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História Renegade Of Heaven - Denker


Escrita por: RobertaDragneel

Notas do Autor


O capítulo de hoje saiu maior do que eu esperava, desculpa.
Preciso resumir o máximo possível a história da Emily, ainda há muito pela frente.
A leitura está leve e sem cenas pesadas.
Temos o desfecho da relação dela com o Nicolas
E a sua vingança contra o Richard
Espero que compreendam as decisões que ela tomou
Boa leitura!

Capítulo 3 - Denker


Fanfic / Fanfiction Renegade Of Heaven - Denker

- Salvação? Do que você está falando? – A moça questiona para o desconhecido de capa branca. O sangue entorno de seus lábios que ficaram vermelhos, como se estivesse usando um batom de melhor qualidade.

- A senhorita não irá compreender nesse estado. Deixe-me ajuda-la. – Diz de forma gentil dando alguns passos para frente.

- Hum?

O rapaz toca a testa dela com o dedo indicador e o dedo do meio, Emily sente uma forte tontura e tudo ao seu redor começa a girar. Ela acaba desmaiando ali mesmo, sem perceber que, logo em seguida, estava sendo carregada nos braços pelo indivíduo encapuzado.

(...)

Ela abriu lentamente os olhos, observando um teto escuro e desviou sua atenção para o ambiente ao redor. Era um quarto tão pequeno e simples com uma cama estreita, um criado mudo de madeira ao lado e algumas velhas espalhadas pelos cantos, a fim de iluminar pois a noite chegara.

- Onde eu estou...? – Murmura Emily sentando na cama e passando a mão na cabeça, ela doía um pouco.

- No mosteiro secreto. – A voz do ser encapuzado ecoava pelo quarto. Rapidamente, a jovem olha para o quarto da parede e encontra o desconhecido encostado lá. Ele estava de braços cruzados e sem o capuz, deixando exposto os longos cabelos negros e os olhos vermelhos.

- Quem é você? Por que me trouxe aqui? O que pretende fazer comigo?

- Calma, eu responderei todas as suas perguntas mas preciso que se acalme.

- É difícil. Antes eu estava caindo de um penhasco e agora estou em um quarto com um homem de capa branca. – Diz ironicamente, arrancando uma leve risada do rapaz.

- De todas as pessoas que já vieram aqui, a sua reação foi a melhor. – Ele diz se aproximando e ficando ao lado da cama. – Posso me sentar?

- Hum... Não sei...

- Eu não mordo. – O rapaz ri baixo.

- Eu sei! – Emily resmunga e cruza os braços. – Tá bom, só quero que me conte o que está acontecendo. Eu...Eu realmente morri?

- Sim. – Ele diz sentando na cama e suspirando profundamente. – Mas a sua mente não morreu.

- Hein? Como assim?

- Você é uma Denker.

- Denker? O que é isso? – Questiona sem entender nada, seus olhos vermelhos reluziam por causa do fogo das velas.

- Denkers são seres humanos com uma atividade cerebral extraordinária, eles conseguem controlar a própria mente em um nível elevado. Acha que controla totalmente sua mente? Engana-se pois o ser humano usa apenas 10% da sua capacidade cerebral. – O rapaz fala calmamente, evitando olhar nos olhos de Emily. – Os Denkers são raros e muitos não suportam a própria dor de carregar esse fardo, cometendo suicídio.

- Que horrível...

- O monge mestre daqui é o responsável por cuidar dos Denkers da região, ele tem uma sensibilidade elevada e consegue detectar se há um deles na sociedade. O mestre sentiu a sua força cerebral bem elevada quando fez a Inglaterra tremer.

- Espera! E-Eu fiz a Inglaterra tremer?

- Sim, você deveria estar bem irritada pelo visto. – Sorri de canto. – Ele me mandou em uma missão para encontrar o tão manipulador da mente que tinha esse imenso poder. Foi aí que eu te encontrei andando à cavalo com um camponês.

- N-Nicolas... – Ela murmura o nome do amado sentindo uma leve dor em seu interior. Lembrou da cena antes de sua morte, queria chorar pois a vontade era imensa. Porém, nenhuma lágrima saiu. – E-Eu... Eu não consigo chorar...

- É normal, mortos não choram. – Diz friamente sem olhar para a expressão de desespero no rosto da jovem. – Você deveria estar completamente morta mas o seu cérebro ativou um modo de defesa.

- Hã?

- Ele está comandando cada função do seu corpo, como uma máquina que recusa-se a terminar o seu serviço mesmo sendo impotente. O seu cérebro está comandando cada célula do seu corpo para que continue a exercer as funções normalmente. É uma pena que, no estado em que se encontra, não possa evitar o processo de decomposição.

- Eu estou em decomposição...?

- Sim mas o ritmo é tão lento que eu daria alguns anos para notar as verdadeiras diferenças. Eu diria que você é uma garota de sorte... ou não. Pois nunca conhecerá a morte como ela é.

- O que isso quer dizer?

- Você é imortal, Emily Boorman.

Todo o corpo da jovem ficou paralisada, ela não conseguia acreditar no que estava acontecendo. Então, nunca mais sentiria dor? Não achou provável pois sua cabeça vibrava como nunca. A moça abriu a boca para falar algo, porém foi tudo em vão. Não havia palavras que pudessem descrever como ela se sentia no momento.

- Eu...Eu... – Olhava para os lados nervosa. – Isso só pode ser uma brincadeira sem graça! É impossível alguém cair daquela altura e ainda estar vivo. Talvez eu tenha me chocado com algumas árvores, diminuindo a velocidade da queda e só tive uma leve batida na cabeça, por isso desmaiei.

- Não, senhorita. Você realmente morreu, eu vi tudo.

- NÃO! PARE DE MENTIR!

Emily gritava descontrolada e saía da cama rapidamente. Ela corria para fora do quarto, olhando por cima dos ombros com medo de estar sendo seguida pelo rapaz. Depois de alguns minutos em um corredor estreito, percebeu que estava usando um vestido marrom simples e um pouco velho, ele era da altura de seus joelhos e tinha mangas verdes compridas. Provavelmente foram remendadas ao tecido, típico das roupas da plebe. Havia um cordão preto ao redor da cintura que apertava o vestido. A jovem deu um leve giro de braços abertos, sentindo-se muito confortável com aquela roupa do que com qualquer outro vestido que a nobreza  usava.

Ela nem percebeu que um velho monge careca a observava, ele tinha um sorriso bobo nos lábios como se a felicidade da dama fosse dele também. Emily deu um gritinho surpresa ao vê-lo e corou um pouco de vergonha. Poderia gritar perguntando o porquê estava ali mas aquele pobre velho não tinha culpa de nada.

Ele deve me achar maluca. – Ela pensa tentando parecer calma.

- Não, eu não te acho maluca. – O velho responde rindo um pouco. Emily ficava boquiaberta, arregalando os olhos surpresa.

- V-Você leu a minha...

- Mente? – Sorria. – Sim, eu li. Sou Kalael, o mestre deste mosteiro.

- Mestre? – Engolia seco. – O rapaz tinha falado sobre um mestre...

- O Ethan? Eu o mandei te buscar, ele demorou demais. – Soltava um breve suspiro, voltando ao sorriso sereno logo em seguida. – Quer tomar um pouco de chá? Sua boca está seca.

- Hum? Quero... – Ela abria um leve sorriso.

O velho dava as costas e começava a andar em passos lentos, não tinha pressa em chegar ao seu destino. Emily o seguia observando seus traços, parecia alguém humilde e com grande conhecimento sobre o mundo. Eles chegaram em uma sala oriental, havia apenas uma parede de papel e uma mesa de pernas curtas, rodeada por almofadas grandes e vermelhas. O piso de madeira brilhava e era possível ver o próprio reflexo nele.

- Uau! – Exclama a jovem.

- Sente-se. – Ele diz apontando para a almoçada enquanto ia para a outra extremidade da mesa.

Emily assente balançando a cabeça e logo se sentava na almofada vermelha. Era tão macia e confortável que poderia dormir ali. Ela observou o jogo de xícaras de porcelana que havia em cima da mesa, o cheiro agradável do chá a fazia ter lembranças boas sobre sua vida.

- O que foi aquilo que eu fiz com os móveis...? – Murmura a garota perdida em pensamentos.

- Com a Inglaterra, você quis dizer. – Responde o senhor colocando um pouco de chá nas duas xícaras. – Nós chamamos essa habilidade de telecinese.

- Tele... O que?

- Telecinese, a habilidade de mover coisas usando o poder da mente. Requer muita concentração ou apenas um sentimento forte. No seu caso, foi a raiva. – Kalael diz com um breve sorriso. – Dankers de nível elevado conseguem causar asfixia no oponente com a telecinese.

- Então quer dizer que eu consigo mover coisas apenas com a mente? – Pergunta apoiando a mão na cabeça, ela continuava a doer.

- Sim mas requer muito treinamento para dominar por completo essa única habilidade.

- Única...?

- E se eu te dissesse que a telecinese é uma das suas inúmeras habilidades? – Kalael fala calmamente arqueando uma sobrancelha.

- Isso... Isso não faz sentido. – Emily o encarava confusa.

- Eu irei te mostrar que o sentido e a resposta de tudo está... – Ele apontava para a testa dela, tocando levemente o dedo indicador em sua pele. – Aqui...

- Ahm... – Os olhos da jovem ficaram fixos nos olhos dele, outra pessoa que possuía um rubis vermelhos em suas íris. Ela queria compreender o porquê daquela cor. Seriam eles vampiros?

- Não. – Kalael responde ao ler o seu pensamento. – Não somos vampiros.

- Er... Desculpa.

- Os Dankers têm essa coloração avermelhada na íris quando liberam seus poderes. É uma forma de reconhecimento dos iguais que o nosso cérebro criou. – O velho cruzou as pernas, apoiando os cotovelos nos joelhos fazendo uma pose de reflexão. – Eu irei te mostrar melhor qual o verdadeiro poder de um Danker.

As gotas de chá na xícara começaram a flutuar, a xícara também fez o mesmo. A mesa desapegou do chão e ficou acima da cabeça dos dois. As gotas de chá circulavam todo o ambiente que os rodeava. Emily observava tudo boquiaberta, seus olhos vermelhos atentos àquele maravilhoso espetáculo.

- C-Como você...

- Nós absorvemos a energia mental e as transformamos em habilidades que sejam necessárias para atingir nossos objetivos. – Responde calmo como sempre. – Também manipulamos as memórias e criamos ilusões.

A moça sentiu uma leve dor de cabeça, fechando os olhos e quando os abriu ficou surpresa com o que viu. Ela estava no meio da uma floresta densa, não conseguia ver nada além de enormes árvores e alguns insetos voando ao seu redor. Pôde sentir o calor desconfortante da floresta tropical em sua pele.

A ilusão foi desfeita, a jovem acordava com a respiração pesada. Olhava ao seu redor confusa, acreditando ter estado realmente em uma floresta. A ilusão foi tão real que o seu corpo reagiu produzindo a sensação de calor.

- Eu podia jurar que...

- Estava em uma floresta? Sim, podemos criar ilusões que se assemelham muito com a realidade. Também nos comunicamos através da telepatia, fazemos escudos psíquicos, controlamos mentes, paralisamos a atividade cerebral de qualquer ser, disparamos raios de energia psiônica...  – Kalael esticava a mão para o lado e um raio colorido atingia a parede, ele continuava sereno mesmo depois de efetuar o golpe. – Nunca deseje ser atingido por um desses.

- T-Tudo bem... – Ela engolia seco assustada e, ao mesmo, admirando mais tudo aquilo.

- Os Denkers de nível mais alto conseguem efetuar a projeção astral.

- O que é isso?

- A sua alma sai do corpo e vai para o plano astral. É necessário se concentrar muito para conseguir chegar nesse nível. – O corpo do monge flutuava alguns centímetros do chão enquanto ele fitava a jovem.

- Isso é incrível...

- Digamos que sim mas há algo que eu considero mais incrível ainda. – Sorria um pouco mais do que antes. – O seu poder imensurável que manipulação corporal.

- Hum?

- A sua mente controla com imensa perfeição cada movimento das moléculas em seu corpo, ela consegue conversar com cada célula em uma velocidade absurda. Se algo assim for aperfeiçoado, pode moldar qualquer matéria. Você tem a capacidade de controlar 100% do seu cérebro.

- Como eu posso aperfeiçoar?

- Como você aprendeu a tocar piano?

- Pratiquei todos os dias...

- Então já encontramos a resposta.

- Sim... – Sorria sem jeito até que lembrou de algo. – O Nicolas está bem? Ele está vivo? Por favor, eu preciso saber...

- Sim, ele está vivo. – Diz Kalael parando de flutuar e ficando em pé. – Consigo sentir sua atividade cerebral.

- Graças à Deus...  – Suspira aliviada apoiando a mão no peito. – Eu preciso voltar. São tantas informações novas, ainda não consigo acreditar em tudo isso. E eu tenho um lar para voltar, preciso encontrar aqueles que eu amo.

- Isso seria muito arriscado. – Comenta Ethan que acabara de abrir a enorme parede de papel. Ele usava um kimono branco e seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo. – Ele presenciou a sua morte, te ver agora só vai deixa-lo confuso.

- A mente humana tem um limite sobre aquilo que pode aceitar. – Completa Kalael, esticando a mão para Emily. – Aqueles que excedem os seus limites pagam um preço caro...

- Que preço...? – Ela questiona segurando a mão dele e se levantando.

- Enlouquecem. – Ethan foi curto e direto em sua resposta. – Até para um Danker, exceder o seu limite causaria na perca total de sanidade. E então, eles não controlariam os poderes e ficariam presos na própria mente.

- Há limites no psiquismo, minha cara Emily. – O tom de voz de Kalael foi tão sério que fez a garota arrepiar. – Não queira se tornar uma Verdorbener Verstand.

- Verdorbener vest..vastan... vuldu... – A jovem tentava repetir a palavra mas foi em vão.

- Pode traduzir para Mentes Malditas. – O outro jovem responde. – Eles são os Dankers que usam o poder da mente para controlar pessoas, unicamente para alcançar objetivos egoístas.

- Não queira se tornar um deles, senhorita. – O mestre voltava a sorrir. – Os Mentes Malditas usam as habilidades proibidas até para nós. Eles não sabem os seus limites.

- Eles... Eles também têm os olhos vermelhos? – Emily resolve perguntar olhando nos olhos do monge.

- Sim mas podemos diferenciá-los com facilidade. Eles usam uma capa preta, diferente de nós que optamos pela capa branca.

- Nunca, nunca em sua vida ouse colocar uma capa preta! – Exclama Ethan.  – Um Mente Maldita não tem limite, ele usa as habilidades mais perigosas e com toda certeza, pagam um preço por isso!

- Calma, Ethan. Não vamos confundir mais a mente da nossa aprendiz. – Murmura o monge mestre.

- Aprendiz?! Mas eu não... disse que aceit...

- Acha que pode voltar para casa nesse estado? Precisa conhecer melhor à si mesmo e só então, estará pronta para voltar para casa.

Emily olhou no fundo dos olhos daquele monge, ele estava falando a verdade e ela sentia isso. A mente dele começou a se comunicar com a mente dela, mostrando algumas vantagens que a jovem teria ao treinar naquele mosteiro. No fundo do coração da moça, ela sabia que não poderia voltar para casa pois assustaria os seus pais. Não sabia, também, o que falar para o amado ao olhar seus belos olhos negros que a encantavam sempre que os olhava. Porém, havia um objetivo maior em sua mente. Vingança. Ela precisava se vingar do homem que a fez sofrer, o seu assassino e aquele que afastou o casal. Qual as consequências que isso levaria? Não importa, Emily precisava fazer isso para ter a paz interior que perdera na noite passada.

- Tudo bem, eu aceito. – Ela diz decidida.

(...)

A roupa usada pela moça mudou muito, agora ela estava com uma calça larga branca e uma camisa de manga comprida. Nunca pensou que usaria uma roupa tão masculina, imaginou o que sua mãe diria ao ver aquilo. Ela andava em passos largos até a biblioteca, onde pegou um livro antigo escrito em sua capa “Meditação”. Suspirou baixo e foi até o pátio do mosteiro, encontrando-se com Ethan.

- Meditação? Sério? Eu quero controlar mentes! – Ela resmunga olhando o livro com desdém.

- Não pode controlar a mente de ninguém se, primeiramente, não controlar a sua. – Responde dando alguns passos até a agora. – Comece a ler e siga rigidamente os passos no livro, depois coloque em prática o que aprendeu.

- Mas isso vai demorar muito... – Choraminga.

- O tempo é irrelevante para você. Está morta, lembra? – Diz calmo, dando as costas para a moça e entrando no mosteiro.

- Morta...

Era o segundo dia naquele local, Emily sabia que o seu corte continuava ali e a única coisa que o segurava era os fios que Ethan costurou. Sentia-se como uma boneca que poderia ser rasgada e remendada à hora que quisesse, isso machucava a dama. Porém, esse não era o momento para pensamentos assim. Ela sentava na grama e começa a ler o livro, seus olhos corriam pelas palavras de forma rápida e precisa. A moça deitou de barriga para baixo na grama enquanto fazia algumas anotações em um pequeno bloco que carregava consigo.

Em duas horas, Emily já havia terminado de ler o livro e então voltou a se sentar na grama. Cruzou as pernas, fechando os olhos e sentindo a brisa bater em seu rosto. Concentrava-se esvaziando qualquer pensamento de sua mente, colocando-a em harmonia com o ambiente. Sem ao menos perceber, erguia pequenas pedras dali e seu cabelo flutuava no ar.

- Ela conseguiu fazer isso somente meditando... – Murmura Ethan.

- Sim, ela tem um grande potencial. – Kalael sorria e voltava a ler o seu livro sobre onisciência.

Uma semana se passou, a jovem sempre visitava a biblioteca para pegar alguns livros e estudar. Às vezes, ela lia escondido os livros avançados. Certo dia, encontrou um pergaminho antigo e começou a lê-lo, aproveitou que a biblioteca estava vazia para fazer tal ato.

- Hum... Transmutação....

Emily colocava a mão sobre a mesa de madeira enquanto lia as instruções contidas no livro. Depois respirava fundo e tentava estabelecer uma conexão com todas as moléculas da madeira. O material começou a tremer até que se transformou em ouro, causando um espanto na garota. Ela mudou a conexão ordenando que as moléculas mudassem também e foi o que aconteceu. O ouro desintegrou por completo, restando somente o pó.

- O que está fazendo?! – Ethan gritava logo atrás dela, fazendo-a largar o livro por causa do susto.

- E-Eu... Estava lendo um pouco...

- Transmutação?! – Diz pegando o livro e o segurando firme. – Sabe o quanto isso é perigoso? Muitos Denkers ficaram loucos somente de usar essa habilidade. Ela necessita de 90% do uso do cérebro...

- Perdão... Eu não...

- Não ouse fazer isso novamente a menos que queira ficar maluca!

- Eu só queria aprender mais... – Desviava o olhar sem jeito. – Eu quero me tornar forte, assim poderei voltar para o Nicolas o mais rápido possível. Já se passou uma semana que eu estou aqui, aprendi muito mas...

- Cuidado com a ganância pelo poder, Emily Boorman. Aqueles que buscaram pelo poder acabaram corrompidos, usando a capa preta e tornando-se um Mente Maldita. – Diz olhando no fundo dos olhos da moça que parecia assustada.

Dito isso, ele dá as costas e vai para o interior da biblioteca. A garota ficou observando-o se afastar enquanto sentia uma leve dor de cabeça, era perceptível que não estava pronta para certas habilidades. Pegou um livro sobre ilusionismo e saiu do local, determinar a aprender.

(...)

No final da segunda semana, a moça sentia-se pronta para voltar ao seu lar. Kalael, mesmo aconselhando o contrário, permitiu que sua aprendiz revesse os familiares. Contudo, ela teria que voltar logo após. A garota pensou seriamente na proposta mas teve que aceitar, era a única opção. Vestiu uma longa capa branca e saiu do mosteiro.

Emily ouviu os pensamentos do seu pai, ele parecia desesperado. Pelo menos, foi uma forma de encontrar a sua casa. Ela parou na frente da mansão, foi até uma empregada e murmurou com o rosto oculto pelo capuz branco.

- O senhor Boorman está aqui?

- Sim, moça. – Responde a empregada um pouco desconfiada.

- E a senhora Boorman? – Somente perguntou pois não sentia a atividade mental da mãe.

- Ela... – A expressão da empregada foi de pura tristeza. – Ela se matou semana passada, não resistiu a dor de perder a filha.

O mundo para Emily desabou, suas pernas tremiam e sentiu uma imensa vontade de chorar. As lágrimas não caíam por estar morta. A boca entreaberta sem saber o que quiser. Um semblante de desespero em seu rosto.

- Impossível...

- A notícia da morte da senhorita Emily abalou todos nós. O senhor Richard chegou dizendo que tinha visto o jardineiro empurrando-a do penhasco. – Suspira baixo. – Como ele pôde...?

- Hein? O Nicolas?

A empregada pensou em dizer algo, perguntaria como ela conhecia o jardineiro. Porém, Emily tocou sua testa e a fez desmaiar no exato momento. Rapidamente, a jovem entrou na mansão e correu para o quarto dos pais. Encontrou apenas o pai abraçado com o quadro da esposa e filha enquanto chorava muito.

- Pai...

- Hum?

Ele olhou para trás vendo a filha, ficando surpreso. Levantou-se lentamente com a mão esticada em sua direção. Emily se aproximou em passos lentos, sorria um pouco feliz em rever o pai, apesar do que ele fez. Abriu os seus braços ao redor do corpo do homem.

- Eu senti a sua fal...

Parou de falar, cuspindo um pouco de sangue. Olhou para baixo e viu um punhal em sua barriga, a capa flutuava ao vento que atravessava a janela, não sujando o belo tecido branco. Ergueu a cabeça para fitar o seu pai, ele tremia com lágrimas nos olhos enquanto havia ódio em sua expressão.

- ELA MORREU POR SUA CAUSA! VOCÊ FUGIU PARA NOS DEIXAR PREOCUPADOS? OLHA O QUE VOCÊ FEZ! – Gritava descontroladamente.

- P-Pai... – Murmura com sangue escorrendo pelo canto da boca. – Você continua rude... – Sorria fraco enquanto acariciava o rosto dele. – Por favor, esqueça de tudo isso...

Emily alterou a memória do seu pai, fazendo com que ele acreditasse que sua esposa e sua filha estivessem vivas. Elas apenas tinham ido viajar mas logo voltariam. O homem cambaleou para o lado fechando os olhos. A jovem foi até a janela e o olhou por cima dos ombros antes de pular. Depois de pousar na grama macia do jardim, foi até a empregada desmaiada e tocou de leve a sua testa. Absorvia o conhecimento da mulher e descobriu onde Nicolas morava. Voltou a sua caminhada com um olhar triste, queria chorar mas não conseguia. Apenas a angustia tomava conta de seu peito.

- Espero que elas voltem logo... – Murmura Benedito encostado na porta, olhando para o horizonte com um sorriso bobo. Ele passaria toda a sua vida esperando por aquelas que nunca mais retornarão.

O vilarejo era pequeno e simples, crianças corriam por todo o local enquanto as mães gritavam com elas. As pessoas observavam Emily com um olhar assustado, nunca viram alguém de capa branca circulando pelas ruas.

A jovem parou na frente de uma cabana simples, abriu a porta e olhou ao redor. Havia poucos móveis e apenas dois cômodos. Caminhou até o quarto onde encontrou Nicolas sentado em um canto, abraçando fortemente os seus joelhos enquanto murmurava o nome da moça de forma melancólica.

- Finalmente... – Emily sussurra feliz ao ver o amado.

Nicolas erguia a cabeça encarando a moça de longos cabelos negros à sua frente, os olhos vermelhos dela brilhavam sutilmente refletindo os raios solares. O pânico em seu semblante era evidente, como se estivesse diante do próprio demônio.

- V-Você está morta...

- Não, eu estou viva. – Ela mente tentando acalmá-lo enquanto se aproximava lentamente.

- Se afaste! – Exclama assustado. – Seu monstro! Fantasma! Bruxa! Demônio!

Nicolas gritava palavras de ódio e medo sobre a garota, ela parou de andar e se ajoelhou ficando frente à frente com ele. O jardineiro tremia com lágrimas escorrendo por seus olhos, não havia mais aquele olhar apaixonado que Emily esperou tanto para rever. O rapaz nunca a amaria, pelo menos não daquele jeito. Ele tentou tocar o rosto da dama mas a sua pele era tão fria que causou calafrios nele. Negava mentalmente que aquela era a Emily que ele amava.

O peito morto dela doía tanto. A moça segurou o rosto do rapaz com ambas as mãos enquanto encostava sua testa na testa dele. Nicolas tentou gritar por ajuda mas ficou em silêncio. Suas memórias começaram a ser manipuladas, esquecendo aos poucos da existência de Emily. Ela acariciava as bochechas quentes dele, olhando-o nos olhos do jovem que logo voltava ao normal. Aqueles belos olhos negros que a encarava no dia que se conheceram no jardim.

A amnésia mental estava funcionando, Nicolas mantinha os olhos fechados enquanto as últimas lembranças sobre a moça sumiam. Já ela, tremia tanto tendo que lidar com essa forte dor sem poder chorar ou gritar. Encostou seus lábios no dele, selando um curto beijo que durou o suficiente para a última memória ir por completo. O jardineiro continuava de olhos fechados, estava desmaiado por causa do cansaço que essa habilidade causou.

- Eu sempre... Eu sempre te amarei... – Murmura com a voz trêmula, afastando lentamente do seu amado e se levantando. – Mesmo que você não lembre de mim, eu estarei ao seu lado e te protegerei. – Ela deu as costas, saindo do quarto com a mão apoiada no peito. Se o seu coração batesse, provavelmente estaria acelerado. Porém, antes de sair, olhou o jovem adormecido e sorriu fraco. – Obrigada por me mostrar o que é o amor... Eu nunca te esquecerei. Espero te encontrar em outra vida. Adeus, Nicolas...

(...)

Sua caminhada foi lenta até a mansão dos Goulding’s. Emily conseguiu fazer todos os empregados desmaiarem, apesar de se sentir muito fraca depois desse feito. Ela se apoiou na sala, respirando fundo e ajeitando a longa capa branca. Seus olhos vermelhos fitaram o rapaz de cartola que descia as escadas.

- Quem est...

Richard ficou paralisado, seu sangue gelou e seu corpo tremia de medo. Engoliu seco sem acreditar no que estava vendo. Tentava regular a respiração mas foi em vão. Ele, em um movimento rápido, puxou a espada e se aproximou tremendo mais do que nunca.

- S-Saia da minha mansão, seu fantasma desgraçado!

- Por que, querido? Não queria que eu fosse sua? – Emily caminhava até o loiro, abrindo a capa branca e expondo o corte feito pelo punhal de Benedito. – Venha...

- M-Mas o que...

O loiro largou a espada assustado, dando as costas e correndo para o quarto. A moça moveu a mão usando a telecinese para fazer o rapaz cair das escadas. Ele rolou pelos degraus e caiu aos pés dela que sorria friamente. Emily segurou Richard pela gola da camisa e o ergueu, olhava em seus olhos com todo o ódio que podia. Liberava, involuntariamente, seu poder causando uma leve asfixia nele com a telecinese.

Porém, sentiu uma imensa dor de cabeça e seu corpo ficou extremamente fraco. Soltou o loiro, cambaleando para os lados segurando o crânio com força. Ela gritava de dor até que um alívio percorreu o seu corpo. Olhou de canto para a figura de capa branca que se aproximava. Era Ethan. Ele parecia irritado com a moça e esticou a mão em direção à ela. A telecinese a jogou contra a parede que bateu com força as costas.

- Ethan! Solte-me! Eu preciso acabar com esse maldito. – Grita Emily sentindo o seu corpo ficar preso à parede com a força da telecinese.

- Acha que usamos os nossos poderes para vingança?! É isso que você deseja? – Ethan pergunta irritado com a atitude da garota. – Nós não somos monstros ou assassinos. Os Denkers buscam o equilíbrio do mundo!

Richard levantou-se, correndo para longe dali até ser paralisado por completo. Ele caiu no chão desmaiado, já sem as lembranças do ocorrido. Ethan suspirava pesadamente enquanto ficava frente à frente com a moça.

- É isso que você deseja, Emily Boorman?

-...

- Você deseja ser uma assassina? Isso te fará uma pessoa melhor?

Emily não tinha palavras para se expressar, mordia levemente o lábio inferior tentando controlar o que sentia. Queria chorar mas sabia que nunca mais as lágrimas viriam pelos seus olhos. Como suportar tamanha dor? Ela abaixou a cabeça, decepcionada consigo mesma. Não queria se tornar uma má pessoa, queria ser alguém que Nicolas orgulhasse. Uma linda rosa branca.

- Perdoe-me... – Ela sussurra.

Ethan suspirou baixo e desfez o efeito da telecinese, segurando a jovem para que não caísse de cara no chão. Os dois ficaram se encarando por longos segundos, a menor abriu um sorriso gentil soltando-se do breve abraço que fizeram.

- Então, vamos voltar para casa? – Diz esticando a mão para ela.

- Sim! – A garota responde abrindo um largo sorriso, ignorando por completo a presença do loiro desmaiado no chão. Ela segurava a mão do rapaz e ambos seguiam para fora da mansão.

Desde então, Emily jurou que só usaria os seus poderes para o bem. Todos os dias zelava pela segurança de Nicolas e o visitava escondido quando possível. O jardineiro apaixonou-se por uma camponesa de vila, eles tiveram filhos e construíram uma bela família. A jovem continuou observando-o de longe quando podia, ainda o amava mas saber que ele estava feliz a deixava bem. Benedito passou longos anos de sua vida esperando a esposa e a filha, até que foi dado como louco e internado, ficando sobre os cuidados de um grupo de freiras.

Emily treinou com Kalael por longos anos, ele envelheceu mas a moça não. Logo após a sua morte, ela ficou sobre o treinamento do novo mestre e assim por diante. Os anos se passaram e a jovem tornava-se mais forte ainda. Seu poder estaria próximo ao limite dos Dankers. A  harmonia do mundo estaria estável... Ou não?

Um ser de capa preta observava, em cima da colina, Londres. A cidade bela e evoluindo rapidamente. Um sorriso frio formou-se em seus lábios, soltando uma risada sarcástica enquanto seus olhos vermelhos brilhavam.

- Um dia, eu controlarei o mundo...


Notas Finais


Os Denkers são pessoas que tem uma afinidade maior com a mente. Elas conseguem controlar o seu cérebro mais do que os humanos comuns. A média de um Denker é 80% do seu poder mental. Porém, alguns deles conseguem controlar mais do que isso.
O mais raro de todos é um Denker que consiga controlar 100% de sua mente. Muitos consideram uma maldição pois as chances de enlouquecer são maiores.

Perdão se a história ficou um pouco parada agora, os próximos dois capítulos serão repletos de lutas.

Obrigada por lerem e espero que tenham gostado do capítulo!


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