02 de Abril de 1995
Escócia - Hogwarts
— Aposto que se arrependeu de ter desistido de Adivinhações, não é? — Pavarti sorriu presunçosa para Hermione, que revirou os olhos em resposta.
Estavam no horário de café, dois dias depois da demissão de Sibila Trelawney. Pavarti aumentava os cílios com sua varinha, examinando o resultado nas costas da colher em que a mesma havia usado para mexer o mingau. Eles teriam sua primeira aula com Firenze naquela manhã.
— Não — Hermione respondeu com indiferença, sem tirar os olhos do Profeta Diário. —, nunca gostei muito de cavalos.
— Ele não é um cavalo! — Yvaine protestou, ouvindo o suspiro de Hermione em resposta — é um centauro, tonta.
— Corrigindo, um lindo centauro. — Lilá, que escutava a conversa calada, interrompeu com um suspiro apaixonado.
— Continua tendo quatro patas — Hermione resmungou — Enfim, não interessa. Achei que vocês estivessem super chateadas que a Trelawney foi mandada embora.
— E estamos! — Pavarti respondeu — Fomos visitar ela, levamos alguns narcisos...
— Não daqueles que grasnam, igual os da professora Sprout, uns bonitos. — Yvaine respondeu distraída.
— E como ela está? — Cameron perguntou, remexendo seu pudim, sem realmente comer.
— Nada bem — Lilá baixou o olhar e suspirou —, a coitadinha só chora, diz que prefere ir embora do que ficar no mesmo lugar que Umbridge. Não a culpo, Umbridge foi horrível com ela, não foi?
— Tenho o pressentimento que esse foi só o começo... — Yvaine sussurrou sombriamente.
— O que? Impossível! — Pavarti quase gritou. — Ela não pode ficar pior do que já é, Yve!
— Concordo com a Yve — Cameron disse, levantando o olhar para os amigos — Tenho certeza que ela vai querer se vingar de Dumbledore, principalmente por ter contratado um semi-humano, viram a cara dela quando viu o Firenze?
Depois do café, Hermione foi para a aula de Runas Antigas enquanto seus amigos iam para o Saguão de Entrada, a caminho da aula de Adivinhações.
— Não vamos para a Torre Norte? — Rony perguntou ao ver Pavarti passar pela escadaria sem subir.
— Como você espera que Firenze suba essas escadas? Estamos na sala onze, não leu o quadro de avisos? — Pavarti respondeu, lançando um olhar de desdém por cima do ombro.
A sala onze era no térreo, no corredor que ia para o lado oposto do Salão Principal. Harry sabia que a sala não era usada a bastante tempo, por isso dava a impressão de estar abandonada e até mesmo, um pouco suja. Quando ele entrou na sala logo atrás de Cameron e se viu em uma clareira florestal, ficou momentaneamente atordoado. O piso da sala era um musgo primaveril, de onde surgiam enormes árvores; seus ramos de folha balançavam no teto e iam em direção às janelas, fazendo com que a sala se enchesse de raios de luz com uma coloração verde suave e malhada. Os alunos que já haviam chegado na sala de aula, se encontravam no piso terroso, com as costas apoiadas nos troncos das árvores ou em alguns pedregulhos do local. No meio da clareira, onde não havia árvores, estava Firenze.
— Harry Potter — disse ele, estendendo a mão quando Harry entrou.
— Oi... — cumprimentou Harry, apertando a mão do centauro que o olhava sem piscar e sem sorrir —, que bom ver você.
— E eu você. — O centauro respondeu, recolhendo a mão — Estava escrito que nos veríamos novamente.
Harry notou que havia um hematoma em forma de casco no peito de Firenze. Quando se virou para se reunir ao restante da turma, notou também, que muitos o olhavam impressionados, aparentemente por ele falar com Firenze, o que na opinião de muitos, era assustador. Quando o último aluno entrou e a porta foi fechada, Firenze gesticou com as mãos, como se englobasse a sala.
— O professor Dumbledore foi muito bondoso em nos providenciar esta sala imitando meu hábitat natural, vamos respeita-lá. Gostaria de ter ensinado a vocês na Floresta Proibida, meu antigo local de morada... mas já não é possível.
— Professor? — Bianca ergueu a mão, enquanto franzia o cenho. — Já estivemos lá com o Hagrid, não temos medo daquele lugar.
— Não duvido de sua coragem, ela não é o problema — Firenze disse —, eu quem não posso voltar à Floresta Proibida. O meu rebanho me baniu.
— Rebanho? — Nathair perguntou confuso, e Harry percebeu que o amigo estava pensando em um rebanho de vacas — Mas... ah! — a compreensão se espalhou no rosto pálido do Malfoy.
— Tem outros igual o senhor? — Lilá perguntou atordoada.
— Hagrid os criou, como fez com os Testrálios? — Pavarti perguntou curiosa.
Firenze virou a cabeça lentamente na direção de Pavarti, que o rosto se contraiu em careta ao perceber que disse algo bem ofensivo.
— Céus... eu não quis dizer... me desculpe — a menina disse rapidamente, a voz abafada.
— Os centauros não são servidores, brinquedos ou qualquer outra coisa dos humanos. — Firenze respondeu com calma.
Por alguns instantes a sala ficou em silêncio, então, Medusa ergueu a mão.
— Não que seja um problema nosso, professor, mas porque você se tornou um centauro renegado?
— Eu concordei em trabalhar para o professor Dumbledore, eles encaram isso como uma traição a nossa espécie.
Harry se lembrou há quase quatro anos atrás, quando o centauro Agouro entrou em discussão com Firenze porque o mesmo havia permitido que Harry o cavalgasse até chegarem em um local seguro. Agouro chegou a chamar Fizenze de "mula". Harry se perguntou se foi Agouro quem deixou aquela marca no peito de Firenze.
— Vamos começar — Firenze balançou a longa calda baia, erguendo uma de suas mãos para o ramo de folhas no alto, abaixando lentamente em seguida, ao fazer isso, a claridade da sala diminuiu; agora eles pareciam estar sentados na clareira apreciando o crepúsculo, vendo as estrelas surgirem no teto. Ouviram diversas exclamações e gritinhos sufocados.
— Deitem-se no chão — Firenze pediu calmamente —, e observem o céu. Ali está escrito, para os que sabem ler, o destino de todos nós.
— Trelawney nunca fez isso conosco — Yvaine sussurrou eufórica para Bianca, enquanto as duas se deitavam, uma do lado da outra —, eu já adoro ele!
— Estou ciente que vocês aprenderam os nomes dos planetas e de suas luas em Astronomia, que já mapearam o curso das estrelas no céu. Os centauros foram desvendando alguns dos mistérios desses movimentos durante os séculos, isso não quer dizer que vocês não iram conseguir. Nossas descobertas nos ensinam que o futuro pode ser visto pelo céu que nos cobre...
— Professora Trelawney estudou Astrologia conosco! — Yvaine disse ansiosa, levantou a mão depois de falar, dando um sorrisinho sem-graça — Marte causa acidentes, queimaduras e outros problemas, e quando faz ângulo com Saturno, como agora — Ela pôs a mão em frente ao rosto, semicerrando os olhos para enxergar melhor. Assim que o fez, desenhou um ângulo reto no ar —, significa que as pessoas precisam ter extremo cuidado ao lidar com coisas quentes...
— Isso — Firenze disse calmamente, vendo o sorriso de Yvaine desaparecer assim que ele continuou — são baboseiras humanas.
O sorriso de Yvaine afroxou, assim como a mão erguida no ar, que caiu ao lado de seu corpo.
— Acidentes banais de humanos — Firenze voltou a falar —, não tem a menor significância e não fazem a menor diferença no universo ou no movimento dos planetas.
— A professora Trelawney... — Yvaine sussurrou, parecendo decepcionada.
— É uma humana — Firenze disse com simplicidade — Por isso, tem os olhos e as mãos impedidos pelas limitações de sua espécie.
Harry virou a cabeça ligeiramente para olhar a amiga, que, apesar de decepcionada, parecia bem interessada em aprender mais, e o certo sobre aquilo que ela tanto gostava.
— Não estou dizendo que a antiga professora de vocês está totalmente errada, bem, eu não sei — Firenze voltou a caminhar diante da turma — Estou aqui para compartilhar explicações sobre a sabedoria dos centauros, que é impessoal e imparcial. Contemplamos os céus a procura de grandes ondas de maldade ou de mudança, pode levar dez anos para termos certeza do que estamos vendo.
Firenze apontou para a estrela vermelha diretamente acima de Harry.
— Na última década, as estrelas têm indicado que a bruxidade está vivendo uma breve calmaria entre duas guerras. Marte, anunciador de conflitos, brilha intensamente sobre nós, sugerindo que a luta não irá demorar para recomeçar. Os centauros podem adivinhar, por meio da queima de certas ervas e folhas...
Foi a aula mais incomum que eles já assistiram. É verdade que queimaram artemísia e malva no chão da sala, e Firenze mandou eles procurarem certos símbolos e formas na fumaça, e não pareceu preocupado que os alunos não tenham os achado. Firenze comentou que os humanos - no geral - não eram muito bons nisso, e concluiu dizendo que, de todo modo, era tolice acreditar veemente nessas coisas, já que até mesmo os centauros interpretavam de forma errada. Firenze era um professor curioso, Harry percebeu que sua prioridade não era ensinar o que sabia, e sim, mostrar aos alunos que nada, nem mesmo o conhecimento dos centauros, era à prova de erro.
— Ele não é muito afirmativo sobre nada, não é? — Harry ouviu Rony sussurrar para Ariana, que concordou com a cabeça, enquanto ajudava a apagar o fogo na malva.
— Eu adoraria saber sobre mais detalhes dessa tal guerra. — Harry viu Ariana sussurrar sobre o ombro.
A sineta tocou e os alunos pareceram se assustar, até mesmo Harry, já haviam se esquecido que estavam dentro do Castelo, já que o local parecia realmente uma floresta. Os alunos formaram uma fila indiana e saíram da sala de aula perplexos, Harry já iria os seguir, mas ouviu seu nome ser chamado.
— Harry Potter, uma palavrinha, por favor.
Harry se virou para o professor, que se aproximou dele. Harry viu de relance seus amigos hesitarem.
— Podem ficar, só fechem a porta, por favor. — Rony não esperou ele dizer duas vezes. O centauro voltou a se virar para Harry — Você é amigo de Hagrid, não é, Harry Potter?
— Sou. — respondeu Harry.
— Porque? — Medusa perguntou na mesma hora, vendo que os presentes na sala viraram seu olhar para ela, que deu um sorriso amarelo — Desculpa, é a força do hábito.
— Dê um aviso meu a ele, por favor. A tentativa dele não está dando certo, seria melhor que a abandonasse. — Firenze disse, voltando a virar a cabeça para Harry.
— A tentativa dele não está dando certo? — Ariana perguntou, vendo Firenze assentir.
— E seria melhor que ele abandonasse — O centauro repetiu — Eu mesmo iria o avisar, mas seria melhor que eu me mantesse afastado da Floresta Proibida. Hagrid já tem problemas demais sem uma "guerra entre centauros".
— Que é que Hagrid está tentando fazer? — Harry perguntou apreensivo.
— Hagrid me prestou um grande serviço recentemente e há muito tempo ganhou meu respeito pelo cuidado que demonstra ter com os seres vivos. Por isso, não trairei seu segredo. No entanto, ele precisa ouvir a voz da razão. — Firenze foi até a porta, abrindo a mesma para eles — Um bom dia para vocês.
— Na verdade — Harry ouviu Yvaine dizer, logo se virando para a mesma e vendo o enorme sorriso em seu rosto — Eu gostaria de fazer algumas perguntas, se o senhor não se importar, claro...
(...)
A felicidade que Harry havia sentido na publicação do Pasquim, passou tão rapidamente quanto o mês de Março, que deu espaço para um Abril tempestuoso. A vida de Harry parecia ter se transformado novamente em uma grande pasta de problemas e preocupações. Umbridge assistia todas as aulas de Trato das Criaturas Mágicas, fazendo com que a missão de Harry de passar a mensagem de Firenze para Hagrid se tornasse bem mais difícil do que realmente era. Harry havia finalmente conseguido, quando fingiu perder seu exemplar de Animais Fantásticos e Onde Habitam, voltando para perto da Floresta Proibida depois da aula.
Fora isso, como os professores e Hermione gostavam de lembrar, os N.O.M.s estavam cada dia mais próximos. Todos os quintanistas pareciam estar no ápice do nervosismo, mas Coralinne Weasley foi a primeira a receber uma Poção Calmante da Madame Pomfrey depois de cair no choro durante uma de suas aulas favoritas, Herbologia, dizendo que era burra demais e que não conseguiria passar nos N.O.M.s.
Se não fosse pelas reuniões da AD para acalmar os ânimos e a tensão de alguns alunos, Harry tinha a impressão que todos estariam enlouquecendo. Eles finalmente haviam começado a trabalhar no patrono, Harry imaginava em como Umbridge iria reagir ao ver que todos tiraram "E" nós exames de Defesa Contra as Artes das Trevas.
— Não seja chato, Harry — Cho brincou animada, apreciando seu Patrono em forma de cisne prateado a rodear —, eles são tão lindinhos.
— Eles não tem que ser bonitos, precisam proteger vocês — Harry disse calmamente — Precisávamos mesmo de um bicho-papão ou coisa parecida, foi assim que aprendi...
— Claro, não consigo conjurar o Patrono sem o bicho-papão, imagina com... — Mérida soltou um gritinho animado assim que uma bela onça surgiu na ponta de sua varinha e pulou para o chão. — PUTA MERDA, OLHA ISSO! — a garota gritou animada, dando alguns pulinhos de animação. — Sim, eu sou incrível.
— Parabéns... — Harry riu da animação da garota.
— Você viu isso, Fred? — Mérida sorriu de maneira doce, sem perceber. Dizendo assim que viu o ruivo se aproximar dos dois.
— Olha, ela é adorável quando não está tentando nos matar... — Fred comentou com Harry, vendo a menina voltar com sua carranca habitual e cruzar os braços em frente ao corpo. — Ei, nem adianta fazer essa cara, eu ouvi bem você me chamando de Fred! — O garoto sorriu vitorioso, vendo que a menina abriu a boca para falar algo, mas fechou em seguida, emburrando ainda mais a cara. — Viu, Harry? Adorável.
— Se eu não lembro, eu não chamei, Frorge. — Mérida deu seu típico sorriso de lado ao ver o sorriso de Fred vacilar. — Se continuar estragando o meu momento, vou fazer a minha onça devorar você lenta e dolorosamente...
Harry pensou em dizer para os dois que as coisas não funcionavam dessa maneira, mas desistiu ao ver o sorriso de Fred voltar, ainda mais largo que antes.
— Eu sabia que você queria fazer altas maldades com o meu corpinho, Lestrange... — essa foi a deixa perfeita para Harry sair, assim que viu Mérida abrir a boca para rebater. Não estava afim de entrar em uma conversa sobre isso, ainda mais com os dois.
Harry voltou a andar pela sala, vendo alguns alunos rindo com os outros, felizes por conseguirem produzir o patrono ou por pelo menos conseguirem produzir uma faísca. Outros faziam piadinhas consigo próprio, por não ter conseguido, ou com o animal do patrono do colega ao lado. Era uma ótima cena de se ver. Harry olhou para Hermione por alguns segundos, vendo que uma reluzente lontra prateada brincava em sua volta, a garota notou o olhar do mesmo, sorrindo para ele.
— Uma gracinha, não? — e ela voltou a olhar seu patrono com carinho.
Harry deixou seu olhar focar em Neville, que estava encontrando bastante dificuldade. O rosto concentrado, tanto que já estava coberto de suor. Ao seu lado, Simas, que veio em sua primeira reunião, trazido por Dino.
— Você tem que pensar em algo realmente feliz — Dino lembrou, embora o mesmo também não havia obtido sucesso em produzir o patrono.
— Estou tentando! — Neville respondeu infeliz.
— Harry — Harry ouviu seu nome ser chamado, fazendo o mesmo virar seu rosto na direção da voz — Como que faz se você não tem lembranças felizes?
— Para de se lamentar, Nathair — Medusa resmungou impaciente, sem olhar o mesmo, já que seu olhar estava focado na luz forte na ponta de sua varinha, que começou a rodear a mesma com graciosidade, fazendo lembrar um animal marinho nadando em volta de si. — Acho que não tenho um Patrono corpóreo — Medusa disse, sabendo que Harry observava os dois, subindo o olhar para o mesmo e sorrindo. —, não faz diferença, se esse fizer tudo que o outro faz, estou satisfeita.
— Eu consegui, santo seja esse dia! — Nathair gritou, ao mesmo tempo que um reluzente e prateado cavalo passou galopando pela sala, assustando os demais patronos.
Harry se virou para olhar os demais, vendo que o cavalo havia derrubado Mérida ao passar bem perto da mesma, fazendo a mesma se levantar com xingamentos e gritar para o seu patrono atacar o cavalo de Nathair. Harry viu uma arara prateada, juntamente com outra coisa luminosa, semelhante a um pássaro, pousar na prateleira ao seu lado, ao olhar para trás, Bianca e Coralinne fizeram um toque com as mãos, batendo uma na outra e sorrindo orgulhosa delas mesmas. No outro canto da sala, um golfinho nadava inquietamente a volta de Noah e Yvaine, que pareciam estar em uma conversa bem séria.
— Concentração. — Harry ouviu Noah dizer, enquanto gesticulava com as mãos.
— Concentração! — Yvaine repetiu.
— Foco. — Noah disse novamente, vendo Yvaine concordar e dizer em seguida.
— Foco!
— Lembrança feliz. — Noah disse mais uma vez, agora, observando o golfinho rodear rapidamente a volta de Yvaine.
— Lembrança feliz!
— Dar um beijo no Noah para ter sorte.
— Dar um... NOAH! — Harry viu a menina abrir os olhos rapidamente. Olhando incrédula para o garoto que apenas ria.
— Estou brincando, estou brincando... — Ele levantou as mãos em rendição, vendo o golfinho passar entre as duas maos erguidas no ar. — Só faça, você é a garota mais inteligente que eu já conheci, Halley, você consegue.
Yve deixou um sorrisinho tímido brotar no canto de seus lábios assim que seus olhos voltaram a se fechar e a garota começou a materializar uma lembrança feliz em sua mente. Sem a garota perceber, ou até mesmo Noah - que tinha toda a sua atenção voltada para o rosto da menina, que estava de olhos fechados e com um sorrisinho mínimo nos lábios - uma luz surgiu na ponta da varinha de Yvaine. A luz ficava cada vez maior e se materializava em um animal grande, Harry viu quando o enorme Elefante-Africano bateu uma de suas patas no chão, o que assustou os outros alunos.
— NOAH! — A menina gritou, vendo o elefante se curvar na direção da mesma. E em seguida, o golfinho começar a rodear o mesmo, fazendo o elefante dar algumas voltinhas para acompanhar o ritmo do mesmo.
— Uau... — Noah sorriu com animação, assim que Yvaine se jogou nos braços do mesmo, o envolvendo em um abraço.
— Obrigada... — Harry ouviu a mesma sussurrar. Viu que Noah não respondeu, mas o garoto lançou uma piscadela para a mesma, quando a menina se afastou para olhar o rosto do garoto.
— Não é possível que, até nos patronos, vocês dois sejam colados! — Harry ouviu Sirena dizer, se virando para ver o que a deixava indignada.
Harry viu um macaco pulando ao redor de um lobo prateado, que estava em uma nítida posição de brincadeira. Ambos eram observados do alto por um belo e pomposo hipogrifo, que estava sentado ao lado de Sirena, arrastando o casco no chão, mostrando que a brincadeira do macaco e do lobo o irritava.
— O que posso dizer? Almas gêmeas desde sempre. — Cameron disse, jogando os cabelos para trás do ombro, ao mesmo tempo que o lobo começava a correr atrás do macaco.
— Conte aqui para a tia Sirena — Sirena abaixou o tom de voz, se aproximando dos dois, que a observaram com atenção. — O que vocês dois são?
Jorge deixou que uma feição séria tomasse conta de seu rosto, enquanto ele apertava a gravata frouxa de seu pescoço, como se estivesse tratando de um assunto bastante sério.
— Embora tenha ocorrido vários pedidos — Jorge começou a falar, depois de pigarrear —, eu disse não, todas as vezes que Cameron pediu. — Cameron riu, o que fez Jorge abaixar a cabeça para ver a mesma sorrindo, com um sorrisinho entre os lábios.
— Fala sério... — Sirena deixou a frase morrer, bufando de impaciência. — Quer dizer que, se eu quisesse fugir com a Cameron e abandonar você, não seria traição, já que vocês não tem nada... — Sirena não precisou terminar, já que Jorge logo puxou Cameron contra si, em um abraço possessivo, que fez com que Sirena desse gargalhadas.
— Seria uma baita traição com o seu outro gêmeo, Weasley, como pode pensar em coisas assim? — Jorge disse dramaticamente, fazendo uma careta ao ver que a garota gargalhava mais ainda. — Francamente, eu achava que você tinha alguma consideração por nós... — continuou, apontando para ele e depois para Cameron, que segurava o riso — Somos alguma coisa.
— Mas eu deixaria o Jorge há qualquer momento por você, Siren. — Cameron desfez o abraço com Jorge, passando o braço ao redor do ombro de Sirena, que sorriu vitoriosa para Jorge. — O que Jorge não sabe, é que eu só quero continuar na família Weasley, amo o tempero da Molly...
— Quê?
Harry parou de prestar atenção ao ver a cara de indignação de Jorge, enquanto as garotas riam. Perto dos livros, Adhara estava sentada em uma almofada lendo Como Machucar Gravemente Seu Oponente, ao seu lado, uma raposa prateada estava descansando. Ariana estava em pé ao lado da mesma, gritando Harry quando algo faiscou na ponta de sua varinha.
— Oh, sumiu... — A mesma murmurou, quando Harry se virou para ela. — Mas era algo peludo, tenho certeza, Harry!
Harry iria dizer algo, como: Na próxima você consegue. Mas ele sentiu um olhar queimar em sua nuca, antes mesmo de se virar para a porta – de onde vinha o olhar – sabia que era Lily Evans. Quando iria se virar para ver a garota ao lado da porta, a porta da Sala Precisa se abriu e se fechou. Harry viu o olhar de sua prima descer para o chão, o que, consequentemente, fez ele seguir o olhar da mesma. Alguma coisa puxava suas vestes na altura dos joelhos para ir em direção a Harry, que, para seu espanto, percebeu ser Dobby por baixo dos oito gorros diferentes de lã.
— Oi, Dobby! Como você es... o que aconteceu?
Os olhos do elfo estavam arregalados em horror, e mesmo por baixo de toda aquela lã, ele tremia. Os participantes da AD haviam se calado, todos prestando atenção em Dobby. Os poucos patronos conjurados haviam desaparecido em uma fumaça prateada, deixando a sala bem mais escura.
— Meu senhor, Harry Potter... — O elfo disse — Dobby veio avisar... mas os elfos foram avisados para não contar...
Dobby correu para bater a cabeça na parede. Harry, que tinha experiência com os hábitos de Dobby para se castigar, fez menção de agarrar o mesmo, mas antes que fizesse, o elfo quicou na pedra, graças aos oitos gorros em sua cabeça.
— O que aconteceu, Dobby? — Harry perguntou novamente, agarrando o bracinho do elfo para o manter longe de qualquer coisa que o pudesse machucar.
— Ela... ela...
Dobby deu um forte soco em seu próprio nariz com a mão livre, que Harry a agarrou rapidamente.
— Quem, Dobby?
Embora tivesse perguntando, Harry sabia exatamente quem era "ela". E a julgar pela expressão no rosto de seus colegas, eles também pareciam saber.
— Umbridge? — Harry perguntou horrorizado, vendo o elfo balança a cabeça afirmativamente, tentando bater a mesma nos joelhos de Harry logo em seguida. — Ela não descobriu sobre a AD... ou descobriu? — Harry disse, enquanto afastava o elfo de seus joelhos. — Ela está vindo?
Dobby não precisou responder, a aflição em seu rosto era visível. No entanto, um fio de voz soou.
— Está, Harry Potter, está!
Harry se virou para olhar os colegas imóveis e aterrorizados, contemplando o elfo se debater nos braços de Harry.
— QUE É QUE VOCÊS ESTÃO ESPERANDO? — berrou Harry. — CORRAM!
Todos correram na mesma hora para a saída, se embolando na porta ao tentarem passar todos juntos. Harry os ouviu correr pelos corredores e desejou que eles tivessem o bom senso de não irem diretamente para o dormitório, já que só faltavam dez minutos para às nove. Eles poderiam tentar ir ao corujal ou a biblioteca, que eram os mais próximos dali...
— Vamos, Harry, agora! — Sirena gritou no meio do bolo de gente que se empurravam para sair.
Harry pegou Dobby, que continuava tentando se machucar e correu com o elfo para o fim da fila. Sirena se apressou em tirar o elfo dos braços do garoto e o por no chão. O olhando de maneira dura e autoritária.
— Dobby, isso é uma ordem de Harry Potter, volte para a cozinha junto com os outros elfos, se eles perguntarem se você nos contou, diga que não. — A garota fosse firmemente, o que fez o elfo acenar freneticamente com a cabeça.
— E você está proibido de se machucar. — Harry gritou, assim que cruzou o portal e puxou o pulso de Sirena para fora.
— Obrigado... — Dobby disse, se afastando dos dois em um estalo.
Harry olhou para o corredor, incrivelmente vazio, só os dois estavam ali. Sem pensar direito, sentiu seu pulso ser puxado para a direita e o mesmo começou a correr juntamente com Sirena. Havia um banheiro masculino e um feminino ali, ótima ideia, pensou Harry. Eles poderiam fingir que estavam ali o tempo todo...
— AAAAAA!
Antes que Harry pudesse ver o que havia acontecido, Sirena foi jogada no chão, levando Harry junto com ela. Os dois deslizaram quase dois metros pelo chão antes de parar. Os dois se viraram ao mesmo tempo e viram Draco escondido atrás de um enorme vaso em forma de dragão.
— Sabe, estou começando a achar que vocês dois tem um casinho, sempre vejo vocês dois juntos... — Embora tivesse um enorme e presunçoso sorriso nos lábios, as palavras saiam de sua boca com um tremendo desgosto. — Azaração do Tropeço, Scamander... — O garoto brincou com a varinha entre os dedos, lançando uma piscadela para a ruiva. — Mas, ela é bastante conhecida, por mim, como: vingança.
— Filho da...
Mas antes que Sirena pudesse terminar, uma Umbridge extremamente satisfeita surgiu ao lado de Draco.
— É ele! — Ela sorriu, olhando Harry no chão. — Excelente, Draco, cinquenta pontos para a Sonserina! Eu me encarrego dos dois a partir de agora... Se levantem!
Harry se levantou, antes que conseguisse ajudar Sirena a se levantar também, Umbridge já se pôs ao lado dele e imobilizou o braço do mesmo. Se dirigindo - com direito a sorrisos - para Draco Malfoy.
— Veja se consegue apanhar mais algum, Draco. Diga aos outros para procurarem pessoas ofegantes na biblioteca e no corujal. Fale para a Srta. Parkinson verificar os banheiros femininos. E vocês — Ela acrescentou com a voz mais suave e mais perigosa quando Draco se afastou —, vocês vão direto para à sala do diretor comigo!
Não demoraram muito para chegar à gárgula de pedra que dava acesso a sala de Dumbledore. Harry imaginou quantos haviam sido pegos, tudo estava indo tão bem...
— Delícia Gasosa — disse Umbridge, o que fez a gárgula saltar para o lado, abrindo passagem para eles entrarem. Chegaram rapidamente a porta polida com a aldrava de grifo, mas Umbridge não se deu o trabalho e bater, entrou direto, segurando Harry e Sirena com firmeza.
A pergunta de Harry foi respondida assim que ele se deparou com a sala cheia de gente, principalmente, com alguns de seus amigos. Adhara Black estava ao lado de Pansy Parkinson, que segurava o braço da mesma assim como Umbridge segurava o braço de Harry e Sirena. Ariana Targaryen estava ao lado de Júpiter Malfoy, que estava encostada na parede, brincando com a varinha entre os dedos.
Dumbledore estava sentado em sua mesa com a expressão serena, as pontas dos longos dedos finos juntos. McGonagall ao lado dele, com o rosto tenso e os lábios finos ainda mais finos. Cornélio Fudge, o Ministro da Magia, estava contemplando o fogo ao lado da lareira, parecendo imensamente satisfeito com a situação. Quim Shacklebolt e um outro bruxo que Harry não reconheceu, estavam um de cada lado da porta, fazendo lembrar dois guardas. E, para a surpresa de Harry e Sirena, Percy Weasley estava encostado na parede, uma bela pena e um enrolado rolo de pergaminho nas mãos. Os retratos dos antigos diretores e diretoras não fingiam dormir nesta noite, pelo contrário, pareciam bem interessados no que iria acontecer. Harry se soltou do aperto de Umbridge, assim como Sirena, quando a porta atrás dos três se fechou. Cornélio Fudge o olhou de uma maneira estranhamente maligna.
— Vejam o que temos aqui! — exclamou com satisfação.
Harry deu seu melhor olhar sujo para o Ministro, estava com raiva, bastante raiva. Ao olhar para o lado, viu que Sirena não parecia tão irritada quanto ele, pelo contrário, o garota aparentava estar bastante calma.
— Eles estavam tentando se esconder, Cornélio. — disse Umbridge. A voz de Umbridge estava estranhamente mais meiga e perigosa, ela demonstrava o mesmo prazer perverso de quando humilhou Trelawney no Saguão de Entrada. — O menino Malfoy, Draco, os pegou bem na hora!
— Oh, é mesmo?! — Fudge exclamou admirado. — Me lembre de contar ao Lucius, Weasley. — O ministro se virou ligeiramente para o garoto ruivo, vendo o mesmo assentir freneticamente. — Muito bem, Potter, muito bem... — Ele voltou a se virar para Harry, com a estranha satisfação em seu rosto — Imagino que saiba o porque você está aqui.
Harry já estava preparado para dizer um atrevido "sim", mas ao olhar para o diretor, que tinha seu olhar focado em um ponto atrás de si, viu que o mesmo negou discretamente com a cabeça. Com a resposta na ponta da língua, Harry bufou e mudou de ideia
— Hum... não.
— Desculpe? — perguntou Fudge, parecendo não acreditar na resposta de Harry.
— Não, senhor — repetiu Harry com firmeza.
— Você não sabe por que está aqui?
— Você está com algum problema auditivo, Ministro? — Sirena perguntou impaciente. — Quer dizer, não, senhor... — sorriu amarelo.
Fudge olhou incrédulo para Sirena, depois voltou seu olhar para Umbridge. Harry aproveitou que nenhum dos dois o olhavam, para lançar outro olhar rápido a Dumbledore, que deu um aceno mínimo para o tapete.
– Então os dois não fazem ideia – disse o ministro com a voz carregada de sarcasmo – do motivo da professora Umbridge trazer vocês até aqui? Vocês não sabem que infringiram o regulamento da escola?
– Regulamento da escola? Não. — Ariana respondeu inocentemente.
– Nem os decretos do Ministério? – acrescentou Fudge, irritado.
– Não que eu tenha consciência – respondeu Harry.
— Nem lemos aquelas mer... — Adhara ia terminar a palavra, mas ao ver o olhar ameaçador que McGonagall a lançou, a mesma engoliu em seco e mudou de ideia — Oh, oh... quer dizer, não fizemos nada não.
O coração de Harry continuava a bater descontroladamente. Os quatros adolescentes presentes compartilhavam do mesmo pensamento, quase valia a pena mentir para ver Fudge extremamente irritado e uma Umbridge vermelha de raiva.
– Então – começou Fudge, sua voz recheada de raiva – quer dizer que vocês não sabiam que uma organização estudantil ilegal foi descoberta?
— Uau... — Adhara exclamou baixinho, fingindo estar surpresa.
— Nossa, não sabia. — Sirena disse de forma monótona, uma surpresa pouco convincente.
— Que alma horrível faria tamanha maldade, não é? — Ariana negou com a cabeça, parecendo estar decepcionada.
Harry suspirou, se as amigas deixassem o deboche de lado, talvez teria sido convincente.
— Ministro — disse Umbridge atrás do garoto com a voz sedosa —, acho que faríamos progresso se eu trouxesse a nossa informante.
— Claro, claro — disse Fudge acenando com as mãos, fazendo lembrar alguém espantando uma mosca. Quando Umbridge saiu, Fudge lançou um olhar perverso para Dumbeldore — Nada como uma boa testemunha, não é, Dumbledore?
— Claro, Cornélio — concordou Dumbledore, inclinando a cabeça e dando um sorriso gentil.
Eles ficaram em silêncio por alguns minutos, em que ninguém ousou se entre olhar. Até que a porta se abriu atrás de Harry e Sirena, e em seguida, Umbridge trazia consigo Summer Bones.
— Não fique com medo, querida — Umbridge disse com suavidade, dando-lhe palmadinhas nas costas — Você foi uma boa menina. O ministro está muito satisfeito com você, à sua mãe saberá a boa menina que você foi e, pode ter certeza, ela será recompensada. — acrescentou, erguendo os olhos para Fudge — A mãe dela, Ministro, é Madame Edgecombe, do Departamento de Transportes Mágicos, seção da Rede de Flu, tem nos ajudado com as lareiras de Hogwarts.
– Olha, que ótimo! – disse Fudge cordialmente. – Tal mãe, tal filha, não é? Bom, já pode nos dizer... gárgulas galopantes!
Quando Summer ergueu a cabeça e tirou as mãos do rosto, Fudge se assustou e deu um pulo para trás, quase caindo na lareira. Summer soltou um soluço e puxou a gola da blusa para cima até tampar o rosto, mas não antes de todos verem que seu rosto estava horrivelmente desfigurado por uma quantidade enorme de crosta roxas que cobriam toda sua face, formando a palavra “DEDO-DURO”.
– Não se sinta intimidade com seu... hum, isso aí, querida – disse Umbridge, impaciente – Conte ao ministro tudo que me disse.
Mas Summer soltou outro soluço abafado e negou com a cabeça freneticamente.
– Muito bem, sua tolinha, eu contarei – disse Umbridge com rispidez. Voltando com o sorriso doentio no rosto – Bom, ministro, a mocinha aqui foi à minha sala hoje à noite e disse que queria me contar algo. Me disse que se eu fosse a uma sala secreta no sétimo andar, conhecida como Sala Precisa, eu descobriria algo bastante interessante. Fiz mais algumas perguntas, e ela disse que haveria uma reunião ali.
– Teve muita coragem de ir contar à professora Umbridge. Agora, você pode me dizer o que aconteceia nas reuniões? Quem mais estava presente?
Mas Summer não respondeu, tornou a sacudir a cabeça, negando.
– Você não tem uma contra-azaração para isso? – perguntou Fudge a Umbridge, impaciente, indicando o rosto de Summer.
– Ainda não descobri – admitiu Umbridge a contragosto, e Harry sentiu orgulho pelas habilidades de suas amigas em azaração, não só ele, os adolescentes presentes - exceto Pansy e Júpiter - estavam todos muito orgulhosos. – Mas não faz diferença, eu mesma posso continuar a história. O senhor, ministro, se lembra que enviei um relatório em outubro, dizendo que Potter se encontrara com vários colegas no Três Vassouras, em Hogsmeade...
– E você teria alguma prova que isso realmente aconteceu, Dolores? – interrompeu-a professora McGonagall.
– O ministério tem os seus informantes, Minerva, que por coincidência, ou não, estava no bar naquele dia. Estava disfarçado, é claro, mas a audição de Willy Widdershins funcionava perfeitamente bem – Umbridge disse cheia de si. – Ele ouviu cada palavra que disseram, e veio no mesmo dia me contar...
– Ah, quer dizer que esse foi o motivo por ele não ter sido processado por ter feito todos aqueles vasos sanitários regurgitarem! – exclamou a professora McGonagall, erguendo as sobrancelhas. – Que visão interessante do nosso sistema judiciário!
– Olha isso fica cada vez melhor! – Ariana resmungou, observando as duas com atenção.
– No meu tempo o Ministério não era assim, jamais iríamos aceitar negócios com criminosos baratos, não, senhor, não iríamos! — um dos quadros anunciou, parecendo irritado.
– Obrigado, Fortescue, já chega – Dumbledore disse pacientemente.
– Isso não importa no momento – continuou Umbridge impaciente – Harry Potter queria persuadi-los a formar um grupo ilegal, os persuadiu com a ideia de que iriam aprender mais feitiços e maldições. Feitiços e Maldições que o Ministério declarou inadequados para a idade deles...
– Acho que você está enganada, Dolores – disse Dumbledore calmamente, espiando por cima dos oclinhos de meia-lua.
Harry olhou para o diretor, não entendia como é que Dumbledore poderia estar tão calmo diante dessa situação. Se o ministério realmente tivesse um informante, que ouviu tudo que eles disseram no Três Vassouras, não haveria escapatória, eles estariam encrencados.
– Ora, ora! – exclamou Fudge, com uma falsa diversão. – Sim, vamos ouvir outra histórinha para tirar Harry Potter de uma confusão! Vamos, então, pode começar, Dumbledore. Quer dizer que Willy Widdershins estava mentindo, é isso? Ou, talvez, Harry Potter tenha um gêmeo idêntico, que estava no Três Vassouras naquele dia?
Percy Weasley deixou que uma gargalhada gostosa escapasse de seus lábios.
– Muito boa, ministro, muito boa!
Harry adoraria ter dado um chute em Percy, e ele queria muito ter dado. Ao olhar para Dumbledore, viu que o homem não deixou de sorrir, o que estava começando a irritar Harry.
– Cornélio, eu não nego, e tenho certeza de que Harry também não, Harry estava realmente no Três Vassouras naquele dia. Também não negamos que ele estava recrutando estudantes para um grupo de Defesa Contra as Artes das Trevas. O que estou tentando dizer, é que Dolores está enganada de que o grupo fosse, na época, ilegal. Se vocês olharem, o Decreto Educacional que proibiu todas as associações de estudantes, só foi publicado dois dias depois da reunião de Harry em Hogsmeade, portanto, ele não estava infringindo nenhum regulamente no Três Vassouras.
Percy pareceu ter sido atingido no rosto, sua risada logo morreu. Fudge parou no mesmo lugar, boquiaberto. No entanto, Umbridge se recuperou primeiro.
– Você tem toda razão, diretor – disse sorrindo meigamente –, mas, já faz seis meses que o Decreto Número Vinte e Quatro foi publicado. Se o primeiro encontro não foi ilegal, todos os outros que aconteceram depois, são.
– Bom – rebateu Dumbledore, olhando a mulher com interesse por cima dos dedos entrelaçados – Você tem alguma prova de que os encontros continuaram?
Enquanto Dumbledore falava, Harry ouviu alguém cochichando atrás de si, não foi o único, já que Sirena também olhou rapidamente para trás. Harry poderia jurar que sentiu algo roçar em seu pé, algo suave, como um sopro ou as asas de um pássaro, mas ao olhar para baixo não viu nada.
– Prova? – repetiu Umbridge, abrindo um largo sorriso. – Você não estava prestando atenção, Dumbledore? Por que acha que a Srta. Bones está aqui?
– Ah, então eu adoraria que ela nos dissesse se realmente houve reuniões nos últimos seis meses. – disse Dumbledore, erguendo as sobrancelhas. – Achei que ela estava relatando uma reunião que iria acontecer hoje à noite.
– Srta. Bones – disse na mesma hora, se virando para a garota –, há quanto tempo essas reuniões vêm acontecendo, querida? Você pode somente balançar a cabeça, tenho certeza que não vai deixar pior do que já está. As reuniões, elas têm acontecido nos últimos seis meses?
O estômago de Harry deu uma reviravolta. Era agora, esse seria o fim deles. Se sentiria culpado se eles fossem expulsos.
– Só precisa acenar ou balançar a cabeça, querida – disse Umbridge, tentando persuadir Summer.
Todos na sala voltaram seu olhar para a garota. Apenas os olhos da garota estavam visíveis sobre as vestes repuxadas para cima. Talvez fosse o efeito da sala mal iluminada e das chamas da clareira, mas seus olhos estavam estranhamente vidrados. Então, para absoluto assombro dos adolescentes, Summer negou com a cabeça. Umbridge olhou na mesma hora para Fudge, e depois para Summer.
– Você entendeu a pergunta, querida? Estou perguntando se você foi nessa reunião nos últimos seis meses?
E mais uma vez, Summer negou com a cabeça.
– O que você está querendo dizer com isso, querida? – Umbridge perguntou impaciente.
– Eu diria que ela está sendo muito clara – disse McGonagall com aspereza. – Não houve reuniões nos últimos seis meses. Estou certa, Srta. Bones?
Summer acenou afirmativamente.
– Mas houve uma reunião hoje à noite! – exclamou Umbridge, furiosa. – Houve uma reunião, Srta. Bones, você mesma me falou sobre ela! E Harry Potter quem organizou, ele era o líder, não era? Potter... por que você está balançando a cabeça, menina?
– Pelo que eu entendo, quando uma pessoa nega com a cabeça – disse McGonagall friamente – ela quer dizer “não”. Então, a não ser que a Srta. Bones esteja usando uma linguagem de sinais desconhecida...
Umbridge agarrou Summer pelos ombros, a virando de frente para ela e sacudindo a mesma violentamente. Não demorou dois segundos para Dumbledore se por de pé com a varinha erguida. Quim se colocou na frente de Umbridge, que se afastou de Summer.
– Não posso permitir que você use da agressão com os meus estudantes, Dolores – disse Dumbledore e, pela primeira vez, parecia bem aborrecido.
– É melhor se acalmar, Madame Umbridge – disse Quim, com sua voz profunda e lenta. – Não acho que a senhora queira se envolver em confusões.
– Tem razão, Quim... – disse Umbridge, ofegante, erguendo os olhos para cima, já que Quim era bem mais alto que ela. — eu... eu perdi a cabeça...
Summer estava exatamente no mesmo lugar em que Umbridge havia a deixado. Estava sem nenhuma expressão, não parecia abalada pelo ataque da professora, nem aliviada por ter sido solta. Uma suspeita de que o cochicho de Quim e o que passou pela sua perna estava relacionado a isso, nasceu na mente de Harry.
– Dolores – chamou Fudge, com o ar autoritário — A reunião de hoje, a que sabemos que aconteceu...
– Sim, sim – disse Umbridge, se recuperando –, bom, a Srta. Bones me contou e eu imediatamente fui ao sétimo andar. Eu estava acompanhada por alguns alunos, estudantes, dignos de confiança, para pegarmos em flagrante os alunos que participariam da reunião. Me parece, que eles foram avisados, porque quando chegamos no sétimo andar, os alunos corriam em todas as direções. Mas não importa. Tenho todos os nomes aqui, a Srta. Parkinson e a Srta. Malfoy entraram na Sala Precisa para ver se haviam esquecido de algo. Precisávamos de provas, e a sala nos deu.
E, para o horror de alguns dos presentes, Umbridge puxou do bolso de suas vestes a lista de nomes que estava presa na parede da Sala Precisa e entregou para Fudge.
– Assim que vi os nomes na lista, percebi o que tínhamos em mãos.
– Excelente – disse Fudge, um sorriso satisfeito no rosto. – Pelas barbas de Merlim, Umbridge, olha isso...
Fudge ergueu os olhos para Dumbledore, que ainda estava ao lado de Summer, segurando a varinha frouxamente na mão.
– Olhe o nome que escolheram para o grupo! – disse Fudge, que estava ficando vermelho. – Armada de Dumbledore.
Dumbledore, parecendo surpreso, estendeu a mão e apanhou o pergaminho que Fudge segurava. Olhou para o cabeçalho escrito meses antes, e por um segundo pareceu incapaz de dizer qualquer coisa. Então, ergueu a cabeça e sorriu largamente.
– Bom, me parece que o plano fracassou – disse com simplicidade. – Quer que eu escreva uma confissão com minha assinatura, Cornélio, ou uma declaração diante dessas testemunhas é o suficiente?
Os adolescentes, incluindo Pansy e Júpiter, se olharam sem entender. Quim e McGonagall também se olharam por alguns segundos, Harry notou medo no rosto deles.
– Declaração? – perguntou o ministro. – Que...?
– O grupo ilegal, Cornélio – disse Dumbledore, ainda sorrindo ao agitar a lista de nomes diante dos olhos de Fudge. – Não é a Armada de Potter. É a Armada de Dumbledore.
– Mas...
A compreensão passou pelo rosto de Fudge, que segundos depois recuou um passo, horrorizado.
– Você? – sussurrou, ainda sem acreditar.
– Isso mesmo – confirmou Dumbledore.
– Você organizou isso?
– Organizei. – Dumbledore disse pacientemente — Hoje teríamos nossa primeira reunião – ele continuou. – Queria ter a certeza que se uniriam a mim. Vejo que foi um erro convidar a Srta. Bones.
Summer confirmou com a cabeça. Fudge olhou da garota para Dumbledore, ficando vermelho de raiva.
– Você tem conspirado contra mim! – berrou.
– Isso mesmo – respondeu Dumbledore sem se abalar.
– NÃO! – gritou Ariana.
Todos tiveram reações diferentes ao grito de Ariana. McGonagall arregalou os olhos ameaçadoramente, enquanto Quim o lançava um olhar de advertência. E Júpiter, que estava atrás da menina, deixou a própria varinha cair no chão, ao se assustar com o grito.
– Não... tio...
– Não quero ser obrigado a mandar você sair da minha sala, Ariana – disse Dumbledore calmamente.
– É – vociferou Fudge, que nem se deu o trabalho de olhar para Ariana, já que os olhos estavam voltados para Dumbledore em uma espécie de prazer horrorizado. – Que beleza, vim aqui com a intenção de expulsar Harry Potter e em vez disso...
– E em vez disso, arrumou motivos para me prender – concluiu Dumbledore, sorridente. – É como perder um nuque e encontrar um galeão, não é?
– Weasley! – chamou Fudge, se virando rapidamente para o garoto no canto da sala, que escrevia rapidamente no pergaminho. – Weasley, você anotou tudo, está tudo aí?
– Sim, senhor! – respondeu Percy, agora levantando o olhar para Fudge, o nariz estava sujo de tinta, por conta da velocidade em que fazia suas anotações.
– Anotou a parte em que ele diz que está tramando contra o Ministério e que está trabalhando para me desestabilizar?
– Sim, senhor – respondeu Percy verificando as anotações.
– Ótimo, então – disse o ministro com felicidade – Mande uma cópia para o Profeta Diário neste exato minuto. – Percy saiu correndo da sala, batendo a porta ao passar, e Fudge voltou sua atenção para Dumbledore. – Você já sabe o procedimento, Alvo, será escoltado até o Ministério, onde você será formalmente acusado, e depois, iremos escoltar você até Azkaban para aguardar julgamento!
– Ah – disse Dumbledore educadamente –, achei que chegaríamos a este pequeno transtorno.
– Transtorno?! – exclamou Fudge, a voz carregada de felicidade. – Não vejo transtorno algum, Dumbledore!
– Bom – continuou Dumbledore –, receio dizer que vejo.
– Oh, é mesmo?
– Bom... me parece que você tem a ilusão que irei... Como se diz mesmo? Que não irei rebater. Receio dizer, Cornélio, que eu não tenho a intenção de ser mandado para Azkaban hoje. Eu poderia fugir, é claro, mas seria uma grande perda de tempo, e francamente, posso pensar em inúmeras coisas que prefiro fazer.
Umbridge ficava cada vez mais vermelha a cada palavra de Dumbledore, parecendo que iria explodir a qualquer momento. Fudge olhava para Dumbledore com uma expressão tola no rosto, os olhos arregalados e a boca entre aberta. Voltou seu olhar para Quim e o outro bruxo parados na porta, esperou que os dois fizessem algo e o bruxo - que Harry não conhecia - foi o primeiro a reagir. O homem acenou com a cabeça e se afastou da parede com alguns passos. A mão do bruxo deslizou por dentro das vestes, em direção ao seu bolso.
– Não pense nisso, Dawlish – alertou Dumbledore. – Sei que você é um excelente auror, tenho a impressão de que obteve “Excepcional” em todos os seus N.I.E.M.s, mas se tentar... ah... serei obrigado a machucá-lo.
O auror parou no mesmo lugar, voltando seu olhar para Fudge, esperando que ele desse as próximas ordens.
– Então – caçoou Fudge –, você pretende enfrentar Dawlish, Shacklebolt, Dolores e a mim sozinho, Dumbledore?
– Pelas barbas de Merlim, não! – disse Dumbledore sorrindo. – A não ser que vocês sejam insensatos o suficiente de me obrigarem a isso.
– E quem disse que ele está sozinho?! – exclamou McGonagall em voz alta, metendo a mão nas vestes.
– Estou sim, Minerva – Dumbledore disse rápido. – Hogwarts precisa de você!
– Dawlish! Shacklebolt! Prendam-no! — Fudge gritou, apanhando a própria varinha.
Um lampejo prateado passou pela sala e um grande estrondo, como o de um tiro, foi ouvido e o chão tremeu. Uma mão agarrou Harry pelas vestes e o puxou para o chão, forçando que o garoto se deitasse no chão quando o segundo raio disparou. Os retratos dos antigos professores berraram, se escondendo nos quadros vizinhos. Fawkes soltou um alto gruincho e uma nuvem de fumaça encheu o ar. Tossindo por conta da poeira, Harry e os outros adolescentes viram um vulto desabar no chão, acompanhado de um forte baque. Um alto e agudo grito foi ouvido, em seguida, um ruído forte de vidro se quebrando, de pés se arrastando freneticamente, um gemido e... silêncio.
Harry tentou se virar para para olhar quem havia o protegido do perigo, Summer e Sirena estavam encolhidas ao seu lado, também jogados no chão por McGonagall. Ao se virar na direção de seus colegas - para ter certeza que eles estavam bem - conseguiu ver a coloração loura das duas louras presentes na sala, as duas continuavam no mesmo lugar que antes, mas estavam abaixadas. Por instinto, Harry imaginou, Pansy provavelmente puxou Adhara para baixo, já que mesmo com a fumaça, Harry conseguiu ver que ela segurava o pulso de Adhara. A poeira caia lentamente em cima deles. Ofegante, Harry viu uma figura alta vir na direção deles.
– Todos estão bem? – perguntou Dumbledore.
– Sim! – respondeu McGonagall, se levantado e arrastando Harry, Sirena e Summer com ela.
A poeira foi se dissipando aos poucos, deixando a destruição no escritório visível. A mesa de Dumbledore estava virada, todos os papéis e instrumentos rasgados e quebrados no chão. Fudge, Umbridge, Quim e Dawlish estavam imóveis no chão. Fawkes sobrevoava a cabeça dos mesmos, cantando baixinho.
– Tive de azarar Quim também ou pareceria suspeito, infelizmente – disse o diretor em voz baixa. – Quim entendeu perfeitamente rápido, modificou a memória da Srta. Bones quando ninguém estava olhando. Agradeça a ele por mim, Minerva, por favor. — O diretor continuou — Eles não tardarão a acordar e é melhor que não sabiam que nos comunicamos. Vocês devem agir como se o tempo não tivesse passado, como se eles tivessem apenas sido derrubados, eles não se lembrarão...
– Aonde é que você vai, Dumbledore? – sussurrou McGonagall. – Largo Grimmauld?
– Ah – Dumbledore deu um sorriso triste. – Não vou sair para me esconder, Minerva, Fudge irá desejar nunca ter me tirado de Hogwarts, prometo.
– Professor Dumbledore... – começou Harry.
Harry não sabia o que dizer primeiro, se sentia muito por ter começado a AD e causado toda essa confusão, ou como se sentia mal por ter posto Dumbledore no meio disso? Mas o diretor interrompeu-o, antes que ele conseguisse continuar.
– Escute, Harry – disse com urgência. – Você precisa estudar Oclumência o máximo que puder. Faça tudo que o professor Snape mandar e pratique sozinho durante a noite. Precisa fechar sua mente aos pesadelos, você vai entender em breve, mas precisa me prometer...
Dawlish começou a se mexer e Dumbledore agarrou o pulso de Harry firmemente.
– Não se esqueça de fechar sua mente...
Quando os dedos de Dumbledore se fecharam sobre sua pele, Harry sentiu novamente aquele desejo terrível e ofídico de atacar o diretor. Fawkes rodeou a sala novamente e mergulhou na direção do diretor. Dumbledore soltou o pulso de Harry, erguendo a mão e segurando na longa cauda dourada da fênix. Houve uma labareda e os dois desapareceram.
– Onde ele foi? – gritou Fudge, levantando-se rapidamente do chão. – Onde é que ele foi?
– Não sei! – berrou Quim, também se pondo de pé.
— Velho infeliz, raquítico e esquisito... — Júpiter resmungava, se levantando do chão e batendo a própria mão em suas vestes, tirando a poeira de si mesma.
– Ele não pode ter desaparatado – disse Umbridge, olhando em sua volta. – Não dá para fazer isso na escola...
– As escadas! – gritou Dawlish, e se adiantou para a porta, abrindo a mesma e desaparecendo, seguido por Quim e Umbridge. Fudge hesitou, tirando a poeira da frente das vestes.
– Bom, Minerva – disse Fudge, endireitando a manga rasgada. – Sinto muito em dizer que esse é o fim do seu amigo Dumbledore.
– Você acha mesmo? – desdenhou a professora.
Fudge fingiu não ouvir. Correu os olhos pela sala destruída, alguns retratos o vaiaram, outros dois fizeram gestos obscenos com as mãos.
– É melhor você levar eles para o dormitório – mandou Fudge, voltando o olhar para McGonagall, acenando com a cabeça, como se mandasse a mulher sair.
McGonagall não respondeu, mas acenou para os adolescente, que a seguiram até a porta. Quando a porta fechou, Harry conseguiu ouvir a voz de Quim Shacklebolt.
– Sabe, ministro, discordo de Dumbledore em muita coisa... mas não se pode negar que ele tem classe...
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