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História Release Candidate - Ventilação


Escrita por: Agridoce

Notas do Autor


♪ I feel like i'm drowning - two feet

Acho que esse capítulo foi mais uma introdução para o próximo. Como eu não tenho pressa, optei por deixá-lo desse tamanho mesmo.

Capítulo 4 - Ventilação


Fanfic / Fanfiction Release Candidate - Ventilação

Eu podia sentir meu rosto melado por causa da camada fina de suor que havia ser formado por conta do meu medo. Era como se eu me sentisse desconfortável dentro do meu próprio corpo.

Naruto tinha morrido. Ele quis andar comigo para me proteger e acabou morto.

Comecei a hiperventilar sentindo a culpa inundar cada célula do meu ser.

Naruto foi assassinado, e eu tinha uma parcela de culpa naquilo.

“Onde estamos?” Perguntei institivamente ouvindo minha voz ressoar em meu próprio capacete como havia acontecido tantas vezes desde que eu o havia colocado.

Desistindo de obter uma resposta do tal Sasuke, já que ele não podia me ouvir, permiti que meu corpo descansasse minhas costas na superfície fria daquele lugar limitado por paredes de metal e cedi à necessidade que minhas pernas tinham de me fazer sentar no chão.

Naquele momento pouco me importava onde eu estava, com quem eu estava e que eu era uma impostora. Eu só queria chorar até que tudo aquilo acabasse. Olhei para minhas mãos esperando encontrar sangue nelas, mas estavam limpas, assim com a faca que Sasuke estava guardando e seu bolso. Como o sangue havia sido limpo?

Porém, não me dando tempo para digerir o que tinha acabado de acontecer, Sasuke se agachou para ficar pareado com minha altura e, num movimento rápido e completamente inesperado, tirou seu próprio capacete destravando o meu e o puxando para cima logo em seguida.

“Como você fez isso?”

“Nós não temos muito tempo, Sakura. Acho que já está mais que claro que que nós somos os dois impostores da nave e que temos algumas vantagens quando comparados aos outros tripulantes.” Ainda sem acreditar no tema da nossa primeira conversa, eu pisquei algumas vezes extasiada por ouvir finalmente a voz de outra pessoa e confusa por ele estar focando naquilo ao invés de tentar se explicar por ter matado o Naruto. “Nas tubulações conseguimos conversar sem capacete, eu acabei caindo em uma sem querer, no desespero tentei destravar o capacete e percebi que o conseguia fazer... Deve ser algo característico dos impostores.”

“Você matou o Naruto.” O acusei com minha voz baixa e branda, ainda me sentindo lenta, tonta e acuada.

Vejo que minhas palavras o atingem pela forma que suas sobrancelhas negras se juntam em sua testa. “Assim que eu os vi no refeitório percebi que tanto ele como você suspeitaram de minha presença. Além disso, você parece que não sabe o que está fazendo, Sakura. Se eu não o matasse, ele poderia me acusar depois, e eu não quero morrer.”

Poderia até haver lógica em seu raciocínio verbalizado: Matar para não ser morto. Mas ali também tinha crueldade na mesma proporção.

“Eu não consigo te matar, os inocentes parecem não ter uma arma como nós temos... Não faz sentido você temer tanto a morte a ponto de assassinar alguém. Naruto não podia nem se defender, Sasuke.” Comecei a externar meus pensamentos ao mesmo tempo que eu tentava aceitar a situação em que eu me via inserida. Sasuke tinha matado Naruto a sangue frio, sem pensar, sem dar qualquer chance para que ele se defendesse, aproveitando-se do escuro e de minha ignorância.

“Você se esqueceu do que os avisos nos disseram mais cedo? Se suspeitarem de nós e por isso votarem em nós, seremos ejetados da estação espacial.”

Ejetados.

Eu já pensei algumas vezes em quais seriam as piores mortes que poderiam acontecer comigo...

Morrer com alguma doença terminal era o que mais me assustava. Qualquer coisa relacionada a câncer ou enfermidades incuráveis me deixava tão aflita, que eu não sabia se eu ia ter disposição de tentar um tratamento seja lá qual ele fosse.

Me disseram uma vez que morrer afogada era doloroso; meu conhecimento falho sobre o assunto se resumia a algo relacionado a pulmões cheios de água e uma consequente sensação de queimação no peito causada por causa do líquido no órgão errado. Claro, essa dor somada ao desespero inimaginável que deve ser tentar respirar e não conseguir só deixava o cenário ainda pior.

Sobre morrer queimada... Acho que nem precisa imaginar muita coisa para classificar esse tipo de morte como uma das mais dolorosas e desesperadoras.

Eu também tinha medo de ter umas mortes idiotas. Na última vez mesmo, ao tomar banho naquela Estação espacial, depois de escorregar o pé na água com sabão acumulado no chão do box do chuveiro, eu me vi ali paralisada, vendo a água escorrer por mim enquanto agradecia mentalmente por não ter caído e batido a cabeça de alguma maneira mortal. Seria muito humilhante ser encontrada pelada e morta no banheiro.

Porém, acho eu nunca tinha ponderado sobre morrer ejetada.

Morrer no espaço, no vazio, no infinito...

Meu conhecimento simplório sobre física me fazia saber que no espaço não havia som, não havia oxigênio e nem gravidade. Após Sasuke me lembrar do detalhe da votação e de uma possível morte do suspeito de quem fosse considerado traidor, internamente eu agradeci o peso da faca em meu bolso, ao mesmo tempo que comecei a temer por minha vida e identidade.

“O que a gente vai fazer, então?”

“Eu não sei quando vamos conseguir conversar de novo assim, em particular.” Sua voz grossa e imponente era o suficiente para que eu me sentisse presa a ele, atenta e curiosa a tudo que ele estivesse disposto a me falar. Ou Sasuke poderia ser considerado um orador talentoso, ou eu uma admiradora estupidamente passional. “Mas acho que você já percebeu que a gente tem que se ajudar sem levantar suspeitas.”

“Você está me dizendo que eu vou ter que matar?”

“Vai.”

“E vou ter que te defender na hora da votação?”

“Sim.” As respostas que Sasuke me davam era irritantemente curtas, sérias e claras. Não havia espaço para dúvida e a certeza de que eu teria que matar alguém me assustava.

Passei a minha língua em meus lábios tentando achar minha voz para fazer mais perguntas, mas o outro impostor se levantou, me incentivando a imitá-lo, mesmo que eu o fizesse com movimentos mais lentos.

“Sei que você tem muitas dúvidas, acredite, eu também as tenho. Mas eu não quero morrer, Sakura.”

Acenei positivamente com a cabeça concordando com ele. Eu não queria matar ninguém, mas também não queria morrer.

Aproveitando da nossa excessiva proximidade, consegui reparar em todos os detalhes que até aquele momento eu não tinha conseguido considerar por conta de nossa falta de contato. Não que aquela roupa composta por um tipo de macacão futurístico grosseiro me deixasse ver muita coisa. Mas os traços das tatuagens coloridas que ornavam seu pescoço ainda estavam ali, mais nítidas e mais reais. Seus olhos extremamente negros e praticamente sem pupilas eram ainda mais intensos aquela distância e toda sua força de presença era ainda mais esmagadora dentro daquele espaço confinado.

De repente eu me vi sem ar, mas não por causa de toda a situação insólita, mas pela presença do que seria o meu parceiro dentro daquele pesadelo.

“Tem alguma dica para me dar? Afinal, onde estamos?”

“Essas tubulações funcionam como atalhos, eu acho.” Encarando a saída de ventilação atrás de meu corpo, Sasuke parece conferir se as luzes ainda estão apagadas, ou se alguém podia ver a gente. “Eu realmente não sei como as coisas funcionam aqui, Sakura. Eu não matei Naruto porque eu quis matar, mas eu não queria que ele levantasse suspeitas em relação a minha identidade.”

“Você atraiu a gente até a elétrica?”

“Sim e não. Num primeiro momento eu achei que você fosse matar Naruto, já que estávamos apenas nós três na sala de armazenamento. Mas quando vi que não ia fazê-lo, acabei seguindo aleatoriamente pelo corredor que leva até a sala de elétrica, que me deu a ideia de sabotar o sistema de luz. Então eu apertei a opção no nosso menu de impostor e esperei que vocês viessem até mim.”

“Como sabia que eu e Naruto seríamos os primeiros a chegar aqui?”

“Não sabia, foi sorte na verdade. Mas pela lógica... Vocês eram os que estavam mais perto da elétrica. Então resolvi arriscar e esperar vocês lá.”

Me permiti respirar profundamente, soltando o ar de maneira brusca e sonora pela boca enquanto eu fazia um resumo rápido para mim mesma sobre os últimos minutos que tinha passado ali dentro com Sasuke.

Nós dois éramos os impostores.

Sasuke tinha matado Naruto.

Um impostor não pode matar outro impostor.

Nós podíamos sabotar coisas e usar as ventilações como atalhos, além de conseguirmos conversar dentro delas.

A gente podia ver no escuro enquanto os outros tripulantes ficavam praticamente cegos com a falta de luz.

Eu teria que ser amiga de Sasuke se quisesse sobreviver... Eu teria que ser uma assassina se quisesse sobreviver.

“O que a gente faz agora?” Perguntei derrotada. O capacete em minhas mãos estava pesado e meu corpo pedia por mais descanso ao mesmo tempo que se mantinha alerta, talvez querendo se mover por conta do instinto de sobrevivência.

“Vamos nos separar. Enquanto você volta para a elétrica e conserta a luz que eu sabotei para as pessoas acreditarem que você estava com Naruto, eu vou para outro lugar...”

“Outro lugar?”

“Quando estamos nas ventilações podemos escolher algumas salas para reaparecer, mas temos que tomar cuidado para não ter mais ninguém nelas.”

Concordei com um aceno breve de cabeça anotando mais aquele detalhe mentalmente.

Com o olhar triste, derrotado, Sasuke assentiu mantendo os lábios sisudos numa linha reta.

Sem mais nada o que dizer, e meditando internamente se já não estávamos tempo demais ali dentro, senti meu peito formigar, como se gritasse para eu sair dali e agir como uma impostora.

“Sasuke, eu tenho só mais uma pergunta.”

“E qual seria?”

“Como você sabia que eu era outra impostora?”

“Seu nome...” O peso de seus dedos roçaram em meu uniforme como se contornassem as letras do meu nome. “Acho que nós vemos os nomes do outro impostor escrito em vermelho, enquanto os inocentes são brancos. Deve ser um tipo de maneira de conseguirmos nos identificar sem necessariamente conversarmos.”

Sua constatação me fez olhar para baixo, como se para comprovar sua teoria. “Eu não tinha notado.”

“Eu percebi.” Quando levantei minha cabeça novamente para encará-lo, um sorriso estupidamente torto estava brincando em seus lábios. Eu sabia que aquele não era a hora nem momento para ponderar sobre a beleza das pessoas, mas Sasuke era um homem extremamente bonito.

“Vamos.” Sibilei sem vontade, agora colocando meu capacete com certa raiva por voltar a pertencer àquele silêncio ensurdecedor.

Assim que voltamos a ficar devidamente equipados, eu escolhi por sair pela portinha de onde eu tinha entrado, enquanto Sasuke seguia por outro caminho que eu, sinceramente, não sabia qual era.

Ao voltar a sala de elétrica, pude encarar o corpo de Naruto ali caído no chão e com pouco sangue no ferimento feito por Sasuke a minutos atrás. Pisquei lentamente evitando de olhar novamente na direção do corpo morto do loiro para impedir de ter ânsia de vômito. Em seguida, obriguei meu cérebro a mover minhas pernas em direção a caixa de luz principal para eu tentar reparar a energia que Sasuke havia sabotado.

Ao abrir a caixa de energia, tateei os interruptores, percebendo que apenas um estava fora do padrão.

“Deve ser esse.” Concluí para mim mesma, me assustando com o tanto que minha mão tremia ao se sobrepor ao botão.

Traguei minha saliva no mesmo momento que empurrei o interruptor, que estava abaixado, para cima.

A energia foi religada.

A mensagem de que tudo havia voltado ao normal apareceu quase que no mesmo segundo em que eu tinha mexido na caixa de luz. “Agora todo mundo deve estar enxergando normalmente.” Fechei a portinha de metal onde ficava os interruptores e desenhei algo incoerente com o dedo indicador numa tentativa de distrair minha mente antes de me virar para trás.

Me preparando psicologicamente para contornar o corpo desfalecido e sair dali o mais rápido possível, me virei para trás dando de cara com outra tripulante parada rente a porta. Eu me lembrava dela. Ela vestia a cor branca e havia passado por mim e Naruto correndo a pouco tempo atrás, antes das luzes se apagarem por causa da sabotagem. Provavelmente ela tinha demorado para chegar até ali por conta da falta de luz.

Mesmo sem poder olhar dentro dos olhos dela por causa do capacete, eu me lembrava vagamente que eles eram absurdamente claros, como se fossem feitos de um cinza esbranquiçado. Após me recordar quem ela era, senti meu corpo se agitar, como se meu sangue estivesse quente e vivo, me avisando que eu estava em posição de desvantagem.

Com medo, desesperada e ouvindo apenas minha intuição, apertei um dos botões de denúncia que se localizava perto do meu nome.

Mais rápido do que a volta da luz, uma mensagem piscou na minha tela pessoal, convocando todos nós para uma reunião no refeitório.

A primeira votação iria começar, e para sobreviver eu teria que acusar a tripulante vestida de branco.


Notas Finais


- Relembrando que seria mais interessante se os leitores tivessem uma noção básica sobre o jogo, principalmente. Para introduzir pessoas reais na Fanfic tive que mudar alguns conceitos e detalhes, mas eu particularmente acho que está ficando bom... Diferente, mas bom.

Obrigada aquelas que estão comentando os capítulos! Não respondo, mas leio todos.


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