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História Refulgente (Amor de Babá) - Parte XX


Escrita por: Escritora6523 e AnaCCohen

Notas do Autor


Ah, acharam que eu ia atrasar, não? Felizmente cheguei há tempo^^
Espero que vocês gostem.

Boa leitura!

Capítulo 22 - Parte XX


— Você não precisava ter me trazido. — Percy observou Nico murmurar, sempre com sua voz suave e leve,  tirando o cinto de segurança. 

Percy ficou parado e olhou para Nico por longos momentos, demorando o suficiente para se decidir. Mesmo que ele soubesse que só pelo fato dele estar ali com uma pessoa quase dez anos mais nova do que ele, vivendo uma fase de vida completamente diferente da dele, o transformava em um monstro pior ainda. Será que Nico sabia disso? Ele não queria admitir isso, não queria admitir que aquela manhã estava sendo uma das melhores em muitos anos, só por Nico estar sorrindo para ele, todo contente e tímido, o espiando entre os cílios e piscando lentamente, como se tentasse seduzi-lo. 

Estava funcionando, é claro. Ele se inclinou em direção a Nico, sua mão indo parar na perna dele, deslizando pelo músculo e parando perto de sua virilha. O beijo veio em seguida, Percy amava os lábios de Nico, sempre macio e molhados, se moldando aos seus como se eles fossem feitos apenas para ele; Percy o beijou suavemente, os mordiscando devagar, tentando não assustá-lo como na noite anterior. Entretanto, ele logo se afastou, pois Percy tinha decidido que seria o modelo de bom comportamento; a noite passada ainda martelava em sua mente, Nico tendo uma crise e se confessando para ele, tão desesperado como se o garotinho estivesse se segurando em seu último fiapo de salvação.

Talvez a conversa que eles tiveram essa manhã fosse o que mais o preocupasse, Nico parecia tão desinteressado de tudo… aquilo não podia ser normal. Ele sentia como se descascasse uma melancia, ele poderia tirar aquela carapaça dura que no interior ainda teria que pegar semente por semente e só então poderia se deliciar, se perguntando o que mais aquele rostinho inocente e atitude irritada poderia estar escondendo.

— Per? 

Ele tinha se perdido em pensamentos, e talvez, ele estivesse segurando no rosto de Nico, o encarando bem de perto com suas bocas há meros centímetros de distância. Ele não conseguia evitar se sentir culpado. Como ele não viu que Nico precisava de ajuda? Ou pior, que ele tinha causado tudo isso ou no mínimo parte do problema? Mas a questão que martelava sua mente era: porque ele se importava tanto?

— Desculpe pelas vezes que eu não me desculpei, eu fui covarde. Tive medo de voltar e ver que as coisas tinham mudado.

— Hmm… tudo bem?

— Eu senti sua falta todos os dias.

— Eu também senti a sua?

— Eu te amo. — Ele disse e Nico abriu um sorriso maior ainda, o abraçando pelo pescoço.

— Eu não sei o que aconteceu para você dizer essas coisas, mas eu fico feliz. Te amo mais que tudo.

“E aparentemente, mais do que a si próprio”, Percy pensou verdadeiramente se sentindo o vilão que todos diziam que ele era.

— É por isso que eu quero que você pense no que a gente conversou.

O rosto de Nico mudou completamente, de uma expressão feliz e esfuziante para um biquinho irritado.

— Já disse que exagerei.

— Nico, não minta para mim. Você já está quebrando nossas regras?

— Eu… é claro que não! Quer dizer… está tudo bem. Eu preciso decidir agora?

— Não. É claro que não. — Percy disse. — Você tem certeza que está bem? A gente podia tirar alguns dias de folga.

Nica balançou a cabeça com força e se afastou, pegando sua bolsa do chão do carro. — Eu tenho muitas coisas pra fazer e um projeto para entregar. Prometo que estou bem.

— Não fuja de mim. — Percy jurava que estava tentando não se impor, mas quando Nico começava  a falar assim, agindo como se tivesse pressa quando eles estavam meia hora adiantados, lhe mostrava que Nico tentava fugir dos problemas.

Pelo jeito tinha funcionado. Nico congelou e se voltou para ele, feito um garotinho que tinha levado uma bronca.

— Eu não quero ouvir outra desculpa ou mentira. Se você não for sincero comigo, é melhor não dizer nada.

— Ah, é assim? Porque eu tenho que ser sincero quando você só mente e me engana!

— Eu não estou mentindo.

— Então, o que você fez todo esse tempo sozinho?

— Tenho certeza que eles te contaram.

— Desculpa, mas eu não acredito. 

— O quê? Eu não tenho direito de ficar triste e deprimido? Eu não sou indestrutível.

— Eu só não consigo imaginar isso. Porque você ficaria deprimido? — Nico enfim bufou e cruzou os braços, se jogando contra a poltrona do carona.

Nico tinha razão, ele não tinha muitos motivos. Mas Nico queria saber, não queria?

— O negócio é o seguinte. Eu não estava exatamente triste, era mais um sentimento de impotência.

— Que tipo? — Nico perguntou, fazendo uma carinha confusa.

— Mental e física.

— O quê… você?

— É, eu não conseguia ter uma ereção. E sabe por quê? — Ele não esperou Nico responder, Percy jogou a cabeça para trás e sorriu. Bem, estava mais para gargalhar. — Nem era uma depressão real. Eu estava frustrado porque não estava fazendo o que eu queria.

— O que você queria fazer? — Nico parecia já saber a resposta. 

— Eu queria foder um garotinho de vinte anos e arruinar a vida dele. O que você acha disso? Eu queria fazer coisas que ele nem imagina que existem e depois sumir. É o suficiente? Então, antes que essas coisas se concretizassem, eu fui embora. 

— Percy.

— Não, tem mais. Nada disso me afetou, não até eu tentar fazer a coisa certa pela primeira vez na vida. Vou repetir, fiquei deprimido porque estava fazendo o que nunca fiz por outra pessoa. Então, se você pudesse entender e aceitar ajuda pela minha paz de espírito e saúde mental, eu agradeceria.

Satisfeito, Percy continuou encarando Nico, enquanto Nico continuava a segurar sua bolsa entre os dedos, a apertando como se aquilo fosse lhe dar as respostas que ele precisava. 

Nico olhou ao redor e depois olhou para Percy, hesitando.

— Hm. Eu posso tentar? — Nico murmurou, se encolhendo, antes de continuar numa voz tão baixa que Percy não teria escutado se não estivessem tão perto um do outro: — Eu não me importaria.

Percy sabia que iria se arrepender, mas perguntou mesmo assim: — Se importaria do quê?

— Você pode me… me foder quando quiser. Eu teria deixado, se você… se você quisesse. Eu… eu sabia que você estava brincando comigo, que aquele jogo de lobo mal e chapeuzinho te excitava. Se você quisesse… eu teria…

Nico engoliu em seco e fechou os olhos com força, e Percy? Bem, ele segurou no volante com força e deixou o ar sair pelo nariz feito um touro vendo vermelho. Porque Nico fazia isso com ele? 

Pelo menos seu gatinho estava sendo sincero.

Ele respirou fundo e quando sentiu que sua voz não sairia rouca, continuou: — Nico, eu não estou pedindo muito. Estou? Quero que você pense sobre seu futuro.

— Eu prometo. — Nico acenou, ainda o olhando de lado.

— Não tem nada que você gostaria de tentar? Algo que você gostava de fazer?

— Talvez? — Nico disse, ainda parecendo incerto.

— Pense sobre isso.

— Promete não ficar irritado se eu não conseguir?

— Eu prometo. — Para provar isso, Percy estendeu as mãos e as fincou nos cabelos da nuca de Nico, o fazendo gemer docemente. — Não há nada nesse mundo que me faria ficar bravo com você.

Apenas muito frustrado e tenso. Mas Nico não precisava saber disso. Ele deixou Nico ir com mais um beijo que fez Nico se encolher todo e se esfregar contra a ele, e adicionou enquanto Nico abria porta do carro: — Que horas você sai?

— As 13h.

— Me espere.

Nico acenou, contente, e com o rosto corado. Ele lhe deu um tchauzinho com a mão e correu para dentro do prédio como se sua vida dependesse disso.

***

Nico apoiou o rosto nos braços e fechou os olhos por alguns momentos, curtindo aqueles minutos de calmaria. Ele estava no refeitório mais uma vez, o único lugar onde tinha um pouco de paz antes de continuar seu dia cansativo. A manhã tinha acabado de forma tranquila para variar. Conseguiu terminar o projeto há tempo, ajudou um colega com uma petição e ainda tinha apresentado o tal projeto para seu chefe. Tudo estava bem, tudo estava ótimo, mas ele tinha andado distraído, sonhando acordado; Percy tinha lhe buscado como o combinado e tinha o levado para a faculdade da mesma forma calma, e dessa vez, sem tentar convencê-lo de coisa alguma, dizendo estar preocupado com as crianças, como elas não pareciam ter amigos e sim colegas ou seguidores, os usando por causa de status social.

Nico tinha acenado nos momentos adequados, apenas olhando para Percy, alheio a tudo que não fosse a boca de Percy se movendo. 

— Você sabia disso? — Percy disse a ele e Nico acenou mais uma vez, piscando devagar. — Você não ouviu uma palavra que eu disse. 

— É claro que eu ouvi.

— O que eu disse, então?

— Alguma coisa sobre as crianças.

— Nico. — Percy murmurou. 

O homem tinha lhe segurado pelos cabelos, roçado seus bocas juntas e arrancado dele um gemido. Mesmo agora, sentado no refeitório, Nico ainda podia sentir os beijos que Percy tinha pressionado contra seus lábios antes de entrar na faculdade, o mandando se comportar, quanto tudo o que ele queria era que Percy parasse com essa tortura e fizesse de uma vez tudo o que queria fazer. Sua pele ainda parecia latejar nessa sensação fantasma, o ajudando durante o dia, o relembrando que se ele aguentasse só mais um pouco, que se ele fosse obediente, logo poderia encontrar Percy mais uma vez.

— Nico?

— Hm? — Ele levantou a cabeça e piscou, abrindo os olhos. Já era hora de ir para casa?

Não, ele estava sonhando. Na verdade, o sol ainda raiava forte lhe mostrando que deveria ser o meio da tarde. Agora ele lembrava, era a hora do almoço, eles iam se encontrar, comer juntos e depois atender o resto das aulas. O que significava que Percy estava atrasado. Ele também viu seus amigos que antes não estavam lá, os olhando de forma estranha. Jason e Silena os observavam de perto, mas nem sinal de Alabaster. 

De qualquer forma, era melhor assim.

— Um aluno precisou falar comigo.

— Hm. — Ele fez um biquinho. Esse devia ser o momento deles e não de Percy por aí com uma pessoa aleatória.

— Se comporte.

— Eu sou a obediência em pessoa.

— O que faço com você?

— Me dá um beijo? — Nico estendeu os abraços e assim seu desejo foi realizado.

Percy se inclinou sobre ele, segurou em sua nuca, naquele lugarzinho que o fazia gemer e então seu mundo foi tomado por prazer. Não foi aquele tipo de beijo suave, não. Foi daqueles destinados á quatro paredes e poucas roupas. Ele se sentiu flutuando até que ouviu uma risada rouca e abafada; era Percy que sorria no meio no beijo, se afastando para olhar para ele, acariciando seu rosto como se Nico fosse algo precioso.

— Estou perdoado?

— Hmm… não tenho certeza. Acho que preciso de mais um.

— Talvez depois quando seus amigos não estiverem me olhando com ódio e desconfiança.

Hm, talvez Percy estivesse certo. Silena parecia a ponto de se levantar e chamar os guardas, já Jason estava parado feito uma estátua, ele tinha um finco tão profundo entre as sobrancelhas que poderia atravessar por seu crânio.

— Eu posso voltar depois.

— Porque você faria isso? — Ele não queria saber, ninguém roubaria seu momento feliz. 

Nico segurou Percy pela mão e o puxou para baixo, pedindo com os olhos para Percy sentar. Percy deu de ombros e ignorando os outros, se sentou de costas para eles, passando os braços pelas costas de Nico.

— Como foram as aulas? — Mais um beijo foi colocado contra seus lábios, dessa vez suave e inocente, e tudo voltou a ficar bem.

— Chato. O mesmo de sempre.

— Você pensou sobre o que a gente conversou?

De fato, ele tinha. Seu dia tinha se desenrolado com tanta facilidade que Nico acabou por ter tempo de sobra. Ele realmente achava que seria desperdiçar dinheiro e tempo se decidisse abandonar tudo agora. Então, o melhor a fazer era seguir o caminho menos complicado.

— Eu quero continuar. Talvez… desacelerar um pouco? Meu estágio está quase acabando. Já entreguei o projeto requerido pela faculdade. Apenas preciso entregar um relatório e depois…

— Depois? — Percy disse, prestando atenção, olhando apenas para ele, ainda segurando em suas mãos como se nunca mais fosse soltar.

— Eu não sei. Tentar encontrar algo que eu goste? Terminar a faculdade sem problemas?

— Parece bom. Estou orgulhoso. — Percy sorriu para ele e beijou seu rosto, no canto de seus lábios, trazendo lembranças de uma época menos complicada. Ou talvez, sempre tivesse sido complicado e era ele que tinha romantizado suas lembranças.

Mas mesmo assim, sentindo como se ganhasse na loteria, se deixou derreter contra o ombro de Percy, tentado a se esconder, como em todas as outras vezes em que essa sensação de quentura e aperto no peito aparecia; era intenso demais para alguém que costumava se vangloriar de que não precisava de ninguém, de alguém que usava outras pessoas para ganho próprio só porque seu pai tinha dito para ele fazer.

— Você já comeu? 

Nico suspirou, sua bolha de felicidade se quebrando. Quem precisava de comida quando Percy o alimentava com seu amor?

— Nico?

— Eu não estou com fome.

— Não foi o que eu perguntei, foi?

Nico sentiu o ar abandonar seu pulmão, e sabe por quê? Era o tom de voz que Percy usava, todo sério e rouco; ele sabia que só uma coisa podia sair disso. E como ele imaginava, Percy segurou em seu queixo, levantou sua cabeça em direção dele e olhou em seus olhos, se aproximando como se fosse falar algo importante: — Faça o que eu mando.

— Eu--

— Você vai obedecer? — Era outra regra? Porque parecia. Percy falou bem baixinho, para que somente eles dois pudessem ouvir, acariciando um lado de seu rosto enquanto o encarava serio, cada palavra que saia de sua boca soando rígida. — O que você quer comer?

— Eu… eu não--

— Se você não disser, eu escolho.

— Hm… qualquer coisa está bom? — Ele era um fraco e admitia isso sem ter vergonha. Bem,  talvez ele tivesse um pouco. 

Foi bom que Percy beijou seu rosto antes de levantar e seguiu em direção ao buffet porque suas pernas não estavam funcionando muito bem no momento. Ou sua mente. O fato era que ele não tinha um momento de paz; Jason, cansado de todos esses sussurros, se sentou em frente a ele e o questionou, parecendo chateado.

— Nico, o que aconteceu? Tentei te ligar ontem a noite. Sabe o que Lou falou pra gente?

— Eu posso adivinhar… — Mas ele não ligava, ainda se sentia flutuando. Não era ridículo se sentir assim só porque alguém tinha mostrado preocupação se ele comia ou não?

— Nico!

— A gente se resolveu. — Foi o que ele disse, bem há tempo de ver Percy voltando com dois pratos fumegantes com macarronada e almôndegas ao molho sugo.

— Onde você encontrou isso? — Ele teve que perguntar, puxando o prato para perto e dando uma grande garfada, gemendo quando a comida tocou em sua língua.  

Aquilo definitivamente não tinha vindo da cantina.

— A comida pros professores é melhor.

— Seu mentiroso.

— Tudo bem, você me pegou. Eu encomendei mais cedo e pedi para as serventes guardarem para mim.

— Oh. — Ele murmurou, se sentindo estranho por dentro. — Não precisava.

— Claro que precisava. Só o melhor pro meu bebê.

— Per-- Foi então que ele escutou um pigarro. Jason observava tudo com a maior expressão vazia que ele já tinha visto.

— Então, vocês ficaram brincando de casinha enquanto todo mundo se preocupava?

— Porque você se preocuparia? Eu estava em casa, como sempre.

— Lou disse que você estava com um homem desconhecido, que tinha tido uma crise de riso, depois tinha chorado e que você não parecia muito bem. O que eu devia pensar? Custava atender o telefone?

Hm. Boa pergunta. Nico estendeu a mão, a enfiou dentro da bolsa e encontrou seu celular. Ele estava morto, completamente sem bateria. Nem mesmo acendia a tela.

— Viu? Foi um acidente.

— Nico!

— Nico não te deve nenhuma explicação. — Percy disse. Ele tocou nos cabelos de Nico e lhe disse: — Coma antes que esfrie, sim?

— Percy, como você pode estar tão calmo? O jeito que Lou falava era como se você fosse um aliciador de pessoas.

— Jason, eu pensei que você fosse mais inteligente. Você acredita no que o namorado do Will te fala?

Agora que Nico pensava nisso, fazia sentido. Mas não seria ele quem falaria. Estava muito feliz com seu prato de macarrão e com Percy tocando em seus cabelos. Nico poderia muito bem ignorar o resto do mundo se as coisas continuassem exatamente assim.

— Lou é uma pessoa honesta. O que você fez com ele?

— Com ele? Nada. — Percy sorriu e Jason fez uma careta. No fim, Nico ficou com dó do amigo.

— Lou pegou a gente sem roupa. Na varanda.

— Ele deve ter ficado impressionado quando viu um homem de verdade.

Nico escondeu o rosto e tentou não rir, mas nada era perfeito. Percy sorriu mais ainda quando Jason se levantou, inconformado e enojado.

— Ahg, ninguém precisava saber disso. Essa conversa está longe de terminar. E se você pudesse dar sinal de vida para seus amigos e família, tornaria a vida de todo mundo mais fácil.

Jason se virou e marchou para fora do refeitório enquanto Percy gargalhava, chamando a atenção das pessoas em volta. Nico? Ah, ele apenas comia, contente, mesmo que soubesse que deveria estar mais preocupado do que isso.

***

Quando Nico menos percebeu, o dia tinha acabado. Ele se despediu de seus colegas de classe, entregou um trabalho adiantado para o professor de Direito trabalhista e saiu da classe, dando de cara com uma agradável surpresa. Percy já estava ali, calça social justa, camisa polo com os três primeiros botões abertos, cabelos penteados para trás e barba que começava a crescer, parecendo ter saído de uma capa de revista; Percy se encostava na parede do lado de fora do auditório e tinha uma expressão séria enquanto lia algo no celular, digitando furiosamente. Devia ser Sally ou Poseidon, eles eram os únicos capazes de tirar Percy do controle. Mas foi somente Nico se aproximar para a expressão em seu bonito rosto se suavizar, seus olhos verdes o varrendo de cima a baixo.

Nico se sentiu esquentar e ignorou a sensação. Ele se aproximou a passos apressados e ficou na ponta dos pés, enrolando os braços em volta do pescoço de Percy. Ele achava que tinha gemido, mas como ele não poderia quando Percy o abraçava apertado daquele jeito e o beijava tão forte que qualquer pensamento voava para longe dele? Nico ainda se perguntava porque Percy ainda tentava fingir. Porque o homem não o levava para casa e finalmente dava o que ambos queriam? Sinceramente? Parecia um repeteco igual a quando eles tinham se conhecido, só que agora tinha beijos e muito mais peso na consciência; era nítido que Percy não era uma pessoa feliz e muito menos gentil. Porém, Nico gostava do esforço que Percy fazia para agir de forma diferente perto dele, vendo como Percy se controlava, mostrando esse lado quase vulnerável e íntimo; podia ser egoísta de sua parte, mas isso o fazia se sentir especial, como se ele valesse o esforço, como se Percy o escolhesse a cada vez que o beijava ou que sorria para ele.

Percy pegou em sua mão e Nico o seguiu pelos corredores, sem questionar. Eles ainda não haviam conversado muito sobre o futuro. Além de seus estados de saúde mental, o resto parecia… sem importância. Ele não se importava se Percy costumava ser uma pessoa ruim ou o que Percy fez no passado. Quem nunca tinha feito algo errado que jogasse a primeira pedra. Não, o que ele queria saber era como as coisas seriam dali para frente. Lhe matava por dentro não saber o que iria acontecer ou como ele deveria agir. Eles iriam para sua casa ou para a casa de Percy? Eles dormiriam juntos ou separados? Sequer dividiriam a mesma casa? As crianças sabiam deles? Os pais de Percy arranjariam confusão? Ele precisava de uma muda de roupa? E o pior, alguma namorada voltaria e tentaria se vingar deles?

Eles chegaram ao carro e ainda assim, Nico não abriu a boca; parecia tanto trabalho ter outra discussão que ele apenas se deixou cair contra a poltrona do carona, vendo Percy colocar o cinto de segurança para ele. Logo Percy deu a partida, uma de suas mãos no volante e outra em suas pernas, e enfim Percy pigarreou, chamando sua atenção.

— Bebê?

— Hm.

— Nico. Olhe para mim.

Ele virou a cabeça e encarou Percy. Às vezes era difícil de acreditar, alguém como Percy e alguém como ele dentro do mesmo carro, dividindo os mesmos espaços, o mesmo ar.

— Você não quer me dizer nada?

— Não. — Nico deu de ombros.

— Você quer ir pra casa?

— Pra sua ou para a minha?

— Tudo bem se formos para a minha? As crianças vão gostar de te ver.

— A gente se vê toda sexta.

— É diferente.

Percy tinha razão, seria diferente. No fim, Nico estava contente em não precisar decidir. Ele apenas relaxou contra o assento e fechou os olhos. Não sabia porque estava tão cansado, talvez os remédios estivessem perdendo o efeito, talvez essas mudanças estivessem afetando seu TDAH. Ou talvez, ele devesse escutar Percy, pensar um pouco nele mesmo e deixar que o resto aconteça naturalmente.

Quando Nico piscou novamente estavam estacionando em frente a um duplex pequeno. Quer dizer, era pequeno se comparado com a antiga casa de Percy, uma mansão bem estruturada e cheia de empregados e seguranças. O que ele via agora enquanto entravam em um condomínio fechado era algo bem mais modesto. Eles pararam em frente a uma casa branca com um grande arco na frente, a garagem com cobertura ficava na entrada da casa e mais ao fundo dessa entrada, tinha um lance de escadas com cinco degraus, uma varanda com alguns bancos e no meio dela, a porta de entrada para dentro da casa.

Percy o ajudou a sair do carro e o guiou para dentro da casa, que olhando de perto não era nada pequena, o lembrando de alguns detalhes que se assemelhavam com a antiga casa. Cômodos bem iluminados, poucas cortinas e janelas que iam do chão ao teto. Pelo menos dessa vez não havia um saguão, a porta de entrada dando direto na sala de estar com enormes estantes, uma televisão de cinquenta polegadas, uma longa mesa de estudos, um sofá espaçoso, mesa de centro, almofadas e puffs pelo chão tão aconchegante que Nico teve vontade de se jogar neles para testar a teoria. Mais a frente havia uma escada simples que dava para o segundo andar, porém, de cada lado havia duas passagens. Provavelmente uma delas devia ser a cozinha, o problema é que ele não teve tempo de perguntar, porque assim que chegaram no centro do cômodo Nico viu que Logan e Alice estavam presentes assistindo tv e sentados no sofá. Logan foi o primeiro a se levantar, ele veio correndo até Nico e o abraçou com força, quase lhe jogando no chão. Já Alice, veio calmamente e o abraçou do outro lado, Nico vendo quando ambas as crianças olharam Percy de canto.

— Chegou cedo hoje. — Alice murmurou contra seu ombro. Ela falava com Percy, mas não olhava para o pai.

Agora Nico entendia tudo.

— Eu trouxe o Nico. — Foi tudo o que Percy disse. Ele pegou a bolsa do ombro de Nico, com a outra mão segurou em sua própria maleta e subiu para o andar de cima antes que ele pudesse falar qualquer coisa.

— Certo. O que está acontecendo aqui?

— Err… a gente está tão feliz que vocês voltaram. Você quer comer? Tem pizza. E lasanha. A sua preferida! — Logan disse. Ele sorria e coçava a cabeça, o puxando para uma das passagens que ele tinha visto antes. E se Logan pensava que iria lhe distrair com comida… estava muito certo.

Alice pegou a travessa da geladeira enquanto Logan pegava os pratos, em pouco tempo tudo parecia normal de novo. Só que não era sexta-feira e muito menos estavam no apartamento que dividia com Lou. Ele deu a primeira garfada e viu Percy parado na entrada da cozinha, as crianças de costas para ele.

Tudo bem, ele tinha entendido.

— Crianças. — Ele começava a pensar que o jeito mandão de Percy estava pegando nele, porque as crianças imediatamente olharam para ele, repousando os garfos sobre seus pratos. — Podemos conversar?

— Se for sobre Percy, não precisa.

Nico abriu bem os olhos, como naqueles desenhos onde os personagens ficam surpresos, e observou Alice pegar novamente em seu garfo enquanto ela cortava a lasanha em pedaços milimetricamente iguais. Olhou para Logan e o garoto apenas desviou o olhar, parecendo encabulado.

Ele estava cansado de mais para bancar o conselheiro.

—  Tudo bem. Desde quando você chama o seu pai de Percy?

— Não, não é nada. Foi só--

— Logan, não estou falando com você.

Quando ao invés de responder, Alice se levantou para tomar um gole de água e viu Percy parado no meio do caminho, ela apenas se desviou dele, pegou um copo, encheu com água e voltou para a mesa, como se ninguém além deles três estivessem na cozinha.

 — Alguém pode me dizer o que está acontecendo? — Quando ninguém disse nada, ele tentou de novo: — Alguém, por favor?

— Ah, eu não aguento mais! — Logan pulou para fora da cadeira e puxou os próprios cabelos, andando de um lado para outro. Percy e Alice olharam para Logan nenhum pouco impressionado, já Nico respirou aliviado; Logan sempre era o primeiro a ceder.

— Não se atreva. — Alice ameaçou.

— Ah, que se foda! Começou com a depressão, papai estava ignorando tudo que se movesse. Depois, ele sumiu por alguns dias. Quando voltou, era como se alguém tivesse substituído ele pela versão do mal. Ficou pior do que quando ele e a mamãe brigavam. Sempre quieto e frio, pior do que se ele ignorasse a gente, e então… 

— Então? — Nico perguntou. Logan deu de ombros e Percy tinha uma expressão de dor no rosto.

— Papai começou a… namorar?

— Você quer dizer que essa casa virou um bordel.

— Ali! — Logan disse, escandalizado, parecendo que iria arrancar o resto do cabelo.

— Não, você tem que escutar isso. — Alice disse, olhando para o prato e brincando com a comida, um sorriso de escárnio em seu rosto angelical. —  A casa cheirava a cigarro e bebida o tempo todo. A gente finalmente deu razão para nossa mãe. Ela veio nos buscar e as coisas ficaram melhores.

— Porque eu sou o último a saber dessas coisas?

— A gente não queria que você se preocupasse. — Logan disse.

— Ou se sentisse obrigado a paparicar um homem cruel e egoísta.

Nico arfou e ficou ali, paralisado, atônito com o comportamento de Alice. Ela falava tudo tão calmamente e de forma tão venenosa que ele não sabia como a garota doce e sensível tinha se transformado nisso. E Percy? Ele não tinha dito uma palavra enquanto Logan parecia a ponto de ter um ataque de ansiedade. Ele sabia que Alice devia ter sofrido, e que esse devia ser o jeito que ela tinha encontrado para se defender. Mas ela tinha que ter escolhido imitar o pai?

Ele gemeu, frustrado, e se levantou. Deu a volta na mesa e abraçou Alice bem apertado pelo ombro. Nico naquele momento se sentia ridículo; enquanto ele ficava se lamentando porque tinha levado um fora, Alice passava por coisa bem pior. Ele encarou Percy por cima da cabeça de Alice, que ainda estava sentada na cadeira com a expressão mais morta que ele já tinha visto, e o olhou reprovador. Quando isso acabasse, eles teriam uma conversa bem longa. Porque uma coisa era não querer ficar com ele, outra bem diferente era fazer crianças passarem por isso.

— Está tudo bem. — Ele disse. Alice olhou para cima e franziu os lábios, frisando as sobrancelhas, como se esperasse que Nico fosse repreendê-la. — Não é sua culpa. Tenho certeza que seu pai não fez de propósito.

— Ele não parece arrependido. Sabe o que ele fez? Comprou dois carros, entregou as chaves para a gente e sorriu como se tudo estivesse bem. Que tipo de pai faz isso?

— Eu sei--

— Tipo, ele nem perguntou como a gente estava! Passamos três meses na casa da mamãe sem ter notícias dele e ele acha que um carro vai resolver as coisas? — Num ataque de emotividade, Alice o abraçou bem forte pela cintura e escondeu o rosto em sua camisa, as lágrimas invisíveis, mas os soluços impossíveis de ignorar. 

Tudo bem, ele não iria chorar. Nico se recusava. Sabia muito bem como era ser abandonado pela pessoa que um dia tinha sido seu porto seguro, seu lugar de abrigo e proteção, para tudo isso do dia para a noite ser jogado fora.

— Está tudo bem. — Voltou a repetir. — Estamos todos aqui, tudo vai ficar bem.

— Você promete? — Alice murmurou, finalmente voltando a ser a garota doce e educada que ele conhecia.

— Eu prometo. — Quando ele disse isso, o ar ao redor deles pareceu se suavizar, se tornando mais fácil de respirar, embora isso não fosse o suficiente. Ele olhou mais uma vez para Percy e o encarou até que Percy suspirou e se aproximou, se arrastando até onde ele e Alice estavam. E parado feito uma estátua, Percy permaneceu, rígido, como se estivesse ali por obrigação. E quando Percy ainda assim nada fez, Nico segurou na mão de Percy, a repousando no ombro de Alice.

Percy continuou paralisado, e feito num filme de terror, Alice virou a cabeça, encarando o pai, talvez mais chocada que o próprio Percy.

— Eu. Sinto. Muito. — Percy disse uma palavra de cada vez. Era como se doesse. Como se ele nunca tivesse as pronunciado antes. Talvez esse fosse o caso.

— Não pensei que você fosse capaz. — Alice murmurou. Ela tinha um brilho estranho nos olhos. — Doeu muito?

— Eu sinto muito. — Percy repetiu, ele parecia furioso, um pouco frustrado? Encabulado? Desconfortável? — Não quis que isso acontecesse.

— É só isso? — Ainda abraçada a Nico, Alice disse, despreocupada. Mas por algum motivo Nico sentia vontade de rir. Parece que ele sentia prazer no sofrimento de Percy. Ou talvez fosse vê-lo tão… humilde. Será que isso era possível?

Sim, era! Porque Percy fazer algo que nenhum deles jamais esperou. Percy se ajoelhou em frente a Alice, segurou a mão dela e disse:

— Não era para vocês verem nada daquilo. Vocês deviam estar viajando ou na casa dos meus pais. Eu precisava ficar sozinho. Sei que não sou boa companhia nesses momentos de fraqueza. Não pensei que eu devesse pedir ajuda ou desculpas. É o que as pessoas dessa família fazem. Elas se afastam para resolver o que for necessário e depois voltam como se nada tivesse acontecido.

— Você quer dizer que… — Alice parecia verdadeiramente surpresa.

— São aparências. Nada mais do que isso. Nada mais importa. — Percy completou. — Estou perdoado?

Alice olhou para Percy, sem saber o que dizer, e então deu de ombros: — Se prometer nunca mais fazer isso.

— É um acordo. — Percy apertou a mão de Alice e a abraçou bem forte, puxando junto Nico e Logan.

E ele pensando que eles teriam uma agradável noite debaixo dos lençóis. Bem, nesses dias, Nico aceitava o que viesse.


Notas Finais


Ahhh desculpa se ficou muito chato! Prometo que a diversão logo vem. Eu não queria que esse história fosse mais uma fic +18, essas cenas vão vir só que... acho que cansei desse tipo de história. Então, vou escrever o que me soar mais natural. E como sempre, sua opinião é sempre bem-vinda.


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