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Remnants - Capítulo I


Escrita por: just_a_writer31

Capítulo 1 - Capítulo I


Mariana despertou com o toque frio da chuva rala em seu rosto. Cada gota parecia um choque gélido, arrancando-a lentamente do torpor. Seus olhos castanhos abriram-se devagar, adaptando-se à fraca iluminação do céu noturno. As nuvens espessas escondiam a lua e as estrelas, mergulhando tudo em uma escuridão opressiva.


Os pingos de chuva encharcavam seus cabelos cacheados, transformando-os em um emaranhado pesado e molhado que grudava em sua pele. Sentada na lama fria, ela tentou se levantar, as mãos afundando no chão viscoso, provocando um arrepio que percorreu sua espinha. O ar noturno era cortante, e sua roupa, suja e molhada, não oferecia nenhuma proteção contra o frio.


Ela olhou ao redor, tentando entender onde estava. A estrada de barro e terra tinha um tom escuro, uma mistura de marrom profundo com traços avermelhados que apenas acentuavam a sensação de desolação. Em ambos os lados, a vegetação densa se fechava ao redor, criando um corredor natural. O som incessante dos grilos era perturbador, enquanto a luz pulsante dos vagalumes parecia um frágil consolo em meio à escuridão.


Mariana levantou-se, movendo-se lentamente enquanto tentava sacudir a lama de suas roupas. Com gestos desesperados, ela tentou recuperar um pouco de sua dignidade, esfregando a lama pegajosa de seu vestido. O esforço, no entanto, foi em vão; a lama apenas se espalhou, manchando ainda mais sua roupa. Um suspiro de frustração escapou de seus lábios trêmulos. Abraçou a si mesma na tentativa de conservar calor, sentindo o medo e a confusão crescendo dentro dela.


Um estalo repentino na vegetação fez seu coração disparar. Virou-se rapidamente, os olhos arregalados procurando a origem do som, mas não havia nada lá além das sombras. Respirou fundo, tentando acalmar-se, mas a sensação de ser observada persistia, uma presença invisível que parecia espreitar nas sombras.


Começou a caminhar, os passos hesitantes afundando na terra molhada. Cada movimento parecia amplificado na quietude da noite. Então, ela ouviu: um sussurro baixo, quase imperceptível, como se alguém estivesse murmurando ao seu ouvido. Parou, o coração batendo descompassado. "Quem está aí?" A pergunta saiu como um sussurro rouco, mas a única resposta foi o som dos grilos e da chuva.


A cada passo que dava, os ruídos pareciam segui-la – estalos, sussurros, e uma respiração ofegante que podia jurar não ser sua. Tentou afastar a sensação de pânico, forçando-se a continuar. Precisava encontrar abrigo, algum lugar onde pudesse sentir-se segura.


A escuridão ao seu redor parecia se fechar, e ela não podia deixar de sentir que, a cada passo, estava se aproximando de algo inevitável e assustador. Os sons inexistentes continuavam, criando uma sinfonia de terror que aumentava sua sensação de desespero. O chão de terra batida cedia ligeiramente sob seu peso, e a chuva continuava a cair, implacável.


Seus olhos buscavam freneticamente qualquer sinal de civilização, qualquer indicação de que não estava sozinha naquele lugar desconhecido. Com a respiração pesada e o coração disparado, Mariana seguia em frente, movida apenas pela necessidade de encontrar segurança e respostas. A cada passo, a noite parecia conspirar contra ela, tecendo um véu de inquietude e mistério.


Mariana continuou a caminhar pela estrada, seus passos afundando em alguns pontos onde o terreno era desregulado e traiçoeiro. Cada passo exigia um esforço maior, a lama pegajosa tentando prendê-la como se a própria terra quisesse mantê-la cativa. O frio cortante e a chuva incessante só aumentavam seu desconforto.


Caminhou por cerca de um quilômetro e meio, o vazio do cenário ao seu redor se tornando quase insuportável. De vez em quando, ela gritava por ajuda, a voz ecoando na escuridão. Contudo, em muitos desses momentos, não desejava realmente ser respondida. A ideia de alguém ou algo respondendo ao seu chamado era tão aterrorizante quanto a solidão.


Então, ao longe, seus olhos captaram algo: uma pequena casa de tijolos, parcialmente escondida pela vegetação densa. O portão de madeira fazia uma fronteira tênue entre a natureza selvagem e a construção desgastada pelo tempo. Com o coração acelerado, Mariana se aproximou, chamando por ajuda novamente, a voz trêmula misturando determinação e medo. Não houve resposta.


Aproximando-se do portão, ela o abriu devagar, o rangido da madeira ecoando no silêncio da noite. A casa tinha uma iluminação fraca proveniente de um lampião do lado de fora. A luz era débil, mas emitia um calor reconfortante, um pequeno alívio em meio ao frio cortante.


Mariana hesitou ao pegar o lampião. Seria roubo o que estava fazendo? A dúvida a corroía, mas a necessidade de se aquecer falou mais alto. Segurou o lampião com firmeza, sentindo o calor que ele emitia aquecer suas mãos geladas. "Desculpe," murmurou para a casa silenciosa, tentando justificar a si mesma. "Eu só preciso me esquentar. Posso conversar com os donos depois."


Com o lampião em mãos, Mariana empurrou a porta da casa devagar, o som das dobradiças ecoando como um aviso sinistro. O interior estava mergulhado em sombras, a fraca luz do lampião revelando móveis cobertos de poeira e teias de aranha. O ar estava parado, carregado com o odor de mofo e abandono. Ela respirou fundo, tentando ignorar a sensação de estar invadindo um lugar proibido.


Sentindo o frio ainda se infiltrar em seus ossos, ela avançou mais alguns passos, a luz do lampião oscilando com seu movimento. Cada sombra parecia se mover à sua volta, e ela não conseguia se livrar da sensação de estar sendo observada. O medo e a confusão lutavam por espaço em sua mente, mas ela se obrigou a continuar. Precisava encontrar algo que pudesse usar para se aquecer, algum sinal de vida que indicasse que não estava sozinha.


Mariana chamou por ajuda mais uma vez, a voz ecoando pelas paredes vazias. O silêncio que se seguiu foi quase ensurdecedor, aumentando a sensação de desconforto. Ela se agarrou ao lampião como a um salva-vidas, os olhos tentando penetrar a escuridão à sua volta. Com passos cautelosos, explorou o pequeno espaço, procurando qualquer indício de que a casa ainda era habitada.


O quintal lá fora parecia ter sido engolido pela vegetação circundante, a cerca de madeira uma tentativa desesperada de manter a natureza à distância. As telhas grandes e irregulares do telhado formavam um mosaico de sombra e luz, cada rachadura e desnível um testemunho silencioso do tempo que havia passado.


Mariana tremia, o frio e o medo se entrelaçando em um abraço gelado. A cada passo, o lampião emitia uma luz trêmula, lançando sombras que pareciam dançar nas paredes. Cada ruído, cada movimento na periferia de sua visão fazia seu coração pular uma batida. Estava determinada a encontrar abrigo, mas a sensação de estar sendo vigiada não a abandonava.


Enquanto explorava a casa, o ar de terror e desconforto permeava cada canto, cada sombra. A presença invisível parecia estar sempre à espreita, e ela não conseguia se livrar da sensação de que, a qualquer momento, algo poderia emergir das sombras. O medo era palpável, uma presença quase física que tornava cada movimento, cada respiração, um desafio.


Com o coração acelerado, Mariana se forçou a continuar. Precisava encontrar um lugar seguro, um lugar onde pudesse se aquecer e pensar com clareza. A fraca luz do lampião era sua única companhia, um pequeno consolo em meio à vastidão da noite. E, apesar do medo, ela sabia que precisava seguir em frente, enfrentando a escuridão e os segredos que ela escondia


Mariana observou atentamente por uma última vez a casa, a luz trêmula do lampião lançando sombras dançantes nas paredes gastas. Não havia muito mais que se observar naquele lugar abandonado pelo tempo, o que era estranho, já que a lamparina estava quente. Alguém deveria estar por perto, mas quem? E por que deixariam uma casa aparentemente abandonada com uma lamparina acesa? Essas perguntas ecoavam em sua mente enquanto ela se preparava para sair.


A garota saiu da casa, fechando a porta atrás de si com um leve rangido, e voltou para a estrada. O calor do lampião dava uma pitada de luz naquele cenário sombrio que parecia escurecer mais a cada momento. Os pingos de chuva continuavam a cair, criando pequenas poças na estrada de terra e transformando a lama em um terreno ainda mais traiçoeiro.


O caminho parecia se estreitar cada vez mais à medida que ela avançava, as árvores e a vegetação ao redor formando um túnel natural que a envolvia em uma sensação de claustrofobia. As sombras pareciam se mover com vida própria, e os sons da noite se intensificavam, cada estalo de galho e sussurro do vento ampliando seu desconforto.


Então, de repente, o caminho se abriu, revelando uma construção imponente que se destacava contra o céu escuro: uma igreja antiga. Mariana parou abruptamente, o coração batendo descompassado. Ela conhecia bem aquela igreja. Era a igreja de sua infância, da pequena cidade de Renascença, onde crescera. Um raio cruzou o céu, iluminando todo o ambiente com uma luz espectral.


A igreja tinha um design muito antigo, uma mistura peculiar de elementos góticos e modernos. As altas torres pontiagudas pareciam tocar o céu, enquanto os vitrais quebrados refletiam a pouca luz que restava em cores sombrias. A fachada estava desgastada pelo tempo, mas ainda imponente, com esculturas de anjos e gárgulas que pareciam observá-la com olhos vazios.


Mariana sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Lembrava-se do desconforto que sentia ao ver o design do local quando criança, a sensação de que algo estava errado, de que a igreja escondia segredos obscuros. Agora, de volta àquele lugar, o desconforto se intensificava, misturado com a estranheza de encontrar a igreja ali, tão longe de onde ela deveria estar.


Com passos hesitantes, Mariana se aproximou da igreja, o lampião em suas mãos projetando sombras alongadas na terra molhada. Cada passo parecia ecoar no silêncio pesado da noite. A porta da igreja estava entreaberta, uma escuridão profunda se derramando pelo espaço estreito. Ela hesitou, lembrando-se das noites de insônia em que aquela igreja povoava seus pesadelos.


O vento aumentou, assobiando pelos galhos das árvores e fazendo as folhas sussurrarem segredos antigos. Mariana respirou fundo, tentando acalmar a onda de pânico que ameaçava tomar conta dela. Estava determinada a enfrentar o que quer que fosse que a trouxera até ali, mesmo que cada fibra de seu ser gritasse para que ela fugisse.


Ela empurrou a porta da igreja, que se abriu com um gemido prolongado. A escuridão dentro era quase tangível, engolindo a fraca luz do lampião. A jovem deu um passo hesitante para dentro, o eco de seus movimentos reverberando pelas paredes de pedra fria. O ar estava carregado com o cheiro de mofo e velas antigas, um lembrete do tempo que havia passado desde a última vez que alguém estivera ali.


Mariana avançou cautelosamente, os olhos tentando se ajustar à penumbra. Cada passo fazia o chão de madeira ranger sob seu peso, o som amplificando o silêncio opressor. Sentia-se observada, a presença invisível novamente à espreita, como se a igreja em si tivesse consciência de sua chegada.


Ela parou no meio da nave, olhando ao redor. As sombras pareciam ganhar forma, contornos indistintos que se moviam na periferia de sua visão. Um frio intenso subia por suas pernas, o medo se entrelaçando com suas memórias de infância. A sensação de terror e desconforto era quase insuportável, mas ela sabia que não poderia voltar atrás. Precisava descobrir por que estava ali, o que aqueles pesadelos incessantes queriam lhe mostrar.


Enquanto se forçava a permanecer firme, um som distante ecoou pelo espaço cavernoso da igreja. Parecia um sussurro, uma voz indistinta que murmurava segredos antigos. Mariana se virou, o coração acelerado, tentando localizar a fonte do som. A igreja estava vazia, mas a sensação de estar sendo observada se intensificava a cada momento.


Com o lampião erguido, ela avançou mais alguns passos, determinada a enfrentar seus medos. Cada sombra, cada ruído parecia conspirar contra ela, mas Mariana sabia que precisava continuar. A igreja de sua infância havia se transformado em um labirinto de terror e mistério, e ela estava pronta para desvendar seus segredos, não importa o que encontrasse no caminho.


De repente, um barulho ressoou atrás dela, um estalo que quebrou o silêncio opressivo. Mariana se virou rapidamente, o coração batendo descontrolado. À luz trêmula do lampião, ela viu a figura de uma velha parada na entrada da igreja. A mulher era corcunda, sua pele enrugada pendia frouxa sobre ossos frágeis, e suas roupas estavam sujas e encharcadas pela chuva.


A velha observou Mariana por um momento, os olhos dela brilhando com uma intensidade perturbadora. Quando finalmente falou, sua voz era como o sussurro de um ancião, carregada de séculos de histórias e pesares. “A terra chora com as lágrimas dos pesares, os corações perdidos mancharam nosso lar, tornando o solo propício para as trevas deste mundo.”


Mariana estava confusa com as palavras da mulher, tentando entender o significado por trás daquela declaração enigmática. Mas então, algo ainda mais perturbador aconteceu. Quando ela olhou novamente para o rosto da velha, viu lama saindo dos olhos e da boca da mulher, escorrendo em pequenos rios de sujeira. A visão era grotesca e completamente antinatural.


O medo dominou a mente de Mariana nesse momento. Ela sentiu o sangue gelar e os músculos travarem, enquanto sua mente lutava para processar o que estava vendo. A velha continuava parada ali, como uma figura de pesadelo trazida à vida, a lama pingando de seu rosto e formando pequenas poças no chão da igreja.


Mariana deu um passo instintivo para trás, seus olhos arregalados de terror. Queria gritar, mas a voz não saía. Tudo naquele momento parecia surreal, como se estivesse presa em um pesadelo do qual não conseguia acordar.


A igreja, com seu design antigo e toques góticos, parecia ainda mais opressiva agora. As sombras pareciam se fechar ao redor dela, enquanto a figura da velha permanecia imóvel, uma sentinela de um terror ancestral. O desconforto que Mariana sentia ao chegar à igreja de sua infância se intensificava, transformando-se em um medo palpável e sufocante.


Ela tentou dar mais um passo para trás, mas seus pés pareciam colados ao chão. O lampião em sua mão tremia, a luz oscilando e lançando sombras assustadoras nas paredes da igreja. Mariana sabia que precisava sair dali, mas o medo a paralisava, cada respiração um esforço monumental.


O ar de terror e desconforto era quase tangível. Mariana sentia-se pequena e vulnerável diante daquela figura espectral. A velha não se movia, mas sua presença preenchia todo o espaço, como uma manifestação física do próprio medo.


Finalmente, Mariana conseguiu reunir forças para dar mais um passo para trás, seus movimentos lentos e hesitantes. Ela não sabia o que aquela mulher queria, ou o que significavam suas palavras, mas sabia que precisava se afastar, precisava encontrar uma maneira de escapar daquele pesadelo vivo.


O som da chuva lá fora era abafado pelas paredes da igreja, e o sussurro contínuo da mulher parecia ecoar em sua mente. Mariana deu outro passo, seus olhos fixos na velha, esperando a qualquer momento que ela se movesse, que fizesse algo ainda mais terrível. A tensão no ar era insuportável, e Mariana sentia que a qualquer momento poderia desmoronar sob o peso do terror que a envolvia.


De repente, a velha deu um passo em direção a Mariana, e a jovem sentiu um grito preso na garganta. Mas antes que pudesse reagir, tudo começou a girar ao seu redor. A escuridão da igreja, a figura da velha, os sons e as sombras, tudo se dissolveu em um redemoinho de imagens e sensações. Mariana fechou os olhos, sentindo-se cair em um abismo sem fim.


Ela acordou com um sobressalto, o corpo tremendo e o rosto molhado de lágrimas. Estava de volta em seu quarto na faculdade, os lençóis encharcados de suor. O medo ainda estava lá, uma presença esmagadora em sua mente. Mariana se sentou na cama, abraçando os joelhos e tentando controlar os soluços. O pesadelo parecia tão real, e a sensação de terror ainda pulsava em suas veias.


Mariana se levantou com dificuldade, os pés arrastando pelo chão frio do quarto. Ela foi em direção ao banheiro, acendendo a luz com um movimento trêmulo. Ao se olhar no espelho, viu seu rosto pálido e os olhos vermelhos de tanto chorar. Abriu a torneira e lavou o rosto, tentando afastar as imagens do pesadelo que ainda a assombravam.


Abrindo o espelho do armário, ela pegou alguns antidepressivos e remédios para dormir. As mãos tremiam levemente enquanto colocava os comprimidos na boca. Sem se importar em pegar um copo de água, engoliu os remédios secos, sentindo-os arranhar a garganta. Fechou os olhos por um momento, desejando que o sono a levasse rapidamente, afastando os terrores que sua mente insistia em reviver.



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