nico perguntou. Ele nem o julgava, tão compreensivo que Percy se perguntava como alguém assim podia existir.
— Você apareceu e eu me senti… solitário. Eu tinha me tornado o que eu mais desprezava, um homem engravatado, sozinho e amargurado.
— Eu sinto muito. — Nico parecia sincero, o encarando bem de perto. Era como se ele não acreditasse no que Percy dizia.
— Sabe de uma coisa? Isso nem era o pior. Eu era violento e tão centrado em mim mesmo que as crianças começavam a perceber o tipo de pessoa que o pai delas eram.
— É por isso?
— Sim, é por isso que você teve uma influência tão boa sobre eles. Eu mal percebi que eles estavam sofrendo.
— Então, naquelas vezes que você saia à noite?
— Eu estava passando meu cargo e responsabilidades para meu sucessor.
— Você… você fez tudo isso porque eu apareci?
— Sim, a culpa é toda sua.
— Percy! Você não pode colocar toda essa pressão em mim!
Percy segurou no rosto de Nico e o observou por longos momentos, apreciando o rosto moreno em angústia. Era maravilhoso saber que ele afetava a vida de Nico tanto quanto Nico afetava a sua. Felizmente, Nico não precisaria sofrer por muito tempo.
— Eu agradeço. Você não imagina o quanto me deu em troca, você me fez redescobrir outro tipo de poder. É por isso que eu te daria o mundo, dinheiro é o mínimo que eu poderia oferecer. Você só precisa me dizer que eu vou correndo te dar.
— Por favor, você pode parar com isso? Eu não quero seu dinheiro ou sua gratidão!
— Então, o que você quer, hmm?
— Eu só quero sua atenção. — O problema é que Nico disse aquilo tão baixinho que ele quase tinha perdido o sussurro. E mesmo que ele tivesse, a forma que Nico se afundou contra seu peito, se escondendo, teria sido o suficiente.
— Você quer ser o meu bebê? O meu doce gatinho? — E tão baixinho quanto Nico disse, Percy sussurrou de volta, rouco e dominante, falando contra o ouvido de Nico e o abraçando bem forte, praticamente o prensando contra a cama, deslizando suas mãos pelos ombros macios e as costas desnudas de Nico, porém, parando antes de encontrar a zona de perigo.
— Percy! — Nico choramingou, parecendo tentar se fundir a seu corpo.
— Se não responder, vou achar que você não quer. Seria uma pena.
— Percy! — Nico reclamou mais uma vez.
Sorrindo e se divertindo, Percy agarrou os cabelos de Nico, os puxou para baixo e fez Nico esticar o pescoço, o encarando no mesmo instante em que Nico soltou um gemidinho gostoso e involuntário, relaxando em seus braços. Ele só continuou porque Nico parecia cinquenta por cento assustado, mas os outros cinquenta eram de puro prazer. Ele nem tentou evitar, se aproximou mais um pouco, se inclinou sobre Nico e falou contra seus lábios rosados e mordidos: — Repita comigo, eu sou o gatinho do Percy. Eu sou o bebê dele.
Ele jurava que não estava sendo maldoso de propósito, era tudo culpa de Nico que abria bem os olhos de uma forma cômica, parecendo que iria explodir de tanta vergonha. Ele estava encabulado ou era legítima humilhação?
Hmmm, seria divertido ver onde isso ia dar.
— Vamos, não é tão difícil.
— Para de rir da minha cara. — Mas sua voz saiu fraquinha, sem ar, Nico olhando para os lados, ainda sem tentar se soltar.
Ele deveria testar a teoria? Percy queria ter certeza que a brincadeira era bem-vinda.
Devagar, Percy deixou suas mãos se afrouxarem e Nico voltou a olhar para ele. Um de seus dedos se afastou, depois outro e outro até que--
— Eu sou… sou o… gatinho…eu sou o gatinho do… Percy…
— E? Acho que falta uma parte.
— Sou o bebê dele também.
Percy quase derreteu de fofura, observando Nico bem de perto. Porém, algo parecia ter mudado na segunda parte. Ele ainda estava todo corado, mas tinha algo ali, algo frágil para além de uma brincadeira.
Oh.
— Você sabe que eu nunca mais vou te deixar ir?
— Você não vai? — Nico disse isso com tanta incerteza que ele enfim entendeu o problema. Não é que Nico não confiasse em suas decisões e sim que Nico não confiava que ele não fosse o abandonar mais uma vez.
— Nico, você é o meu bebê e eu nunca deixaria nenhum dos meus bebês para trás. Você sabe que eu estive por perto, não sabe?
— O quê? Você me… vigiou?
— Está mais para uma investigação puramente científica.
— É? — Nico o encarou, como se quisesse ter certeza.
Percy podia estar errado, mas se alguém te dizia que te perseguia e você não sabia disso seria motivo para preocupação, não? Ao invés disso Nico queria confirmar se era verdade?
Talvez eles fossem mais parecidos do que ele pensava. E já que Nico queria saber…
— Eu falei com sua médica, periodicamente.
— Certo.
— Com seus professores.
— Hm.
— Sabia quem eram cada um de seus amigos e namorados?
— Continue.
— Annabeth me dava um relatório semanal.
— Só isso? Nenhum investigador particular? Nenhumzinho? Quem sabe um detetive?
Agora Nico estava zombando dele.
— Não seja engraçadinho, sei que as crianças te contavam tudo.
— Annabeth também. — Nico rebateu, parecendo satisfeito. — Ela tinha um prazer mórbido em falar mal de você.
— Eu sei, é um hábito difícil de quebrar.
De fato, Nico não parecia muito preocupado com tudo isso. Na verdade, ele parecia mais tranquilo. A cor em suas bochechas permanecia e o sorriso tinha voltado, no fim era tudo o que importava, Nico feliz e contente. Percy só não esperava o que veio a seguir, Nico levando a mão para seu rosto, fazendo um carinho suave, seus olhos escuros tão vivos e brilhantes que Percy se viu hipnotizado.
— Eu te amo. — Nico disse, fácil e descomplicado. — Eu só queria que você soubesse. Não importa quem você tenha sido no passado ou o que outras pessoas possam dizer. O Percy que eu amo e conheço está bem na minha frente e não merece ser julgado por algo que já aconteceu.
— Hmm.
— Então, você não precisa me dizer sobre o que ficou para trás. Mas se você quiser, estou pronto para ouvir. O importante é o que acontece agora, ok?
— Tudo bem. — Era bom para seu coração ouvir tudo isso. Mas… — Mesmo que tenha sido algo super divertido?
O momento se quebrou com Nico batendo em seu peito, forte. E estava tudo bem. Ele gargalhou, levando Nico mais para baixo na cama e voltando a deitá-los contra os travesseiros.
— Eu te amo, seu idiota!
— E eu te amo, meu gatinho arisco.
***
Dessa vez, Percy tinha certeza que Nico dormia. Ele respirava mais lento que o comum e as linhas de preocupação ou risadas estavam suavizadas em seu rosto relaxado. E Embora Percy tivesse feito a escolha certa e deixado Nico, naquela hora ele não sabia como sentiria falta de Nico nesses longos anos.
Era difícil de admitir isso. Ele? Percy Jackson? Sentindo falta de alguém? Ou pior, precisando de outra pessoa? Percy era uma piada. No fim, tinha sido o melhor a se fazer; ele nem queria imaginar o estrago que teria feito com o (seu) bebê que naquela época ainda engatinhava em direção a vida adulta. Nico poderia dizer que sofreu e Percy o abandonou o quanto quisesse, que ele tinha adicionado mais um trauma para sua longa lista já existente, mas Percy sabia que se ele tivesse ficado, Nico ainda estaria contando com seu dinheiro e ainda o veria como uma espécie de herói.
Não que fosse importante, daria tudo o que tinha se isso pudesse fazer Nico feliz.
E se algo acontecesse com ele? E se ele fosse incapaz de prover o que Nico precisava? Sem contar o que as pessoas iam falar. A maioria não lembrava que um dia um garoto foi a babá de seus filhos. Eles apenas se lembravam de Roberta que tinha permanecido por todo esse tempo. Queria ele que Nico fosse mais velho e que eles não tivessem se conhecido naquelas condições, mas, novamente, não seria a mesma coisa. Percy provavelmente teria tratado Nico como qualquer outra pessoa; algo bonitinho, legal de ter pendurado no braço e descartável. Ele não teria transado com Nico até o fim do divórcio, entretanto, depois disso? Nico seria algo fácil e coisa do passado. Felizmente, Nico não precisava saber disso embora Annabeth ficaria feliz de contar a ele.
O que ele estava fazendo? Se remoendo mais uma vez pelo o que ele não podia mudar? Ou era porque mesmo querendo que Nico o visse de forma diferente, ele ainda não tinha mudado? Ou melhor, a verdade era que Percy não queria mudar. Ele gostava de quem ele era, gostava do que fazia, mas não se orgulhava disso. Fazia sentindo? Pelo menos sua atitude tinha mudado. Ele achava. E será que isso fazia diferença se nada tinha se modificado? Será que quando fosse importante ele cairia nos mesmos hábitos?
Viu? Estava ali, na cara de quem quisesse ver. Ele não tinha demorado tanto não porque queria poupar mais sofrimento para Nico ou se preocupasse com o aspecto moral da coisa, foi pelo puro egoismo. Ele sabia que cedo ou tarde Nico descobria quem ele realmente era. E se era para ter que passar por outro término, porque tentar? Percy tinha ciência de que Nico não era igual a Annabeth ou a qualquer outra pessoa que ele tenha se relacionado. Geralmente essas pessoas buscavam algo específico quando faziam contato com ele, elas esperavam receber algo em troca, ficavam um tempo para recompensá-lo e depois seguiam seus próprios caminhos. Funcionava para todo mundo. Porque esse era seu mundo, movido por interesses e favores. Como ele poderia prever o que aconteceria com Nico e ele se Nico não queria nada disso? Era confuso e era algo novo, algo que ele não tinha se deparado em seus trinta e um anos de vida.
No fim, ele voltou porque Nico tinha pedido. Simples assim. Ele sabia que Annabeth e Jason fizeram seu melhor para contar cada mísero detalhe sujo que eles sabiam. Aquilo não era tudo, é claro. Sua adolescência foi bem mais agitada do que qualquer um deles poderia imaginar. Provavelmente Poseidon seria uma fonte bem mais informativa do que eles. Percy nem sabia mais o que estava falando. Ele devia ir embora de novo e deixar Nico, deixar aquele serzinho cheio de amor e luz encontrar alguém que combine com ele. Ele tinha certeza, ele fosse embora, dessa vez, Nico faria o que ele devia ter feito anos atrás. Se isso acontecesse, Percy iria para bem longe, tão longe que ele nunca mais teria que ouvir no nome dele e qualquer quer um que o conhecesse. Sim, seria o certo a se fazer; ele sentia que se continuasse por perto uma hora ou outra, mesmo que não tivesse decidido voltar, iria caçar Nico até encontrá-lo e… certo. Ele tinha que se lembrar, ele não era mais essa pessoa. Bem, esperava que Nico pensasse isso. O pior era que ele realmente amava Nico! Dá pra acreditar? Talvez, não fosse amor o que aquilo se chamava, estava mais para obsessão, a mais pura possessão. Talvez tenha sido por isso que ele tinha se afastado novamente quando viu Nico feliz com uma pessoa que não era ele. Foi melhor sumir do que agir feito um animal agressivo, não?
Não, ele tinha que parar com isso. Agora, ele era um cara bom. Certo?
Certo.
Percy respirou fundo e tentou relaxar, Nico ainda dormia tranquilo em seu próprio travesseiro, mas Percy não conseguia mais ficar parado. Na maioria das noites ele mal dormia, inquieto, pensando sobre tudo o que ele teria que fazer. Tudo era um plano, tudo era um motivo para ter o controle. Com tanto que Nico não soubesse, não teria problema algum. Sim. Sem aguentar mais, se levantou da cama, tentando não movê-la muito e foi até sua jaqueta tirando de lá seus cigarros e isqueiro. Ele os guardava em caso de emergia, e meus amigos, aquilo era uma questão de emergência.
Ele saiu do quarto, fechou a porta sem fazer barulho e andou pelo corretor estreito, fazendo uma nota mental para convencer Nico a sair daquele lugar. Entrou na sala e lá encontrou Lou, o colega de quarto de Nico, sentando no sofá com uma bolsa ainda maior comparada com a que ele tinha levado antes.
— O que você faz aqui? — Percy não se preocupou em ser educado, ele não estava com humor para fingir.
— Eu… — Lou se interrompeu e engoliu em seco, olhando para baixo.
Talvez ele ainda estivesse pelado. Quem se importava?
— Não, eu não quero saber.
Ele apenas deu as costas para o garoto, foi até a pequena sacada que ficava do outro lado da sala e puxou para o lado a porta de vidro, a fechando imediatamente.
Era um alívio. Parecia que as paredes iam engoli-lo se ele continuasse mais um minuto do lado de dentro. Um tempo depois Percy escutou barulhos do lado de dentro e vozes apressadas, mas ele não ligava, Percy, do fundo do peito, não se importava. Ele tirou um cigarro do pacote e o acendeu, levando a ponta aos lábios. Sim, finalmente. Deixou a fumaça entrar em seus pulmões lentamente, exalando, e relaxou, observando a fumaça escapar por sua boca e narinas, subindo pelos céus. Ele tinha esquecido como era bom fazer o que queria e quando queria, sem precisar bancar o bom moço o tempo todo.
Infelizmente ele não teve seu descanso por muito tempo. Apos alguns minutos, quando ele já estava em seu segundo cigarro, a porta de vidro se abriu e um braço disparou em sua direção, tirando o cigarro de sua mão.
— Isso faz mal para você. — E ele jurava, se não tivesse ouvido a voz rouca de sono de seu gatinho ele teria sido menos que educado.
— É, e o que você vai fazer? — Como se uma chave tivesse sido girada, ele não se sentia tão sufocado assim, sua voz saindo aveludada e baixa.
Ele encarou Nico e o puxou pela cintura, vendo que Nico também estava pelado.
— Eu vou tirar esse problema das suas mãos.
E, vendo em câmera lenta, Percy observou Nico levar o cigarro aos próprios lábios, inspirando a fumaça lentamente. E talvez, só talvez, ele não tivesse sido um ator tão bom se fosse pela cara que Nico fazia; era como se ele soubesse de alguma coisa e não queria que Percy ficasse sabendo até aquele momento.
— Nico, me devolve. Não faz bem.
Nico parou no caminho de outra tragada, com o cigarro encostados sobre os lábios e abaixou os olhos, o olhando por debaixo dos cílios. Mas como o bom garoto que ele era, Nico devolveu o cigarro e se manteve encolhido contra Percy, sua cabeça levemente abaixada, tão obediente e submisso que isso pareceu mexer com algo bem no fundo de seu ser.
— Se isso não é bom pra mim, então não é bom para você. — Nico lhe disse, ainda encostado contra ele.
— Não faça isso novamente.
— Só se você não aparecer pelado na frente de mais ninguém.
Percy não se lembrava de sorrir tanto em um dia só. Ele olhou pela porta de vidro e viu que Lou ainda estava na sala, olhando para eles desconfiado.
— O que foi? Ele vai nos vigiar para sempre?
— Lou tem essa ideia que você é um cara mal e quer se aproveitar de mim. — Nico se aproximou mais e inclinou a cabeça para trás, e como um bom samaritano, Percy o beijou devagar e ainda inocente, sem querer apressar as coisas.
— Diga que ele está certo.
— Você promete? — Nico ficou na ponta dos pés e encostou seus lábios mais uma vez, num beijo com mais pressão e longo que o anterior.
— Se você for um bom garoto, posso pensar no seu caso.
No fim, não era tão fácil fingir perto de Nico. Talvez ele nem estivesse tentando.
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