História Reminisce - Love of my life, can't you see?

Amor da minha vida, você não vê?

Love of my Life - Queen

Deitado na cama espaçosa do quarto de hóspedes da cobertura onde morava atualmente com a esposa, Sasuke não conseguia descrever o que sentia. Era um vazio tão grande que o puxava para a escuridão de um buraco e cada vez mais ele descia para o fundo.

Ele sabia o quanto suas atitudes machucavam as pessoas a sua volta e se sentia mal por fazer isso, sabia como deveria agir e por mais que parecesse fácil ser diferente através das versões dos conselhos que ouvia de seus pais, para ele não era tão simples assim.

Desde criança que ele era reservado e indiferente com as pessoas fora do seu círculo familiar. Poucos eram os que conseguiam penetrar bolha de indiferença que envolvia o moreno. Entre essas exceções, estava Sakura.

Ou esteve.

A verdade é que a cada dia eles estavam mais distantes um do outro, e depois da morte de Daisuke um muro cresceu entre os dois.

Provavelmente, a maneira diferente de encarar o luto foi o alicerce para a construção da barreira que parecia cada vez maior.

O coração materno da Uchiha sangrou as vistas de todos, inclusive dele que não sabia o que fazer. Não sabia lidar com o próprio sofrimento e nem como lidar com o sofrimento da esposa.

Não era um homem de muitas palavras, mas tentou confortá-la de diversas maneiras e nenhuma delas foi suficiente. A maneira como Sakura expressou sua dor fez com que ele sofresse calado, porque alguém precisava agir com a racionalidade naquele momento.

Com certeza esse alguém era ele.

Ele era a o cérebro, ele era quem mantinha os pés no chão e ponderava sobre a hora de parar, sobre a hora de ser sensato.

Cabia a ele ser racional em um relacionamento que começou como um conto de fadas, mas aos poucos perdeu a magia.

Como o ser racional que era, ela sabia reconhecer seus próprios erros, mas sabia que não era o único culpado do rumo que o casamento estava tomando.

Ambos tinham suas parcelas de culpa e sofriam pagando o preço por suas falhas. Acontece, que o cérebro como um órgão “inteligente” sabia criar mecanismos de defesa que conseguiam pelo menos aliviar a dor.

Ou no caso dele, disfarçar com a máscara da indiferença e sofrer sozinho.

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6:00 AM marcava o relógio que nem chegou a despertar. Ela que mal dormiu desligou o alarme e levantou para se arrumar para o trabalho.

Os olhos inchados denunciavam o choro que durou praticamente a madrugada toda, e por isso foi necessária uma make caprichada para esconder as marcas que carregava nos olhos.

Ainda vestia apenas um conjunto de bustiê tomara que caia preto, calcinha preta de renda e meias ⅞ presas ao bustiê por uma cinta liga quando Sasuke entrou no closet da suíte master que “dividiam”.

Os olhos dele demoram no corpo dela quando a viu usando apenas lingerie.

Aquele corpo era a sua perdição! E como poderia ser o contrário? Nos 11 anos de relacionamento que compartilhavam ele foi espectador das mudanças que ocorreram, observando com olhos atentos o corpo esguio de adolescente ganhar curvas sinuosas de mulher.

Parou atrás dela e a prendeu entre seu corpo (coberto apenas por uma toalha branca enrolada na cintura), e a penteadeira onde ela terminava de passar o batom vinho.

Ela sentiu a maçã do rosto esquentar e enrubescer quando o sentiu atrás de si. A respiração dele batendo em sua nuca, o corpo ainda úmido pelo banho tomado a pouco tempo e olhar que trocavam através do espelho faziam uma antiga, mas conhecida sensação de frio nas espinha correndo sua epiderme.

Mas ela não estremeceu nem demonstrou que a atitude dele abalou suas estruturas, permaneceu com sua pose inabalável, traço de personalidade que desenvolveu quando entrou para a família Uchiha 

- Eu errei com você ontem! - ele quebrou o silêncio a encarando pelo espelho.

- Ontem? - Sakura questionou erguendo a sobrancelha.

- Eu não vim aqui para brigar - ele respondeu depois de um longo suspiro.

- Eu também não quero isso - disse se soltando dos braços dele - eu estava disposta a conversar com você ontem Sasuke - calçou os saltos Christian Louboutin - mesmo depois de tudo. - vestiu o tubinho preto McQ - Okaasan disse que você tinha explicações e eu até acreditei - colocou o relógio Juicy Couture - mas depois do que fez quando chegamos em casa, acho que suas explicações não passavam de mentiras, que você ainda estava tentando formular - pegou o Óculos RetroSuperFuture e a bolsa Miu Miu - guarde suas desculpas para quem quer ouvir, estou de saída - saiu e fechou a porta de correr do closet.

A atitude da esposa não o surpreendeu em nada, já esperava aquele tipo de  comportamento e sabia que não estava em condições de cobrar nada, não depois do que fez na noite anterior.

E por outro lado, ele sabia que ela não iria muito longe, por isso se apressou em vestir o primeiro conjunto de terno Italiano que encontrou, borrifar algumas gotas de Man In Black, e assim que terminou sua rápida arrumação desceu para o estacionamento do hotel, onde encontrou uma Sakura quase perdendo a pose diplomática.

- Onde está o meu carro? - perguntou impaciente, lembrava de pedir a Kabuto que levasse o automóvel para o hotel depois que saíram da mansão Uchiha.

- Eu disse a Kabuto que não precisava trazer.

- Você o q-

- Vamos - pegou na mão dela e entrelaçou os dedos - eu também estou indo para a Uchiha-Med.

- Não vou a lugar nenhum com você!! - tirou o celular da bolsa para discar o número de um táxi.

- Vamos chegar atrasados se você não entrar agora - ele abriu a porta do passageiro e fez sinal com a mão para que ela entrasse.

A Uchiha se deu por vencida e acabou entrando no carro, mesmo a contra gosto. Filha de diplomatas, cresceu em um lar cheio de regras e tinha orgulho de seguir os ensinamentos de seus pais, sendo um deles a pontualidade.

Durante o percurso ele a observou de esguelha enquanto dirigia. O tempo todo ela não desgrudava do celular. Digitava com tanta raiva que era capaz que trincar a tela do aparelho. Quando parou em um dos semáforos constatou que conversava com Ino, e sabia que era ao seu respeito, não podiam estar falando coisas boas, afinal Sakura estava com ódio fulminante dele e a loira não simpatizava nem um pouco com ele.

Quando estacionou, o primeiro ato da rosada foi tentar abrir a porta, mas ele havia travado propositalmente.

- Sasuke abre a porta!

- Me escuta, só por um minuto.

- Você tem 58 segundos então seja rápido.

- Como eu disse, quando eu cheguei, você estava dormindo e por isso eu fui até a casa dos meus pais e acabei dormindo por lá.

- 40 segundos.

- De manhã quando acordei precisei ir até Chiba resolver um problema envolvendo a entrega de um carregamento, acabei ficando preso lá o dia inteiro.

- 20 segundos.

- Eu não te liguei porque não tive tempo, e por isso decidi passar na empresa pra te pegar mas você já tinha ido embora. Eu não fazia ideia que meu pai tinha te contado, e nem iria te contar isso por telefone.

- Você ainda tem 5 segundos, quer falar mais algumas coisa?

- Me desculpe, Sakura - disse colocando a mão sob a dela que repousava a cima do banco.

- Tempo encerrado - ela abriu a porta e saiu do carro.

Ele observou através do vidro ela se distanciar. Sabia que tinha cometido erros, e não era hipócrita a ponto de negar isso. Mas Sakura também dificultava as coisas, principalmente por não enxergar que no fundo do erro dele, existia um pedido de ajuda.

Flashback

(Um mês após a morte de Daisuke)

- Sakura - chamou por ela e entrou no quarto do filho, onde ela passava dia e noite desde que ele se foi - você não comeu nada hoje.

- Não estou com fome - respondeu sem olhá-lo, e permaneceu parada a poltrona, abraçada com o dinossauro de pelúcia que Daisuke costumava chamar de herança de família por ter sido um brinquedo do pai, que ganhou de presente do irmão.

- Querida, você precisa se alimentar - se abaixou para ficar na altura dela e acariciou os cabelos já desbotados por falta de manutenção do tom rosa.

- Eu sei - respondeu finalmente olhando para ele com os olhos marejados - mas eu não consigo.

- Vamos embora daqui Sakura, para qualquer lugar, por favor! Eu não aguento mais isso, nem você.

- Eu não vou sair de perto do meu filho.

- Daisuke não está aqui, nessa casa, nesse quarto. Vamos recomeçar nossa vida em outro lugar, vamos para onde você quiser, podemos ter outros filhos e- 

Foi interrompido por um tapa no rosto.

- Meu filho não era um objeto para ser substituído.

- Não foi o que quis dizer.

- Sai daqui, antes que eu te odeie mas do que te odeio agora!

Flashback off

Naquele dia em que Sakura interpretou mal suas palavras, sua alma também gritava por socorro, ele estava suportando um peso tão grande em suas costas, para não desmoronar na frente dela, porque ela precisava dele e acabou escondendo sua dor.

Mas o que ela não via é que ele também sofria, em silêncio, mas sofria.

Ficar naquele carro não ajudaria em nada seu casamento, não diminuiria a dor em seu peito e não mudaria em nada sua vida. Aprendeu desde criança que aqueles que carregavam o sobrenome Uchiha não se abatiam diante das adversidades, então, mas uma vez em sua vida fez o que tinha (e não o que precisava) fazer, entrou pela porta da frente para encarar mais um dia de trabalho, mais um dia.

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Quinze dias depois de sua volta as coisas permaneciam sem avanço entre ele e Sakura. No início ele continuou procurando por ela, mas com o tempo cansou. Não valia a pena insistir quando apenas ele demonstrava querer uma trégua.

Os dois dividiam a mesma cama e trocavam algumas palavras quando necessário, na empresa ela assumia o papel de esposa, mas ele sabia que aquilo era apenas para manter a aparência para os funcionários curiosos que falavam as escondidas sobre as fofocas em torno do casamento dos dois. Quando saiam da empresa era cada um por sí, não faziam as refeições juntos, não conversavam, não se tocavam… a última vez que estiveram juntos como homem e mulher foi bem antes da ida dele para os EUA.

Viagem que foi decidida após uma briga dos dois que quase acabou com ele perdendo a visão do olho direito quando Sakura em um surto jogou um copo de vidro contra o rosto dele.

Na ocasião, Naruto foi quem conseguiu conter a Uchiha que estava descontrolada após Sasuke levá-la da casa em que viviam para a cobertura que dividiam no momento. Ele tomou essa atitude desesperada depois que todas as tentativas de tirá-la do quarto de Daisuke falharam e essa foi a única solução que encontrou naquele momento.

Karin, sua ex namorada, cuidou para que a cirurgia que retirou os estilhaços de vidro das córneas ficasse em segredo, Sakura não imaginava as consequências daquele ato e nem mesmo Mikoto e Fugaku sabiam do ocorrido.

Indo contra as recomendações médicas, ele entrou no jatinho particular que levaria a Uzumaki para New York e voou com ela, porque se afastar de tudo, inclusive da esposa, era o melhor que podia fazer naquele momento

Flashback

- Tem certeza que não vai ligar para a polícia? - perguntou a ruiva.

- Tenho.

- Sasuke, ela te agrediu…

- Ela perdeu um filho Karin.

- Você também também, nem por isso tem agido como ela.

- Ela é minha esposa, e está frágil, só precisa de um tempo.

- Talvez seja melhor internar ela em uma clínica ou algo do tipo.

- Ela nunca me perdoaria se eu fizesse isso.

- Você pensa muito na Sakura, devia pensar mais em você - disse a ruiva colocando a mão sobre a dele.

Ele puxou a mão e não a respondeu, foi até o quarto do jatinho e trancou a porta.

Naquele dia ele finalmente chorou a morte do filho.

Chorou calado, até a aeronave pousar em solo americano.

Flashback off