História Rehabilitation (VHope) - Paciente 098

"As psicoses são doenças da alma ou do espírito, expressando os graves comprometimentos do passado, especialmente na área intelectual, gerando a inarmonia psíquica de hoje"

~ Transtornos Mentais ( Suely Schubert )

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Eu estava me perdendo, dentro de mim mesmo

Uma completa bagunça de pensamentos dentro de apenas um ser tão finito e falho, carregando um fardo que parecia não ter fim!

Talvez seja por isso que todos os meus relacionamentos tenham ido por água abaixo... Até mesmo as amizades... "Eu mesmo não me suportava"

Yoongi era o único pela qual eu prezava, já que se encontrava na mesma lama que eu, então era uma infinidade de lamentações, uma atrás da outra, com xingamentos da parte dele, e lamúrias minhas

Ele também era outro que não conseguia ir adiante com qualquer pessoa que seja - isso quando não mandava o indivíduo 'pastar'

E muito menos perdia tempo iludindo quem quer que seja... Segundo ele não é necessário beijar o gramado antes de entrar em campo

Mas, isso era o de menos, entre tudo...

Havíamos feito um juramento, mesmo que sem sentido, de que jamais deixaríamos um ao outro

E isso não quer dizer que fôssemos um casal! Ele nem ao menos sugeria isso!

O companheirismo entre nós ia além disso - já que ele mesmo adicionou que caso eu quebrasse a promessa feita de dedinho ( lê-se: sagrada ) ele rancaria meus órgãos com a faca de serra da cozinha ( sem anestesia ) e venderia no Mercado Negro só pra comprar um pônei na OLX e chamar de "novo melhor amigo" até ele evoluir para Unicórnio

"Não me pergunte de onde Suga tira essas coisas, pois eu já desisti antes mesmo de tentar... E isso já faz mais de 10 anos"

- Jung Hoseok? - ergui meu rosto, sentindo a ponta de meus dedos dormentes por conta do ar condicionado que batia rente ao meu rosto - Onde está o responsável do seu amigo? Já faz mais de meia hora!

- Eu... - me remexi na cadeira, sem sentir minha bunda por conta dos longos minutos na mesma posição - Eu liguei, e ele disse que viria! Não sei a razão da demora... Eu dei o endereço correto!

O homem parecia tenso, remexendo os dedos, ao ponto de estralar, enquanto segurava um papel em mãos, quando enfim suspirou

- Ele acordou? - inquiri, vendo-o negar - Como assim?

- Injetamos no soro um remédio que causa sonolência, e também um calmante! Ele precisa dormir! O corpo dele está muito fraco... É necessário que ele durma enquanto as vitaminas, e suplementos que adicionamos ao soro venham reagir em seu organismo! - explicou, ainda remexendo alguns papéis em mãos - E devo dizer que ele não sairá daqui tão cedo!

- O que quer dizer com isso? - questionei, finalmente me erguendo da cadeira

- O organismo dele, além de estar fraco, exibiu uma AST alta, e isso significa que ele está com hepatite medicamentosa! Todos os sintomas já estavam apontando para isso! - o olhei interrogativo, não entendendo muito bem aquela linguagem - Solicitei um exame de AST, que nos dá a informação imediata se ele têm alguma lesão no fígado, normalmente se encontra elevada quando a lesão do fígado é mais crônica.

- Então, ele está com problemas no fígado? - me alarmei de imediato, vendo o médico franzir o lábios

- Não apenas no fígado, já que hepatite medicamentosa acarreta muitos outros problemas no organismo! Por exemplo, o fígado é uma espécie de filtro do nosso corpo... Então, é problemático! - adiantou, voltando a folhear os papéis - As taxas de açúcar no sangue, colesterol, e vários outros dados importantes no organismo dele estão irregulares!

- E como vão tratá-lo? - inquiri, vendo-o levar uma das mãos ao bolso do jaleco

- Essa é a principal razão pela qual desejo conversar com o responsável dele! - ditou, sério - Um paciente com este tipo de problema deve ter todo medicamento em uso suspenso! Não importa a razão! Se ele continuar tomando remédios irá morrer! Já estou pensando no caso de ministrar alguns corticoides para ele, visto que a situação está crítica! Pois ele não tomava apenas um medicamento, mas vários pelo que me disse... E durante um grande espaço de tempo!

Continuei cálido, esperando que o mesmo relatasse mais, já que minha mente parecia ter entrado em crise apenas por imaginar o que poderia vir a acontecer

- Suponho que ele deva ficar em tratamento intensivo por uns dois meses no mínimo! - complementou, ainda sério - E toda a alimentação dele será reformulada, já que o fígado deverá ser desintoxicado!

- Então... - respirei fundo, buscando uma melhor forma de me expressar - Não consigo imaginar como será ele sem os remédios!

- Hum... - pareceu pensar por um instante, desconfiado - Na realidade, meu jovem, esses remédios que ele toma já devem ter parado de fazer o efeito desejado no organismo dele! Já que o fígado age no processamento delas... E como ocorreu uma espécie de "alergia" ao medicamento, ele passou à não ser mais "filtrado" pelo organismo por assim dizer... Então, o efeito do remédio que ele toma, passou à ser ineficaz!

- Então quer dizer que... - acabei por entrar em choque - Ele estava sendo cem por cento ele mesmo esse tempo todo? - acabei por levar as mãos aos cabelos, vendo o médico me encarar assustado - Isso está errado!

- Errado?! - franziu o cenho, preocupado - O que está querendo dizer com isso? Explique-se, por favor!

- HOSEOK? - me sobressaltei ao ouvir meu nome ser chamado com fúria, ao fundo do corredor, onde o médico virou-se parecendo não muito diferente de mim, quando vi os cabelos alaranjados sendo esvoaçados pela pressa com que andava em minha direção

O sangue nos olhos emanando ódio vindos de Park Jimin sobre mim

E devo dizer, que meu estado não deveria estar muito diferente

Durante todo esse tempo ali, constatei que talvez Taehyung tivesse uma grande parcela de culpa em tudo, não apenas por não se cuidar devidamente ( um exemplo claro de estar ali, terrivelmente doente ), mas também por parecer não se importar consigo mesmo - o que não o diferenciava tanto de mim

Mas, por outro lado, o mais velho que agora me olhava furioso, também detinha uma grande ( ou quase total ) parte de culpa naquilo tudo... Taehyung era dono de um problema delicado, e era visível que isso estava o levando ao fundo do poço... Mas, Jimin não parecia se importar com isso!

Na verdade, Jimin parecia alheio à tudo que cercava seu próprio irmão!

"O que Jimin realmente queria? A cura do irmão? Ou sua morte?" - isso era uma questão

- O que você pensa que está fazendo? - o ouvi perguntar entredentes ao me enfrentar

- Senhor Park Jimin? - o médico interviu, ao perceber que nossa interação poderia gerar uma grande discussão nada amigável, quando suspirei aliviado ao ver o alaranjado o olhar - Pode me acompanhar até minha sala? Preciso ter uma longa conversa com o senhor!

Apenas vi o médico curvar-se rápido, ao seguir a frente do mais baixo que em nada se opôs, antes de me lançar um fuzilante olhar, deixando bem claro que aquilo não havia acabado

E em meio à visão dos mesmos andando até virarem em um dos cantos do longo corredor, me encontro sozinho, sem saber o que fazer, até ver uma figura andando rápida

- Ei! - me ergui de imediato, ao ver o jaleco familiar, percorrendo um dos cantos - Posso ver ele?

A enfermeira que à alguns instantes atrás havia me inquirido diversas questões, apenas analisou meu rosto, parecendo indecisa

- Ele não pode falar com você, pois nem ao menos acordou para isso! - divagou, antes de girar nos calcanhares, de forma nada amigável

"Min Yoongi versão feminina detectada" - o que de certa forma me aliviou, pois sabia muito bem como lidar com esse tipo de gente ( por experiência própria sentida na pele, literalmente )

- Senhora, por favor, eu só quero vê-lo! - inquiri, ao pôr-me à sua frente, agora impaciente, percebendo o nome Lena escrito em seu crachá azul

A mulher pareceu um tanto sobressaltada com minha insistência, antes de bufar, revirando algumas embalagens que percebi tratarem-se de seringas

- Ok! - felizmente, ao revirar os olhos, concordou, andando à frente, com o mesmo ar de impaciência - Mas nada de fazer brincadeiras, vou apenas trocar o soro, aproveite enquanto faço isso, porque ele deve ser mantido em isolamento por enquanto!

- Porque? - ousei perguntar, percebendo que a mulher inflou as bochechas - Se não for incomodar, claro!

- Ele não pode acordar! Deve descansar o máximo possível... - relembrei as palavras do médico assentindo - E deve evitar irritações também!

A enfermeira meio que me lançou um olhar sugestivo, coisa que não me importei, já que sabia que Taehyung possuía uma personalidade difícil de lidar

Após uma curta caminhada por aqueles corredores, que mais pareceram uma eternidade ao notar que Lena além de possuir um caráter semelhante ao de Yoongi, ainda apresentava uma característica que eu muito odiava

"A de não dar a mínima para diálogos, e nem mesmo fazer questão de corresponder à iniciativas... Com simples respostas curtas..."

Não que eu estivesse interessado em sermos amigos de longa datas, fazendo coroa de flores ao nascer do sol em algum jardim florido enfeitado de duendes roxos

Mas, era irritante procurar informações e sempre ser correspondido com meias palavras

E isso devia claramente a minha ansiedade, principalmente quando à vi abrir a porta e exibir o interior do quarto alvo, onde uma cama hospitalar exibia o mesmo jovem que havia bagunçado minha vida em um curto espaço de tempo

Os olhos fechados, o cateter nasal colado ao rosto, duas bolsas de soro que pendiam em um estandarte de metal ao lado, a habitual roupa de hospital sendo parcialmente coberta pelo lençol tão alvo quanto as paredes do quarto e sua pele, que agora exibia uma aparência nada saudável, com uma palidez crítica

Taehyung não possuía uma pele alva como a maioria dos coreanos desejava e ansiava, o que não diminuía sua beleza, mas agora isso estava longe de ser ressaltada, por sua saúde tão frágil

"Era penoso, vê-lo tão fraco naquele lugar, enquanto seus batimentos soavam junto ao monitor, exibindo números que à mim ainda não faziam o menor sentido"

Mas aquele som de certa forma, amaciava meu coração e acalmava meus nervos

- Tudo bem, aí? - a mulher indagou, mesmo sem me tirar a atenção de alguns objetos sobre uma mesinha ao lado, onde manuseava algumas seringas e medicamentos

- Ele vai ficar bem, não é?! - simplesmente perguntei, ao me aproximar da cama, vendo que o mais novo ainda possuía os lábios um tanto arroxeados

- Pior ele não irá ficar... - simplesmente divagou, quando revirei os olhos, pegando em uma das mãos do acinzentado, coisa que parecia levar leves vibrações de uma certa inquietação ao meu ser

"Mas aquilo não era lugar para questionar o que era certo ou errado..."

- Se ele seguir todas as nossas indicações ficará bem! E... - a ouvi parar de falar, mas não lhe dei atenção, estava muito focado em um fio de pensamento solto em minha mente ao ainda tocar seus dedos, sem perceber qualquer reação vinda sua

Era difícil perceber isso, e não ter nem mesmo um tapa sendo desferido em minha palma, ou reclamações por minha súbita proximidade

"Ele simplesmente não iria acordar..."

- Vocês dois realmente não são nada um para outro além de "colegas"? - à ouvi indagar agora próxima à mim, coisa que me assustei ao afastar minha mão do mais novo em reflexo - Sinceramente, não parece!

- E isso mudaria alguma coisa? - acabei por tentar desconversar, me sentido nervoso

- Talvez... - respondeu, agora surpreendentemente exibindo um leve sorriso - Você poderia vê-lo com mais facilidade!

Apertei meus olhos em sua direção, percebendo que suas segundas intenções, o que de certa forma me causou uma euforia súbita

- Porque insiste nisso? - inquiri, vendo-a revirar os olhos - Eu sou hétero!

Subitamente, ouvi a mulher rir alto, - pelo visto o deboche também era uma marca - me deixando com certa confusão, quando à vi arrumar o cateter nasal de Taehyung, logo remexendo os cabelos do mais novo para trás da orelha

"E aquilo de certa forma me inquietou"

- Sério mesmo? - perguntou, irônica - Mas, tudo bem! Quem perde é você mesmo! Um garoto lindo desses... - sacudiu a cabeça, me fazendo andar para trás - Hora de ir senhor hétero! Mas se quiser dar um beijinho de despedida no seu colega, aproveite!

Ergui uma sobrancelha por tamanha ousadia, olhando o acinzentado de esguelha, antes de me aproximar do mais novo, ainda com certo receio, por vê-lo imóvel

- Vai, menino! Não vou contar pra ninguém... - revirei meus olhos, mas mesmo com tanta apreensão, me curvei diante o rosto desacordado, selando sua testa em despedida, mesmo que desejasse o contrário

- Affs... - ouvi um resmungo vindo da mais velha, e ao aprumar meu tronco indo em sua direção, vendo-a com as mãos nos quadris impaciente - Você é realmente um "Zé Ruela"!

Não tardei em rir, por ver tamanha ousadia de uma mulher que exalava profissionalismo

- Qual o seu problema mesmo?! - acabei por interrogar, ao vê-la abrir a porta, me dando passagem ainda a contragosto

E, ao lançar um último olhar ao mais novo, respirei fundo, não sabendo quando o veria novamente, ou receberia alguma notícia

- Meu problema se chama "Fobia Crônica Contra Incubado"! - à olhei com a boca entreaberta, me questionando que tipo de enfermeira era aquela!

- Você conhece um ser humano atentado chamado Min Yoongi? - a mulher apenas me fitou com certa desconfiança, antes de negar com um menear da cabeça - Ah, acho que isso é bom! Ou melhor, ótimo! Pro bem da humanidade!

Lena apenas desdenhou, antes de andar na direção oposta, sem ao menos se despedir - e saber que ela nada era para Yoongi me deixou ainda mais aliviado ( um sozinho já fazia arruaça na terra, imagine em dupla )

E ao vê-la distanciar-se, acabei por me dar conta de algo... E corri em sua direção

- Sra. Lena, espera! - a mesma olhou por sobre o ombro, logo cruzando o braços - Poderia me avisar se algo acontecer com ele? Se ele acordar... Ficar mau... Qualquer coisa... Por favor?

- Primeiramente senhora está no céu! E segundo... Porque eu faria isso?! - inclinou o corpo para trás, erguendo uma sobrancelha - Aliás, você são apenas colegas...

- Oh, não! - passei as mãos em minha face, já impaciente com aquilo - Eu preciso saber, Lena! Eu fico preocupado!

- Hum, você se preocupa! - passou as mãos no queixo, me deixando ainda mais impaciente pela enrolação - Ok, quero ver até onde você vai negar essa sua pose de "colega"... Aviso, queridinho!

O deboche naquela mulher deveria ter vida própria pra emanar com tanta facilidade... Talvez eu contratasse algum detetive só pra saber onde ela havia perdido a vergonha na cara...

Mas, como eu nem ao menos havia feito isso com Yoongi, não era agora que iria fazer...

"E falando em falta de vergonha, o mesmo havia me enviado diversas mensagens, e eu não havia respondido..."

Abri uma das 12 mensagens que ele havia me enviado, arregalando imediatamente os olhos

"Ontem Gina disse que o 'num transa' foi parar na secretaria depois de ter gritado com o professor na sala... E olha que eu nem criei ele" ~ 9:30 a.m.

"Seu irmão andou fumando orégano enrolado na folha de bananeira? Eu sei q noção não é crack, mas ele já pode usar" ~ 9:32 a.m.

"Pra mim isso é falta de dedo no cú e rola"  ~ 9:34 a.m.

"Ñ tá me respondendo pq? No inferno tem Wi-fi que eu sei, pq minha irmã tá sempre on-line" ~ 9:45 a.m.

"Olha Hoseok, parabéns pela coragem pq noção vc acabou de perder pra tá me ignorando assim" ~ 10:15 a.m.

"Tá sentindo esse calor de hoje? É amostra grátis de onde vc vai quando eu vender teus órgãos!" ~ 10:35 a.m.

"Briguei com Kyungsoo de novo, ele disse que dou mais importância pra um pedaço de Doritos do que pra ele, só pq fomos ao cinema e eu fiquei comendo antes de dormir. Eu falei pra ele que odiava filme romântico... Eu gastei dinheiro pra assistir a culpa é das estrelas com ele... Já é uma demonstração de amor ñ é?" ~ 11:25 a.m.

"A culpa é das estrelas o Kct, pq entre eu e ele tudo é culpa minha!" 11:26 a.m.

"Depois ele mandou eu cagar de cú pra cima e fazer chafariz de fezes, na frente de todo mundo" 11:27 a.m.

"E eu disse que de bosta a vida já tinha cagado ele pra mim, e aí ele me bateu, e jogou o molho em mim... Belo dia né? Vou até guardar na caixinha do Foda-se!"  ~ 11:28 a.m.

"Ah não sei pq eu tô falando isso sendo que eu tô sozinho aqui bebendo. Acho que é álcool que já intoxicou meu juízo... E olha que eu nem bebo pelo cú pra falar merda..." ~ 11: 45 a.m.

"Vó disisti da mia viDa moroza viu ! Quim fez '' macumb '' jah pôder festejar ^ toma no furebis huseok, nem tu liga pá mim # Vou cavar um.buracu e virá avestruz nagora & Tarvez no cu du num faz sexo du teu irmão< " ~ 01:11 p.m.

Não, eu não iria entrar em desespero! 

Deveria? Talvez!

Mas, não era a primeira vez!

Yoongi já havia jogado bombinha de carnaval debaixo do carro do professor de matemática, e feito a escola ser evacuada por pensarem que eram tiros

Riscado na parede do banheiro da escola que o diretor não se depilava pra fazer trancinha com os cabelos da bunda

Feito os garotos do terceiro ano quebrarem o telhado - isso até hoje foi um mistério, mas o buraco ficou imenso no teto

Jogado litros de garrafa pet cheios de água com sabão do segundo andar da própria casa, só pra Gina escorregar

Pinchado o muro da escola dizendo que "todo mundo iria queimar no inferno, pq ter aula dia de sábado era pecado"

E ganhou o recorde quando foi "entregue" em casa por um carro de polícia, depois de ter sido pego em um beco "bêbado", com um saco "suspeito" de conteúdo branco, semelhante à cocaína, segundo a polícia...

Mas, ele não estava "bêbado", por que ser doido já é normal na vida de Min Yoongi, pior ainda quando ele mistura Coca-Cola com manga verde, pimenta do reino, sal e vinagre - pois o tal "saco de cocaína" na verdade era sal

"Pois é, a vida de Min Yoongi é tão fudida que ele já foi 'preso' por comer muita manga verde"

Além de que ele já foi expulso, transferido, suspenso, e estreado todas as cadernetas negras de todas as escolas com eficiência anualmente, além das cartas de recomendações do quanto "santo e abençoado" ele era

E sempre, em todos esses anos, ele foi meu amigo

E mais uma vez eu lhe ligava, sem ser atendido

"É, talvez seja hora de fazer sinal de fumaça em desespero, por quê dessa vez eu não conseguia imaginar o que a vida poderia fazer o coitado... - ela deveria odiar nós dois na mesma proporção com que nos desgraçava"

Como ele mesmo dizia: "só falta a vida nos beijar, porque fudendo com nosso cú ela já tá!"

Andei rapidamente até a recepção do hospital, logo saindo porta afora, tão preocupado com Taehyung quanto com meu amigo

- "Que é? Rascunho do capeta?" - ouvi sua voz embolada, assim que a ligação foi atendida, quando entrei em um táxi, dando o endereço do loiro - "Deveria me agradecer... Eu num' ía ti atender 'naum!"

- Sério? - brinquei, sabendo que quando ele ficava bêbado, não conseguia manter sua pôse arrogante - Você me deixou preocupado! Fez alguma besteira? Sua mãe vai te mandar de novo pro seu avô se não se comportar! Aí vai ter que pagar seus pecados escutando música de corno!

- "Naum!" - gemeu, quando escutei algo ser quebrado ao fundo - "Eu já 'tô na casa dele se quer saber! Ela já fez isso! 'Tá tocando agora o "homem sem beiço"!"

- Homem sem beiço?! - acabei por abafar o fone, e mesmo rindo, avisei ao motorista para mudar a rota, já que Yoongi não estava em casa, então não faria sentido lhe visitar

"Ainda mais porque Gina não me interessava em nada, além de que todas as vezes que visitava o loiro, ele dizia que ela estava em algum zoológico visitando os amiguinhos"

"Amor fraternal era um inferno mesmo"

- "Você não conhece o Cristiano Neves? O cara canta não sem como! Nem beiço tem..." - assim como todas as outras vezes, acabei por rir todo o caminho de volta para casa, esquecendo de todos os meus problemas de uma forma nada sensata

Suga não estava em condições de saber o que havia acabado de acontecer, então preferi apenas escutar suas lamentações e xingamentos, antes de perceber que o motorista me olhava por sobre o ombro, dando à indicar que havia chegado em minha casa

- Yoongi? - o garoto apenas murmurou em resposta - Cheguei em casa! Tenho que desligar, depois continuamos!

- "Tá! Já estou morrendo mesmo... Acho que vou vomitar!" - escutei uma música alta ao fundo, e logo o mesmo fazia som de choro - "Mano, que desgraça! Tenho certeza que o inferno se inspira no meu avô para atormentar as almas!"

Ri ainda mais pagando o homem que me olhava estranho, talvez pelo fato de que a única coisa que havia me visto fazer foi sorrir

- Tá ok, Yoongi! - resmunguei, ainda sorrindo, ao perceber o portão imediatamente foi aberto, assim que olhei em direção à janela do porteiro, exibindo à minha frente a enorme casa, com seu jardim bem cuidado, e um grande caminho de pedras em direção à porta, mas sem sinal do carro de minha mãe - Deixa eu aproveitar agora que minha mãe não está em casa, e correr para meu quarto!

- "Tá, seja feliz!" - murmurou - "Agora vou cavar uma cova para mim! Tchau!"

Andei apressado em direção à porta, logo vendo a sala em silêncio, quando corri em direção às escadas velozmente, mas, como nem tudo é perfeito, escutei logo alguém limpar a garganta às minhas costas

E lá estava meu irmão, se é que pode chamar ele assim... Com seus braços cruzados, batendo o pé

"Eu sabia muito bem o que ele queria"

- Sim, eu sei! A apresentação na sua escola! - o mesmo sacudiu o rosto, parecendo irritado - Eu vou ensaiar, tudo bem?! Agora me deixa em paz!

- Espero que não tenha nada haver com esse negócio de psicopata! Você anda mais estranho que o normal! - adicionou, quando o olhei enfurecido - Sabe muito bem que todo mundo conhece seu estado psicológico, e o quanto você têm problemas com isso! Não surpreenderia ninguém se isso fosse mais alguma coisa sua para chamar atenção!

Fechei minhas mãos em punho, sentindo meus olhos arderem, assim como minha respiração que descompassou imediatamente

"Tirar ou não tirar a vida do irmão, eis a questão..." - fechei meus olhos, antes que algo pudesse ser feito, e fiz a mesma coisa que sempre faço: "girei a maçaneta, e me tranquei no quarto"

- HOSEOK! - o grito de JungKook ecoou, e por mais que minha vontade fosse socá-lo e arrastá-lo escada abaixo e lançá-lo na rua da amargura até me certificar de que algum carro passasse por cima, apenas entrei no banheiro e me tranquei, ligando a torneira da banheira, esperando que um banho me fizesse esquecer de tudo

"De minha mãe... De Namjoon... De JungKook... Do tratamento... De meu passado..."

"Até mesmo de Taehyung?" - Eu não sabia responder isso

Afinal, o mais novo era realmente algum problema?! Parecia que a única coisa que ele sabia realmente fazer era se autodestruir!

"Não muito diferente de mim!"

- Hobi?! - escutei uma batida da porta, e logo desliguei a banheira, que mau havia enchido, me voltando em direção à porta

Afinal, era apenas Heize do outro lado!

- Hoseok? - a mulher arregalou os olhos ao me ver - Tu-tudo bem? Você está vermelho! Estava chorando? Oh, meu solzinho! - senti seus dedos pequenos acariciarem meu cabelo - Quer cuscuz? Ou algum bolo?

Finalmente acabei por rir, negando com um menear da cabeça. A última coisa que queria era comer agora, então simplesmente peguei sua mão, beijando-a, vendo a mulher rir fraco

- Foi seu irmão, não?! - inquiriu, franzindo os lábios - Ele anda meio... Problemático esses últimos dias... Sabia que ele xingou o professor na escola, apenas porque não ganhou a nota máxima? Terrível!

JungKook era dessa forma... Quando queria algo, fazia o possível e corria até mesmo atrás do impossível, apenas para conseguir o que queria... E quando isso não acontecia, depois de todos os seus esforços, era capaz de destruir até o último empecilho em seu caminho

O que nada me surpreendeu ao saber daquela notícia! Principalmente tendo-o me pressionando à ensaiar por sua causa! Ser desafiado, era algo que mexia com o ego de JungKook, e ele não deixaria barato

Principalmente por se sentir ameaçado com essa competição!

- Ele não passa de um mimado, Noona! - ditei, vendo-a dar de ombros - Qualquer dia desses alguém vai fazer ele enxergar o tipo de pessoa que realmente é! Mas pelo visto não será nenhum de nós!

- Ah, com certeza! - a mulher concordou - Têm sempre alguém que o destino nos envia para sarar nossas feridas, cobrir as cicatrizes e nos fazer ver quem realmente somos!

Mesmo sabendo que aquela conversa se tratava de meu irmão, não consegui evitar em lembrar de Taehyung, e de como o mesmo havia desestruturado e feito todas as feridas em meu ser virem à tona

"Mas, ao contrário do que ela havia me dito... Nada parecia ter sido curado... Pelo contrário, estava tudo na carne viva, coagulado!"

- Hoseok?! - a mulher chamou minha atenção, quando finalmente a vi me fitar preocupada - Aconteceu alguma coisa?

- E se... - pensei melhor, ao ter sua completa atenção - Quem for enviado para nós não ajudar à curar, mas sim trazer à tona tudo de novo?

A mulher calou-se, quando percebi algo em suas mãos, um pacote pardo, cujo a mesma revirava pensativa

- A vida mostra quem veio pra ficar ou pra destruir! Não podemos ser burros! - foi incisiva - Às vezes devemos enfrentar nossos monstros, Hoseok; talvez essa pessoa apenas esteja lhe mostrando como! Mas, pense bem... E se essa pessoa também tiver feridas? E se os monstros dela estiverem lhe fazendo ser assim? Talvez seja sua hora de ajudar também!

- Como vou ajudar dessa forma? - apontei para mim, engolindo em seco - Eu não tenho condições de ajudar alguém!

- Enquanto houver vida sempre haverá uma segunda chance! E você poderá usar ela para segurar a mão de alguém... Mesmo que tenham que amparar um ao outro! - falou, séria - Não se julgue, Hoseok! Nem julgue os outros... Todos falhamos... Só precisamos de tempo para aprender à mudar!

Em meio às suas palavras, apenas baixei os olhos, vendo que talvez tudo não fosse apenas tempestade minha... Fruto do desespero

"Eu era falho... Mas, estava indo longe demais por julgar o que era certo ou errado, segundo meus medos..."

Enquanto Taehyung perecia diante aos meus olhos... Uma vida como a minha... Problemática como a minha... Cujo eu não havia estendido a mão, por medo...

Eu não podia aceitar isso! Por mais ruim que ele pudesse ser! Sempre havia uma saída! Eu não iria ser como seu irmão... Nem como o meu!

Algo deveria ser feito!

- É... - ouvi a mulher tornar à dizer, ainda me fitando curiosa - Mandaram isso pra você! E eu esqueci de lhe dar! - a mesma que entregou o pacote, me deixando nervoso ao ver o remetente - Qualquer coisa estarei aqui! Desculpe se fui arrogante! Mas, é necessário às vezes!

- Não, Noona! - ditei, beijando o topo de sua cabeça, quando a ouvi rir - Eu sou cabeça dura às vezes... Não me imagino sem você aqui!

- Tudo bem, meu solzinho! - sorriu, fechando um pouco os olhos - Agora deixa eu voltar para a cozinha! Até mais!

E saiu, apressada, enquanto eu fechava a porta com pressa, lendo a origem do pacote em mãos, rasgando com euforia o papel pardo, vendo vários sacos plásticos envolvendo uma capa preta de DVD sem conteúdo algum

- Hum?! - murmurei, sem entender muita coisa, ao abrir, vendo um papel em seu interior, junto à um disco com o nome "Paciente 098"

Minha mente imediatamente pareceu ficar à deriva, quando me vi estático desdobrando o papel, ao ver a letra cursiva e um pouco trêmula sobre o papel alvo

"Jung Hoseok,

Vou ser curto e franco, já que as formalidades à tempos deixaram de ser algo pela qual me importo! Pode parecer rude o modo como cuido de meu irmão! E até mesmo cruel, a forma como o mantenho "preso" dentro de casa! Mas, depois de um tempo, tudo isso veio à ser apenas um detalhe, quando minha mãe se foi, quando meu "pai" morreu... Ou quando nossa irmã se tornou um anjo no céu!

Não vou me estender muito, já que nem mesmo gosto de entrar em detalhes... Se você buscar o nome de meu irmão na internet, talvez saiba do que falo... Nossa família foi bem "conhecida" à uns 10 anos atrás... E mesmo que o tempo tenha se passado tão rápido, ele parece que nunca se foi dentro de Taehyung, ou de mim...

Assista esse DVD, e você verá do que falo... Pode parecer não fazer sentido no começo, mas ele segue em ordem cronológica. Apenas respire fundo antes, e tente não se desesperar! Quero apenas que saiba como quem está lidando!

Que saiba realmente quem é meu irmão!

De Park Jimin"

Fixei as últimas palavras, relendo alguma vezes... "Quem realmente é meu irmão" e mesmo sem muita coragem, ou vontade, peguei o disco, levando ao notebook, que graciosamente tinha um compartimento com leitura para DVD

E, após alguns segundos, vendo o disco ser lido pelo aparelho já ligado à minha frente, enquanto algumas lufadas de ar ansiosas eram dadas por mim, arregalei meus olhos ao ver várias janelas na tela, com ícones pretos e datas

- Mas... O que é isso? - arrastei a tela para baixo, vendo cada vez mais datas, que datavam do ano de 2009 e se aglomeravam até a última que grifavam em 2015

Mas, o surpreendente não era aquilo, mas a quantidade... O canto da tela marcava de 01/260, ou seja eram 260 vídeos no total que aquele disco comportava e todos com a legenda após uma determinada data cujo o primeiro descrevia: "Paciente 098 (09/09/2009)"

Respirei fundo, abrindo a primeira janela, que deu início à imagem de uma criança, aparentemente uma menina, com uma roupa longa de hospital, sentada em uma cadeira, cujos cabelos longos cobriam o rosto parcialmente, tendo suas mãos pousadas no colo

Parada e sozinha

"Parecia mais um filme de terror"

- "Nove de setembro de dois mil e nove, paciente sobre o registro de número 098, Kim Tae Hyung, tendo nove anos de idade. - respirei fundo, ainda descrente da voz que citava, e ainda mais nervoso ao perceber que ali não se tratava de uma menina, mas de Taehyung - Eu, Dr. Lee Teuk, faço registro do caso arquivado e encerrado sob número 0019980822 em anexo no Tribunal de Justiça em Seul, em Câmara Criminalística, introduzida sobre a lei do Código Civil em artigo 121, onde o paciente em questão foi tido como acusado e absolvido, por ser acometido com causa psiquiatra em questão, sobre suspeita de CID-10 F60.2, ou Sociopatia."

Percebi que o mais novo ainda se mantinha imóvel, e por mais que as palavras soassem como confusas aos meus ouvidos, de certo era algo extremamente sério o que se tratava. O mais novo havia sido apontado em algum crime, e isso já me deixava à beira da apreensão, quando respirei fundo, tentando não perder o foco

- "Visto que o mais novo sofreu maus tratos, e anos de aliciamento pelo pai, sendo mantido em isolamento familiar crítico, onde sofreu e assistiu violência doméstica, e à execução da mãe e irmã, acrescento que a causa tida tende à acarretar a feita tragédia, registrada anteriormente. E, eu, como profissional, abraço a causa." - o homem ditava cada palavra calmamente, mas ainda assim o mais novo em nada parecia ter efeito

Ao contrário de mim, que sentia os olhos turvos pela ansiedade, aliada a questão de nada parecer ter sentido, além do que ainda parecia despercebido e até enlouquecedor

"Eu precisava de explicações, mas a única coisa que recebia eram mais interrogações"

- "Seja bem-vindo, Kim Taehyung! Será um prazer lhe ajudar!" - o homem enfim ditou, mas ainda assim o mais novo não se movia - "Pode me dizer porque acha que veio parar aqui? Qual a sua opinião à respeito de tudo que aconteceu?"

Minha apreensão pareceu aumentar, quando o foco foi intenso no rosto do menor, que parecia não possuir quaisquer emoção, mesmo tendo traços extremamente infantis, e até mesmo um certo ar inocente

- "Papai disse que eu sou uma menina má! Que eu deveria me comportar e fazer coisas de menina!" - a voz fina de certa forma me assustou, enquanto via o garoto arranhar os próprios joelhos - "Eu sou má, eu sou má... Eu fiz mau... Mau... Ele está certo! Eu nasci feia... Eu nasci errada... Errada... Errada... Errada... Errada..."

- "Taehyung?" - o médico perguntou, enquanto o garoto sacudia a cabeça, agarrando os próprios cabelos longos

- "Errada... Errada... Errada..." - o garoto repetia, se encolhendo, enquanto repuxava os próprios fios com certa brutalidade

- "Taehyung, acalme-se!" - o médico ditou, parecendo preocupado

- "Não! Meu nome é Taeyeon" - o garoto gritou, ainda sacudindo a cabeça - "Papai disse que tá errado! Appa batia na Omma... Ela me fez errada!" - o menor ainda sacudia a cabeça, puxando os fios - "Ele puniu, ele... Feriu... A bebê... Ele feriu o Jimin... Ele... Ele... Eu errada..."

As palavras sem nexo me deixaram ainda mais confuso, enquanto via o garoto se balançar, se alto denominando garota... O que de nada parecia fazer sentido, além da qual o pai parecia explorá-lo, fazendo-o ser uma menina

"Repugnante" - passei as mãos em meu rosto, vendo finalmente um certo sentido naquilo, mas o que ele queria dizer com "punir"e "ferir"?

"O pai dele havia matado a própria esposa? A filha?" - isso não poderia ser verdade, era cruel demais para ser

- "Taehyung, se acalme!" - o doutor ditou firme, fazendo o mais novo enfim parar e aprumar o corpo, olhando fixamente para o médico - "Taehyung?"

- "TAEHYUNG NÃO!" - o garoto, de forma horrenda, pulou como um animal sobre o médico, colocando as mãos sobre seu pescoço, quando o mesmo foi imediatamente segurado por três homens vestidos de branco saído dos fundos, enquanto se debatia e gritava, chutando-os, o que apenas piorou a situação; pois, mesmo sendo ainda pequeno, eles não pareciam ter controle do menor

" - Ele matou"

" - Você não é meu pai"

" - Errada! Nojenta!"

" - Ela se matou! Não aguentou ver o sangue!"

" - Foi ele, ele! Punido! Mereceu ser punido!"

- "Corta!" - o médico gritou, ainda apalpando o pescoço, que possuía uma vermelhidão incomum, quando tudo se tornou negro, encerrando o vídeo, e logo vi o novo vídeo carregar, quando simplesmente pausei

Não iria aguentar ver outro. Não com meu coração batendo desgovernado, e com minha respiração desregular

"Taehyung havia sido abusado pelo próprio pai... E se comportava como uma garota, influenciado provavelmente pelo próprio homem... Sofria maus tratos... E via sua mãe sendo violentada... Assistiu sua irmã e sua própria mãe serem assassinadas... Ou não?!"

"Ele gritou que ela se matou..."

"Afinal quem estava falando a verdade? Taehyung havia sido incriminado, pelo visto, mas porquê?!"

"Para quê tamanha crueldade? Havia necessidade de tudo aquilo?!"

Segurei o mouse, ligado ao aparelho, apertando play no vídeo seguinte

Provavelmente a resposta para tudo estaria nos capítulos seguintes... Restaria apenas eu aguentar ver!

Continua...