“Eu vou manter o mundo ao seu melhor. E eu vou fazer
melhor com cada batida do coração que me resta.”
— LIGHT by SLEEPING AT LAST
As semanas passaram numa velocidade inacreditável.
Num dia tudo parecia tão normal e no outro, ao acordar ao lado de Jungkook, Jimin não conseguia mais senti-lo.
Enquanto encarava suas enormes e belas asas — já completamente crescidas — no reflexo do espelho no banheiro, Jimin sentia todo o seu interior se retorcer em dúvidas e receios.
O dia havia chegado.
Jimin voltou para o quarto, sentando na cama e observando Jungkook dormir — a respiração lenta e regular do humano fazia o anjo se sentir mais calmo. O relacionamento dos dois havia melhorado significativamente, mas... Por quanto tempo? De repente, ele passou a se questionar se o correto era deixar de ser um anjo da guarda. Jungkook poderia precisar de si em algum momento e Jimin não teria como ajudá-lo, afinal, os humanos são frágeis e limitados.
No começo da sua punição, o anjo estava convicto que tendo um ao outro era o suficiente para enfrentar qualquer problema que pudesse surgir, mas a medida que o tempo passava e Jimin se compactuava ainda mais com sua versão humana, mais ele se questionava se o seu amor seria o bastante para Jungkook.
— Hm, bom dia? — a voz rouca de Jungkook tira Jimin de seus devaneios. O anjo sorri, mas antes de responder o amado, percebe que a expressão dele se torna espantada. — Jimin, s-suas asas. — ele balbucia. — Já cresceram totalmente.
— Sim, eu sei. — ele tenta sorrir reconfortante, levando sua mão para acariciar o rosto de Jungkook, que engole em seco ao não sentir nada.
— Então, você tomou uma decisão? Você pode voltar a ser um anjo agora, seu cargo é importante. — o garoto comenta, mesmo lembrando que havia prometido que não tentaria se opor à decisão de Jimin. — Se abrir mão dele, você não vai mais poder cuidar e nem ajudar outras pessoas que um dia precisarão de você.
— Eu sei. — Jimin já não sorria mais ao repetir a frase. Jungkook fica em silêncio, o único som que reverberava pelo quarto era do humano se ajeitando na cama para poder se sentar. — Estou decidido e totalmente pronto. — ele volta a falar, virando o rosto para fitar Jungkook, que fica momentaneamente sem fôlego ao ser atingido pelo olhar intenso e determinado do anjo.
— Então... Como será? — ele questiona, sentindo seu estômago doer por causa da angústia inquietante.
— Amanhã, no amanhecer. — Jimin desvia o olhar para a janela, fitando o astro que brilhava com todo o seu esplendor no céu naquele momento. — Quero ouvir a música ao nascer do sol uma última vez.
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Jungkook e Jimin mal dormiram naquela noite. Ambos ficaram em silêncio, se olhando por minutos que logo se tornaram horas. O humano sabia qual era a decisão do anjo, mas isso não o impedia de pensar no “e se”.
E se Jimin mudasse de ideia no último instante?
Sabia que, durante muito tempo, era isso que desejava: que Jimin desistisse desse amor e continuasse como um anjo. Tinha seus motivos afinal. Todavia, depois de todos os sentimentos expostos, as carícias trocadas, os beijos e abraços dados, Jungkook havia mudado de ideia.
Seria pecado fazer um anjo cair?
Se sim, Jungkook — há muito tempo — já não se importava mais.
Eles não trocaram nenhuma palavra enquanto se levantavam da cama, nem mesmo quando Jimin abraçou o tronco de Jungkook, para o levar consigo até a praia. O humano apenas fez uma careta, se lembrando que a sensação de voar não o agradara nem um pouco, mesmo que durasse menos de um minuto.
— Jimin, não olhe. — Jungkook pediu com dificuldade assim que ambos pousaram na praia, se afastando em passos apressados do anjo. A junção de todo o nervosismo, falta de sono e o medo de altura foram demais para o humano, que não conseguiu repelir a vontade incontrolável que lhe subiu pela bile e acabou o fazendo expelir tudo que havia comido no dia anterior.
Ao olhar para trás, Jungkook viu Jimin o encarando. Em uma de suas mãos estava uma garrafa de água e em outra, uma toalha. De repente, era estranho pensar que Jimin nunca mais poderia ir a qualquer lugar em milésimos de segundos.
— Obrigado. — murmurou enquanto pegava a água que o anjo lhe estendia, fazendo um breve gargarejo para depois tomar um gole do líquido.
— Está quase na hora. — Jimin umedece a toalha com um pouco da água da garrafa, em seguida, passa pelo rosto de Jungkook, que imediatamente se sente melhor quando o líquido refresca sua pele. — Vamos? — após deixar os objetos no chão, Jimin estende a sua mão, num convite para que Jungkook a segurasse.
Ele o fez sem pestanejar.
Jungkook não sentiu os dedos de Jimin entrelaçados aos seus, mas sentiu seu interior se estabilizar, provavelmente em decorrência dos poderes do anjo.
Enquanto paravam alguns poucos metros de onde as ondas quebravam na praia, ambos se olharam. Jimin sorriu e Jungkook juntou a sua testa ao do menor.
— Eu não sou tão bom quanto o meu bisavô, Jimin. — Jungkook de repente chorava. — Mas prometo que seguirei o exemplo dele caso você mude de ideia.
— Jungkoo-
— Por favor, me deixe dizer. — o garoto suspira, após um soluço lhe escapar pelos lábios. — Você realmente me ensinou algo importante e eu nunca vou esquecer disso e desse amor, não importa o que aconteça. — continuou, enquanto segurava o rosto do anjo em suas mãos. — Mas se você se tornar um humano, eu prometo que vou continuar fazendo tudo que estiver ao meu alcance, e também o que não estiver, para conseguir deixar o mundo melhor para você viver, porque eu realmente te amo, Jimin.
Eu vou te dar tudo o que tenho
Eu vou te ensinar tudo o que sei
Eu prometo que vou fazer melhor
Eu sempre vou te abraçar
Mas vou aprender a deixá-lo ir
Eu vou amolecer cada borda
Com cada batida do coração que me resta
E eu vou fazer melhor
Porque você é amado
Você é amado mais do que você sabe
Tenho a honra de prometer todos os meus dias para prová-lo assim
Jimin, nesse momento, ansiou pelo choro que ele sabia que não viria, não até que ele desistisse da sua parte celestial.
— Jungkook, estou aqui por você. Não chore. — sussurrou, se inclinando para unir os lábios de ambos, depois se virando novamente em direção ao mar, finalmente, ouvindo a música ecoar pelo universo até alcançar os dois.
Jungkook não ouvia nada, mas não se surpreendeu quando, de repente, sentiu a pele de Jimin novamente na sua. Ele então, puxou o anjo para um abraço, e assim os dois ficaram até Jimin se afastar, sem dizer uma única palavra, antes que o momento se findasse.
O anjo sorriu antes de dar as costas para o protegido e caminhar para dentro do mar. Jungkook permanece estático, seu corpo não se movimentaria naquele instante nem se ele quisesse, então apenas seguiu o outro com o olhar.
Jimin não sentia o nível da água aumentando à medida que seu corpo era cada vez mais envolvido pelas ondas. Ele caminhava lentamente, até notar que o mar já estava na altura da sua barriga. Então, com seus olhos fixos no horizonte, Jimin mergulhou.
Num primeiro momento, mirou a água ao seu redor, até que fechou os olhos. Assim que o fez, em sua mente, Jimin apenas revivia todos os momentos que passou ao lado de Jungkook, não precisava nem se esforçar para isso, cada lembrança surgia naturalmente diante dos seus olhos. Desde as mais felizes até as mais tristes, mas mesmo assim, tudo parecia exatamente como deveria ser. Como se fosse destinado a ser assim.
De repente, o anjo se viu cercado por uma luz tão forte que ele imaginou estar na presença do Mestre, já que somente Ele poderia possuir um brilho tão cegante assim. Mas antes que pudesse entender o que acontecia, Jimin sentiu um forte puxão em seu corpo, que o empurrou para baixo com violência e em grande velocidade.
Jimin buscou algo para tentar se segurar, mas não havia nada.
Estava caindo.
Quando o clarão se dissipou, Jimin começou a sentir uma dor forte em seu peito, como se alguém estivesse arrancando seu coração com as próprias mãos. Tentou gritar, mas ao separar seus lábios, uma grande quantidade de água adentrou sua boca, o fazendo se afogar.
O que veio a seguir aconteceu muito rápido. Logo Jimin podia sentir as ondas se ondulando acima da sua cabeça e a pressão que o mar fazia sobre seu pequeno corpo. Seus braços e pernas se agitaram, tentando voltar à superfície, mas ele não sabia que as ondas haviam o levado ainda mais fundo no oceano sem ele notar.
Jungkook, na borda da praia, olhava desesperado para o lugar onde Jimin havia mergulhado, nem sequer imaginando o que acontecia e o porquê o anjo estava demorando tanto.
Jimin estava sufocando. “Não, eu não posso morrer agora”, se cobrava mentalmente, mas logo o ar se tornou escasso e o anjo sentiu sua visão se escurecendo. Todavia, antes que ele se rendesse, dois braços envolvem seu corpo e o puxam para cima.
Jimin inspira o ar com força, deixando que ele adentrasse seus pulmões e normalizasse sua respiração enquanto seus olhos focavam no rosto do seu salvador: Jungkook. O humano, que havia ficado agoniado, correu mar adentro enquanto orava, pedindo ajuda a qualquer anjo que resolvesse lhe atender para que ele pudesse ajudar Jimin.
Jungkook não avistou nenhum ser celestial, mas compreendeu rapidamente que sua oração havia sido atendida quando, assim que mergulhou, a poucos metros em sua frente viu Jimin lutando contra o oceano que insistia em o afogar. Ele reuniu todas as suas forças enquanto nadava até o seu anjo da guarda, o segurando com firmeza em seus braços enquanto o trazia para a superfície.
Jimin, que sentiu-se preso pelas ondas, emergiu das águas liberto pelo oceano de amor que nutria por Jungkook.
Humano.
— Jimin. — Jungkook chamou num suspiro. Sua voz falhando ao notar a pele gélida do outro com a sua. Podiam se sentir.
— Jungkook. — o já não mais anjo responde o chamado, com a voz trêmula. — Eu sinto você. — sussurrou, deixando que suas lágrimas se misturassem com as gotas de água salgada que ainda estavam sob sua pele.
Jungkook sorriu enquanto sentia as mãos de Jimin tocando cada parte do seu corpo que alcançavam, entrelaçando os dedos dos dois várias vezes como se fosse um teste — para saber se tudo era real — antes de enlaçar seus braços em torno do pescoço de Jungkook, que segurou Jimin em seus braços com ainda mais força.
O toque das mãos e do corpo de ambos nunca mais seria efêmero.
Agora, seria eterno.
Para sempre.
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