História Renegades - Nosh - Hope

(flashback) 07/10/2019  segunda-feira

Noah

- Olha, estou te dizendo, Josh só está te usando Noah – Sina diz enquanto eu pego meus livros do armário, tentando me convencer de que minha “relação” com Josh ia dar merda para mim – depois dele conseguir o que quer, vai te descartar igual a camisinha usada.

- Que nojo sua imunda, não poderia ter usado outro exemplo não? – falo fazendo uma careta, tentando não levar muito a sério o que ela dizia.

- Estou falando sério Noah! – ela diz andando ao meu lado – depois não vem te dizer que não avisei.

- Mas Sina, qual é seu problema com ele? – pergunto, mas logo me arrependo pois Sina tinha tudo contra ele, e sempre fazia questão de deixar isso claro – ah não, lá vem.

- Lá vem mesmo! – ela diz brava – ele te bateu, te humilhou, é amigo do Bailey que também te humilhou. É namorado da vaca da Any, que adivinha? Já te humilhou e me humilhou também. Quer mais?

- Não já está bom – falo sério – mas Josh não é assim, ele já pediu desculpas pelo que fez. Ele quer mudar, e precisa da minha ajuda para isso, o que eu tenho a perder?

- A sua dignidade talvez? Ai Noah, faça o que quiser, mas isso vai dar merda.

- Oi Noah, oi Sina – uma voz nos chama vindo de trás.

Nos viramos, e o universo não podia ser menos irônico. Josh se aproximava com um sorriso no rosto, segurando a alça da sua mochila que estava pendurada em apenas um ombro.

- Falando no diabo – Sina cochicha para si mesma, mas consegui ouvir, e lanço um olhar de reprovação- o que foi Beauchamp?

- Calma Deinert, acordou de mal humor? – ele diz, e eu queria tapar a boca dele, pois Sina parecia querer partir Josh ao meio depois daquele comentário – vim falar com o Noah.

Não pude deixar de corar. Não gostava de me sentir assim, pois consegui ser frio com ele sexta passada no mercado, mas não sabia se continuaria, principalmente por causa daquele sorriso.

- C-comigo? – falo apontando para mim mesmo meio confuso

- Não, com o Papa. É com você sim, e a sós, se não me importar Sina – ele diz calmamente para ela.

Sina me fuzila com o olhar, e depois para ele. Ela parecia prestes a cometer um assassinato, e eu e Josh éramos as vítimas.

- Me importo sim – ela diz meio brava

- Não, não se importa – falo – te vejo na aula Sina. Te amo.

Ela estava prestes a protestar, mas acaba dando meia volta e saindo, com passos brutos. Ia sobrar para as outras acalmarem ela.

- Ela está brava? – ele pergunta olhando meio confuso para ela andando

- Nãaao. Bom, enfim, o que você queria falar? – troco de assunto

- Bom, eu só queria dizer que fiz merda – ele diz andando e eu sigo ele – no jantar. Não consegui dizer não a proposta que meu pai fez com os seus sócios, e por livre e espontânea pressão aceitei. Droga.

- Calma – percebo que ele estava frustrado consigo mesmo – você ainda pode convencer ele a não fazer isso, não pode?

- Sinceramente não sei. Na verdade vou parar de te encher com meus problemas. Vim também perguntar se você está livre amanhã?

Por algum motivo minha nuca queima.

- A-amanhã?  Estou, mas... porque? – falo meio nervoso

- Preciso revisar a matéria de álgebra, queria sua ajuda – ai tudo vai por água abaixo. O que você estava pensando Noah? Ai esquece, eu sei muito bem o que meu cérebro pensou.

- Pode ser – falo meio desanimado. – às duas?

- Às duas. Combinado Urrea, você é o cara – e então bagunça meu cabelo, e sai rapidamente do meu lado

Meu corpo já não respondia mais por si só. Não gostava daquele efeito que ele causava em mim, mas eu fiquei alguns segundos ali parado processando tudo.

Era um jogo perigoso em que estava me metendo, mas isso eu já sabia desde o início.

(dias atuais)

Any

Mais um dia aqui dentro, e com os últimos acontecimentos, venho me sentindo meio inútil. Bom, ontem teve mais duas mortes, Dean e Ária. A dois três atrás foi Ethan, e a semanas e meses atrás tiveram mais mortes. Minha conclusão obviamente era que: se você não soubesse lutar e se defender, tinha grandes chances de morrer. E vou logo avisando que ainda não estou afim de morrer.

Tomei coragem e fui até Hina Yoshihara, que é amiga de Noah, e perguntar se ela poderia me ajudar com o meu problema:

- Hina? – chego nela, que pegava uma tigela com cereais na mesa de café da manhã

- Oi... Any? – ela diz meio confusa, e não era de se admirar, nunca nos falamos – tudo bem?

- Tá sim, na verdade, você é uma das melhores lutadoras aqui dentro, e bem, eu estava pensando devido aos últimos acontecimentos se você poderia me ajudar a aprender a atirar – falo enrolando bastante, pode não parecer, mas eu estava bem nervosa

- Any, eu fico feliz que quer aprender a lutar e afins, mas tiro não é comigo. Eu ensino a lutar com lâminas. Eu perguntaria para Sina. Ela é uma ótima atiradora – ela diz com um sorriso em seu rosto e com a tigela de cereais nas mãos

Olho para o outro lado do refeitório, e vejo Sina conversando com Sofya e Shivanni numa mesa, enquanto comiam torradas com café. Respiro fundo. Não tinha outra opção não?

Entenda, eu e Sina Deinert tínhamos um grande histórico de brigas e discussões. Ela claramente não gostava de mim, e com razão. Já fiz várias merdas com ela, principalmente ter vazado aquela foto dela no passado. Mas eu espero que o tempo que passamos aqui dentro a tenha feito esquecer isso e que ela aceitasse a me ajudar. Respiro fundo novamente e vou até ela junto com Hina.

- Oi gente. Sina? – falo meio nervosa

- Gabrielly? – ela diz meio confusa – se estiver procurando o Noah, ele ainda não acordou.

- Na verdade ela quer falar com você – Hina diz

Sina faz a maior cara de confusão e de indignação. Compreensível. Eu já estava quase desistindo da ideia, até que ela se levanta brutalmente da mesa, com a maior pouca vontade existente na face da terra, e me arrasta para longe da mesa, onde não havia muitas pessoas. Aparentemente o tempo não fez ela esquecer do que eu fiz.

- Desembucha logo, não tenho todo o tempo do mundo. – fala brava com um olhar mortal

- Primeiramente, eu sei que tivemos nossas diferenças no passado, e que você está muito brava pelo que eu fiz, e eu entendo isso mas... – dou uma pausa e tento escolher as melhores palavras possíveis para aquilo – você poderia me ensinar a como usar uma arma?

Ela ri de indignação e olha para os lados, passando a língua por dentro da bochecha. Já esperava ela me xingar:

- Assim fácil? – cruza os braços

- Bom, eu nunca pedi desculpas por aquilo, e sei que isso não vai resolver nada. Mas é a única coisa que posso fazer. Me desculpas por ter vazado sua foto. Fui escrota, e me arrependo disso. – falo o mais séro possível, pois realmente eu me arrependia de tudo que eu fiz

Ela respira fundo, olha para o teto, e com os braços cruzados diz:

- Só vou te ajudar pois: é amiga da Yoon, ajudou o Noah quando ele precisou e porque... eu acredito que temos que aprender a nos defender sozinhos aqui dentro. – solto um sorriso, mas ela me repreende – você precisa de uma arma, e estar todos os dias às três da tarde no ginásio, sem falta ou atraso. Começando por amanhã.

Eu estava muito feliz, principalmente porque ela me perdoou. Ela se retira e volta para a sua mesa. Passo  meus olhos pelo refeitório a procura de Josh, mal podia esperar para contar isso para ele. E então o vejo entrando na sala, vou andando até ele.

Mas quando me dei conta, ele foi ao encontro de Noah, que estava na mesa de comida pegando seu café da manhã. Josh o cutuca e eles começam a conversar. Senti que era melhor não ir lá, e aquele velho sentimento volta. Ser trocada.

Josh tem andando distante e já conversamos sobre isso. eu tentava não transparecer meus ciúmes, mas o fato dele passar mais tempo com o amigo dele do que comigo me incomodava.

Talvez a ideia de aprender a atirar nem fosse tão emocionante assim.

Noah

- Acordou  cedo hein? – Josh tira com a minha cara

- Por acaso você se lembra que até que horas ficamos lutando? Como que você consegue dormir tão pouco tempo? – pergunto colocando algumas coisas na minha bandeja

- Me acostumei – diz pegando um copo de café – na verdade eu vim aqui para te perguntar uma coisa.

- Ham? – falo colocando uma colher de cereal na boca enquanto vou até uma mesa, pois minhas amigas já haviam acabado de comer

- Eu estava pensando em sair para averiguar os pontos marcados no mapa, e.... pensei se talvez... bom, você quisesse ir comigo. – ele diz se sentando ao meu lado na mesa

- Mas você não tinha proibido sair do Forte? – pergunto confuso

- Não proibi, apenas disse para diminuir. E precisamos de mais respostas, então... você topa? – ele diz com um olhar de criança pidona, por mais que não quisesse transparecer aquilo, e involuntariamente acabo soltando um riso nasal – qual é a graça?

- Nada – tento disfarçar – eu topo. Vai chamar a Heyoon e a Shivanni?

Ele me olha meio confuso, mas diz:

- Na verdade eu estava pensando em chamar só você, por questão de segurança, claro – ele se embola nas palavras – mas de qualquer modo, leve suas armas. Pode ser perigoso.

- Então você me chamou por causa da minha experiência com armas? – falo tirando com a cara dele – admita, sou melhor do que você nas adagas.

- Vai sonhando, até parece que te chamei por causa disso. – ele fala rindo pegando uma uva da minha bandeja

- Então porque me chamou? – pergunto curioso, mas seu olhar muda de repente. Seu sorriso agora dava lugar a uma cara de confusão e um biquinho

- Bom... por causa do acordo, lembra? – me esqueci do acordo, e me sentia um idiota ter perguntado aquilo. Por que mais será que ele teria me chamado se não fosse pelo nosso trato de buscar respostas? Noah, você é um idiota!

- Ah sim! Claro que me lembro. – falo desviando o olhar envergonhado e encaro a tigela de cereais

- Só que... tenta comer algo antes de irmos – ele diz, e eu volto minha atenção para ele – você parece que não come nada a dias, está péssimo.

- Legal, minha autoestima agradeceu seu comentário – falo ironicamente, e ele ri

- É sério, não quero ter que socorrer ninguém.

- Não se preocupa Beauchamp, não ter que me socorrer, não mais – falo meio sério

- Então se é assim, me encontra às três no estacionamento. – diz

- Fechado.

- E não se atrase.

- O jogo virou, é isso? – falo rindo

- Exatamente – ele se levanta da mesa, me deixando sozinho – até mais tarde Urrea.

(flashback) 20/12/2019  sexta-feira

Noah

O feriado de fim de ano de Inverno já estava chegando, e a nossa última aula do dia já havia acabado, então voltaremos para as aulas só no ano que vem. Eu iria passar o Natal e o Ano Novo aqui em Saint Groove mesmo, nesse frio que eu amo tanto.

Semestre que vem era o nosso último, havia se passado já metade do ano letivo, o meu último ano letivo na escola, depois era direto para a faculdade. Já tinha meus planos, mas agora precisava descansar para encarar a etapa final. Sina e Shivanni já tinham ido embora, então eu, Diarra e Sofya estávamos na frente da escola, esperando o ônibus das duas.

- Onde você vai passar o Natal, Sô? – Diarra pergunta ajeitando seu casado de frio

- Vou para a casa dos meus avós em Los Angeles. – ela diz

- Vai para a cidade grande? – pergunto

- Sim – diz animada – e onde vocês vão passar.

- Aqui em Saint Groove mesmo – falo e Diarra também diz

Me perco na conversa das duas, pois do outro lado da entrada da escola via que Bailey e Lamar estavam se despedindo de Josh. Era entranho dizer como eu me sentia em relação a ele.

Por um tempo gostava dele, aí ele começou a pegar no meu pé junto com Bailey e chegou até a me bater. Se desculpou e viramos colegas, pois eu passei a ajudar a ele com os estudos. Minhas amigas, principalmente Sina não gostaram da ideia, mas até hoje ele não mostrou nenhuma razão para eu desconfiar.

Nos últimos meses, ele vem melhorando muito suas notas, e também vem me tratando melhor. Eu me sentia intimidado perto dele, mas não me sentia mais tão assim. Tinha medo de um dia ele me decepcionar de novo, mas como  eu disse, ele ainda não mostrou nenhum motivo para eu achar isso.

- Gente, já volto – falo para as minhas amigas, e me levanto

Percebo que Bailey e Lamar já haviam saído, deixando Josh sozinho, então aproveito para ir lá e sanar a minha dúvida.

- Hey Josh – falo

- Noah? E ai? – ele diz sorrindo, usava roupas de frio e uma touca.

- Bem, é que... os meninos estavam se despedindo de você? – pergunto

- Ah! É que... bom, esqueci de te falar. Droga como sou um idiota – ele da um tapinha na sua cabeça – mas no começo do mês fiz uma prova, e eu passei, e então ganhei uma bolsa de três meses numa academia de dança, com meio período de escola.

- Dança? -  pergunto meio confuso

- É. – ele diz meio envergonhado – eu nunca te disse por vergonha mas... eu gosto de dança. E graças a sua ajuda eu consegui fazer essa prova então, muito obrigado Noah.

Confesso que não pude deixar de soltar um sorriso, ele parecia bem feliz e orgulhoso de si mesmo, e eu fiquei feliz por isso, mas ai as peças começaram a se encaixar:

- Espera, então quer dizer que você vai  ficar fora por três meses? – pergunto

- É, meio que sim. A academia é em Los Angeles, então vou ficar um tempo na casa de uns parentes que moram lá. – ele diz um pouco mais sério

- Bom, estou feliz por ter conseguido, de verdade – falo sincero – espero que dê tudo certo.

- Valeu Noah, de verdade, por tudo o que fez. – ele diz, e rio de novo

- Que isso. – falo, e estendo minha mão – então... até daqui três meses Beauchamp!

Ele segura minha mão com a sua e a balança no ar.

- Até daqui três meses Urrea.