Depois de longas horas conversando com o tal Yoshiro, Megumi bocejava deitando-se na cama fitando o teto por um tempo antes de dormir. Ela queria descobrir porque havia outra escola ao lado da sua e qual seria a finalidade. Se fosse uma instituição para pessoas normais, era perigoso demais estar próxima de seres tão peculiares como esses. Mesmo que quisesse formular mais teorias, o sono acabou a atingindo em cheio por causa do cansaço.
No outro dia, as quatro acabam tendo a mesma aula relacionada a uma nova matéria na grade: Técnicas Proibidas. Ao chegaram na sala, o professor já se encontrava escrevendo no quadro. Ele usava um terno, cabelos negros curtos e uma pele levemente bronzeada. Seus olhos eram vermelhos como o sangue e havia um par de chifres em sua cabeça. Os dedos dele eram repletos de machucados e as unhas vermelhas possuíam as pontas afiadas. Seu nome real não era muito bem visto entre os humanos, por isso apenas se intitulava por John. Era uma nomenclatura simples para representar o próprio pecado da ira.
— Sei que muitos se questionam sobre essa matéria. — John começa a falar, virando-se em direção aos demais. — E porque todos os alunos estão nessa sala. A resposta é simples: Todo mundo precisa conhecer a sua técnica proibida.
— Técnica proibida? — Houka questiona confusa. — Qual seria?
— É aí que está a questão, minha cara aluna. Cada raça possuí uma técnica proibida distinta, mas todas gastam uma boa quantidade de energia. Na Idade Média, houve um grande confronto entre exorcistas e demônios. Poucas pessoas sabem de tal fato mas essa guerra foi a causa da Santa Inquisição.
Emily arregala os olhos surpresa, pois viera dessa época.
— A Santa Inquisição foi uma forma de controlar o fluxo negativo existente na época, já que as bruxas produziam uma energia capaz de alimentar os demônios, tornando-os mais fortes. — ele explica com um sorriso convencido. — Bons tempos... Voltando, muitas inocentes foram mortas e isso apenas contribuiu para que os seres das trevas se alimentassem de suas energias.
— Como assim? — Megumi pergunta sussurrando para a rosada.
— Seres vivos possuem energia e a forma como eles se partem auxilia a identificar que tipo de energia eles absorvem. — ela explica ainda fitando o professor. — Pessoas mortas injustamente ou que cometem suicídio deixam uma forte energia negativa nesse plano. Então, criaturas das trevas se alimentam dessa energia para aumentar o nível de poder. Na bruxaria, nós aprendemos isso e tenho ciência de que é algo que deve ser evitado.
— Entendo... — Megumi apoia a mão no queixo pensativa. — Mas achei que fosse uma bruxa de magia negra, essa energia deveria te agradar.
— Eu fui obrigada a seguir o caminho da magia negra, não que eu tenha empatia por algo tão podre. — murmura.
— Claro que a Igreja não poderia ficar de braços cruzados, senão todo o mundo estaria em caos. — John dizia ajeitando a gravata em seu pescoço. — Por isso, os melhores exorcistas foram convocados para estudar todas as escrituras sagradas e criar técnicas para derrotarem os demônios. Para nosso insucesso, todas as técnicas deram certos e a população diminuiu em metade. Porém, uma delas foi proibida por causa do enorme gasto de energia que poderia levar à morte instantânea.
— Incrível! — exclama um aluno. — Então, exorcistas possuem armas na manga desse nível?
— Várias delas. — o professor responde sério. — Como não podíamos ficar para trás, também tentamos criar alguma técnica até o líder dos demônios, Lúcifer, conseguir aperfeiçoar uma técnica proibida. Foi uma luta violenta e houve morte de ambos os lados, no final ninguém venceu e cada um seguiu o seu caminho. — ajeitava o relógio no pulso, mordendo o lábio. — Essa guerra serviu como uma inspiração para as demais raças que não queriam ficar para trás.
— Então, cada uma criou uma técnica proibida? — outro aluno pergunta.
— Sim, apenas para serem usadas em casos extremos. Há alguns tratados entre reinos que proíbem boa parte dessas técnicas mas a diretora deseja que tenham conhecimento de suas técnicas proibidas, afinal nunca se sabe quando será necessário usá-las.
— Como iremos aprender? — Megumi questiona. — Já que é tecnicamente proibido usá-las.
— Não irão passar da teoria, ou seja, apenas precisam ler o material indicado e tentar aprender sem usar.
— Como isso é possível?!
— Isso não é problema meu. — ele dá nos ombros. — De qualquer forma, essa matéria não possui avaliação, então não há necessidade de tanta preocupação.
Após uma breve explicação sobre como usar o material, John passava de mesa em mesa entregando livros distintos para os alunos, afinal cada raça possuía uma técnica diferente. Porém, como a raça da Emily era quase extinta e desconhecida, ela acabou ficando sem nenhum livro para estudar. Ao final da aula, o professor a chamou para uma breve conversa.
— Pode se basear em outra raça, se quiser. — ele sugere.
— Não acho que preciso aprender alguma técnica proibida, já que mal sei usar as normais. — ela suspira baixo. — Mas obrigada, mesmo assim.
Emily passou o restante do dia cabisbaixa pois sentia que, nesse ritmo, não acompanharia o seu grupo. As outras perceberam o desânimo da denker e cochicharam entre si, entrando em um acordo sobre o assunto.
A última aula seria sobre condicionamento físico em equipe e Emily já resmungava baixo, sabendo que seu corpo não aguentaria. A aula passada dessa matéria foi um desastre, pois desmaiou na primeira prova e precisou sair do campo de treinamento antes mesmo de começar para valer. Por isso, boa parte dos alunos a olhavam com desprezo.
Megumi ajeitava a manga da camisa, logo após os botões enquanto respirava fundo. Houka dava pulinhos animadas e Ririchiyo permanecia neutra.
— A missão de merda de vocês será atravessar a floresta até capturar a bandeira no topo da colina existente no final. — o treinador explicava com as mãos nas costas. — Toda a equipe precisa alcançar o mesmo objetivo. Vão logo, seus inúteis! — sorria friamente. — Ah, esqueci de avisar: Terão que carregar um peso consigo para tornar a corrida mais lenta. Se quiserem dividir com um companheiro, tudo bem, mas duvido que alguém queira carregar o fardo alheio.
Um peso era adicionado nas costas de cada um, dependendo da sua condição física. Contudo, como uma forma de excluir a denker na primeira prova e prejudicar o grupo, o treinador colocou um peso de 100 kg nas costas dela.
Ao ouvir o apito, todas as equipes começam a correr em direção à floresta com determinação no olhar. Enquanto isso, Emily tentava puxar seu peso com muito esforço até adentrar no local. O restante dos alunos conseguiam se locomover sem muita dificuldade com o peso por treinarem arduamente o condicionamento físico, contudo, a jovem denker cambaleava para os lados até que cair no chão. Sem forças para se levantar com o peso nas costas, observava todos avançarem e a deixarem para trás.
Porém, alguém segura o seu peso e o tira das costas dela. Erguendo o olhar, Emily surpreende-se ao ver Megumi colocar o peso dela nas costas e abrir um leve sorriso, voltando a andar. Enquanto isso, Houka aparece ao seu lado ajudando-a a se levantar e as três avançam – apesar da denker estar sem o peso.
Às vezes, Houka não permitia que Emily desistisse por causa da fraqueza física, então ela a ajudava puxando por sua mão. Ririchiyo ficava atrás delas, observando se algum aluno iria ultrapassá-las e também usava a sua habilidade com a Zanpakutou para usar o som como um radar, indicando as demais qual seria o melhor atalho.
Então, as quatro chegam na colina e começam a escalar. Megumi e Ririchiyo tinham mais facilidade e conseguiam avançar mesmo com os pesos nas costas. Enquanto isso, Emily tentava acompanhar o ritmo com grande esforço mas, em determinado momento, uma rocha que pisava acaba quebrando e o corpo dela ia para trás. Porém, antes de cair a mão de Megumi segura a mão esquerda de Emily e Ririchiyo segurava a direita ao mesmo tempo. A denker as encara surpresa enquanto era puxada para seguir o ritmo das outras. Houka estava ao seu lado para tranquiliza-la e, assim, as quatro são a primeira equipe a chegar ao topo da montanha.
Quando todos os alunos chegam, encontram Megumi balançando a bandeira com um sorriso convencido ao lado das suas colegas de equipe.
O desenvolvimento desse grupo causou uma grande surpresa nos alunos que debatiam entre si sobre o quão longe as quatro iriam se trabalhassem juntos. Na volta para o colégio, Megumi andava encarando a palma da mão, pensando sobre quando poderia usar suas chamas.
Estou limitada demais por causa dessa maldita coleira, pensava.
Fitando as demais integrantes da equipe à sua frente, dava nos ombros e decidia deixar de lado essa preocupação.
Ao chegar no colégio, os alunos ganham meia hora de descanso antes da próxima aula. Enquanto isso, Ivy resolve reunir a sua equipe no pátio do colégio. Kaylessa abraçava os joelhos sentada em um banco, confusa ao ver sua amiga andar de um lado para outro com a mão no rosto. Kaito estava desinteressado com a reunião mas ainda prestava atenção na sua “líder” enquanto Trifus ficava sentado no chão com os braços cruzados.
— Nós não estamos avançando! — dizia Ivy.
— Como não, Ivy? Estamos em segundo. — comenta Kaylessa.
— Desde sempre, Kay. Tirando a equipe em primeiro lugar, o colégio espera que todas as demais avancem de colocação. Nós conseguimos ficar em segundo lugar com muito esforço mas estagnamos nessa posição. O que o primeiro possui que não temos?
— Uma pervertida? — Kaito arrisca dizer.
— Não! Eles possuem união, uma união maior do que a nossa. — Ivy massageia as têmporas andando de um lado para outros. — É como se estivéssemos criando barreiras ao nosso redor. A única amiga que considero é a Kay mas isso não é motivo para tê-los afastados. O Trifus sempre está conosco mas você, Kaito, mal passa meia hora com sua própria equipe.
— Sabe da minha condição. — ele responde seco. — Passo mais tempo na enfermaria do que vivendo a vida que desejaria ter.
— Não pode viver com medo da morte. — a vampira diz séria, aproximando-se dele. — Um dia ela virá para todos, até mesmo para mim, mas recuar não é uma opção.
— Mas lendas nunca morrem, não é? — Kaylessa comenta com um bico fofo. — Não é...?
— Ainda com isso, Kaylessa? — questiona Kaito. — Não seja idiota, nós nunca seremos lendas.
— Com um pensamento assim, nunca mesmo. — Ivy responde. — Somos uma equipe e você é uma parte dela, uma parte importante. Não por suas habilidades em manipular o clima mas porque a sua seriedade e determinação inspira todos nós.
Kaito arregala os olhos surpreso, virando o rosto em direção aos demais esperando alguma confirmação de suas palavras. Trifus assente com a cabeça e Kaylessa sorria boba em resposta, logo o rapaz voltava a sua atenção para as orbes vermelhas da vampira.
— S-Se você diz... — ele coça a cabeça sem jeito.
— Eu consegui conversar com a diretora em relação aos medicamentos. — Ivy começa a dizer. — Ela vai te fornecer um remédio à base de magia negra que te manterá com a saúde estável.
— Por qual preço?
— Ela só quer que nós alcancemos o primeiro lugar.
— Por... Que...? — Trifus se pronuncia com sua voz grossa e arrastada. — Não...Tem...Sentido...
— É verdade! — Kaylessa apoia a mão no queixo. — Ela não teria vantagem alguma.
— A diretora nos vê como parte de um jogo e, para ela, seria divertido ter a gente na primeira colocação. — explica Ivy. — Afinal, o primeiro lugar considera-se invicto e seria um impacto e tanto para eles.
— Será divertido! — Kay exclama alegre com brilho no olhar. — E também vamos nos divertir juntos!
— E o terceiro lugar? Eles não são uma ameaça para nós? — Kaito demonstra preocupação.
— Eles não ligam para posições, disso eu tenho certeza. Suas ações não possuem nenhuma coordenação mas não posso negar a incrível sincronia que possuem. Eu tive a oportunidade de conversar com um deles e posso garantir que não se importam com nenhuma competição. — dizia Ivy. — E essa é a nossa sorte, porque sei que poderiam alcançar o primeiro lugar com um estalar de dedos.
(...)
Com o início da noite, Megumi saía de fininho dos dormitórios para conversar com seu novo companheiro de diálogos: Yoshiro. Ela gostaria de aprender mais sobre ele e ter a certeza de que aquele era apenas um colégio comum.
Emily percebeu a súbita falta de Megumi no quarto e saiu pelos corredores à procura dela. No fundo, a denker desconfiava que sua colega estivesse falando a verdade sobre o garoto do outro lado da misteriosa barreira. Por isso, queria confirmar com seus próprios olhos essa teoria. Porém, ela acabou se perdendo nos corredores da escola e avistou um vulto preto entrar em uma sala.
Aquela é a Megumi-san? O que faz lá?, questionava-se.
Ao abrir a porta da sala, apenas percebeu o ambiente escuro e ousou entrar no local. Subitamente, a porta trancou sozinha e ela deu um pulo surpresa. Então, uma silhueta era perceptível encostada na janela, a luz da lua iluminava aquela criatura. Uma garotinha de vestido Lolita preto com babados brancos fitava a denker. Ela tinha um longo cabelo preto com as pontas cacheadas e a pele quase cinza, cheia de costuras como se fosse algum tipo de boneca. Seus olhos eram completamente negros, uma escuridão imensa em suas orbes.
Nesse momento, as pernas de Emily ficavam bambas enquanto encaravam os olhos escuros dela. A pequena garotinha caminhava em sua direção sem quebrar o contato visual. A sua forma de andar desengonçada assemelhava-se a uma boneca quebrada que tentava, à todo custo, mover suas pernas quebradas. A denker imaginou que ela fosse algum tipo de boneca de porcelana por causa da sua postura, mas nunca havia visto algo do tipo. Longe dos brinquedos que tinha quando criança, ela possuía uma energia extremamente negativa e assustadora.
— Cansada das pessoas falando, cansada dessa competição. — a garotinha falava enquanto dava passos em direção à Emily. — Essa prisão não é negativa o suficiente.
Se Emily fosse viva, provavelmente o seu coração estaria disparado. Por mais que quisesse sair correndo, via-se incapaz de mover um músculo sequer.
— Somos todos usados, é tão deplorável. — a voz quase robótica ecoava em meio à escuridão. — O caos além desses muros é mais saboroso, estou cansada de ficar aqui... Estou cansada de ser uma arma... Estou cansada de não matar...
A criatura continuava com o intenso contato visual, fitando-a com suas orbes negras e sombrias. Então, a pequena apoiou ambas as mãos no próprio pescoço ainda encarando Emily; mas se mostra surpresa ao ver que a jovem permanecia imóvel.
— Controle mental? — a “boneca” questiona inclinando bruscamente a cabeça para o lado e o som do seu osso partindo-se ecoa pela sala. — Então, você possui algum mecanismo automático de defesa para que não te controlem. Isso não é divertido de matar.
Emily não fazia a mínima ideia do que a garota dizia, apenas conseguia mover suas pernas e virava de costas para a criatura tentando abrir a porta. Suas mãos apoiavam-se na maçaneta como se não houvesse amanhã e, infelizmente, sua força foi um fator decisivo para continuar trancada. Enquanto isso, podia ouvir o som das sapatilhas pretas da garotinha cada vez mais próximo do seu ouvido.
— É o demônio encarnado! — Emily exclama desesperada, ainda tentando sair. — Pai nosso que estais no... Ah!
A porta foi aberta de forma repentina, fazendo-a se chocar sobre o corpo da pessoa responsável por tal feito. Ao erguer o olhar, deu de cara com um par de orbes azuis como o mar acima de olheiras sutis. Seu cabelo espetado azul tocava a orelha, apesar de algumas mechas frontais serem um pouco maiores – sendo um típico corte degrade. Diferente do uniforme escolar, o rapaz usava uma camisa social preta e grava cinza, além de um sobretudo cinza de gola alta. Mesmo com uma postura de badboy, sua expressão era de completa surpresa e preocupação.
— Senhorita, estás bem?
— Ahm...
Emily mal conseguia formular alguma frase devido ao medo da misteriosa garotinha atrás de si. O rapaz fitava a expressão dela, corando bruscamente com a beleza da jovem. Os longos cabelos negros bagunçados e caídos sobre os ombros, além de olhos vermelhos vivos reluzindo à pouca luz que invadia o ambiente.
Ele erguia o olhar para a garotinha de olhos negros e a encarava sério.
— Anna, chega de assustar os alunos.
— A-Anna...? — Emily questiona, custando-se a acreditar que um nome tão fofo pertença a uma criatura medonha.
— Annabelle, prazer. — a pequena dizia com a mesma expressão sem vida de antes.
— Oh céus...
O rapaz ajoelhava-se diante de Emily, segurando sua mão trêmula e depositando um beijo na região. Logo após, erguia o olhar com um sorriso tímido.
— Prazer, bela dama. Sou Alban.
— E-Emily... O que vocês... Ahm...
— A Annabelle é um tipo de boneca amaldiçoada mas isso é história para depois. Veja, estás pálida.
— Eu estou morta. — Emily diz desviando o olhar. — Então, é normal que eu...
Ela tinha medo de afastá-lo após contar sua condição mas Alban permanecia com o sorriso educado nos lábios, pegando-a nos braços logo em seguida e começando a andar.
— P-Para onde e-está me l-levando?!
— Para o meu quarto, é óbvio. Você parece cansada, estando morta ou não.
Alban a carregava com imenso cuidado, colocando-a contra o seu peito e Emily apenas corou em resposta. Erguendo o olhar, a jovem analisava as feições do azulado e admirava sua beleza evidente. Diferente da maioria dos rapazes daquele colégio, ele era extremamente educado e atencioso. A denker desviou a atenção para o horizonte esperando entrar no quarto mas foi levada para o banheiro feminino.
— E-Ei!
— Você precisa tomar um banho antes de dormir, bela dama. Isso ajudará a relaxar seus músculos.
Por mais que quisesse questionar, Emily foi colocada com cuidado no chão e Alban sussurrou algumas palavras em uma língua desconhecida. Um brilho azul tomou sua mão e dele surgiu um cetro dourado com uma esfera azul na extremidade superior. Tocando o cetro sobre a banheira que, instantaneamente, foi preenchida por água.
A garota arregalou os olhos surpresa e exclamou:
— Bruxaria!
Alban ria com sua reação e ergue o olhar para ela, levemente corado ao vê-la tão bela até mesmo surpresa.
— Eu sou um feiticeiro das trevas, então uso meu cetro para conjurar feitiços. Mas não se preocupe, bela dama, eu nunca usaria nada hostil contra a senhorita. — dizia educadamente. — Se me permite, irei te esperar no corredor. Tome cuidado com qualquer tipo de ataque surpresa, percebi que a diretora daqui não possui limites para seus testes.
Quando o azulado dava as costas para sair dali, Emily o segurava pela camisa com medo.
— P-Por favor, fica aqui. Eu não quero passar por nenhum teste no momento.
Por mais que sua cultura vitoriana não a permita ter esse tipo de contato com um homem, o medo acabava falando mais alto.
Abrindo um sorriso gentil, o cetro sumia da sua mão e o rapaz começa a tirar sua roupa. Emily ficou de costas, cobrindo o rosto muito vermelha enquanto o som do tecido caindo no chão ecoava pelo local. Ao ouvir Alban entrar na água, arregala os olhos.
— E-Espera! E-Eu terei que entrar contigo?
Ele apenas dá nos ombros.
— Confie em mim, bela dama.
— Acabamos de nos conhecer e não acho que haja tantas pessoas de confiança nesse colégio... — dizia sem jeito, abaixando o olhar.
— Nem suas companheiras?
— B-Bem, elas... Elas...
— A água está boa, bela dama. E minhas intenções com a senhorita são puras, nunca me atreveria a tocar nesse belo corpo sem a sua permissão.
Como um sinal de suas intenções, Alban fechava os olhos virando o rosto para o lado e essa foi a deixa para a jovem tirar suas roupas. Entrando na água, Emily ficava de costas para ele e encolhia-se sentindo a vermelhidão atingir sua face novamente. Voltando a manter os olhos abertos, o rapaz segurou a cintura dela com ambas as mãos e a puxou contra seu corpo, fazendo-a ficar entre suas pernas com as costas apoiadas no peitoral dele.
— V-Você é estranho, Alban.
— Obrigado. — sorria gentilmente, fazendo pouco caso do comentário hostil. — Seguir os padrões da sociedade apenas reprimi ser quem você é. Isso é cruel demais.
Emily ficava sem palavras, aconchegando-se nos braços do rapaz e concordando com seu argumento. Esse foi o banho mais estranho em toda a sua vida mas, inexplicavelmente, sentia-se bem ao lado dele.
(...)
Após o banho, os dois vestiam suas roupas e iam para o dormitório. Ao entrar no quarto dele, Emily recua assustada ao fitar as pessoas ali presentes: Annabelle e dois rapazes. O primeiro deles possuía pele morena e longos cabelos marrons, além de usar vários adereços de ouro por todo o seu corpo. A maquiagem assemelhava-se aos egípcios, acentuada na região dos olhos pelo delineado preto. Além do mais, ele tinha orelhas e cauda felpudas como uma raposa. O segundo rapaz tinha a pele branca como papel, sua cabeça era um crânio bovino com chifres grandes, parecendo galhos. As orbes negras da criatura encaravam a denker, inclinando levemente a cabeça para o lado.
— Q-Quem são...
Emily tentava falar mas Alban a pegava nos braços, colocando-a na cama superior do beliche.
— Meus colegas de quarto e minha equipe. — ele explica subindo na cama também. — Vamos, durma.
— Eu não posso dormir, estou morta.
Alban apoia a mão no queixo pensativo e segundos depois uma pequena esfera azul surge na palma da sua mão. O objeto tinha um sutil brilho enquanto, em seu interior, havia uma fumaça azul circulando.
— O que é isso? — Emily questiona confusa.
— Ela serve para conjurar um feitiço do sono, algo simples. Você poderá dormir mas, em troca, eu permanecerei acordado.
— Por que está fazendo isso por mim?
— Eu chuto que você está nesse mundo há anos. Não sente falta de dormir? Ter uma vida normal?
Emily abaixava a cabeça em resposta, ficando com uma expressão triste.
— Então, permita-me abrir mão do meu sono para dar-lhe o prazer de dormir. — Alban dizia aumentando a luz da esfera. — Tenha bons sonhos, Emily.
Então, ela sentiu os olhos pesarem de uma forma inexplicável e afunda o rosto no travesseiro, sendo embalada pelo sono.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.